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Fanfics de Histórias Originais - Mais de 20 mil palavras sem o gênero Saga sem a tag Amizade

Divisão 0.

escrita por GVOliveira
Fanfic / Fanfiction Divisão 0.
Em andamento
Capítulos 36
Palavras 71.292
Atualizada
Idioma Português
Categorias Histórias Originais
Gêneros Ação, Fantasia, Ficção, Sobrenatural
O jovem do exército imperial Noah Gragson tem o senho de integrar a divisão 0, uma organização que tem tanto poder quanto o rei e engloba todas as forças armadas. Após ser convocado, Noah tem que passar por diversas missões de experiência, tendo que completar quatro anos de serviço para poder integrar a organização.
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Série Pop Kids - Pop Kids e o Incendiário

escrita por NekroLord
Fanfic / Fanfiction Série Pop Kids - Pop Kids e o Incendiário
Em andamento
Capítulos 8
Palavras 24.389
Atualizada
Idioma Português
Categorias Histórias Originais
Gêneros Ação, Aventura, Comédia, Fantasia, LGBTQIAPN+, Magia / Misticismo
Já imaginou está no meio da aula e descobrir ter super poderes? Ou então que nasceu com uma bomba de energia astral que não consegue controlar? Ou simplesmente ser diferente de toda sua família? Essas questões parecem bem estranhas não é?
Pois bem, isso é o que Ashlee e sua irmã Sindy terão que responder por si só. O primeiro dia de aula delas acabou por se transformar no primeiro dia de suas novas vidas. Um incêndio criminoso na escola, uma dupla de demônios, anjos, magia, uma conspiração de bruxas. Tudo o que elas conheciam virou do avesso em um estalar de dedos. Como vão encarar essa mudança? Será que vão voltar a vida normal, ou vão aceitar essa nova realidade?
Huhuhuu... Eu já vi inúmeras criaturas. Vi lugares fantásticos. Mas, pela primeira vez em milênios, nunca testemunhei tamanha audácia e força de vontade que essas garotas tem em desafiar o destino. Querem saber que mudanças esses ventos trarão?
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Quase o imperfeito

escrita por pauli-praxedes
Fanfic / Fanfiction Quase o imperfeito
Em andamento
Capítulos 13
Palavras 48.454
Atualizada
Idioma Português
Categorias Histórias Originais
Gêneros Drama / Tragédia
Inci, uma jovem que sempre viveu isolada de todos – até dos pais - , muda-se de cidade, então conhece seus melhores amigos, começa viver uma vida social, e uma revira-volta acontece em apenas um dia quando ela briga com o seu amigo(garoto que ela gosta) e, na mesma noite, sua mãe vai embora de casa. E ela dispõe-se a nunca mais procurá-la.
Após algum tempo, Inci tem a chance de viver um possível romance.
Mas como todo romance tem uma dificuldade e depois o final feliz, como será que ela superará tudo? Como serão os finais felizes de seus amigos? Qual será a perfeição que deixará sua vida quase imperfeita?
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Deuses mortais

escrita por Ansgar
Fanfic / Fanfiction Deuses mortais
Em andamento
Capítulos 3
Palavras 28.318
Atualizada
Idioma Português
Categorias Histórias Originais
Gêneros Ação, Aventura, Fantasia
Trinta e um guerreiros do norte partem para as terras desconhecidas do sul para encontrarem um objeto importante para o seu líder, Aionmir, o Negro. No entanto, quando finalmente conseguem o precioso objeto, percebem que terão de disputá-lo com os deuses que farão qualquer coisa para possuí-lo.
Inicia-se então uma guerra entre homens e deuses que moldará para sempre o mundo onde vivem.
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Romano Volume 1

escrita por Autora_TamiOliveira
Fanfic / Fanfiction Romano Volume 1
Em andamento
Capítulos 25
Palavras 204.538
Atualizada
Idioma Português
Categorias Histórias Originais
Gêneros Literatura Erótica
Num mundo onde deuses antigos renascem como mortais, Luna Romano é a enigmática personificação da deusa da Lua de diferentes culturas, Fabrizio Rizzo é a reencarnação do deus dos mares, e Lorenzo Rizzo é a reencarnação do deus do céu. Enquanto vive entre humanos no Rio de Janeiro, Luna recebe a visita dos irmãos Rizzo com notícias inesperadas: seu pai ausente, Mario Romano, um Don italiano mafioso, está morto. Vulnerável pelo rompimento de um relacionamento recente, Luna aceita um acordo de união e se casa com Fabrizio, tornando-o o novo Don da milenar organização de seu pai, a Ombra. Porém, suas vidas mudam quando lembranças do passado nessa vida regressam, revelando o primeiro amor, Lorenzo Rizzo, seu cunhado. Entretanto, não é só em volta do triângulo amoroso que gira o mundo de Luna, todo o trauma de seu relacionamento acabado com o pai de seu filho adotivo, Lucas Romano, retorna a sua vida também. Todas as revelações, do ciclo terreno e dos inúmeros ciclos divinos, levam Luna, Fabrizio e Lorenzo a embarcarem numa jornada para reaprenderem a amar, confrontando suas conexões familiares complexas. Nessa saga de amor, sacrifício e redenção, Luna e seus senhores enfrentam sua própria natureza divina, buscando um novo destino e a superação da sombra maligna que aflige os "sangues dos deuses". Entre paixões antigas e laços profundos, eles descobrem que, além de deuses, também são humanos, capazes de aprender a amar verdadeiramente.
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Amor De Rodeio

escrita por MariaNatalia_MessiasCamargos
Fanfic / Fanfiction Amor De Rodeio
Em andamento
Capítulos 9
Palavras 36.354
Atualizada
Idioma Português
Categorias Histórias Originais
Gêneros Ação, Aventura, Comédia, Drama / Tragédia, Famí­lia, Literatura Erótica, Luta, Novela, Policial, Romântico / Shoujo, Suspense
Uma garota recém-formada em contabilidade e um cowboy formado em veterinária de pequeno a grande porte. Uma arena de rodeio lotada poderia mudar tudo em suas vidas. A garota descontraída, mas as vezes séria, fechada e desconfiada enquanto o veterinário deseja o mundo, isso daria certo?
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Pausa no Lélio, Meu livro...

escrita por Gilles_Bucko_
Fanfic / Fanfiction Pausa no Lélio, Meu livro...
Em andamento
Capítulos 3
Palavras 21.826
Atualizada
Idioma Português
Categorias Histórias Originais
Gêneros LGBTQIAPN+
1° CAPÍTULO
 
 
Andavam de mãos dadas até a entrada logo ali no meio do quarteirão e ao chegar as luzes dos holofotes no alto queriam cegá-lo, desviar seus olhos, mas ele não as percebeu. Apertou os olhos até que conseguisse ver com clareza. Um sorriso sincero se fez em seu rosto. Logo conseguia ver as luzes amarelas e vermelhas piscando coordenadamente mais abaixo, circundando o letreiro formado por luzes alaranjadas. “Circo Liktenis”.
-Chegamos pai!
Olhou para o filho ainda sorrindo e o pegou nos braços, apontou para o letreiro e o filho olhou atento.
-A primeira palavra eu sei que você sabe ler. Mas e a segunda, já consegue ler Lucas?
O menino forçava os olhos para tentar entender a palavra, para evitar os holofotes, para impressionar o pai com a resposta certa.
-Litenis pai! Essa foi fácil.
-Liktenis Luquinha, o K nessa palavra vira qui.
-E o que essa palavra significa pai? Olha mãe, algodão doce!
Enquanto o garoto corria até perto do homem sorridente que entregava os algodões rosa para as crianças, Clarice olhou para o marido que se atentava aos passos de Lucas.
-João, um doce só na entrada e outro doce só na saída. Nada de deixar o menino devorar todas as cores de doces das banquinhas- sorriu para o marido- e você também um doce agora e outro quando estivermos saindo, menininho! – riu o riso tão lindo e barulhento que ele tanto o fascinava.
-Amor, o circo vem poucas vezes para cá, temos que tirar o tempo atrasado e comer pelo menos um doce de cada cor!
-E ai o que acontece, lembra de alguns meses atrás?- expressou uma severidade de brincadeira séria no rosto- minhas duas crianças com dor de barriga a noite toda e eu fazendo chá de boldo, pode parar.
João fez a mais juvenil cara de garoto triste que tinha com direito a beicinho e tudo  e balançou a cabeça concordando com a esposa. Lucas voltou com o algodão doce que parecia grande demais para o tamanho de sua boca de criança. Enquanto o filho se deliciava, deram as mãos novamente. Atravessaram o letreiro.  João observava tudo avidamente, mais animado do que o pequeno, preocupado com o doce rosa.  Haviam bancas de brinquedos, balões, doces, suvenires, ursos de pelúcia, e para ele, vendia-se hoje naquelas bancas as mesmas coisas que eram vendidas quando ele mesmo era criança. O pai sempre o levava no Circo Liktenis quando este chegava em sua cidade. E como ele adorava! Tinha lembranças intensas daquele lugar, sempre fora fascinado pelo espetáculo, pela magia, pelos risos, pelas luzes. Tanto tempo depois o mesmo circo que parecia ainda fazer o mesmo trajeto pelas cidades vizinhas aparecia ali, e João levava a esposa e o filho até aquele circo mais uma vez. Ou ele mesmo que queria estar no circo e trazia a família junto, só para poder lembrar de um tempo tão encantador.
Era cedo ainda, mas as pessoas entravam o tempo todo por debaixo do letreiro. Os holofotes no pátio deixavam a entrada bem iluminada, a partir dali formava-se um caminho reto guiado apenas por uma linha de lâmpadas amarelas não tão fortes assim, mas as luzes das barraquinhas de agrados clareavam o caminho.  João já estava com um pé de moça nas mãos, Lucas com muito algodão no rosto e pouco no palito e Clarice usava um chapéu de bruxa verde com um laço roxo que João havia colocado em sua cabeça como o combinado. Sem exageros em doces, mas ela teria de usar o chapéu de bruxa a noite toda!  Avistaram uma pequena fila e param os três em frente a tenda do circo. Lucas deu uma mão a mãe e a outra ao pai, como estavam quando entraram. Ele observou que parecia ser a mesma tenda também de seu passado, aliás, definitivamente era a mesma tenda. Os remendos haviam sido cuidadosamente feitos, mas eram remendos e a lona vermelha já não era mais vermelha há um bom tempo. Os cheiros que envolviam o lugar ainda eram os mesmos, pipoca, serragem que cobria o chão, açúcar queimado nos doces e a inocência.  Aquele mesmo sorriso sincero escapou novamente.
-Vamos limpar esse algodão doce, filho?- Clarice fazia o que podia para limpar o rosto do menino- parece que comeu com os olhos!
-Mas não é possível comer com os olhos, mãe...
-É possível sim, seu pai já comeu com os olhos os crepes, as maçãs do amor, os morangos com chocolate, os quebra queixos...- olhou para o marido que sorria para ela.
-Pai, me ensina a comer com os olhos?
Riram do garoto, e o garoto sem entender riu junto.
-E esse chapéu feio mamãe?
-Diz para o seu pai que eu devo tirá-lo por que ele é muito feio mesmo Luquinhas.
O menino olhou para o pai que bastou piscar para o filho com um sorriso de canto de boca.
-Não precisa tirar não mamãe, ele não é tão feio assim! Você ficou até bonita!- beijou o rosto da mãe que ainda ajoelhada não vencia os algodões pregados no rosto da criança.
-João! Nada de se comunicar com meu filho por pensamentos contra mim!
Ele riu alto. Sempre fora assim, entendia o menino e o menino a ele em um nível notável. A mãe gostava de observar o amor que ela mesma tinha pelos dois ser tão claro entre eles mesmos.  Mas quando Clarice era o alvo da profunda conexão que seus garotos tinham, ficava um pouco enciumada.  Quando a mulher deu-se por vencida ao rosa grudento no rosto do filho e levantou-se, João a segurou pela cintura e a beijou carinhosamente. Ela encostou a cabeça em seu peito em um abraço.
Quando mais novo, João era mais alto que os outros garotos na escola, sempre fora. E manteve-se assim, sempre mais alto que a maioria. Porém não era nada magro, e nada gordo, apesar de andar cultivando uma discreta barriga devido a idade. Era um homem grande, chamava atenção ao chegar em algum lugar, algo que as vezes o agradava, e as vezes o envergonhava. O peito largo e os braços grandes foram repouso da muitas garotas, mas agora eram casa do filho e da esposa. As pernas eram longas e espessas, o dorso também, e os pés nunca encontravam sapatos, afinal tinham muito para suportar e tinham o tamanho certo para isso. As entradas nos cabelos avançavam mas o corte e a cor ainda eram os mesmos.  A mulher dizia que ele  devia tentar um corte diferente. Era um cabelo avolumado no topo, dourado sob o sol e castanho na sombra em um ondulado alinhado. Gostava de deixar daquele mesmo jeito, era sua lembrança da rebeldia jovem que ele mantinha. Tinha o mesmo sorriso contagiante e enorme da adolescência, como também os olhos grandes, o nariz também, o queixo e as mandíbulas, os cílios longos e a sobrancelha espessas e escuras.  Parecia um homem de tamanho comum em uma escala bem maior que havia se aplicado a todos seus aspectos físicos, era proporcionalmente enorme, altura, braços, pernas. Era bonito, sabia disso, e aproveitava disso. Sabia que seu sorriso largo e os olhos grandes e amarelos amolecia as garotas, e agora amolecia Clarice.
Clarice não era uma mulher miúda, mas perto do marido a maioria era. Tinha uma estatura um pouco além da mais vista em mulheres, isso mais devido a retidão que sua coluna sempre se mantinha. Havia feito balé por anos quando jovem, então estava sempre com a postura correta e alongada. Era magra, sempre fora, e os problemas de peso das amigas a deixava curiosa, nunca engordava. As vezes queria ter mais isso e mais aquilo em seu corpo, mas se  gostava assim. Mesmo após o filho seu nu a agradava. Gostava dos ângulos retos de seu rosto, seu nariz, sua boca, dos olhos, do formato do rosto, dela mesma por um todo, angular, retilínea. Estava com os cabelos mais longos que o normal, tentava os manter curtos, ficava mais simples cuidar, mas gostava deles assim, passando a linha dos ombros. Eram de um castanho escuro denso, e a cor dos fios extremamente uniforme, da raiz as pontas. Lisos sem uma curva sequer. Orgulhava-se secretamente de suas pernas, sempre envolvida com dança tinha as coxas firmes e  torneadas, as canelas grossas e as panturrilhas proeminentes tiravam o ar de esguia que tinha. Nunca pareceu-se com uma garota ou menina, desde muito pequena sempre ostentou um poderoso semblante de mulher, seu jeito não lembrava inocência, e sim sensualidade discreta. Todo o mistério cativante que havia em seus olhos, em sua maneira de agir, em sua voz, era o que lhe garantiram uma auto-imagem e confiança em si positivas, e garantiram também o fascínio do marido.
-Chegou a nossa vez Lucas!- João disse animado enquanto os três olhavam para a entrada do circo e para o palhaço na porta acenando pra eles .
-Olá família! Oi pai, oi mãe e esse? Olhe só! Mostra as mãos mocinho!
Lucas mostrou as mãos pequeninas para o palhaço meio acanhado. João e Clarice sorriam, se perguntando do que estaria por vir.
-Eu sabia! Foi só te ver lá de longe que eu sabia!- o palhaço exaltou-se como se estivesse vendo algo inédito- Você tem mãos de mágico, rapaz! Como é seu nome?
-Lucas!
-Lucas? Peralá Luquinhas- o palhaço colocou a cabeça para dentro das cortinas do circo e falou bem alto- Jujuba! Ô Jujuba! Achamos um menino para substituir o Alcobar hoje, o menino não tem a altura de um anão e já tem mãos de mágico, se crê?– virou-se para Lucas e curvou-se até ele- então Lucas você pode substituir nosso mágico hoje por que ele fez uma mágica tão poderosa que ele mesmo desapareceu e ficamos sem um mágico?
João e Clarice riram, o menino realmente pensativo e João ficou admirando a inocência pueril do filho. O garoto parado ponderou e disse:
-Eu vou sim, mas só não vou fazer nenhuma mágica de desaparecimento por que eu não quero desaparecer!
Parecia que ninguém esperava por essa, todos riram até o próprio palhaço que pareceu ficar sem jeito com o menino que sem o objetivo, roubou a cena da brincadeira.
-Bem vinda família!
João olhou as cortinas escarlate de tecido grosso e aveludado. Aquela sensação, ele sempre esquecia como era intensa, sempre esquecia que a sentia, então nunca estava preparado para ela ao mesmo tempo que ela se fazia presente sempre como pela primeira vez. Finalmente entrar no circo, atravessar a cortina. “Todos chamam de borboletas no estômago” pensou e riu de si. Sempre ficava ansioso antes de entrar no circo, quando criança, antes de entrar no mundo mágico, agora antes de entrar no seu saudosismo, antes de entrar na pele do filho. Olhou para Lucas que segurava sua mão mais forte. O menino também sentia o mesmo, João sabia. Entendia.
Cortinas abertas, os garotos já podiam ver tudo que havia lá. Clarice procurava um lugar para sentarem e haviam muitos ainda. As luzes sobre das cadeiras estavam acesas e o palco apagado. Eram poltronas antigas bem se via, verde escurecido pelo tempo, velhas mas conservadas a esmo. O circo era pequeno mas muito bem cuidado.  A cidade em si era proporcionalmente pequena ao próprio circo. Grandes circos nunca passavam pela cidade de João, nunca haveria público o bastante e preços altos não funcionavam ali. Era nascido e criado na mesma cidade, e esse era o único circo que conhecia, o circo Liktenis. As vezes em algumas viagens de trabalho sozinho, ou de lazer com a família, lembrava-se de fazer um pouco de tudo e visitar um pouco de tudo e se impressionar com um pouco de tudo que havia de grandioso pelo mundo a fora, mas nunca lembrava de circo. Só quando alguém dizia que estava para vir o Liktenis na cidadezinha que entrava em contato com essa paixão guardada. Clarice era de uma cidade vizinha bem maior, e quando Lucas não era nascido, moraram por um tempo na cidade grande de interior. Foi só pensar em filhos e decidiram mudar-se. Ou era uma desculpa velada, João a tinha como sua cidade natal, conhecia tudo e todos, e conhecer o confortava; Clarice gostava de se imaginar em um tranqüilo jardim, melhor que isso, um tranqüilo mercado, um tranqüilo transito, um tranqüilo trabalho, Clarice gostava de imaginar tranqüilidade.
-Pai o leão já é agora o primeiro de todos? Eu quero ver o leão!
-Os leões eles deixam para o final filho, por que é a parte mais emocionante!
-Ah... Mas tinha que ser antes, é a parte mais emocionante oras!
Clarice olhou para João que parecia sem resposta e emendou:
-E qual seria a graça de saber que o príncipe salva a princesa no começo da história filho?
João amava a perspicácia da esposa. As vezes o incomodava, perspicácia anda perto demais da arrogância. No fundo gostava quando a mulher descobria a solução para momentos assim. Ele mesmo enquanto Lucas tentava argumentar suas inocências com a mãe pensou “Qual seria a graça de ter certeza que o bem e o amor vencem o mal no final antes mesmo de conhecer a história?”.
-Bruxa Clarice de chapéu verde com laço roxo, mãe de  um menino que, por ser filho de bruxa, nasceu com mãos de mágicos, e digo mais, além de herdar a magia herdou também o poder de ter a resposta certa na ponta da língua sempre.. Me diz, vou ao banheiro, me permite sem acusações posteriores?- e fez um gesto com a boca e as mãos mostrando as reais intenções por detrás da história de banheiro. Sem que Lucas distraído com as pessoas o visse, fez em mímica para a esposa que  ia comer um palito de morangos com chocolate. Clarice fez uma expressão séria, e João, a mesma cara de menino abandonado de antes- eu vou bem rápido, volto antes de apagarem as luzes da platéia, afinal, Lucas já foi no banheiro... e você estender essa história de banheiro só na entrada e só na saída pro Lucas eu concordo, mas para mim, me transforma em um desses maridos bundões, amor... - João riu alto- eu vou e sem ressentimentos tudo bem?
-João, minha outra criança.-parecia tão seria aos olhos de João, sabia que ela não gostava de perder o controle- Nada  de chá de boldo de madrugada, tenha certeza. Se te conheço bem nessa escapadinha você vai no banheiro em uns 6 lugares diferentes? Quinze minutos para começar o espetáculo mais essa boca grande e o seu estômago de touro você vai usar os banheiros de todas as cores... Sou contra. Mas você é grande demais, não posso te segurar aqui pela orelha. Vai. E pode levar embora o chapéu de bruxa que nosso combinado está desfeito.
-Pai, mãe, como assim banheiro colorido? E pai você está tão apertado que precisa ir no banheiro 6 vezes?
João e Clarice se entreolharam surpresos, era óbvio que o garoto ouvia a conversa, mas não tão óbvio que prestava atenção, menos obvia ainda foi a pergunta do menino.
-Sim Lucas, estou tão apertado que preciso ir mesmo. E agora! Já volto!
E foi saindo esbaforido. Sempre era assim, quermesse, mercado, festinha de criança, casamento; onde eles estivessem a esposa estava controlando a quantidade de doces de João.  Ele sempre exagerava, e acabava ficando com mal estar depois. Não havia nenhum problema diagnosticado com açúcar em si, só uma gula por doces tremenda que o filho havia herdado, e o mal estar pelo exagero de açucarados havia passado para o pequeno também.
Resolveu que iria maneirar, afinal odiava chá de boldo e não podia demorar-se demais. Não queria perder o momento das luzes se apagando para iniciar o espetáculo.  Adorava essa parcela também do todo que era o circo para ele. Foi a banca do palito de morangos com chocolate e o devorou. Pegou ali também uma barra de doce de leite e um quebra queixo que comeu enquanto passeava. “Como podem existir pessoas que não gostam de doce”, pensou. Caminhou pelo circo feito criança mais uma vez. Sorria por dentro enquanto andava sob as luzes adornando todas as barraquinhas vendendo as simples felicidades que os doces podiam lhe trazer. Viu uma mais iluminada, algumas bancas para frente, a sua preferida: maçã do amor. Seria seu último doce antes de entrar, então foi até elas e observou maçã por maçã até encontrar as mais avermelhadas, aquelas que a doceira erra a mão e exagera na calda. Estava entre duas que pareciam serem as mais apetitosas.
-São todas iguais!- a pessoa que cuidava da banca disse para ele, percebendo sua presença só naquele momento para João, que estava tão ocupado com seu fascínio pelas caldas vermelhas.- Está procurando algo especial?
João não havia levantado os olhos para o comentário, tinha pouco tempo para conversar, apenas sorriu ainda observando a vitrine.
-Parece bobeira, e é, mas eu procuro a que tem mais calda- e riu olhando as maçãs, a pessoa riu junto e o riso atraiu o olhar de João. Levantou a cabeça de relance mas não se atentou para o rapaz.
-Tudo bem então. Aí eu posso te ajudar.- o rapaz disse e virou-se de costa revelando uma caixa pequena coberta por um guardanapo- Está aqui. Essa maçã do amor eu corto no meio e coloco calda dentro da maçã também.
João olhou para o doce vermelho e seus olhos se surpreenderam, a calda de dentro aparecia entre o corte no meio da maçã transbordando e a cobertura escorrera pelo palito. Parecia que a calda havia endurecido, e outra camada havia sido colocada.
 
2° CAPÍTULO
 
-É essa que eu quero!- João tirou a maça da mão do rapaz com uma certa pressa, precisava voltar, pior, come-la toda antes de entrar- obrigado. Ela é mais cara?- ele já procurava uma nota maior nos bolsos.
-Não. É o mesmo preço. Na verdade, essas são dadas sempre de graça- e riu, e o riso mais uma vez chamou a atenção de João procurando por uma nota maior nos bolsos- Essas maçãs de amor com calda por dentro eu faço para dar para as garotas bonitas.
João abriu seu sorriso grande, pensou, “rapaz inteligente”, havia achado uma nota e esticou a mão com o dinheiro e o olhou. O rapaz olhou para João, para os olhos de João. E João para os olhos do rapaz. Algo curioso aconteceu. Por um breve instante o rapaz apenas observou os olhos de João sem conseguir pensar em nada, e João observava os olhos do rapaz mergulhado em um silêncio profundo.  O braço de João se manteve esticado com o dinheiro nas mãos, e enquanto olhavam-se as coisas e as pessoas ao redor deles iam perdendo o formato e as cores, se tornando uma imagem quase desfocada. Pareciam estar presos de alguma maneira naquele fulgaz instante. O sorriso de João se desfez, e o sorriso que o rapaz expressava se desfez também.  Havia uma sensação de estranheza, ambos sentiam-se assustados de uma forma não natural. Assustados de uma forma atípica, era um medo que não tinha nada de um temor. Dado ponto pareciam enxergar apenas seus olhares, como se  a vista estivesse mareada dando um destaque surreal ao outro.  Os dentes não apareciam e os lábios estavam sem expressão, mas os olhos sorriam independentes um para o outro, mesmo com os corações acuados. Não conseguiam pensar em nada, nem ao menos tentavam, só observavam-se nos olhos. Esse hiato foi tão breve para os dois, mas deveras longo para qualquer observador que prestasse atenção na mão estendida e na expressão incomum que ambos tinham. O primeiro pensamento que ocorreu em João foi de que conhecia o rapaz de algum lugar. E o primeiro pensamento do rapaz foi que os olhos de João eram amarelos na mesma tonalidade que os dele mesmo. Os olhares se descruzaram, todo o mundo tomou de volta sua nota ordinária e o rapaz desviou a atenção para o dinheiro estendido.
-Regra nova. Garotas bonitas e caras desesperados por doce. Esse é por conta da casa.
Sorriram novamente um para o outro e João observou que o sorriso do rapaz parecia ter a mesma pureza que ele via apenas no seu próprio sorriso, a mesma  inocência. O rapaz pensou em perguntar o nome do apaixonado por maçãs do amor, mas pensou que seria inapropriado e totalmente sem sentido, mas foi sendo tomado pela mesma sensação de antes. O outro já sentia aquele algo peculiar e não pensava em evitar; o rapaz prevenindo que se alongassem novamente na mesa situação estranha de antes, parados, presos, fez um esforço tremendo como se saísse de dentro de um mar profundo, um mar aonde precisasse desesperadamente ficar mergulhado dizendo:
-Pode guardar seu dinheiro.  Estou falando sério! Depois pode me apresentar alguma garota bonita da cidade em troca. 
João ainda estava preso, mas abaixou o braço que estava esticado todo este tempo estranhamente,  sem deixar de olhá-lo. O rapaz o observou, queria voltar junto de João para aquela sensação. João ainda estava parado. E não pretendia sair dali nunca mais, apesar que pretender necessita escolha. João não tinha escolha. Não decidia ficar, apenas ficava, e não pensava em sair, em parar de olhar aquele rapaz, corresponder seus olhos amarelos. Não pensava em nada apenas. E o nada que os acometiam lhes cabiam perfeitamente,  em uma sensatez inexplicável.  Em meio ao mar em que não haviam resistido mergulhar novamente, o rapaz  e João ainda impressionavam-se com o brilho que havia nos olhares. Como a sensação de que alguma maneira os olhos sorrissem podia ser tão real? Os olhos pareciam ter uma conversa guardada por eras e apenas precisavam que os dois se aquietassem e se olhassem para que os olhos pudessem estranhamente falarem de uma vez por todas, como se tivessem ganho palavras.  O rapaz lembrou-se como em um suspiro que enquanto João não sumisse pelas cortinas escarlate, ele mesmo não conseguira fazer mais nada além de observá-lo.  “O espetáculo vai começar em alguns segundos, vai ficar difícil achar aonde se sentou quando tudo estiver escuro, melhor entrar agora!” o rapaz pensou em dizer e disse:
-Passe daqui quando acabar e te dou outra dessas maçãs recheadas. Mesmo se passarem muitas garotas bonitas, ainda vou guardar uma para você.
-Tudo bem, eu vou voltar aqui depois. Quero ver as luzes se apagarem! Obrigado.
Não sorriu, virou as costas e caminhou até as cortinas. Apenas ecos passavam pela sua cabeça, o que tinha dito agora para o rapaz? A maçã do amor estava intacta em suas mãos, os pés andavam, o corpo não expressava nada de diferente, mas algo dentro João havia sido marcado profundamente. Passava por uma letargia incomum como se tivesse acabado de acordar de um sonho intenso e a realidade apenas soava estranha. O palhaço disse algo que ele não ouviu, e que ele não respondeu, e abriu as cortinas vermelhas, logo que colocou os pés dentro do circo as luzes da platéia se apagaram. Não havia dor nenhuma mas a sensação latente do nada passou a incomodá-lo. “Preciso encontrar Clarice e Lucas, aonde nós estávamos sentados?” parou para pensar e o medo de ficar naquele nada eminente mais uma vez o incomodou, estaria sozinho agora. “No nada sem ele. Como assim sem ele João? Aonde você estava sentado, pense!” lembrou-se e foi até o lugar. A mulher disse um João em tom de represália e o filho olhava o palco ansioso. Os tambores rufavam triunfantes até que uma luz se acendeu bem ao meio do grande picadeiro revelando o apresentador do circo.
João observava o homem caricato de cartola preta a falar e contar e assutar e animar  todo o público com as promessas para  o espetáculo daquele dia, mas as palavras se esfarelavam em sua mente. Agora sentado e espetáculo iniciado, conseguia pensar sobre o que havia acontecido. E  os pensamentos se reduziam apenas a questionamentos. Por quê? Como? Qual o significado? O que havia acontecido entre ele e o rapaz? Afinal, quem era o rapaz? Nunca havia sentido algo sequer parecido com aquela sensação. Estava magnetizado, ainda formalizava a sensação de antes no estranho pensamento de que os olhos amarelos do rapaz pareciam ter uma conversa guardada a anos que foi finalmente falada aos seus próprios olhos. Mas essa conversa não se passou na cabeça de João nem do rapaz, eles somente precisavam ficar ali, se olhando.
Pensava massivamente. Precisava entender. “Devo ter sofrido algum tipo de reação estranha devido aos doces e culminou de parar bem ali, o olhando, sem me mexer. Mas por que diabos o rapaz não parava de me olhar também? Por que brilhavam tanto, tão intensamente? E aquele sorriso sempre fora meu, era o que sempre me fez achar diferente. É o mesmo sorriso! E que rapaz bonito. Tão bonito. Lindo na verdade. Realmente deve conquistar muitas garotas com as maçãs do amor recheadas. Será que ele estava me paquerando, oras? E ainda me disse para voltar para a banca. Pior, se estivesse, deve ter achado que de alguma forma eu me interessei por ele. Não conseguia tirar os olhos dele. Não conseguia. Como não conseguir parar de olhar alguém? Como isso? Mas que sorriso lindo. Como será o nome dele? João! Acorde amigo, por que está querendo saber o nome de um rapaz que estava declaradamente te encarando e te paquerando?” um estouro alto e risadas por todos os lados chamaram sua atenção para o palco, não havia visto o “cartola” sair, agora eram os palhaços que estavam ali e haviam simulado algum tipo de tiro com uma arma de brinquedo e o público todo caia na gargalhada.
João não havia se dado conta, mas ainda estava na banca com os braços esticados oferecendo a nota ao rapaz perdendo as tão esperadas luzes se apagarem, os risos do filho e da esposa, perdera os malabaristas, os contorcionistas, o trapézio, os cães adestrados, o mágico e o atirador de facas ainda tentando resolver  em seus pensamentos toda a história da maçã  do amor. Se perguntou por que não conseguia deixar de pensar em uma situação aparentemente tão banal, por que a idéia não se soltava de seus pensamentos. O filho falou animado para ele que era a hora do leão e João saiu do torpe em que estava. Sorriu para o filho e apenas disse para si mesmo que pensaria em tudo aquilo com calma depois do leão. Também era sua parte favorita do espetáculo. Mas isso, naquele exato momento, não tinha a menor importância, porém Lucas esperara tanto por este momento, pelo final feliz da história, e ele queria acompanhar esse momento com filho. O mais importante que esquecera de lembrar naquela uma hora que se passara era de toda as sensações que circo significavam para ele, porém sempre quando via Clarice dizendo algo baixinho no ouvido de Lucas e o menino ria, ou quando o som de susto das pessoas ao redor com  as facas quase acertavam a mocinha, ou quando em uma nuvem  de fumaça o mágico desaparecia e todos exclamavam  alto a surpresa, ele lembrava o quanto gostava de circo, e mesmo assim algo nele escolhia por se manter ainda refletindo os grandes olhos amarelos. Atentou-se e percebeu que ainda segurava firme o palito da tão bonita maçã do amor ainda intacta e com toda a calda a mais que ele tanto queria.
-Com vocês o Grandioso Andrius, o domador de leões!
A jaula do leão apareceu ao fundo do palco com um grande pano azulado a cobrindo. O domador entrou e foi próximo ao canto contrário da platéia, curvou-se e todos o aplaudiram. Usava uma camisa branca de manga cumprida e um colete preto sobre a camisa, com bordados dourados e uma calça preta também. João observou, era alguém mais novo que o domador de quem ele lembrava, não tinha aquela enorme barba nem os cabelos pretos compridos. “Será?”, ainda pensou enquanto o artista cruzava o palco.  O domador aproximou-se do canto que estavam, curvou-se novamente cumprimentando a platéia e ao levantar João teve certeza. Era o rapaz da banca de maçãs. Ele era o domador de leões. Sentia uma calma estranha agora, só observá-lo de longe sem ser visto não parecia causar a mesma sensação tão intensa. Mas alguma sensação causava, um tipo de emoção tão calada e plena e forte como a de quando o olhava nos olhos. João estava sorrindo amplamente.  O pano foi tirado de uma vez só e o leão rugiu alto mostrando todos os dentes, como se ensaiado para deixar a platéia assustada. O domador abriu a a gaiola e em passos lentos o leão atraído por ele saiu da jaula. João teve medo que o leão machucasse o rapaz e perdeu o sorriso por um momento, mas era evidente que a fera era um fantoche nas mãos do domador. Lucas delirava, as vezes segurava a mão do pai mais forte e deixava escapar exclamações de medo e surpresa. Todo tipo de coisa foi feita, o leão o acompanhava perto demais da platéia andando calmamente, abaixava para que o domador passasse a mão em sua cabeça, as vezes o rapaz o atiçava a rugir alto, o fazia subir em plataformas pulando de uma para outra, o rapaz, o domador sabia bem o que estava fazendo.
Mas João pouco viu o leão, acompanhava os passos do domador atenciosamente. Era um rapaz realmente bonito, pouco mais novo que ele mesmo. Poderiam até ter  idades bem próximas, mas algo nele aparentava um ar de juventude mantido intacto. O sorriso era o seu sorriso, de João; convidativo, cativante, não era grande e cheio de dentes como o de João, na verdade era um sorriso cumprido e de  lábios finos, porém passava a exata mesma impressão que o sorriso de João. E o domador sempre mostrava seu sorriso ao público após as façanha com o leão, levando todos a aplaudir.  Era um rapaz alto, não demais, porém alto. Tinha os cabelos encaracolados de um castanho conhaque, a cor lembrava os pelos dos cavalos acanelados. Os ombros eram largos e a cintura bem estreita, mantinha-se projetando o peito imponente. Aparentava ser magro devido a altura mas seus  músculos eram vultuosos. As pernas e os braços demasiadamente cumpridos, que poderiam parecer desarranjados parados mas ficavam alinhados quando repletos da coordenação formidável  que artistas de palco possuem, parecia fazer uma dança com os movimentos de seu corpo e membros. As mãos também eram expressivas, ossos aparentes em dedos finos e compridos. Tinha um rosto plano, como em um desenho, parecia quase haver uma linha reta entre o queixo a ponta do nariz e a testa. Só as maças do rosto que eram salientes, arredondadas e sempre se mostravam a cada sorriso. Seu rosto lembrava o das bonecas devido a simetria exacerbada e os elementos  nivelados.
João buscava aqueles olhos amarelos mas ele não o enxergaria na escuridão da platéia. Observá-lo calmamente, sorvir os detalhes só o deixara mais ávido pelo olho no olho e a perdição de sentidos que adveio disto uma hora antes. Esquecera o tempo todo no espetáculo do domador de questionar o que havia acontecido entre os dois, como fizera até então. Não havia percebido, porém mesmo de longe a tal sensação estrangeira tomava conta de João por completo quando botava os olhos no rapaz.
O domador caminhou ligeiro até o palhaço e disse algo em seu ouvido, logo voltou para perto do leão e o fez subir em uma plataforma e sentar-se sob as patas traseiras, o bicho observava o nada em uma expressão pacífica, inadequadamente aparentando tranqüilidade mesmo sobre tanto domínio e submissão ao domador. O palhaço então falou para as pessoas sobre a parte mais esperada do espetáculo, aonde alguém da platéia poderia se voluntariar para sentar-se onde o leão agora estava sentado, enquanto o domador conduziria a fera ao redor do voluntário. João perdeu-se repentinamente do bem-estar que se encontrava no momento em apenas observar o rapaz. Como não podia ter lembrado desta parte da apresentação com o majestoso leão. O que viria depois é o que mais lhe desagradava. Quando criança era protegido por ser uma criança, todas as vezes que revira o Liktenis o havia feito adulto, após os 16, 17 anos pouco saia para este tipo de programa com a família. Mas em todas as vezes que havia levado o filho ao circo, esperava ansiosamente a parte do leão por ser sua preferida, mas mantinha-se desviando do medo que sentia do que haveria no final.
As luzes da platéia se acenderam, o palhaço advertiu dizendo que apenas os “papais” poderiam participar deste momento da apresentação, mulheres e jovens não.  João pediu, orou, implorou em silêncio para que alguém levantasse a mão e se voluntariasse para ir sentar tão próximo das garras do leão. Mas conhecia sua cidade muito bem. Ninguém se voluntariou. Agora aconteceria a parte que para ele devia ter sido planejada como engraçada, porém lhe soava apenas como sádica. O palhaço anunciaria que ele mesmo escolheria um homem para sentar próximo ao leão já que nenhum havia se voluntariado. E acaso esse não aceitasse ir, iria ganhar um nariz vermelho de palhaço para usar até o final do espetáculo. Pois bem, nunca fora escolhido, mas não tinha a coragem, aliás, como pensava ele, não tinha o descaso com a vida necessário para  ir sentar próximo a um leão. Por que diabos crianças e mulheres não podiam ir? Por que definitivamente a segurança da encenação era mínima. Jamais. Apenas três seriam escolhidos, e pelo que lembrava na maioria das vezes três sensatos usaram um nariz de palhaço para  não estragar a brincadeira, e discretamente descartavam a vergonha vermelha imposta quando as luzes se apagavam. Houveram vezes que poucos homens honravam sua loucura e aceitavam ir. Estaria a salvo. Quem sabe alguém não aceitaria desta vez. Ponderou tudo isso na breve pausa entre a frase do palhaço anunciando o desafio e o silêncio frustrante das pessoas, quando a novidade se prostou a luz. 
-Então meu caro Andrius, agora é com você, quem sabe acerta melhor do que eu e escolhe um doid.. opa, corajoso homem para sentar lado a lado do nosso amável felino!
              O domador nunca escolhia ninguém, era sempre o palhaço, lembrava-se nitidamente disso desde a época de criança. O pai de João nunca havia sido escolhido, mas mesmo criança observava a naturalidade forçada que o pai esboçava quando o palhaço o olhava. Depois, quando João o questionava, o mesmo dizia que aceitaria de prontidão, somente não erguia a mão antes por que o perigo que viesse a ele, que ele não fosse até o perigo. João entendeu anos depois o que o pai queria dizer, e entendeu também que provavelmente o pai mentia, ou que apenas tal regra não se aplicava a ele João. Simplesmente não iria. Não se guiaria ao perigo, nem deixaria o perigo vir. Por que as regras haviam mudado? Olhou para o rapaz e esse já o estava olhando sob as luzes da platéia. João ainda não sabia, mas o rapaz o olhara desde que as luzes se acenderam na platéia, e não havia deixado de o olhar por nenhum momento. Ao perceber seus olhos novamente, João em frações de segundos soube que estava sendo observado o tempo todo e pesarou-se  por não ter correspondido o olhar que tanto havia procurado na escuridão de antes, mas estava ansioso demais observando o público, o palhaço e o medo.
              João previu pouco antes de acontecer mas não teve tempo de mascarar sua reação, o domador apontou veemente para ele. Levantou as sobrancelhas bem alto e  arregalou os olhos assustado.  O palhaço aproximou-se de João e perguntou, “Vamos, bravo senhor?”. O rapaz o olhava profundamente sorrindo. O público se apoquentou, alguns gritavam “vai lá”, João desfilou seu melhor sorriso, olhou para Clarice que estava com a expressão mais preocupada e assustada que ele já havia visto balançando a cabeça em sinal de não, Lucas apenas o olhava, João enlaçou os dois com seus braços protetores e agitou o indicador expressando um não, ainda sorrindo para o domador,  apontou para Lucas. Tinha um filho, por Deus.  O domador o olhou também sorrindo, apontou para si mesmo, mostrou o número três com os dedos e gesticulou com o braço para baixo e a mão esticada expressando pequeno. O domador tinha três filhos então...  O público todo fez  um “ah” longo e desanimado.  João esticou a mão para pegar logo o nariz de palhaço e resolver a situação, o colocou e alguns poucos bateram palmas desanimadamente.
-Tudo bem paizão, a gente entende! Não pode tirar até o final do espetáculo, hun? Agora Grande Andrius  a próxima vitim... ops, o próximo convidado a ser artista por alguns minutos! Quem você escolhe?
              O domador e João ainda se olhavam, apenas um segundo deve ter passado enquanto o palhaço esperava uma resposta, mas para os dois aquele segundo bastou. Não havia sido uma impressão passageira, algo efêmero, existia uma coisa muito estranhamente concreta entre os dois, por mais inexata que fosse;  simplesmente não sabiam dar nomes e explicações a ela. O domador voltou-se para o público e apontou outra pessoa. João sem a conversa de olhos agora, arrepiou-se tão intensamente que precisou se conter para não acompanhar a fribilação na  espinha junto com um movimento de todo o corpo. Os pelos do braço estavam eriçados. Não sabia, mas não pensava novamente. Não ouvia, havia se estacionado na estática de antes. Não viu, mas o domador havia apontado para mais duas pessoas que já estavam com o nariz de palhaço como ele também, quando se levantou da poltrona verde. Lucas olhou para o pai em pé e ele olhou Lucas. Olhar o filho lhe causava uma sensação tão intensa quanto aquela, mas com o filho ele sabia exatamente o que era, não havia estranheza, não havia vazio, não havia medo, não havia exaltação. Era pura paz. Essa paz sempre estava ali nos olhos do filho.
-Posso colocar o nariz de palhaço?- Lucas perguntou como se tivesse já entendido e concordado com o que o pai iria fazer.
              João tirou o nariz e entregou para o filho, e lhe deu a maçã do amor que havia segurado até agora. Lucas colocou o nariz de palhaço sorrindo para o pai. Sabia que Clarice estava dizendo algo mas não entendia o que era. Quando deu o primeiro passo até o palco só conseguiu ouvir “João” e sentir a mão firme da esposa agarrando seu braço até o segundo e terceiro passo quando sua mão não o alcançava mais, ele não estava longe, mas ela não o alcançava mais. Clarice com a mão esticada e os dedos finos agarrando o ar ainda dizia João, ou gritava, ele não sabia nem tentava discernir. Alcançou o palco, e os olhos dos dois voltaram a sua conversa íntima sem palavras e pensamentos. O palhaço veio até ele, disse algo, João só balançou a cabeça sem desviar os olhos do domador, não havia entendido mas só poderia ser a pergunta mais óbvia. As pessoas foram ao delírio, gritaram muito mais do que até agora em todo o espetáculo.  Se olhavam fixamente, e quando as bocas resolvessem conversar  o que se passava com os olhos, saberiam se entender nessa precisão? Sorriam um para o outro o tempo todo. O domador levou o leão até um canto do palco e abrindo os braços apresentou mimicamente o banco em que o leão estava sentado. João não virou os olhos para o lado por medo de onde, ou o que o leão estaria fazendo, ele não virou os olhos para o leão por quê não deixou de olhar  o rapaz. Caminhou até uma cadeira, e sentou-se. O domador agarrou seus ombros e disse em seu ouvido:
-Provavelmente não preciso  te dizer isso, mas pode confiar em mim.
              João entendeu. Parte do que seus olhos tanto conversaram em tão poucos momentos que tiveram observando-se, o nada e o inexplicável tomaram sua primeira forma mais definida, sua primeira palavra, confiança. A estranheza diliu-se um pouco no peito de João, mas o desconhecido, mesmo uma desconhecido confiável causava um pouco de receio. O domador ergueu os braços e apontou para João pedindo mais uma salva de palmas, que foi tão fervorosa quanto a anterior. João forçava um sorriso visivelmente nervoso para as pessoas, havia se lembrado do leão e do que estava por vir. Sentia uma ansiedade intensa. O domador foi até o leão e o conduziu com uma distância desconfortável para  João da cadeira, enquanto este observava a forma de andar da fera. Eram passos lentos, cheios de si, a cauda pouco se movimentava, de perto sua pelagem era tão bonita, pensou. Queria tocá-lo, deslizar a palma da mão por suas costas e entrelaçar os dedos em sua juba, como o domador fez em momentos do espetáculo.  Até os reis acabam se curvando a alguma coisa ou a alguém. E assim era com o rei das selvas, o domador chamava sua atenção o mantendo a olhar para frente estalando os dedos e batendo palmas, sorrindo, dizendo seu nome, o olhando. O olhando. Seria algum tipo de poder mágico que o rapaz possuía, apenas isso? Ele havia sentido o tempo todo o que o leão sentia agora? Poderes mágicos não existiam para João, era racional demais para tal tipo de pensamento que para ele, era pífio demais. Não era isso.
“Pode confiar em mim”, lembrou e concluiu que não havia sido enfeitiçado, tudo que passara estava refletido naqueles olhos, o rapaz também passara. E que poderes mágicos tinha João então para cativar a recíproca do olhar do outro? Após duas voltas dadas pelo leão e o domador em volta de João, o leão foi conduzido até a outra ponta do palco novamente e colocado para sentar-se. O domador voltou até João, que levantou-se, e segurando em seu pulso, levantou seu braço para o alto. Mais aplausos. João pensou que não havia sentido medo real em nenhum momento. Esteve o tempo todo apenas ansioso e fascinado. Colocaram-se de frente um para o outro e o domador esticou o braço em sua direção e apertaram as mãos firmemente. João quis perguntar qual era o nome verdadeiro do rapaz e o rapaz quis mais uma vez perguntar qual era o nome de João. Deixaram os olhos se despedirem rapidamente; o agora corajoso voltou para o público.
               Lucas levantou-se e abraçou o pai logo quando ele chegou, Clarice mantinha uma  expressão áspera e contrariada, mas mesmo assim sorriu ao ver o marido bem. O domador despediu-se do público, e sentado João saboreava uma satisfação comedida. Olhando para trás, não poderia dizer que possuía um passado impecável sem nenhuma situação inconseqüente em toda a vida. Havia tido seus porres homéricos quando mais jovem, tinha arrumado brigas em bares e quando não arrumava, comprava a briga dos amigos que recorriam ao seu tamanho. Havia se arriscado com a velocidade do volante, experimentara o que se pode dizer de produtos ilícitos, mas algo nele sempre o manteve  fiel aos princípios que havia escolhido para o tipo de pessoa que queria ser. Tinha modelos firmes, procurava sucesso no trabalho, estabilidade financeira e ter uma família que o amasse. Quando as coisas saiam mal, os deslizes eram tratados com culpa e arrependimento por ele depois, iam muito contra ao que era, ao que sonhava em ser. Com o tempo,  os anos e a vida planejada chegando cada vez mais perto, o pouco que restou foi um exagero na bebida aqui e algum amigo dirigindo para ele ou mesmo a mulher, algumas acaloradas discussões políticas e religiosas e sociais, até atos banais de protesto contra o mundo, nada além. Correr riscos nunca fora sua maneira de encarar a vida. Caminhava pelas estradas calmas procurando uma sombra no seu lugar ao sol. A atitude impensada de hoje o impressionou, sabia que de fato mesmo era algo totalmente banal, mas permitiu-se sentir a adrenalina do que acabara de acontecer. Se o pai estava sendo sincero em suas palavras, havia seguido o conselho dele, não fugira do perigo e o enfrentara de frente. Somente isso já lhe dava certo tipo de prazer que há tempos não sentia. O prazer do perigo vencido frente a frente   .
              Não viu, ainda saboreava seu momento, mas todos aplaudiam, as luzes do palco se apagaram e as luzes da platéia se acenderam. O espetáculo havia acabado. Olhou para a família. Lucas conversava algo com a mãe, os amava intensamente. O cabelo preso no rabo de cavalo deixava Clarice mais bonita ainda, seu rosto ficava mais aparente, mais marcante. Com toda a falação de fim de apresentação que havia dentro do circo, não conseguia ouvir o que os dois conversavam, Clarice riu e pendeu a cabeça para trás como sempre fazia deixando clara toda sua beleza, acariciou os cabelos de Lucas, disse algo com uma expressão séria, e então se dirigiu a João, aumentando um pouco a voz para que ele a ouvisse:
-Agora conte tudo pro seu filho do quão insensato você foi João- e lhe deu um sorriso irônico.
O filho virou para João, e perguntou como havia sido com o leão, se ele tinha sentido medo, que não entendia por que ninguém levantava a mão, pediu se podia ser domador de leões, se isso se aprendia em livros, se o leão o mordesse  quem ia salvar o pai, e o fim de noite daria leão sem sombras de dúvidas. Lucas ao meio segurando as mãos da mãe e do pai, caminharam juntos até a saída. Como pode, João tentou explicar que não havia perigo, mas havia perigo, que havia sido bom, mas que não fora uma atitude boa, que arriscar-se é importante quando se há segurança, mas que nada é tão seguro nessa vida, que havia sentido medo, mas não havia sentido tanto medo assim, e Clarice em nenhum momento auxiliou João quando ele a olhava implorando por uma boa frase de efeito.  Assim foi até chegarem ao letreiro luminoso novamente e quando atravessaram chegando a calçada da rua fora do circo, João lembrou do rapaz e a lembrança lhe soou como se houvesse acontecido a muito tempo atrás, anos até. As sensações, os olhos, os questionamentos, os sorrisos, o sorriso dele haviam sido levados para longe de seus pensamentos.  Virou-se para trás, não podia acreditar. O rapaz corria até eles. Será que ele havia chamado seu nome e por isso João havia se virado bem quando o rapaz se aproximava? Bastaram os olhares se cruzarem e ambos sorriram exultantes.
-A maçã do amor que eu guardei.- entregou a maçã para João- Boa noite para vocês!- e já voltando para dentro do circo apressado, olhou para Clarice e Lucas e disse  enquanto continuava a andar- me desculpem por não me apresentar, é que a banca de maçãs do amor está sozinha! Ah, parabéns pela coragem e vocês família, parabéns pela confiança! Boa noite e bom retorno!-e foi se misturando as pessoas até desaparecer. Enquanto andava até a banca observando já uma fila de pessoas esperando ser atendida o rapaz pensou mais uma vez “como é o seu nome?”.
              João queria ficar observando ele voltar até que não conseguisse mais alcançá-lo com os olhos, mas evitou a cena sem sentido e foi dizendo:
-Ele também é o domador de leões, e vende maças do amor nos intervalos parece! Ele disse que ia guardar uma para quando saíssemos... Esqueci de pegar.
-Posso comer ela pai?
-Lucas, eu bem vi você comer uma maça de amor agora mesmo lá dentro do circo. Depois você não se sente bem filho, você sabe. E você João, pedindo para guardar doces, deixa pago e o rapaz vem te trazer na saída do circo? Isso está parecendo tráfico de drogas! O que você disse para deixa-lo tão preocupado em entregar a maçã? Que eu nunca te deixo comer doce nenhum não é? Eu saindo de vilã mais...-antes que Clarice terminasse a frase João a abraçou e tentava beija-la enquanto ela  desviava a boca do beijo e continuava a repreende-lo. Ele sempre fazia isso. – não consigo acreditar João, deixar um doce pago com medo que acabasse, que tipo de  bobeira é...- mais tentativas de beijos, um abraço que a envolvia por inteira até que ela não resistiu e devolveu o beijo com muito carinho. Ele sempre fazia isso, e sempre dava certo. Afastou o rosto, ela disse o olhando nos olhos- e agora o que realmente importa. Sei que nunca te disse, realmente deveríamos ter discutido algo assim tão importante antes, mas eu sou totalmente contra você sentado perto de leões, jaguatiricas, onças, leopardos, pumas, tigres e todo tipo de felino que mata gente. Eu sei que devia ter te avisado antes amor, mas que fique claro a partir de agora. Entendido, senhor João?
-Entendido, senhora Clarice!- riram.
-E pode me dar essa maçã do amor que eu vou comer desta vez. Vocês dois já comeram doce demais por hoje.
              João encolheu-se por dentro, a outra já havia ficado com o filho, essa não, era dele, só dele, dada por ele, essa maça era dele e do domador, dele e do rapaz apenas.
-Nunca amor. Se não eu te deixo aqui na porta, volto lá dentro e compro outra. Você não gosta de maçã do amor, vai comer para que eu não passe mal? De vilã à heroína!
-João, tudo bem, você sabe que não gosto, mas só pra constar, o pé de boldo está plantado no vaso laranja. Agora fui de heroína para vilã. Vamos embora que preciso tirar esses sapatos!
              Andavam em direção ao carro quando ansioso João deu logo a primeira mordida na maçã e aliviou-se por poder voltar a pensar no rapaz. “Qual seria o nome verdadeiro dele?”. Enquanto o filho e a esposa conversavam, João parecia ter mudado totalmente a matéria dos questionamentos. Não havia percebido, mas queria saber quem era o rapaz. Que gesto bonito trazer a maçã até ele na saída, conforme o prometido. “Pode confiar em mim”. Andrius provavelmente era o nome do personagem, do domador, mas qual seria o nome dele mesmo? Bem de perto e sob as luzes do palco, pode observar que a maneira que o rapaz o olhava era inocente e perdida como a dele mesmo. Às vezes ambos faziam uma expressão de curiosidade um para o outro enquanto se olhavam, cerrando as sobrancelhas. Isso parecia denotar no outro a mesma carência de entendimento do que havia tanto impressionado João no rapaz, e o que havia impressionado o rapaz em João.  Queriam poder ver cada detalhe, cada aspecto, trocar sorrisos; roubavam do tempo toda e qualquer oportunidade para poderem se olhar e sorrirem um para o outro. A calda grossa era tanta e unida a voracidade da boca de João acabaram deixando seus lábios avermelhados, espalhando-se até ao redor da boca. Com a outra mão tocou o queixo, sentiu o melaço, e de olhos fechados deu mais uma mordida na maça de amor do rapaz, que sorria em seus pensamentos para ele de uma forma tão nítida, quase palpável.
              Ele havia gesticulado que tinha três filhos. Se prostrava a todo o perigo do leão com três filhos, devia ter muita coragem. Ou um pouco de loucura. Provavelmente ambos. Seria casado também? Provavelmente não, havia pedido para que ele apresentasse uma garota da  cidade em troca da maçã. Parecia mais novo que João, então provavelmente havia tido filhos cedo. E que escolha peculiar de profissão! João não lembrava de ter visto cabelos daquela cor antes. Definitivamente não eram tingidos, mas o tom conhaque era marcante demais, incomum. Tinha uma feição tão delicada quando sorria que as vezes parecia uma criança. Porém quando estava no controle do leão seu rosto se transformava, os olhos ficavam astutos e severos. Pouco sorria e as sobrancelhas mantinham-se altas, a voz baixa e densa soprava com firmeza os encantamentos para conduzirem o leão. Os braços e as mãos pareciam deslizar suavemente pelo ar, as vezes para o alto ou apontando para o chão, as vezes chamando a fera, e também ordenando esticadas em seu máximo, autoritárias, movimentando-se com tamanha articulação, destreza e beleza.  Por que havia escolhido João como voluntário assim, logo o primeiro... Havia sido pelo mesmo motivo que João havia aceito em ir? Sim, agora entendia, ou aceitava o real motivo. Só queria ficar mais perto do rapaz. Por isso levantara ao desafio. Seria esse o motivo do rapaz também, ter  João mais próximo dele, tão próximo, poder lhe dar um poderoso aperto de mãos e um abraço não dado mas imaginado pelos dois  naquele  momento? Sem que percebesse, a maçã havia se acabado, nem pudera apreciar a última mordida, olhava apenas o palito avermelhado. Foi quando se deu conta, nunca mais voltaria a ver o rapaz, não havia motivos para voltar ao circo e o circo em pouco tempo iria embora da cidade. O Liktenis sempre voltava a cidade, mas quanto tempo demoraria para isso?
Experimentou um certo tipo de tristeza, que enquanto diriga até sua casa no começo pareceu banal.  Ouvia a conversa da mulher e do filho, as vezes dizia algo. Mas a tristeza incerta, se tornou um aperto, algo no peito. Ao chegarem, a esposa indo apressada tirar os sapatos e tomar um banho, o filho no quarto, e a tristeza já era dor. Estava parado na mesma sensação  mais uma vez, porém dessa vez realmente amedrontado em não ver o rapaz de novo. Sentado no sofá da sala com a TV ligada o aperto no peito agora era um nó na garganta, e como há muito tempo não sentia, quis chorar, ao perceber-se assim, ficou muito assustado consigo mesmo. Seu medo de dizer o que realmente estava sentindo, dar o nome certo a que tipo de sensação o rapaz havia lhe proporcionado, era um medo que quase o dominava. Mas como defronte ao leão, sua coragem era maior. Não ia dar nome nenhum. Resolveu que não ia mas  perguntar o por quê dessa vontade de estar perto dos olhos amarelos pelo menos mais uma vez, ia arrumar um jeito de vê-lo e pronto.
Já estava um pouco tarde, Clarice estava provavelmente se trocando para dormir, João foi até o quarto do filho. O menino estava desenhando em seu caderno deitado na cama. Ao ver o pai parado na porta a olhar para  ele, fez uma careta de decepção. Deixou o caderno sobre o criado mudo e sentou-se na cama, esperando que o pai se aproximasse. João foi até ele e o abraçou com muita ternura. O menino o beijou no rosto e sorriu segurando as orelhas do pai como sempre  fazia quando João disse:
-Sentiu medo filho?
-Nenhum pai, eu sabia que não ia acontecer nada de ruim, o moço o seguraria se ele tentasse alguma coisa! E pelo pescoço viu?
              Riram juntos. O pai silenciou-se e olhou para  o menino que fez a careta novamente e deitou-se. João subiu a manta até o peito de Lucas, e beijou sua testa. Olhou para o abajur enquanto o menino seguia seu olhar, e somente em olha-lo novamente, o pai entendeu que aquela havia sido uma noite tranqüila para Lucas, apagou a luz do abajur e saiu do quarto. Muitas vezes era assim, não diziam em palavras faladas quase nada um para  o outro, o filho e o pai pareciam mesmo se comunicar por pensamentos, como a mãe dizia. E quando conversaram, parecia ser pela metade, um sabia do que o outro ia falar ou do que estava falando. João já sabia a resposta do filho, mas queria ouvi-la. Sentiu o tempo todo que o menino não sentira medo algum.
              Foi até seu quarto e observou a mulher já de banho tomado sentada em frente a penteadeira passando algo no rosto. O cheiro adocicado invadia todo o quarto, era o cheiro da  mulher, uma combinação do perfume, dos cremes, do sabonete, do shampo e do seu próprio perfume natural. Sentia todas as noites antes de dormir e o lembrava de amor. Aproximou-se dela.
-Vou sair para tomar umas  e outras, quando voltar te acordo pra fazer um café bem forte para mim, e um pão com presunto bem gostoso, para que eu não acorde com dor de cabeça.
-Claro amor- Clarice sorriu com um tom de sarcasmo mais preocupada em não deixar nenhuma área do rosto sem creme- pode me acordar sim. Eu faço omelete de presunto, não prefere?
-O que você quiser meu amor- João a beijou na bochecha e ágil esfregou-se no rosto da mulher para tirar o creme que com tanto cuidado ela havia passado.
-João!- ela afastou-se indignada- eu já estava quase acabando!- Clarice colocou um dedo no pote e com uma quantidade exagerada de creme nas mãos esfregou no rosto do marido que pulou para trás rindo- seu sem graça! Agora é só espalhar em movimentos  circulares de baixo para cima tudo bem?- riram um do outro- não volte tarde João, e nada de ligar para o Flávio, ele bebe demais e aí você bebe demais, chega derrubando as coisas pela casa, cantando Elis, grita que me ama, e eu sou obrigada a fazer o tal café da madrugada. E hoje estou cansada demais mesmo- João sorria ironicamente para ela- não fique rindo, é sério. Além de cansada, estou vilã. E bruxa. Sem chá de boldo, sem café, sem nada, trate de chegar bem, tomar um banho e deitar-se aqui para dormir, tudo isso em um silêncio absoluto.
-Sim senhora sargenta- e bateu continência para a mulher a olhando sério.
-Hoje sua criatividade estava formidável João. Já me chamou de bruxa, de heroína, e agora de sargenta? Cuidado senão eu viro freira a semana toda- a gargalhada da mulher era linda, afinada, e ele adorava.
-Sendo o que for as vezes Clarice, o que você realmente é para mim, é meu amor, tudo bem?
-Ah sim, claro que uma frase romântica vai te salvar de todos os nomes que...- e João já estava a beijando intensamente e também a calando. Dessa vez Clarice não relutou, virou-se ainda sentada e correspondeu o beijo tocando o rosto do marido com carinho. Os olhos de João inesperadamente se abriram no meio do beijo e a observaram. A amava, isso era fato. Tinha certeza disso. Porém algo diferente pela primeira vez se figurou nas idéias de João em relação a mulher. Não se atentou, fechou os olhos e entregou-se novamente aos lábios pequenos e delicados da esposa.
              Não era um costume que podia se dizer comum para João, mas  em alguns finais de semana saia para beber com os amigos, ou as vezes até sozinho. A mulher aceitava bem, ou pelo menos na medida do possível. Gostava de sentar no balcão, e observar os casais, as garotas bonitas, as pessoas no geral. Mas não era isso que tinha planejado para hoje. Ia sair para beber sim, não tinha por costume mentir para a mulher, e odiava quando acontecia. Porém antes de parar em algum barzinho ia passar por um lugar com os olhos bem atentos. (DESCREVER O BANHO DE JOÃO)
                                                                      3° CAPÍTULO
              Já no carro, estava no quarteirão. As luzes estavam quase todas apagadas, dirigia pela parte de trás, haviam vários trailers dispostos desordenadamente. Alguns com as luzes acesas, outros com as luzes apagadas. Ninguém estava vestido a caráter, então era engraçado ver algumas pessoas se esticando até o chão, ou fazendo malabares com pinos e bolas coloridas. Havia uma fogueira e algumas pessoas estavam sentadas a sua volta. João andava com o carro bem devagar, querendo ser percebido já que até agora não percebera. Mas seus olhos procuravam com afinco. Nada. Observava agora que haviam muitas crianças andando, e até mulheres carregando bebês de colo. Havia uma mesa grande e uma  mulher colocava panelas sobre ela. Alguns pegavam um prato e sentavam, outros comiam em pé. Nada. Resolveu que voltaria no próximo final de semana sozinho ao circo, não haviam motivos para trazer a família consigo, somente se Lucas pedisse, o que não aconteceria. E não mentiria dizendo que precisava ver outra  apresentação trazendo a família toda novamente. Apenas viria sem aviso, haviam sessões bem cedo. Desta vez poderiam conversar. Queria tanto conversar. Prestar atenção em sua voz. Resolveu completar a volta pelo quarteirão, na lateral apenas se via a tenda, nenhuma pessoa. Ao passar pela entrada do circo avistou logo quando dobrou a esquina alguém encostado fumando um cigarro, logo abaixo do letreiro apagado. Era ele. O que faria? Pararia o carro e iria até ele? Não teve tempo o bastante para decidir e o carro já passava pelo letreiro, por ele. Parecia distraído, pensativo em seu cigarro, mas o rapaz o olhou também, a velocidade do carro estava estranhamente desacelerada.  Se olharam, se reconheceram obviamente. João não conseguiu fazer nada, e quando percebeu o carro já havia passado por ele e se distanciava, ainda lentamente. “Vou parar” pensou e escutou um assovio bem alto. Olhou no retrovisor e o rapaz agitava os braços, sinalizando que parasse.
              João estacionou e o rapaz correu até perto, ao parar em frente ao carro, jogou o cigarro e se agachou ficando com o rosto na linha da janela. Olharam-se, mas desta vez João ficou atordoado, estavam próximos demais. O olhar do rapaz parecia também um pouco assustado, porém ele sorria olhando para ele. João não se conteve e retribuiu o sorriso. Ambos pensavam que não podiam se perder em olhares por muito tempo novamente, soaria estranho. Mas se perderam. E mais uma vez não perceberam ao certo de quanto tempo, porém havia sido muito tempo. “Preciso dizer alguma coisa” disseram para si mesmos em pensamento quase que simultaneamente.
-Como é seu nome?- o domador perguntou a João.
-João. E o seu?
-Andrius.
-Esse  é seu nome verdadeiro?
-Sim- e brilhou ainda mais seu sorriso- minha família toda sempre foi do circo, nasci no circo. Meus pais resolveram me guiar aos palcos desde o momento que botaram os olhos em mim! E deu certo, nasci para isso. Mas me  diz, o que tem de errado com Andrius? Não é tão incomum assim.
-Nada! É muito bonito! – ao perceber o que havia dito João corou- só imaginei que a maioria tivesse um nome artístico e o nome real.
-A maioria tem sim, um nome artístico.- Andrius gostou do encabular-se de João, apreciou a mudança de expressão e o sorriso contido que ele passou a estampar- Agora do pessoal que se apresenta sou o único que uso o meu nome mesmo.
              Ao sentir o imperceptível prazer do rapaz em vê-lo encabulado, João resolveu acuá-lo com algo que estava em sua mente, mas parecia inapropriada de se dizer.
-Melhor eu ir indo. Você está trocado e estava parado em frente ao circo. Logo, quem você está esperando chega!
-Eu?- e Andrius engoliu seco enquanto agora João é quem sorria e o rapaz sentia o rosto esquentar- Eu não estava esperando ninguém não.
-Parecia estar.
-Não estava não... - os olhos desviaram dos de João por um pequeno instante, visivelmente criando alguma desculpa em sua mente, ao voltar a olhá-lo continuou- Estou trocado por quê estava de saída, ia procurar algum lugar nas redondezas para beber algo. Vi você passar andando a 20 por hora e te chamei- sorriu - uma carona para algum lugar seria bom.- e então era a vez de João ficar encabulado- sem falar que te dei duas maçãs de amor bem recheadas e pedi que em troca me apresentasse as garotas bonitas da cidade! Falando nisso por que passava por aqui naquela lerdeza toda? Estava procurando alguém?
-Eu estava- João disse em um estalo com toda a certeza do mundo. Andrius ficou curioso, seus olhos brilharam muito, tanto que João pode perceber. Outra pausa incomum.
-Não vai dizer quem estava procurando?
-Uma garota bonita para te apresentar!- e João deu seu sorriso mais lindo assim, de graça para  Andrius. E ele devolveu o sorriso mais lindo que tinha para João.
-Como ela não está sentada aí ao seu lado, não deve ter achado nenhuma- e riu alto, João ficou fascinado, pode observar o riso de Andrius de perto, era forte e muito entoado, eram gargalhadas bem definidas, dramáticas, como se fossem ensaiadas e mesmo assim soavam totalmente sinceras, os olhos de Andrius ficavam apertados, e João riu junto mais ocupado em observar do que em  rir.
-Não achei a garota. Na verdade é assim Andrius, eu não me lembro se disse antes, mas digo de novo, a maçã de amor estava boa demais, e por isso obrigado. Mas sinto em informar que não sei mais de garotas bonitas da cidade- e mostrou a aliança nos dedos grossos fazendo um tipo de careta engraçada.
-Cavalo amarrado não deixa de pastar, só não pasta longe- um ar malicioso em seu rosto- Não tem problema João, hoje não está uma boa noite para mulheres, está uma boa noite para encher a cara. Você bebe?
-Bebo sim, se fosse sólido come-lo-ia- e riram, e se pudesse João faria piadas a noite toda só para  ouvir o riso de Andrius- eu sou um cavalo solto que sempre volta para pastar no mesmo lugar. Lá a grama é mais verde! Você disse que tinha filhos, é separado da mãe deles?
-Não sou não, são três como eu disse, e ela vive aqui junto comigo no circo. É a garota que leva, aliás, quase leva facadas no espetáculo de atirador de facas. As vezes ela fica de assistente do mágico. Vai mudando.
-Entendo... Então essa conversa toda de garotas da cidade era para se passar de artista de circo garanhão para o pai de família entediado aqui?
-Claro que não João, fui sincero. As vezes saio com outras garotas, não falamos sobre isso e ela deve até imaginar. As vezes brinca dizendo para que eu não me apaixone por outra garota- e fez uma pausa olhando para João- ela mesma já deve ter tido seus romances mesmo enquanto estávamos casados, é bem mais cautelosa que eu, mas certas coisas a gente percebe. Então, minhas pernas estão começando a doer de ficar agachado aqui, já te contei metade da minha vida pela janela, vai me chamar para entrar no seu carro?
-Você que quis ficar ai, se parei não precisava lhe dizer para entrar, devia ter ido entrando logo!
 
                                                                                   
               Andrius deu a volta pelo carro abriu a porta e sentou-se ao lado de João.  Sentado, olharam-se novamente, e o persistente, mágico porém também constrangedor sorriso que se formatava inocente e verdadeiro no rosto dos dois toda vez que se olhavam quase apareceu novamente, mas ambos olharam para frente, envergonhadas com a tamanha novidade do que havia em seus olhos. O que o olhar de cada um havia visto no outro era demais. Parecia ser demais, muita coisa para se assimilar, entender e aceitar. Olhares que avistaram algo jamais visto antes, um algo tão intenso que parecia ser capaz de derrubar barreiras invisíveis colocadas por eles mesmos e pelos outros em suas vidas e nas vidas de todo o mundo, barreiras sociais e internas. Acometiam-se de sensações e pensamentos totalmente forasteiros em suas mentes, já haviam passado por muita coisa para não saberem ao certo o que encantava seus olhos. Sabiam de fato. Os filhos, as esposas, lembranças boas, dias felizes, amigos de quem gostavam, sucesso em suas profissões... O encanto que havia em suas vidas era algo dado como certo e consistente em suas realidades tão pacatas a maneira de cada um. Porém o encantamento que os olhos haviam sentido, os dois amarelos pelos outros dois amarelos,  sobrepujava tudo que havia um dia feito eles, olhos, brilharem. Sentados, tão próximos um do outro, sabiam que não havia sido um mero fascínio, havia algo por detrás dos sorrisos trocados que pedia por ser descoberto.  “Como seria possível?” se perguntaram em pensamento juntos mais uma vez.
Todo o despojamento e o tom descontraído da conversa peculiar pela janela do carro parecia ter sumido. Uma conversa rápida logo na primeira vez em que se conversaram realmente, conversa essa que durou apenas alguns minutos e o rapaz já estava dentro do carro de João. Ambos sabiam o que isso significava, ou significaria em “casos” diferentes, mas parecidos com esse. Eram homens, havia um significado implícito em situações que se desenvolviam assim. Esses pensamentos compartilhados pareciam ter encabulado as palavras. Nada foi falado, por segundos, minutos, não se sabe. Muito mais na verdade. João seguiu dirigindo, e a cada curva feita pelo carro, a gravidade e o tempo pareciam estar e passar de uma forma tão mais macia os envolvendo em uma fluidez extremamente confortável. As coisas pareciam estar certas, havia a impressão que agora sim, finalmente, tudo se encaixava. Não o dia, nem os olhares, nem as dúvidas, mas o todo parecia ter tomado um tipo de sentido tão lógico que a falta de palavras e conversas não tinha nada de “falta”. O silêncio agora preenchia o momento, enquanto curvas e mais curvas apareciam pela estrada embalando a tal fluidez que sentiam.
-Aqui na cidade são poucos...
-Não precisa parar em...
              Falaram ao mesmo tempo depois do longo silêncio que nada tinha de silêncio.
-Não tem muita opção de...
-Podemos passar em algum...
              Riram. E riram alto. Pra valer mesmo. Como se não pudessem controlar. Falar ao mesmo tempo e parar para ouvir o outro no meio da frase por duas vezes seguidas era realmente engraçado. Na verdade talvez não era, talvez apenas fora uma ótima oportunidade de expressar o que se passava dentro de cada um da maneira mais honesta possível: rindo. E as risadas tornaram-se aquele sorriso evitado de antes e agora liberto, olharam-se e João entendeu no olhar do outro que devia falar o que queria falar antes que Andrius falasse.
-Eu estava dizendo que a essa hora não tem muitos bares legais para se ficar que ainda estão abertos, e as garotas da cidade que ficam até essa hora nos bares que estão abertos são menos legais ainda...- riu acanhado.
-E eu dizia que você não precisa parar em um lugar para sentarmos, um bar ou algo do tipo. Podemos pegar algo para beber e ficar pela rua mesmo. Sou de circo, melhor que lona sobre minha cabeça, só o teto das estrelas e da lua! E antes, eu disse, hoje sai para beber. Sem garotas. Só eu e...- engoliu o você, não haveria nada mais ridículo e insensato para Andrius do que dizer para um homem desconhecido beber “só eu e você”, totalmente sem lógica. Isso ele dizia para garotas desconhecidas. Foi quando ponderou e viu que toda a frase que havia dito para João agora era a que mais usava com mulheres por quem se interessava. Vamos beber, em bar não, pois sou do circo, gosto do teto do céu sobre minha cabeça; não muito tempo depois desta conversa estaria agarrando a garota em algum canto escondido e perdido pelas ruelas escuras.
 
              João observou Andrius virar o rosto para a janela envergonhado, precisava dizer algo que aliviasse o rapaz do constrangimento, que mudasse a direção da conversa, tentou:
-Você que manda, domador de leões. Vamos beber só eu e você então debaixo do teto das estrelas!- tentou mudar a direção da conversa, mas não queria mudar, havia gostado do que Andrius quase disse e quando viu, ele mesmo completou a frase dizendo o “você” do “eu” que faltava. O acanhamento de Andrius sumira facilmente ao ouvir João dizer o “você”; enquanto João observava a estrada, o rapaz voltou-se para ele e sorriu:
-Então vamos. Mas comigo as coisas não são de criança e nem de adolescente e nem de adulto, é de cachaceiro. Cerveja quente não desce. Cerveja gelada só até a segunda latinha, a terceira já está quente debaixo dessa lua que está fazendo. E hoje não estou procurando duas latinhas de cerveja. Então tem de ser destilado. E se for pra ser destilado, tem de ser uísque. Mas fique tranqüilo, quanto a marca não sou nada exigente, gosto de todos... lembra que está me devendo duas maçãs de calda vermelha transbordante então estou podendo escolher, ou não?
-Lógico que está podendo escolher! E que bom que é uísque rapaz, quando disse cachaceiro pensei, pinga é bebida de alcoólatra e vodka é bebida que se dá pra mulherada ficar doida, vou me complicar assim- João riu alto- posso estar pastando no mesmo pasto, mas lembro bem como funcionam as coisas- ainda ria e Andrius teve sua vez de apenas observar o riso de João. Era uma gargalhada desenvolta, e bem alta, desbocada e sátira.
              O confortável silêncio voltava a os acompanhar o tempo todo, as vezes um observava o outro enquanto este outro estava distraído com a rua, com a lua. E quando o outro percebia estar sendo observado, mantinha-se com o olhar distante para que pudesse ser observado, curioso e enaltecido em ser observado. Foi assim no posto aonde compraram a garrafa de bebida, sincronizavam os movimentos, os passos, aonde paravam e o lado que olhavam para que pudessem observar e serem observados um pelo outro secretamente. Mas não havia muito segredo nisso. Foi um respeito velado. Ou um medo velado. Pode ter sido também uma vontade em ambos de caminhar o que havia, por que algo havia entre eles, manter tudo que estava acontecendo em passos tranqüilos, sorvendo cada etapa.
 Após comprarem a bebida, João dirigiu até um lugar que gostava muito. Era uma antiga estação de trens da cidade que havia sido desativada, apenas as luzes haviam sido mantidas acesas sem alguma explicação lógica. Jovens às vezes iam até lá para conversar de madrugada, beber e também namorar. Era um lugar nostálgico e muito galante, a arquitetura, a quietude, as luzes amarelas, tudo remetia a olhares de primeira vez um tom de puro romance. Não havia muitos lugares para se ficar na cidade além de praças e coisas do tipo, porém era ali que João em sua adolescência levava as garotas por quem se interessava.   A vista quando sentado nos bancos da estação após os trilhos do trem era de um longo campo de mata rasteira que terminavam em uma colina. Era um dos seus lugares favoritos na cidade, mas João queria impressionar Andrius com a escolha. Além disso, já começava a entender o que mais queria daquela noite e do rapaz. E era o entendimento mais desentendido dos que havia experimentado, porém como desde a primeira vez que haviam se olhado, ele não conseguia se afastar dessas idéias, não conseguia dar um passo para trás e viver sob os conceitos de sempre, algo no domador o matinha avançando em uma situação inevitável e tão desejada por ambos; Andrius mudara algo nele. E ele mudara algo em Andrius.
              Já fora do carro e caminhando para o local pouco iluminado, inúmeras coisas se passavam pelas idéias do rapaz. Atravessaram pelo meio do prédio baixo, estava tudo fechado a tempos, percebia-se na poeira nos vidros e na ferrugem das portas de lata das antigas lojas que compunham as paralelas do corredor largo. Do outro lado, Andrius viu os trilhos e observou o pátio da estação. Estava acontecendo mesmo, João o havia levado em um lugar bonito. Não parecia ser um lugar qualquer escolhido ao acaso. Por mais que os olhares dissessem, as frases trocadas deixavam implícitas, os sorrisos confirmassem, aproximar-se de uma situação tão adversa assustava Andrius. Ele não admitia isso, uma situação assim parecia ir contra ao que ele vivia. A maneira de João e Andrius pensarem sobre todas as circunstâncias daquela noite, em síntese, eram parecidas, mas diferiam totalmente sob um olhar mais atencioso a medida que as coisas se desenvolviam. Enquanto tudo era uma grande novidade para João e ele apenas não conseguia ou queria ou pensava em parar, Andrius já havia passado por situações parecidas, porém manteve-se no controle o tempo todo. Diversas vezes Andrius alimentou “olhares forasteiros” de pessoas com quem não pretendia nada além de olhar. E se afastava quando bem entendia. Era algo que ele gostava profundamente, por isso nunca conseguira ser fiel a esposa, e a nenhuma namorada de antes. Adorava flertar, tinha uma sensualidade que transbordava pelos poros. E muita gente o olhou com outros olhos, apenas se engrandecia com os olhares voltados a ele com desejo, nada além. Porém desta vez ele mesmo que havia olhado João com outros olhos, e o olhar de João fez Andrius perder o controle que sempre detera quando se tratava destes assuntos, fora tomado por curiosidade, desejo, espera.
Logo quando o espetáculo acabara, Andrius jantou rapidamente com a família e saiu sem avisar nada. Foi até a entrada do circo para esperar por João, foi conduzido por essa estranha esperança de que ele poderia passar, e se não passasse, ficaria ali tentando entender o que havia sido. Para depois, tentar esquecer o que jamais poderia ser, jamais voltaria a ver o “apaixonado por maçãs do amor”, o circo iria embora em duas semanas e nada ele sabia sobre “aquele cara de olhos amarelos como os meus”. Nem seu nome. Andrius sim acreditava em misticismos, e por mais que persistisse em achar que tudo havia sido uma impressão passageira, e que o olhar de João não lhe havia dito que voltaria por ele enquanto se afastava logo mais cedo, o rapaz sabia em seu íntimo que ele ia aparecer. Intuira João aparecendo de alguma forma e indo até ele como nunca intuira nada antes, era apenas uma certeza angustiante. Sua esperança mais verdadeira ainda era de que João não aparecesse; mesmo que seus olhos implorassem por ver de novo e quem sabe suas idéias entenderem finalmente, ele preferia as coisas como estavam antes de João dobrar aquela esquina concretizando seu pressentimento. Antes de ver João passando em seu carro, o que ele significava era tão mais simples de se lidar para Andrius. Era uma ilusão intensa de momento, uma brecha nos caminhos do destino dos dois que não deviam se cruzar, mas se cruzaram, os fazendo se perderem em algo perdido por si só mas que fora fugaz, que não significaria nada além daquele momento compartilhado, apenas havia acontecido e ponto, um encantamento guardado com carinho nas memórias.
Para o domador a vida era repleta de magia escondida que as vezes se revelava a olhares atentos. E ele mesmo observara os feitiços do vento se mostrando, mas sabia que como o vento, tais momentos sempre estavam de passagem e são invisíveis aos olhos distraídos, apenas possíveis de realmente serem sentidos quando para-se para a pele sim sentir e entender o vento, para depois os olhos poderem ver o vento, ver a magia no mundo. Ele mesmo colecionava coincidências extraordinárias, intuições, todo tipo de situação que simplesmente achava insensato demais chamar de acaso. Eram para ele momentos aonde os Deuses se mostravam silenciosamente. As vezes aquela conversa toda que os olhos tiveram apenas entre os olhos havia sido isso, um momento encantador dos Deuses brincando com as histórias dos homens.
 Foi difícil para Andrius admitir enquanto observava o campo gramado extenso e os trilhos do trem iluminados apenas pela  lua, mas, João era um homem. Mais difícil que isso, Andrius sentia impulsos por João que jamais havia sentido por outros “Joões”. Isso mudava tudo. Ele nunca deixaria chegar a este ponto com um igual. “As vezes será uma grande amizade, forte mesmo... Vai ver é isso que está escondido no meu e no sorriso de João. Vai ver é isso.” Mas sabia que não era somente isso. Porém convercer-se de que o que havia era menor, quase nada próximo ao que fora, foi a única maneira que Andrius encontrou de não fazer algo que o pegou de impulso: despedir-se de  João, dizer alguma desculpa e ir embora dali o mais rápido possível. Havia sido criado com dificuldades, passara fome, tinha filhos  para ensinar como havia sido ensinado a ele, serem guerreiros na batalha contra a morte, contra o medo, contra a vida. Não entendia das coisas do coração como João entendia, havia sentido tanto as perversidades do destino que tudo aquilo estava indo longe demais em um caminho aonde destino algum, perverso ou bonito, podia ser contemplado sem severas oposições de sua mente. Neste momento, João e ele voltavam ao mesmo ponto, Andrius também não conseguia se distanciar. Tinha inventado uma desculpa esfarrapada para manter-se ali, mas sabia que sem ou com a desculpa de uma possível amizade, ele ficaria da mesma maneira. Precisava saber ao certo até onde João iria, até onde ele mesmo iria na busca de viver tudo que se apresentava. “Destino traiçoeiro. Se for para o meu bem, você irá me surpreender. Mas algo que já sei, Destino, é que certamente vai me fazer sofrer também” pensou Andrius, e pensou que os Deuses que naquele momento haviam pensado tal frase dentro dele.
 Sentaram-se um ao lado do outro em um dos poucos bancos, e afoito, o domador abriu a garrafa e deu um longo gole da bebida no gargalo tentando calar as idéias que haviam afastado o conforto todo adivindo  do silêncio entre eles que havia carregado Andrius e João nos braços até então, inertes ao peso da gravidade, ao passar do tempo. João sentia-se desconfortável, o rapaz ficara distante por alguns momentos, o silêncio havia se tornado realmente um silêncio, uma ausência,  ele resolveu que precisava dizer algo.
“Então me fale sobre como é ser um domador de leões no circo, é emocionante?”
-O que aconteceu... Tudo que aconteceu hoje Andrius... foi tudo...- João não queria dizer aquilo, entremeou pausas, mas precisava dizer- tudo que aconteceu hoje foi real?
 “Não estou entendendo sobre o que você está falando João. Aconteceu o que tinha de acontecer, só isso. Realidade não significa muita coisa.”
-Sim, João. Foi tudo real. As coisas que aconteceram sim. Mas e o que você sentiu, o que você sentiu... o que sentiu foi algo que não parecia ser real também?
 “Na verdade Andrius eu não sei explicar o que eu senti, posso não ter sentido nada então.”
-Não parecia real por que eu nunca a havia sentido algo assim. Foi intenso. Muito mesmo. O que você sentiu, Andrius?
 “Não sei dizer o que senti, apenas não sei. E também não sei de estou disposto a descobrir, João.”
-Senti  que precisava estar com você de novo, precisava te encontrar de novo de alguma forma, te ver. Só precisava. E você o que sentiu?
- Que precisava ficar ali, com você. Estar com você. Voltar até você sabe? Ficar perto. Mas ainda não dei um nome para essa sensação, Andrius.
-Eu me senti atraído por você João.
-E eu me senti atraído por você Andrius.
-Não tive coragem de admitir isso para mim, mas sabia que você ia voltar para me procurar. E sabia que eu queria que você voltasse. Por isso sai. Estava sim a espera de alguém lá fora, de você. Sabia que ia passar. Você me procurava?
-Sim, te procurava. Dei uma volta em todo o quarteirão tentando te achar, e você estava logo ali, dobrando a esquina. Não conseguia entender o que havia sentido por você, e acredite, tentei arduamente descobrir o que era. Eu mais temia ser o que parecia ser, ficava tentando descobrir que era qualquer outra coisa. Depois, só precisava te ver, não queria entender, nem desentender. Sai, e se não o achasse, voltaria no espetáculo do Liktenis, estava decidido a voltar quando te vi ali, me esperando.
-Então sabia que eu o esperava... Eu soube logo quando você entrou pelas cortinas do circo. Senti atração por você. Muita atração, me sufocou quando você se afastou, queria que ficasse. O problema todo era que você era um homem.
-Ainda sou um homem. Esse era o meu problema também, você é um homem. Senti atração por um homem.
-Eu ainda estou sentindo atração por um homem, João.
              João manteve seu olhar no horizonte, agora eram as bocas que precisavam  dizer o que os olhos desprovidos de palavras haviam de alguma forma dito tão intensamente um para o outro. Diferente das palavras, os olhos pediam fé aos corações apenas, no que era algo puramente verdadeiro. As palavras não, podiam tomar qualquer caminho, que confundisse, que resolvesse, que mudasse, ou que aceitasse ou não algo que não deixaria de ser uma verdade. Esticou a mão para que Andrius lhe desse a garrafa, e deu um trago longo na bebida. E depois outro. E mais um.
-Nessa altura não preciso dizer que estou sentindo atração por um homem também, Andrius. Faz sempre isso, ou fez, faz isso com homens também?
-Pareço fazer?
-Parece. É um galã, até com o leão que é bicho você parecia flertar.
-Na verdade não entendi sua pergunta então. Sim, já deixei homens me olharem e retribui olhares. Se fiz algo além disso com homens, não.
-E por que retribui olhares de homens se não está diposto a ir adiante?
-Olhares podem não significarem nada para mim João, ou significarem muito pouco.
“Atração. Então foi isso, sentiu-se atraído e agora estamos aqui? Não foi só isso Andrius. Foi só isso que nossos olhares significaram para você, muito pouco?”
-Com você foi diferente. Foi coisa demais na verdade. Foi tão diferente que as vezes eu sentia que podia tocar com as  mãos as sensações que estávamos trocando, somente se olhando. Perguntou de ir adiante com homens, você costuma ir?
-Nunca fui adiante por que nunca troquei olhares com homem nenhum dessa maneira.
“Trocou comigo. Eu sou um homem. Queria apenas saber se eu havia me sentido atraído por você, me dizer que havia se sentido atraído, e depois de conversar sobre tudo isso vamos fazer o que a respeito? Esquecer? Não quero só te olhar. Nem falar com você. Quero...”
-Nunca fui. Mas estou em uma situação que está afetando demais meu juízo. Andrius não posso dizer nunca como acabei dizer para coisas assim... Para homes. Então vou mudar, não troquei olhares com homens até hoje, por isso...
-E pensar em homens de outras meneiras, João?
-Também não.  E você?
-Até hoje não...
-Acho que assim fica mais claro, até hoje eu não pensei em nada com homens da maneira que estou pensando hoje.
-Acho que na verdade João, não estamos pensando em homens. Estamos na verdade pensando um no outro...
João abaixou a cabeça e olhou para o chão.
-Parece que sim...
“E o que vamos fazer a  respeito disso?”
              Os rostos que haviam se mantido estreitamente voltados para o campo a frente o tempo todo da conversa, se voltaram um para o outro. Não olharam-se nos olhos diretamente, após toda aquela  conversa queriam poder evitar algo que teria  um caminho de volta estreito e doloroso. Ficaram apenas com os rostos um na direção do outro, com os queixos levemente abaixados. Desviavam de se cruzarem, mas se olhavam ou queriam ver um o rosto do outro. João ainda de cabeça baixa ficou a olhar  as mãos do rapaz paradas sobre as coxas. Observava os calos e os contornos, as unhas mal aparadas porém estranhamente simétricas. Pouco pensava.  Andrius sentiu exatamente o que João havia sentido em sua casa antes a sair a procura dele. Um medo intenso de perder João, de nunca mais vê-lo, e esse medo agarrou-se com tanta força em seus braços, seu corpo, sua cabeça, sua pele, em seus olhos, que também sentiu que iria chorar. Andrius em um movimento rápido, impensado,  levou o rosto até perto de João e o beijou, mas distanciou-se antes que pudesse perceber a reação de João. Afastou-se e o olhou. João levantou a cabeça e se olharam olhos nos olhos. João não parecia surpreso. Nenhum dos dois sorriam com as bocas, porém os amarelos diziam muito. Andrius fechou os olhos, aproximou-se ainda precipitadamente como se quisesse roubar algo que já soava ser seu, e beijou Jõao mais uma vez, mas não recuou. Deixou que as bocas se tocassem por mais tempo. Sentiu os lábios de João se moverem, acariciarem os seus lábios, envolvendo os seus com um desejo desigual. João sentiu a umidade do beijo de lábios escapar para dentro de sua boca, tinha sabor e era doce, infinitamente doce. Se distanciaram ao mesmo tempo e voltaram a observar o horizonte, olhando estreitamente para frente.
              Mais uma vez o tempo fugiu para longe deles, e mesmo se soubessem calcular as horas apenas ao olhar as estrelas não conseguiriam contá-las. Sabiam que algum tempo havia passado após o beijo. Beberam da garrafa. Andrius fumou alguns cigarros. João sentia aquele cheiro selvagem brotar de sua garganta, impregnando seu hálito tão densamente que seu nariz parecia queimar quando respirava de boca aberta. Sabia que cheiro era aquele que saia de si, o conhecia muito bem. Era algo que sempre o dominava, e ele mesmo não sabia se as pessoas podiam notar tal odor. Olhava para as mãos e via as veias saltadas percorrendo o braço. Seu êxtase era assim, visível, sofrível, notado, intenso, escapava de dentro de si quase o forçando a ser resolvido. Se concentrava para que sua parte não despontasse na calça pedindo furiosamente por um aperto com as mãos bem colocado endireitando. Não ia se tocar ali, agora, perto de Andrius. Não sabia o que poderia acontecer, o que imaginava que aconteceria parecia abominável. Aliás, não podia imaginar.
              Andrius fazendo um esforço tremendo para não se acusar, não acusar João, não esbravejar, não quebrar a garrafa e acabar em punho de  vidro pontiagudo o que estava por vir e arrepiava tanto sua alma, Andrius tentando personificar o não quando sentiu um perfume que o lembrava adolescência. Parecia um cheiro conhecido, cheiro imperceptível. Ponderou o que era tal cheiro e lembrou com veemência, garotas virgens. Alguns ciganos do circo brincavam quando ele voltava de uma farra as escondidas com alguma garota em sua época de jovem que ele estava exalando “cheiro de cadela no primeiro cio”, era esse o nome que davam para isso. Virou-se para o lado por um instante, para João, e o cheiro brotava todo do outro. Chegou a girar sua cabeça em uma tontura  passageira, abaixou o rosto. Andrius puxou todo o ar pelo nariz para sorvir aquele cheiro tão poderoso. Era diferente. Não era o mesmo cheiro, apenas lembrava. Incomodou-se, algo lembrava banheiro masculino. Mas estavam vestidos, não havia como esse cheiro vir do corpo de João. E não era cheiro de corpo.
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Garotos de Lugar Nenhum

escrita por Edu060
Fanfic / Fanfiction Garotos de Lugar Nenhum
Concluído
Capítulos 19
Palavras 37.121
Atualizada
Idioma Português
Categorias Histórias Originais
Gêneros Fantasia, Ficção Adolescente, Magia / Misticismo, Sobrenatural
Quatro garotos bem diferentes um do outro, se perdem numa floresta, e quando voltam para casa, percebem que tudo está diferente, eles estão em um universo onde não existem. Eles precisam voltar para seu universo antes que aconteça algo de errado com eles.

Obs: Isso é uma versão em livro da série com algumas mudanças, deu muito trabalho, pf façam ter muitas leituras.

Obs2: Me desculpem por não trazer o da 2° temporada, mas eu decidi continuar a fazer outros projetos, e focar em outros livros que eu estou produzindo, então por favor, tenham calma, um dia eu irei continuar essa
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Projeto Psy

escrita por Drope153
Fanfic / Fanfiction Projeto Psy
Em andamento
Capítulos 32
Palavras 53.654
Atualizada
Idioma Português
Categorias Histórias Originais
Gêneros Ação, Aventura, Luta, Mistério
Uma turma de jovens da faculdade que tiveram estranhos poderes despertados, são chamados por um homem mistério que os promete conseguir as respostas e cumprir os desejos deles; se focem feitos seus pedidos.
Oque ele farão sobre oque ele pede? Como conseguiram sobreviver a todos os obstáculos? Conseguiram descobrir a verdades sobres seus misteriosos poderes?
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