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Fanfics de Mitologia Africana sem listar Crossovers sem a tag Mitologia

Meu Pau no seu Pau

escrita por iSnowzin
Fanfic / Fanfiction Meu Pau no seu Pau
Concluído
Capítulos 5
Palavras 4.885
Atualizada
Idioma Português
Categorias Mitologia Africana
Gêneros Ação, Drama / Tragédia, Suspense
Guilherme é uma aberração que vive nas profundezas da piscina do Riservato, e um dia, ele disperta...
  • 5
  • 1

Sejam Bem vindos ao 'inferno'.

escrita por PrinsHel
Fanfic / Fanfiction Sejam Bem vindos ao 'inferno'.
Em andamento
Capítulos 2
Palavras 941
Atualizada
Idioma Português
Categorias Mitologia Africana
Gêneros Ficção, Magia / Misticismo
Vc conhece o inferno certo?
Então com certeza vc já ouviu falar sobre rei do Submundo, tártaro, inferno ou umbral e sobre seus seguidores e trabalhadores.

A cada capítulo iremos contar sobre um deles e Principalmente sobre as famílias soberanas do submundo, seram segredo e coisas que sobre cada um deles.

Vamos contar a vcs sobre a Família soberana do inferno.
Sobre a Família das Trevas;
A família da Lua;
E seus respectivos membros.

E é claro sobre Vossa Alteza Lucifer o rei dos Exus e de todos os membros do umbral.
  • 4
  • 4

El diario de Anabelle

escrita por Saya22222
Fanfic / Fanfiction El diario de Anabelle
Em andamento
Capítulos 8
Palavras 8.763
Atualizada
Idioma Espanhol
Categorias Mitologia Africana
Gêneros Ação, Comédia, Drama / Tragédia, Ficção, Ficção Científica / Sci-Fi, Luta, Magia / Misticismo, Mistério, Policial, Terror e Horror, Universo Alternativo
Este es el diario de la misteriosa Anabelle LongRiver, y que guardan secretos en una leyenda .
  • 3
  • 0

A Deusa da guerra

escrita por IagoAlcantara
Fanfic / Fanfiction A Deusa da guerra
Em andamento
Capítulos 2
Palavras 909
Atualizada
Idioma Português
Categorias Mitologia Africana
Gêneros Ação, Comédia, Drama / Tragédia, Famí­lia, Fantasia, Ficção, Magia / Misticismo, Mistério, Saga
Em um tempo distante, ás margens de um importante rio no sul do planeta éros, nasce uma deusa que descende de uma série de reis e rainhas que salvaram muitos mundos. Essa deusa recebe o nome de Ianã, e ao longo de sua vida vai aprender que, talvez sua mãe não tenha tido a melhor decisão ao manda-la para o mundo dos seres humanos.
  • 3
  • 0

Vida Dos Signos

escrita por BiaEJuh
Fanfic / Fanfiction Vida Dos Signos
Em andamento
Capítulos 1
Palavras 204
Atualizada
Idioma Português
Categorias Mitologia Africana
Gêneros Ação, Aventura, Comédia, Drama / Tragédia, Famí­lia, Fantasia, Ficção Adolescente, Musical (Songfic), Policial, Romântico / Shoujo, Suspense, Terror e Horror
Essa fanfic será sobre a vida dos signos!Essa fanfic usará palavras de baixo calão e sexualidade,bom pegamos alguns significados do aplicativo, então se não gostar do significado do seu signo,não me culpem!
  • 3
  • 2

Amizade Colorida

escrita por amiiiiiii
Fanfic / Fanfiction Amizade Colorida
Em andamento
Capítulos 2
Palavras 3.325
Atualizada
Idioma Português
Categorias Mitologia Africana
Gêneros Ação, Aventura, Comédia, Drama / Tragédia, Famí­lia, Fantasia, Ficção Adolescente, Gay / Yaoi, Lésbica / Yuri, LGBTQIAPN+, Literatura Erótica, Luta, Policial, Romântico / Shoujo
Richard é um garoto tsundere do colegial que guarda segredos,ele gosta de se vestir como uma garota mas tem vergonha de dizer isso à outras pessoas,até mesmo as mais próximas dele como sua namora Iara,só que esse não é o maior dos problemas,o problema se inicia na chegada de um aluno novo...O que será esta por vir na vida de Richard?
  • 3
  • 3

O Amor Juvenil de Marilyn Sandlers.

escrita por MarilynEIago
Fanfic / Fanfiction O Amor Juvenil de Marilyn Sandlers.
Em andamento
Capítulos 3
Palavras 1.173
Atualizada
Idioma Português
Categorias Mitologia Africana
Gêneros Famí­lia, Ficção, Ficção Adolescente, Luta
Iagoto vaga pelas cidades escuras de Tokyo para reencontrar um antigo amor de infância...
  • 3
  • 7

Afro

escrita por Jeffersonguerr
Fanfic / Fanfiction Afro
Concluído
Capítulos 2
Palavras 6.862
Atualizada
Idioma Português
Categorias Mitologia Africana
Gêneros Aventura, Famí­lia, Magia / Misticismo, Mistério
       capítulo 1

      Os orixás são  intermediáriso entre Olórun, ou melhor ,entre seu representante (e filho) Oxalá  e os homens . Muitos deles são antigos reis , rainhas ou heróis divinizados, os que representam as vibrações das forças elamentares da natureza  e raiostrovões  ,ventos ,tempestade  , água , fenômeno naturais como o arco-íris ,  atividades  econômicas primordiais do homem primitivo - caça ,  agricultura - ou minerais,  como o ferro que tanto serviu a essas atividades  de  sobrevivência, assim como às  de extermínio  na guerra.
    
Criação  do mundo
 
No começo , o mundo era todo pantanoso e cheio d’água, um lugar  inóspito,  sem nenhuma serventia. 
Acima dele havia o céu,  onde viviam Olorum e todos os orixás , que às vezes desciam para brincar nos pântanos insalubre. 
Desciam por teias de aranha pendurados no vazio.
Ainda não havia terra firme , não o homem existia.
Um dia Olorum chamou à  sua presença Orixanlár,  o Grande Orixá.
Disse-lhe que queria criar terra firme lá em baixo e pediu-lhe que realizasse tal tarefa.
Para a missão, deu-lhe uma concha marinha com terra , uma pomba e uma galinha com pés de cinco dedos.
Orixanlá desceu ao pântano e depositou a terra da concha. 
Sobre a terra pôs a pomba e a galinha e ambas começaram a ciscar.
Foram assim espalhando a terra que viera na concha até que terra firme se formou por toda parte.
Orixanlá voltou a Olorum e relatou-lhe o sucedido.
Olorum enviou um camaleão para inspecionar a obra de Oxalá e ele não pômega  andar sobre o solo que ainda não era firme .
O camaleão voltou dizendo que a terra era ampla ,  mas ainda não suficientemente seca.
Nuca segunda viagem o camaleão trouxe  a notícia de que a terra era ampla e suficientemente sólida , podendo-se agora , mais tarde foi chamado Ifé ,  que  quer dizer ampla morada .
  Depois Olorum mandou Orixanlá de volta à terra para planta árvores e dar alimentos e riquezas ao homem. 
    E veio a chuva para regar as árvores. 
Foi assim que tudo começou.
Foi ali , em ifé, durante uma semana de quatro dias , que Orixá Nlá criou o mundo é tudo o que existe nele 
                      
                      Euá

Até mesmo os deuses têm que descansar. Inclusive (e especialmente) no meio de uma guerra tão longa. Soubessem eles que o fim estava tão próximo, talvez até tivessem adiado o passeio. Talvez, apenas. Porque as diferenças entre os lados jamais haviam sido motivo para perder a civilidade. Estavam ali para aproveitar a caminhada, e assim seria. Vagarosa e digna, com os braços dados, um passinho depois do outro, pés descalços, areia fofa. No privilégio exclusivo dos deuses, escolheram um dia e um lugar perfeitos, com céu azul, mar calmo e uma brisa fria que escondia a mordida do sol que suas peles negras absorviam tão bem. Ele imaculado de branco, apoiado no seu cajado de prata. Ela toda formosa com sua bengala de fibras. Conversavam como se falassem de amenidades. E, de certa forma, era isso mesmo. Qualquer assunto, por mais importante que fosse, era secundário à companhia. Afinal, não havia ninguém mais por ali, tanto no mundo dos encantados, que chamavam de Orum, quanto no dos vivos, que chamavam de Aiê, que tivesse passado por tudo que passaram os dois velhos orixás. Oxalá e Nanã, embora em lados opostos naquela guerra sem fim, eram mais um do outro do que dos seus. Eles jogarão seus poderes contra o outro. Usarão sua força, sua esperteza, sua paciência e valentia, para roubar e anular o lado oposto, e, por isso mesmo, e somente assim, o equilíbrio se sustentará. De tempos em tempos, se encontrarão novamente naquela mesma praia. E caminharão, como merecem caminhar. A guerra, no fim das contas, já era tão antiga que não era mais pessoal. Não havia começado ontem, nem terminaria amanhã. Assim queria Olodumare, o criador de tudo. Um equilíbrio nervoso e constante, fruto de uma guerra sem fim. Que assim fosse, então. – Depois de tanto tempo, você ainda consegue me surpreender. Impressionante – dizia Oxalá. – Deixe disso, meu velho. Não sou mais mocinha para cair nesse tipo de conversa. – Impressionante, e implicante. – Se fosse implicante, estava falando era da chegada da sua menina predileta. – Viu só? Implicante sem cura. Aquilo foi um erro, e eu já me arrependi. – Seu arrependimento não vale nada. Quero ver agora que ela chegou, o que você vai fazer. – Esse era seu plano, então? Aquele fuzuê de sequestrar os odus foi só para distrair enquanto você trazia ela para cá? – Você que está dizendo. – provocou Nanã. – Não foi isso que combinamos. Mas tenho que admitir que me enganou direitinho. – Você acha mesmo que vai me fazer contar o que estou planejando? – Então existe um plano? – Não digo. – Tudo bem, eu preparei tudo para ela não lembrar de nada.
Na pequena clareira, jogada ao lado do rio que a havia cuspido, Euá não mexia um centímetro de seu corpo esguio. Ao seu redor, porém, algo espetacular e misterioso acontecia. Flores amarelas e vermelhas cresciam, perdiam suas pétalas e secavam até desaparecerem junto à terra. Nasciam e morriam às centenas, todas ao mesmo tempo e tão rápido, como se meses se passassem em instantes. O ciclo continuou muito tempo, antes que Euá abrisse os olhos. No início, ela não reconheceu o lugar. Não tinha ideia de onde aquilo fosse ou de como havia ido parar ali. Tinha a impressão de que as cores brilhavam mais do que se lembrava, uma luz azulada, e que o ar lhe parecia mais leve. Não notou que não respirava. Com dificuldade, pôs-se de pé e caminhou entre as árvores, sempre seguindo o curso do rio. Sentia uma dor que começava de dentro, depois se espalhava pelo corpo inteiro, como se tivesse sido amarrada e arrastada por dias, puxada por um animal selvagem muito maior do que ela. Seria isso uma impressão ou uma memória? O preto da sua pele refletia o sol que cortava a copa das árvores com mais brilho que antes, e cada som da floresta lhe era claro. Conseguia ouvir cada canto de pássaro e contar quantas folhas secas partia com os pés enquanto caminhava. E foi assim que, entre seus passos, ouviu um que não era seu. Parou de repente. Tão de repente quanto o nevoeiro espesso que se formou ao seu redor. – Pode ficar tranquila. Não estou aqui pra te machucar. Seu corpo deve estar inteiro doendo, aliás... – disse aquela voz do meio do nada. – Como sabe que meu corpo dói? – retribuiu Euá. – Dói pra todos que chegam, minha cara. Aquela voz, o nevoeiro... fragmentos de memória tentavam lhe dizer algo. Lembrava de um homem mais velho, fugindo, na beira de um rio... A jovem esticou as mãos até encontrar uma árvore e se abaixou com medo. O dono da voz haveria de se cansar de esperar. – Deixe que eu lhe ajudo. Você deve estar meio confusa – insistia ele. Até que um outro barulho, um grunhido, acompanhado de passos apressados, começou a se aproximar, rápido. Euá levantou num salto. Sabia de onde vinha o som, mas no meio do nevoeiro não sabia para onde correr para se proteger. O animal continuava se aproximando. Grunhia mais ainda toda vez que se arranhava em arbustos, mas jamais perdia o rumo em sua direção. Fosse o que fosse aquele animal, ela era sua caça, e o grunhido agora estava perto demais. Euá sentiu um zunido rápido e um vento passou pela sua orelha, seguido imediatamente de um som seco e um grito. Um grito de porco-do-mato, que calou de repente. A névoa ainda marcava o trajeto da flecha. – Esse é barulhento, eu acerto mesmo sem ver. E se o bicho fosse quieto? – gritou de longe uma voz de rapaz. Euá não confiava em homens novos. Mas estava cansada demais para sustentar o nevoeiro por tanto tempo. Acabou cedendo. Num instante, o ar estava limpo de novo, e um jovem e esbelto caçador se aproximou – mãos para cima e peito para baixo, andando devagar para não amedrontá-la ainda mais. Apontou para o lugar onde um porco-do-mato se mexia, em silêncio e agonia, como se não conseguisse morrer. O rapaz então passou pela moça, seguiu em direção ao animal, sussurrou algo no seu ouvido e retirou a flecha de uma só vez. Não havia sangue. O animal se contorcia como se estivesse com muita dor. Não pela flecha, porém. Havia algo estranho em seu corpo. Suas juntas pareciam meio fora do lugar, os ossos desencaixados. O caçador explicou: – Às vezes o povo mata esses bichos mas não faz as oferendas certas, e eles vêm parar aqui, todos esquisitos, sem saber para onde ir. Euá notou uma luz ao redor do porco. Como se um espectro dele mesmo, mais correto, mais forte e vibrante, às vezes lhe saísse do corpo. O caçador pegou o bicho e colocou-o nos braços da forasteira. E o bicho, que grunhia em agonia, num só momento, se acalmou. Foi parando de gritar. Respirando mais compassado. Já não se chacoalhava tanto. Euá lhe acariciou de leve e, no que 
arrumava seu pelo, era como se lhe arrumasse os ossos. O bicho então adormeceu, tranquilo, nos braços da menina, mas antes lhe lambeu três vezes a mão e, ao fazer isso, foi como se o espectro que lhe tentava fugir ao corpo adentrasse pelas pontas dos dedos de Euá. – Você é jeitosa mesmo. Bem que ele me disse. – Ele quem? – Você não está entendendo nada, não é? Nem lembra quem eu sou? Meu nome é Oxóssi, irmão de... – Ogum – completou Euá, sem conseguir fazer completo sentido de todos os fragmentos de memória que lhe voltavam. Oxóssi sabia como aquele momento era confuso. Então não a pressionou, não explicou ou tentou que ela lembrasse mais. Vez ou outra, ela perguntava algo, como se juntasse os cacos de um prato quebrado. Na maior parte do tempo, seguia calada e misteriosa. Por três dias, andaram muito e conversaram pouco, e cada vez menos, sempre margeando o rio de águas mais claras que Euá já havia visto. Ela dormia mal à noite, tinha pesadelos que faziam-na acordar suada e suja de terra. A sua volta, flores em profusão. Sempre. De início, Oxóssi se entreteve com a mágica involuntária da forasteira. Na última noite, no entanto, ele parecia tenso demais para usufruir do espetáculo. Olhava ao redor sem parar. Farejava o ar. Parecia em estado de alerta. Continuaram andando, até que a luz lhes banhou tão forte que, por um instante, ficaram cegos, os dois. Estavam numa clareira enorme, como se a floresta se interrompesse para que eles pudessem apreciar a vista. – Você conhece esse lugar – disse ele. A paisagem era familiar, ela pensou, mas faltava algo. Ela se concentrou. E, de repente, enxergou. Vultos, como feitos de luz, semitransparentes. Tinham cores diferentes, tamanhos diferentes. Alguns andavam solitários, perdidos. Pareciam menos densos, sem ideia alguma de onde estavam, como Orunmilá estivera, quando ela o levara até ali para se encontrar com Oxóssi, muito tempo atrás. Outros, um pouco mais densos, andavam em grupos, eram agressivos e rápidos. Atacavam os que estavam em volta como hienas famintas. Eventualmente, como se vindos do nada, ela avistava um ou outro gigante entre os demais. Esses pareciam sólidos como pedra e se materializavam sem avisar, alguns causando lutas violentas, outros fazendo com que os vultos se prostrassem ao chão. Os mais estranhos, no entanto, eram os que caminhavam em pares. Sempre um menor (do tamanho de todos os outros, menos dos gigantes) e outro maior (porém não tão grandes quanto os gigantes). Essas duplas estavam sempre ligadas por um estranho cordão que saia do alto da cabeça de um e terminava no umbigo do outro. Alguns deles transitavam em paz, outros eram atacados pelas hordas que vagavam causando confusão e tinham que lutar para proteger sua conexão. – Bem-vinda à entrada do reino dos encantados – interrompeu Oxóssi. – Não parece com o que você lembrava, não é? – Um pouco. A paisagem é parecida. Mas não lembrava de ser tudo tão… – Claro? – Violento. Euá gostava mais das imagens pacíficas que tinha antes. Sabia que se os homens e mulheres que ela havia levado até ali tinham suas memórias embaralhadas quando acordavam, as suas próprias também deveriam ter sido. “O equilíbrio entre tantas forças opostas tem um preço” – tentou explicar o caçador. Ela o olhou em desafio e ele apenas sorriu. Era assim que queria Olodumare, o deus supremo que comandava até mesmo os orixás, então não havia o que fazer. Ele não conseguiria convencê-la de que aquilo era uma solução a ser apreciada, contudo. Não bastasse as disputas do homem, agora a natureza havia de se atacar também? – E quem é toda aquela gente? – perguntou Euá. Os perdidos, que pareciam não estar entendendo onde estavam, eram gente do Aiê que veio parar aqui em sonho, como você mesma costumava vir. Os outros são diferentes tipos de Irunmalés, como chamamos os seres aqui do Orum. – Explicou Oxóssi. – Cada um deles tem poderes e ideias diferentes. Os mais agressivos, que andam em bando são eguns, grupos de ancestrais, que estão sempre brigando para proteger os seus – estejam eles vivos ou mortos. Os gigantes, são os orixás. Não é sempre que eles aparecem, mas às vezes vêm por aqui, atendendo a chamado de gente que lhes chamou com o devido respeito, o que não é tão comum como você imagina. – Como assim? – perguntou Euá. – Infelizmente, poucos são os que vêm para visitar, servir ou prestar homenagem, como você costumava vir. A maioria vem só parapedir mesmo. Esses normalmente ficam vagando sozinhos porque os orixás não costumam gostar muito dos que acham que podem dizer o que querem de nós... – E por que tanta violência? – Veja bem, o que quer que alguém peça, – explicou Oxóssi – seja uma casa, um marido, mais água… para alguém ter o que quer que seja, alguma outra pessoa ficará sem aquilo. E se todos pedem ao mesmo tempo no Aiê, dá briga no Orum. “Fazia sentido”, pensou Euá, ligeiramente envergonhada de questionar a ordem das coisas. Ainda assim, incomodada. Toda aquela violência havia mexido com ela mais do que poderia imaginar. Então se calou por um tempo e caminhou de volta para dentro da floresta fechada, perdida em seus próprios pensamentos. De longe, o caçador tentava imaginar o que se passava naquela cabeça misteriosa, mas a mulher era mais difícil de ler que a floresta inteira. Quieta, ela olhava, como se procurasse por algo que tivesse acabado de perder, e abriu um sorriso enorme quando encontrou umas pequenas frutas vermelhas penduradas num pequeno arbusto. Oxóssi interveio. – Está com fome? Eu arranjo alguma coisa pra você comer, mas essas frutas são venenosas. Não vão te matar, mas você vai preferir que tivessem. Ela prosseguiu como se não tivesse ouvido a recomendação. Colocou as frutas sobre um pedaço de casca de árvore e usou uma pedra para macerá-las até que virassem uma pasta. Pegou um punhado de terra e misturou a parte da pasta, vendo-a escurecer até chegar a uma cor de sangue velho. Satisfeita, caminhou até uma pedra lisa e passou o dedo na pasta vermelha, depois na pedra. Correu o indicador para baixo, para o lado, passou-o novamente na pasta vermelha e de novo na pedra. Continuou o processo por algum tempo e quando julgou terminado, finalmente olhou para seu guia e perguntou: – E que diacho era isso? Na parede lisa da pedra, Euá havia desenhado, num traço grosso e escuro, o corpo de dois homens, um maior e outro menor. Ligando os dois, um fio feito com a tinta mais clara. Da cabeça de um ao umbigo do outro. Oxóssi ficou impressionado com a habilidade da novata, que fez aquilo sem nenhuma magia. Ao menos nenhuma que ele conhecesse. Apreciou a pintura mais um pouco e depois respondeu: – Um iniciado e seu orixá, ora. Eles sempre andam juntos. Ninguém nunca lhe explicou o que acontece quando alguém dedica a cabeça a um orixá? Ela já havia ouvido inúmeras explicações. Umas mais simples, outras mais complicadas, mas nenhuma delas envolvia um cordão umbilical ligado a cabeça de outro sujeito. – Pelo modo que lutavam, aquele menor deveria ser um iniciado para meu irmão Ogum. – Você está dizendo que seu irmão está amarrado naquele sujeito para sempre? – perguntou Euá. – Você está louca? Há muito mais iniciados que orixás... – Estou confusa. Oxóssi pediu que ela desenhasse outro corpo, ainda maior que os dois primeiros, na mesma parede de pedra. Quando ela terminou, Oxóssi apontou para o novo desenho e explicou: – Imagine que esse é o meu irmão. Apontou para o menor dos três, cobriu com uma folha o do meio, e continuou: – E esse é um sujeito que se iniciou para ele. Aqui no Orum, meu irmão assumiu grandes responsabilidades. Pela guerra, pelas invenções, pelo ferro... ele cresceu e se tornou um gigante. Se ele pousasse na cabeça desse pequeno indivíduo... ele explodiria! Bam!Euá enfim riu. Oxóssi, realizado, continuou: – Como ele fez? Ogum retirou um pedaço dele mesmo, uma semente, um pequeno Ogum como dizemos aqui, e mandou para a cabeça do rapaz. Esse pequeno orixá se alimenta do axé da cabeça do iniciado, e vice-versa. Uma ligação tão forte, que só acaba com a morte do sujeito. Você viu que os eguns não conseguiam quebrar a ligação que os dois tinham? – Vi. – Euá pensou um pouco... – E nessas lutas, nessas guerras... se alguém ficar tão forte qa ponto de vencer todos os outros? Digo, de verdade? Se alguém acabar virando soberano... – Nunca aconteceu. – Mas pode acontecer? – Acho pouco provável... – Mas pode? – Talvez. – E você? De que lado está? Luta por alguém? – Não tenho paciência para essas brigas. Prefiro caçar sozinho. Essa gente é muito complicada. Euá também gostava de caçar. Não pela presa em si, mas pelo tempo sozinha, para pensar coisas que só ela entendia. Era bom saber que era possível fugir dessas lutas sem sentido. – Da maioria dessas brigas, é possível escapar. Uma delas, entretanto, vai sempre arrastar todos nós para dentro dela. – continuou Oxóssi, como se tivesse lido seu pensamento – Que guerra é essa? – Eles chamam de “a grande guerra dos orixás”. Os homens contra as mulheres. Elas não admitem que nós tenhamos direito exclusivo sobre vários poderes, especialmente o do destino, e nos acusam de excesso de truculência para manter uma regra arbitrária. O que não é de todo absurdo. Nós dizemos que elas querem nos roubar os poderes e as acusamos de bruxaria. Um argumento também razoável. E assim, a guerra segue, sem ninguém conquistar nenhum espaço, sem ninguém concordar, em nada. – Então já temos um trabalho para fazer. Acabar com essa guerra, que tal? A ingenuidade da novata era mesmo encantadora. – Quem sabe, um dia? Mas hoje, a pergunta mais importante você ainda não fez – disse ele: – Onde moram os orixás? – e apontou o dedo na direção de um espaço entre duas árvores, logo às costas de Euá, onde estavam antes assistindo as lutas entre humanos, eguns e orixás. “Como podia estar diante de algo tão grande sem ter notado?” – pensou Euá. Ela varreu com os olhos o gigantesco monolito escuro que subia alto, arranhado em linha reta do chão aos céus por tantos riscos em milhares de tons de carvão, como se tivesse subido de uma só vez de dentro do chão. No topo, nada. Não parecia ter cume nem vida, como se lá, na parte de dentro, a montanha engolisse a si mesma. Já a base era rica e vistosa, de onde vinham árvores frondosas, verdes, grossas. Do alto da grande parede de pedra parecia escorrer vida. De um dos lados, uma fina linha branca derramava cume abaixo. Uma cachoeira. E, dessa cachoeira, corria um rio até bem longe. A emoção era tão grande que ela se esqueceu de perguntar como o rio parecia subir a cachoeira. – Igbadu? – perguntou ela, já sabendo a resposta. Igbadu era o nome das lendárias montanhas da vida. No alto, diziam as histórias que o povo contava, moravam os orixás e outros encantados. Um lugar onde jamais nenhum mortal conseguiu chegar. E, se aquela pedra côncava estava ali, a outra haveria de estar logo… lá estava ela! Pontuda, como se quisesse furar o tecido do céu. A segunda montanha tinha a base mais fina, mas era muito mais alta. Dessa, sim, podia se ver vida brotando no alto. Em vários pontos, sempre que um platô se formava, uma pequena floresta o cobria de verde. Dali de perto, elas eram muito maiores do que ela imaginava. – Eu morri? – perguntou Euá. – Devagar com as conclusões – disse uma outra voz às suas costas. – Acredito que não preciso lhe apresentar a Exu? – perguntou o caçador. A memória de Euá ainda estava confusa: sabia que havia conhecido Exu e Oxóssi muitos anos atrás, mas eles não pareciam haver envelhecido um dia sequer. Por precaução, ela deu um passo para trás de Oxóssi quando Exu se aproximou. O caçador mesmo a acalmou. Caminharam juntos na direção das árvores ao redor das montanhas. – Não precisa ter medo. Ele é amigo. Foi ele que me pediu para ir lhe receber. – Eu teria demoradodias para lhe encontrar – disse Exu. – Oxóssi conhece melhor esse mato. Fome? Exu apontou para uma fogueira onde assava uma galinha. Euá se chacoalhou toda de nojo: – Odeio galinha! – disse, sem lembrar por quê. Teria sido uma boa notícia para Exu, que não teria que dividi-la com ninguém. Mas o caçador segurou seu braço antes que ele pudesse chegar até o fogo. Farejou o ar algumas vezes como se procurasse a direção de um cheiro qualquer, depois olhou para Exu e para o lado oeste da floresta. Exu percebeu o cheiro também. Estava aumentando. Enquanto Oxóssi jogava terra sobre o fogo, Exu pegou o galho com a galinha assada e jogou num saco para comer mais tarde. Mesmo ele, com todo aquele apetite, não conseguia comer com aquele odor que crescia sem parar. Aumentou tanto que até Euá passou a perceber. Flores... rosas e... carne podre! Num clarão, tudo mudou. Era noite, neblina, ela se sentia triste... Iku a olhava de longe. Suas roupas roxas e pretas, rasgadas. A espada coberta com tantas camadas de sangue seco, pousada na cintura. E, nas mãos, Iku trazia alguma coisa... rosas? Euá sentiu gosto de terra. Frio. Depois, silêncio e escuridão. O corpo de Euá se retorceu e ela caiu no chão, em espasmos. Sem vacilar, Exu jogou o saco de comida sobre um ombro e a jovem no outro. Melhor chegar às montanhas antes que anoitecesse.O sol já se punha novamente, uma hora que Nanã, a mais velha entre as orixás, adora desde bem jovem. Ela conduziu Oxalá até uma rocha e o sentou de frente para o mar. – Para os outros talvez ainda haja surpresa nas suas tramoias, minha querida. Para mim, você sempre será previsível. Talvez me engane aqui ou ali mas no fim eu sempre sei seu próximo passo. – Agora você está sendo rude… Senta aí, meu velho. Vou dançar para você. Nanã já não se movia com o mesmo vigor de quando era moça, tanto tempo atrás. Compensava o peso dos anos, todavia, com sua delicadeza e elegância. Rodopiava devagar, e mexia os braços como se operasse um pilão. – E você sabe que tem tanta culpa quanto eu – disse o velho orixá, sem muita convicção. Nanã se manteve calada, a dançar. Jogava as mãos para um lado e para o outro como se saudasse os cantos do mundo. – Digo, foi você que colocou essas ideias na minha cabeça – disse ele. Nanã batia palmas como se avisasse que estava chegando. Depois rodava e rodava. Não que não apreciasse o espetáculo, mas Oxalá tentava em vão que ela respondesse: – Seria muito deselegante se você mesma contasse, você sabe bem, não sabe? Uma vingança pequena, que não cai bem a uma senhora da sua estirpe. Sei que você não gosta de fazer papel ridículo… pois contar os segredos dos outros é um tanto ridículo e deselegante, não acha? A dança ficou mais vigorosa. Oxalá prosseguiu: – Assim como não cai bem essa mania de querer roubar o poder dos outros. Vocês já são tão poderosas nas suas bruxarias, não precisam tirar o que é nosso. A frágil senhora apontava um olho, depois o outro. Uma narina, depois a outra. Apontava o mundo todo. – Tudo isso que eu vi, tudo isso que eu cheirei, tudo isso que está em nossa volta – ela dizia com o bailado, e batia com o pé no chão. O mundo era todo dos dois. Não só dele, dos dois. A dança era tanto um agrado quanto uma ameaça.       capítulo 1

      Os orixás são  intermediáriso entre Olórun, ou melhor ,entre seu representante (e filho) Oxalá  e os homens . Muitos deles são antigos reis , rainhas ou heróis divinizados, os que representam as vibrações das forças elamentares da natureza  e raiostrovões  ,ventos ,tempestade  , água , fenômeno naturais como o arco-íris ,  atividades  econômicas primordiais do homem primitivo - caça ,  agricultura - ou minerais,  como o ferro que tanto serviu a essas atividades  de  sobrevivência, assim como às  de extermínio  na guerra.
    
Criação  do mundo
 
No começo , o mundo era todo pantanoso e cheio d’água, um lugar  inóspito,  sem nenhuma serventia. 
Acima dele havia o céu,  onde viviam Olorum e todos os orixás , que às vezes desciam para brincar nos pântanos insalubre. 
Desciam por teias de aranha pendurados no vazio.
Ainda não havia terra firme , não o homem existia.
Um dia Olorum chamou à  sua presença Orixanlár,  o Grande Orixá.
Disse-lhe que queria criar terra firme lá em baixo e pediu-lhe que realizasse tal tarefa.
Para a missão, deu-lhe uma concha marinha com terra , uma pomba e uma galinha com pés de cinco dedos.
Orixanlá desceu ao pântano e depositou a terra da concha. 
Sobre a terra pôs a pomba e a galinha e ambas começaram a ciscar.
Foram assim espalhando a terra que viera na concha até que terra firme se formou por toda parte.
Orixanlá voltou a Olorum e relatou-lhe o sucedido.
Olorum enviou um camaleão para inspecionar a obra de Oxalá e ele não pômega  andar sobre o solo que ainda não era firme .
O camaleão voltou dizendo que a terra era ampla ,  mas ainda não suficientemente seca.
Nuca segunda viagem o camaleão trouxe  a notícia de que a terra era ampla e suficientemente sólida , podendo-se agora , mais tarde foi chamado Ifé ,  que  quer dizer ampla morada .
  Depois Olorum mandou Orixanlá de volta à terra para planta árvores e dar alimentos e riquezas ao homem. 
    E veio a chuva para regar as árvores. 
Foi assim que tudo começou.
Foi ali , em ifé, durante uma semana de quatro dias , que Orixá Nlá criou o mundo é tudo o que existe nele 
                      
                      Euá

Até mesmo os deuses têm que descansar. Inclusive (e especialmente) no meio de uma guerra tão longa. Soubessem eles que o fim estava tão próximo, talvez até tivessem adiado o passeio. Talvez, apenas. Porque as diferenças entre os lados jamais haviam sido motivo para perder a civilidade. Estavam ali para aproveitar a caminhada, e assim seria. Vagarosa e digna, com os braços dados, um passinho depois do outro, pés descalços, areia fofa. No privilégio exclusivo dos deuses, escolheram um dia e um lugar perfeitos, com céu azul, mar calmo e uma brisa fria que escondia a mordida do sol que suas peles negras absorviam tão bem. Ele imaculado de branco, apoiado no seu cajado de prata. Ela toda formosa com sua bengala de fibras. Conversavam como se falassem de amenidades. E, de certa forma, era isso mesmo. Qualquer assunto, por mais importante que fosse, era secundário à companhia. Afinal, não havia ninguém mais por ali, tanto no mundo dos encantados, que chamavam de Orum, quanto no dos vivos, que chamavam de Aiê, que tivesse passado por tudo que passaram os dois velhos orixás. Oxalá e Nanã, embora em lados opostos naquela guerra sem fim, eram mais um do outro do que dos seus. Eles jogarão seus poderes contra o outro. Usarão sua força, sua esperteza, sua paciência e valentia, para roubar e anular o lado oposto, e, por isso mesmo, e somente assim, o equilíbrio se sustentará. De tempos em tempos, se encontrarão novamente naquela mesma praia. E caminharão, como merecem caminhar. A guerra, no fim das contas, já era tão antiga que não era mais pessoal. Não havia começado ontem, nem terminaria amanhã. Assim queria Olodumare, o criador de tudo. Um equilíbrio nervoso e constante, fruto de uma guerra sem fim. Que assim fosse, então. – Depois de tanto tempo, você ainda consegue me surpreender. Impressionante – dizia Oxalá. – Deixe disso, meu velho. Não sou mais mocinha para cair nesse tipo de conversa. – Impressionante, e implicante. – Se fosse implicante, estava falando era da chegada da sua menina predileta. – Viu só? Implicante sem cura. Aquilo foi um erro, e eu já me arrependi. – Seu arrependimento não vale nada. Quero ver agora que ela chegou, o que você vai fazer. – Esse era seu plano, então? Aquele fuzuê de sequestrar os odus foi só para distrair enquanto você trazia ela para cá? – Você que está dizendo. – provocou Nanã. – Não foi isso que combinamos. Mas tenho que admitir que me enganou direitinho. – Você acha mesmo que vai me fazer contar o que estou planejando? – Então existe um plano? – Não digo. – Tudo bem, eu preparei tudo para ela não lembrar de nada.
Na pequena clareira, jogada ao lado do rio que a havia cuspido, Euá não mexia um centímetro de seu corpo esguio. Ao seu redor, porém, algo espetacular e misterioso acontecia. Flores amarelas e vermelhas cresciam, perdiam suas pétalas e secavam até desaparecerem junto à terra. Nasciam e morriam às centenas, todas ao mesmo tempo e tão rápido, como se meses se passassem em instantes. O ciclo continuou muito tempo, antes que Euá abrisse os olhos. No início, ela não reconheceu o lugar. Não tinha ideia de onde aquilo fosse ou de como havia ido parar ali. Tinha a impressão de que as cores brilhavam mais do que se lembrava, uma luz azulada, e que o ar lhe parecia mais leve. Não notou que não respirava. Com dificuldade, pôs-se de pé e caminhou entre as árvores, sempre seguindo o curso do rio. Sentia uma dor que começava de dentro, depois se espalhava pelo corpo inteiro, como se tivesse sido amarrada e arrastada por dias, puxada por um animal selvagem muito maior do que ela. Seria isso uma impressão ou uma memória? O preto da sua pele refletia o sol que cortava a copa das árvores com mais brilho que antes, e cada som da floresta lhe era claro. Conseguia ouvir cada canto de pássaro e contar quantas folhas secas partia com os pés enquanto caminhava. E foi assim que, entre seus passos, ouviu um que não era seu. Parou de repente. Tão de repente quanto o nevoeiro espesso que se formou ao seu redor. – Pode ficar tranquila. Não estou aqui pra te machucar. Seu corpo deve estar inteiro doendo, aliás... – disse aquela voz do meio do nada. – Como sabe que meu corpo dói? – retribuiu Euá. – Dói pra todos que chegam, minha cara. Aquela voz, o nevoeiro... fragmentos de memória tentavam lhe dizer algo. Lembrava de um homem mais velho, fugindo, na beira de um rio... A jovem esticou as mãos até encontrar uma árvore e se abaixou com medo. O dono da voz haveria de se cansar de esperar. – Deixe que eu lhe ajudo. Você deve estar meio confusa – insistia ele. Até que um outro barulho, um grunhido, acompanhado de passos apressados, começou a se aproximar, rápido. Euá levantou num salto. Sabia de onde vinha o som, mas no meio do nevoeiro não sabia para onde correr para se proteger. O animal continuava se aproximando. Grunhia mais ainda toda vez que se arranhava em arbustos, mas jamais perdia o rumo em sua direção. Fosse o que fosse aquele animal, ela era sua caça, e o grunhido agora estava perto demais. Euá sentiu um zunido rápido e um vento passou pela sua orelha, seguido imediatamente de um som seco e um grito. Um grito de porco-do-mato, que calou de repente. A névoa ainda marcava o trajeto da flecha. – Esse é barulhento, eu acerto mesmo sem ver. E se o bicho fosse quieto? – gritou de longe uma voz de rapaz. Euá não confiava em homens novos. Mas estava cansada demais para sustentar o nevoeiro por tanto tempo. Acabou cedendo. Num instante, o ar estava limpo de novo, e um jovem e esbelto caçador se aproximou – mãos para cima e peito para baixo, andando devagar para não amedrontá-la ainda mais. Apontou para o lugar onde um porco-do-mato se mexia, em silêncio e agonia, como se não conseguisse morrer. O rapaz então passou pela moça, seguiu em direção ao animal, sussurrou algo no seu ouvido e retirou a flecha de uma só vez. Não havia sangue. O animal se contorcia como se estivesse com muita dor. Não pela flecha, porém. Havia algo estranho em seu corpo. Suas juntas pareciam meio fora do lugar, os ossos desencaixados. O caçador explicou: – Às vezes o povo mata esses bichos mas não faz as oferendas certas, e eles vêm parar aqui, todos esquisitos, sem saber para onde ir. Euá notou uma luz ao redor do porco. Como se um espectro dele mesmo, mais correto, mais forte e vibrante, às vezes lhe saísse do corpo. O caçador pegou o bicho e colocou-o nos braços da forasteira. E o bicho, que grunhia em agonia, num só momento, se acalmou. Foi parando de gritar. Respirando mais compassado. Já não se chacoalhava tanto. Euá lhe acariciou de leve e, no que 

arrumava seu pelo, era como se lhe arrumasse os ossos. O bicho então adormeceu, tranquilo, nos braços da menina, mas antes lhe lambeu três vezes a mão e, ao fazer isso, foi como se o espectro que lhe tentava fugir ao corpo adentrasse pelas pontas dos dedos de Euá. – Você é jeitosa mesmo. Bem que ele me disse. – Ele quem? – Você não está entendendo nada, não é? Nem lembra quem eu sou? Meu nome é Oxóssi, irmão de... – Ogum – completou Euá, sem conseguir fazer completo sentido de todos os fragmentos de memória que lhe voltavam. Oxóssi sabia como aquele momento era confuso. Então não a pressionou, não explicou ou tentou que ela lembrasse mais. Vez ou outra, ela perguntava algo, como se juntasse os cacos de um prato quebrado. Na maior parte do tempo, seguia calada e misteriosa. Por três dias, andaram muito e conversaram pouco, e cada vez menos, sempre margeando o rio de águas mais claras que Euá já havia visto. Ela dormia mal à noite, tinha pesadelos que faziam-na acordar suada e suja de terra. A sua volta, flores em profusão. Sempre. De início, Oxóssi se entreteve com a mágica involuntária da forasteira. Na última noite, no entanto, ele parecia tenso demais para usufruir do espetáculo. Olhava ao redor sem parar. Farejava o ar. Parecia em estado de alerta. Continuaram andando, até que a luz lhes banhou tão forte que, por um instante, ficaram cegos, os dois. Estavam numa clareira enorme, como se a floresta se interrompesse para que eles pudessem apreciar a vista. – Você conhece esse lugar – disse ele. A paisagem era familiar, ela pensou, mas faltava algo. Ela se concentrou. E, de repente, enxergou. Vultos, como feitos de luz, semitransparentes. Tinham cores diferentes, tamanhos diferentes. Alguns andavam solitários, perdidos. Pareciam menos densos, sem ideia alguma de onde estavam, como Orunmilá estivera, quando ela o levara até ali para se encontrar com Oxóssi, muito tempo atrás. Outros, um pouco mais densos, andavam em grupos, eram agressivos e rápidos. Atacavam os que estavam em volta como hienas famintas. Eventualmente, como se vindos do nada, ela avistava um ou outro gigante entre os demais. Esses pareciam sólidos como pedra e se materializavam sem avisar, alguns causando lutas violentas, outros fazendo com que os vultos se prostrassem ao chão. Os mais estranhos, no entanto, eram os que caminhavam em pares. Sempre um menor (do tamanho de todos os outros, menos dos gigantes) e outro maior (porém não tão grandes quanto os gigantes). Essas duplas estavam sempre ligadas por um estranho cordão que saia do alto da cabeça de um e terminava no umbigo do outro. Alguns deles transitavam em paz, outros eram atacados pelas hordas que vagavam causando confusão e tinham que lutar para proteger sua conexão. – Bem-vinda à entrada do reino dos encantados – interrompeu Oxóssi. – Não parece com o que você lembrava, não é? – Um pouco. A paisagem é parecida. Mas não lembrava de ser tudo tão… – Claro? – Violento. Euá gostava mais das imagens pacíficas que tinha antes. Sabia que se os homens e mulheres que ela havia levado até ali tinham suas memórias embaralhadas quando acordavam, as suas próprias também deveriam ter sido. “O equilíbrio entre tantas forças opostas tem um preço” – tentou explicar o caçador. Ela o olhou em desafio e ele apenas sorriu. Era assim que queria Olodumare, o deus supremo que comandava até mesmo os orixás, então não havia o que fazer. Ele não conseguiria convencê-la de que aquilo era uma solução a ser apreciada, contudo. Não bastasse as disputas do homem, agora a natureza havia de se atacar também? – E quem é toda aquela gente? – perguntou Euá. Os perdidos, que pareciam não estar entendendo onde estavam, eram gente do Aiê que veio parar aqui em sonho, como você mesma costumava vir. Os outros são diferentes tipos de Irunmalés, como chamamos os seres aqui do Orum. – Explicou Oxóssi. – Cada um deles tem poderes e ideias diferentes. Os mais agressivos, que andam em bando são eguns, grupos de ancestrais, que estão sempre brigando para proteger os seus – estejam eles vivos ou mortos. Os gigantes, são os orixás. Não é sempre que eles aparecem, mas às vezes vêm por aqui, atendendo a chamado de gente que lhes chamou com o devido respeito, o que não é tão comum como você imagina. – Como assim? – perguntou Euá. – Infelizmente, poucos são os que vêm para visitar, servir ou prestar homenagem, como você costumava vir. A maioria vem só parapedir mesmo. Esses normalmente ficam vagando sozinhos porque os orixás não costumam gostar muito dos que acham que podem dizer o que querem de nós... – E por que tanta violência? – Veja bem, o que quer que alguém peça, – explicou Oxóssi – seja uma casa, um marido, mais água… para alguém ter o que quer que seja, alguma outra pessoa ficará sem aquilo. E se todos pedem ao mesmo tempo no Aiê, dá briga no Orum. “Fazia sentido”, pensou Euá, ligeiramente envergonhada de questionar a ordem das coisas. Ainda assim, incomodada. Toda aquela violência havia mexido com ela mais do que poderia imaginar. Então se calou por um tempo e caminhou de volta para dentro da floresta fechada, perdida em seus próprios pensamentos. De longe, o caçador tentava imaginar o que se passava naquela cabeça misteriosa, mas a mulher era mais difícil de ler que a floresta inteira. Quieta, ela olhava, como se procurasse por algo que tivesse acabado de perder, e abriu um sorriso enorme quando encontrou umas pequenas frutas vermelhas penduradas num pequeno arbusto. Oxóssi interveio. – Está com fome? Eu arranjo alguma coisa pra você comer, mas essas frutas são venenosas. Não vão te matar, mas você vai preferir que tivessem. Ela prosseguiu como se não tivesse ouvido a recomendação. Colocou as frutas sobre um pedaço de casca de árvore e usou uma pedra para macerá-las até que virassem uma pasta. Pegou um punhado de terra e misturou a parte da pasta, vendo-a escurecer até chegar a uma cor de sangue velho. Satisfeita, caminhou até uma pedra lisa e passou o dedo na pasta vermelha, depois na pedra. Correu o indicador para baixo, para o lado, passou-o novamente na pasta vermelha e de novo na pedra. Continuou o processo por algum tempo e quando julgou terminado, finalmente olhou para seu guia e perguntou: – E que diacho era isso? Na parede lisa da pedra, Euá havia desenhado, num traço grosso e escuro, o corpo de dois homens, um maior e outro menor. Ligando os dois, um fio feito com a tinta mais clara. Da cabeça de um ao umbigo do outro. Oxóssi ficou impressionado com a habilidade da novata, que fez aquilo sem nenhuma magia. Ao menos nenhuma que ele conhecesse. Apreciou a pintura mais um pouco e depois respondeu: – Um iniciado e seu orixá, ora. Eles sempre andam juntos. Ninguém nunca lhe explicou o que acontece quando alguém dedica a cabeça a um orixá? Ela já havia ouvido inúmeras explicações. Umas mais simples, outras mais complicadas, mas nenhuma delas envolvia um cordão umbilical ligado a cabeça de outro sujeito. – Pelo modo que lutavam, aquele menor deveria ser um iniciado para meu irmão Ogum. – Você está dizendo que seu irmão está amarrado naquele sujeito para sempre? – perguntou Euá. – Você está louca? Há muito mais iniciados que orixás... – Estou confusa. Oxóssi pediu que ela desenhasse outro corpo, ainda maior que os dois primeiros, na mesma parede de pedra. Quando ela terminou, Oxóssi apontou para o novo desenho e explicou: – Imagine que esse é o meu irmão. Apontou para o menor dos três, cobriu com uma folha o do meio, e continuou: – E esse é um sujeito que se iniciou para ele. Aqui no Orum, meu irmão assumiu grandes responsabilidades. Pela guerra, pelas invenções, pelo ferro... ele cresceu e se tornou um gigante. Se ele pousasse na cabeça desse pequeno indivíduo... ele explodiria! Bam!Euá enfim riu. Oxóssi, realizado, continuou: – Como ele fez? Ogum retirou um pedaço dele mesmo, uma semente, um pequeno Ogum como dizemos aqui, e mandou para a cabeça do rapaz. Esse pequeno orixá se alimenta do axé da cabeça do iniciado, e vice-versa. Uma ligação tão forte, que só acaba com a morte do sujeito. Você viu que os eguns não conseguiam quebrar a ligação que os dois tinham? – Vi. – Euá pensou um pouco... – E nessas lutas, nessas guerras... se alguém ficar tão forte qa ponto de vencer todos os outros? Digo, de verdade? Se alguém acabar virando soberano... – Nunca aconteceu. – Mas pode acontecer? – Acho pouco provável... – Mas pode? – Talvez. – E você? De que lado está? Luta por alguém? – Não tenho paciência para essas brigas. Prefiro caçar sozinho. Essa gente é muito complicada. Euá também gostava de caçar. Não pela presa em si, mas pelo tempo sozinha, para pensar coisas que só ela entendia. Era bom saber que era possível fugir dessas lutas sem sentido. – Da maioria dessas brigas, é possível escapar. Uma delas, entretanto, vai sempre arrastar todos nós para dentro dela. – continuou Oxóssi, como se tivesse lido seu pensamento – Que guerra é essa? – Eles chamam de “a grande guerra dos orixás”. Os homens contra as mulheres. Elas não admitem que nós tenhamos direito exclusivo sobre vários poderes, especialmente o do destino, e nos acusam de excesso de truculência para manter uma regra arbitrária. O que não é de todo absurdo. Nós dizemos que elas querem nos roubar os poderes e as acusamos de bruxaria. Um argumento também razoável. E assim, a guerra segue, sem ninguém conquistar nenhum espaço, sem ninguém concordar, em nada. – Então já temos um trabalho para fazer. Acabar com essa guerra, que tal? A ingenuidade da novata era mesmo encantadora. – Quem sabe, um dia? Mas hoje, a pergunta mais importante você ainda não fez – disse ele: – Onde moram os orixás? – e apontou o dedo na direção de um espaço entre duas árvores, logo às costas de Euá, onde estavam antes assistindo as lutas entre humanos, eguns e orixás. “Como podia estar diante de algo tão grande sem ter notado?” – pensou Euá. Ela varreu com os olhos o gigantesco monolito escuro que subia alto, arranhado em linha reta do chão aos céus por tantos riscos em milhares de tons de carvão, como se tivesse subido de uma só vez de dentro do chão. No topo, nada. Não parecia ter cume nem vida, como se lá, na parte de dentro, a montanha engolisse a si mesma. Já a base era rica e vistosa, de onde vinham árvores frondosas, verdes, grossas. Do alto da grande parede de pedra parecia escorrer vida. De um dos lados, uma fina linha branca derramava cume abaixo. Uma cachoeira. E, dessa cachoeira, corria um rio até bem longe. A emoção era tão grande que ela se esqueceu de perguntar como o rio parecia subir a cachoeira. – Igbadu? – perguntou ela, já sabendo a resposta. Igbadu era o nome das lendárias montanhas da vida. No alto, diziam as histórias que o povo contava, moravam os orixás e outros encantados. Um lugar onde jamais nenhum mortal conseguiu chegar. E, se aquela pedra côncava estava ali, a outra haveria de estar logo… lá estava ela! Pontuda, como se quisesse furar o tecido do céu. A segunda montanha tinha a base mais fina, mas era muito mais alta. Dessa, sim, podia se ver vida brotando no alto. Em vários pontos, sempre que um platô se formava, uma pequena floresta o cobria de verde. Dali de perto, elas eram muito maiores do que ela imaginava. – Eu morri? – perguntou Euá. – Devagar com as conclusões – disse uma outra voz às suas costas. – Acredito que não preciso lhe apresentar a Exu? – perguntou o caçador. A memória de Euá ainda estava confusa: sabia que havia conhecido Exu e Oxóssi muitos anos atrás, mas eles não pareciam haver envelhecido um dia sequer. Por precaução, ela deu um passo para trás de Oxóssi quando Exu se aproximou. O caçador mesmo a acalmou. Caminharam juntos na direção das árvores ao redor das montanhas. – Não precisa ter medo. Ele é amigo. Foi ele que me pediu para ir lhe receber. – Eu teria demoradodias para lhe encontrar – disse Exu. – Oxóssi conhece melhor esse mato. Fome? Exu apontou para uma fogueira onde assava uma galinha. Euá se chacoalhou toda de nojo: – Odeio galinha! – disse, sem lembrar por quê. Teria sido uma boa notícia para Exu, que não teria que dividi-la com ninguém. Mas o caçador segurou seu braço antes que ele pudesse chegar até o fogo. Farejou o ar algumas vezes como se procurasse a direção de um cheiro qualquer, depois olhou para Exu e para o lado oeste da floresta. Exu percebeu o cheiro também. Estava aumentando. Enquanto Oxóssi jogava terra sobre o fogo, Exu pegou o galho com a galinha assada e jogou num saco para comer mais tarde. Mesmo ele, com todo aquele apetite, não conseguia comer com aquele odor que crescia sem parar. Aumentou tanto que até Euá passou a perceber. Flores... rosas e... carne podre! Num clarão, tudo mudou. Era noite, neblina, ela se sentia triste... Iku a olhava de longe. Suas roupas roxas e pretas, rasgadas. A espada coberta com tantas camadas de sangue seco, pousada na cintura. E, nas mãos, Iku trazia alguma coisa... rosas? Euá sentiu gosto de terra. Frio. Depois, silêncio e escuridão. O corpo de Euá se retorceu e ela caiu no chão, em espasmos. Sem vacilar, Exu jogou o saco de comida sobre um ombro e a jovem no outro. Melhor chegar às montanhas antes que anoitecesse.O sol já se punha novamente, uma hora que Nanã, a mais velha entre as orixás, adora desde bem jovem. Ela conduziu Oxalá até uma rocha e o sentou de frente para o mar. – Para os outros talvez ainda haja surpresa nas suas tramoias, minha querida. Para mim, você sempre será previsível. Talvez me engane aqui ou ali mas no fim eu sempre sei seu próximo passo. – Agora você está sendo rude… Senta aí, meu velho. Vou dançar para você. Nanã já não se movia com o mesmo vigor de quando era moça, tanto tempo atrás. Compensava o peso dos anos, todavia, com sua delicadeza e elegância. Rodopiava devagar, e mexia os braços como se operasse um pilão. – E você sabe que tem tanta culpa quanto eu – disse o velho orixá, sem muita convicção. Nanã se manteve calada, a dançar. Jogava as mãos para um lado e para o outro como se saudasse os cantos do mundo. – Digo, foi você que colocou essas ideias na minha cabeça – disse ele. Nanã batia palmas como se avisasse que estava chegando. Depois rodava e rodava. Não que não apreciasse o espetáculo, mas Oxalá tentava em vão que ela respondesse: – Seria muito deselegante se você mesma contasse, você sabe bem, não sabe? Uma vingança pequena, que não cai bem a uma senhora da sua estirpe. Sei que você não gosta de fazer papel ridículo… pois contar os segredos dos outros é um tanto ridículo e deselegante, não acha? A dança ficou mais vigorosa. Oxalá prosseguiu: – Assim como não cai bem essa mania de querer roubar o poder dos outros. Vocês já são tão poderosas nas suas bruxarias, não precisam tirar o que é nosso. A frágil senhora apontava um olho, depois o outro. Uma narina, depois a outra. Apontava o mundo todo. – Tudo isso que eu vi, tudo isso que eu cheirei, tudo isso que está em nossa volta – ela dizia com o bailado, e batia com o pé no chão. O mundo era todo dos dois. Não só dele, dos dois. A dança era tanto um agrado quanto uma ameaça.
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Aruanda

escrita por Biscoitdoamor
Fanfic / Fanfiction Aruanda
Em andamento
Capítulos 1
Palavras 1.328
Atualizada
Idioma Português
Categorias Mitologia Africana
Gêneros Aventura, Fantasia, Magia / Misticismo, Mistério
Aruanda será uma história para retratar conteúdo da nossa religião da Matriz Africana de uma forma mais divertida, combatendo com o preconceito e aprendendo de uma jeito um pouco diferente.
Muitas histórias irão acontecer e quando menos esperar, você estará viciado em conhecer as situações mais doidas e relatas na vida desses guias de luz.
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Unidos para sempre!

escrita por SantoAgostinho_
Fanfic / Fanfiction Unidos para sempre!
Concluído
Capítulos 1
Palavras 158
Atualizada
Idioma Português
Categorias Mitologia Africana
Gêneros Ação, Aventura, Comédia, Famí­lia, Luta
Neste capítulo Agostinho e sua irmã se resolvem depois de muito tempo de briga, e ficam juntos para sempre!
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