História 02 ( better together - choni ) - Não posso perde-la

Cheryl Blossom — Point Of View 

Ainda estava em êxtase com a situação, havia duas pessoas claramente bravas na minha frente e tinha certeza que a loira não havia percebido a presença da minha ex. Tentando de alguma maneira lhe dar um sinal, balancei as sobrancelhas, aparentemente Sabrina não entendeu já que semicerrou os olhos em minha direção ficando mais irritada. 

— Vai simplesmente continuar a me ignorar? 

Seus braços cruzaram após largar a gaiola no chão. Para minha sorte, Salem sempre nos avisou sobre desconhecidos e o mesmo miou em direção a Toni que permanecia em silêncio observando toda a cena. A loira finalmente virou seu corpo dando de cara com minha ex, a mesma girou seus calcanhares com rapidez e seus olhos arregalaram. Tentei expressar um “eu avisei” e a mesma respirou fundo, voltando a encarar a morena. 

— Toni! – seu tom suavizou. — Me desculpe, eu não sabia que Cheryl tinha companhia. Enfim, bom dia. 

— Bom dia. 

Conhecia muito bem o tom que a morena usou, ela estava com ciúmes. Ficou nítido o quanto Toni estava incomodada e pelo menos isso Sabrina conseguiu enxergar, voltando sua atenção a mim. 

— Então, vou levar minhas coisas lá pra cima... 

Falou, concordei com a cabeça e a mesma pegou tudo, caminhando em direção as escadas. Meu olhar a acompanhou e assim que fiquei totalmente sozinha com Toni, suspirei. 

— TeeTee... 

— Ela vai dormir com você? 

Questionou me interrompendo. 

— Eu só tenho um quarto com cama, o outro está meu piano. 

— E vocês... 

Gesticulou com as mãos insinuando um envolvimento. 

— O que? Não! – me aproximei da morena. — Somos amigas, apenas isso. 

— Ok. 

Os braços continuavam cruzados e seu olhar desviou do meu. 

— Toni... – a chamei, a mesma me ignorou. — Por favor, tivemos uma noite incrível e Sabrina é só minha amiga. 

— Ela é sua ex, Cheryl. 

Retrucou, dessa vez seus castanhos me encararam. 

— Não, nós não chegamos nem ao menos a namorar, se alguém é minha ex aqui... É você. – me aproximei um pouco mais. — Só tive uma namorada, Toni. 

— Você está tentando me ganhar... 

Murmurou, um sorriso quase aparecendo. 

— É claro que estou. – meus braços descansaram em seus ombros. — Almoça comigo? 

— Acho que você já tem companhia. 

Desvencilhou seu corpo de meus braços, bufei e revirei os olhos. Toni caminhou pela sala a procura de sua calça e sapatos. Ela estava sendo infantil com esse ciúmes bobo, mas no fundo, a entendia, se fosse Bárbara mal olharia em sua cara. Meus planos de termos a manhã inteira juntas havia sido arruinado e não havia mais como consertar. 

— Você vai mesmo? 

Perguntei assim que a mesma terminou de abotoar sua camisa. 

— Tenho treino, Cheryl. 

Justificou. 

— Está fugindo de mim. 

— Não, só acho que precisa de tempo com sua amiga. 

O tom irônico ao pronunciar a palavra “amiga” demonstrava que era tudo por ciúmes. Respirei fundo, acalmando os meus nervos para não me estressar sendo que foi nosso primeiro encontro. 

— Posso mandar mensagem? 

— Claro, minha luta é nesse final de semana e eu quero que vá, aliás... – suspirou, nos encaramos. — Verônica vai vir para assistir.

— O que? Ela vai vir? 

Arregalei os olhos. 

— Sim, e é uma ótima oportunidade para contar que não está bebendo e que está se cuidando, Cheryl. 

— Mas, Toni... 

— Olha. – segurou minhas mãos. — Pense nisso, ok? Agora tenho que ir. 

Beijou minha bochecha. 

— Se cuida, Cheryl. 

Despediu-se, nem ao menos esperou resposta e saiu de meu apartamento as pressas. Cheryl. Ela nunca me chama assim, ao menos que esteja brava ou surtando de ciúmes por Sabrina estar aqui. Revirei os olhos, irritada por ter tudo estragado logo agora. E essa luta? Além de ver Toni lutar ainda terei que enfrentar minha melhor amiga? Piada. Esse dia até parece um grande gatilho para fazer tudo ir por água a baixo. 

— Ouvi errado ou sua ex acabou de dizer que você está parando de beber? 

Virei rapidamente o corpo dando de cara com Sabrina na ponta da escada e com Salem no colo. O que mais quero agora é um copo de whisky e não sei como esconder isso da loira. 

— É muito feio ouvir a conversa alheia. 

Resmunguei, caminhando para a cozinha. Abri o meu armário, em vez de pegar uma garrafa de bebida, busquei por meu último maço de cigarro. Ele estava lacrado, mas agora não mais. Quando Sabrina veio ao meu encontro já o tragava aliviando um pouco minha falta de nicotina. 

— Eu ouvi sem querer. – justificou, Salem andava pelo apartamento reconhecendo o território. — E beber não, mas fumar sim? 

Arqueou a sobrancelha. 

— Ela não sabe que estou fumando, fique de boca calada. – a repreendi. — E não sabe que continuo bebendo também... 

Murmurei, eu precisava contar isso a alguém e nada melhor do que Sabrina. Primeiro, ela não tem nenhuma intimidade com Toni. Segundo, ela é uma das minhas amiga que nunca me julgou. E terceiro, tenho plena certeza que estará em Boston daqui a alguns dias e não verá minha ex, sendo assim não poderá deixar escapar meu segredo. 

— Você está mentindo? 

— O que queria que eu fizesse? – abri os braços a questionando. — Toni me fez escolher entre ela e a bebida, eu gosto de beber. 

— Na verdade, você é dependente da bebida. 

— Até você? Foi a única que não me julgou em nenhum momento e acabou de fazer. – neguei com a cabeça. — Pensei que poderia confiar na nossa amizade. 

— E porque não poderia? 

Cruzou os braços. 

— Acha que vou correndo a Toni contar que está mentindo? 

Fixou o olhar no meu. 

— Não. 

Respondi em um tom baixo. 

— Então, me conte essa história detalhe por detalhe. 

_____

Dedilhando os dedos pelo meu piano, aguardava Sabrina voltar para nossa conversa. Havia lhe contado tudo, mas na hora da mesma me dizer sua opinião o seu celular tocou e teve que sair para atender. Após bebericar meu whisky, escrevi mais algumas palavras na folha rabiscada. Minha noite anterior com Toni estava rendendo uma letra muito boa.

— Era o Nick.

Sabrina falou ao adentrar o quarto, meu indicador tocou o centro de meu óculos, o posicionando de forma melhor em meu rosto. A loira suspirou, puxando uma cadeira para sentar próxima a mim.

— Como ele está?

Perguntei, deixando minha criação de lado.

— Não mude de assunto. – seu tom era sério. — O que está acontecendo é muito sério, Cheryl. Onde você acha que vai parar com tudo isso?

— Eu estou parando de beber e fumar, Sabrina.

— Está mesmo? Porque assim que Toni saiu, você foi direto pegar um cigarro e agora está bebendo whisky. Não são nem onze horas da manhã, Blossom!

Ela retrucou como se eu fosse uma criança. Meu olhar desviou para meu copo de whisky quase acabado, se Toni sonha com isso claramente estou ferrada, mas não seria tão grave assim, seria? Quer dizer, estou fazendo isso por nós, uma mentira saudável.

— Cheryl, eu amo você, é uma das pessoas que mais admiro e confio no mundo. – ela tocou em minha mão, segurando com firmeza. — Preciso ser sincera, se pensa que conseguirá parar de beber ou fumar sem ao menos se esforçar, está enganada. E se Toni descobrir essa mentira toda, nem sei se terão mais alguma chance juntas porque ela ficará muito magoada.

— O que está querendo dizer?

Franzi a testa.

— Pelo visto ninguém te falou isso ainda, mas Cheryl, se continuar com essa mentira irá perder a Toni pra sempre.

— O que? Não, Sabrina. – retirei minha mão da sua. — Ela não vai descobrir e será só alguns... Meses.

— Meses? Você está louca, Cheryl.

Ela riu negando.

— Eu sei muito bem o quanto você ama a Toni, se ela te deixar sei que ficará devastada então, por favor, olha toda essa situação, se coloca no lugar da pessoa que você ama e repense.

Respirei fundo, me negando a aceitar que algum dia Toni me deixaria para sempre, isso em hipótese alguma pode acontecer. Ela é a mulher com quem quero viver, não posso perde-la de maneira alguma, ainda mais por minha causa. Só de lembrar do dia que saiu do meu quarto sem olhar para trás entro em Pânico. A culpa foi minha de não der nos dado nem ao menos o benefício da duvida, se daríamos certo a distância ou não. Poderíamos estar juntas até hoje, sem interrupções. 

Meu olhar caiu para o copo de whisky novamente, precisava colocar em uma balança o que é mais importante. Toni ou a bebida. Definitivamente não queria viver sem nenhum dos dois, mas não havia como. Uma escolha, simples. Toni ou a bebida. Um amor onde tenho apoio, carinho e atenção para o resto da vida ou algo que supre minhas frustrações por um tempo até o álcool não fazer mais efeito.

— Talvez você tenha razão... – murmurei. — Não posso perde-la.

— Isso! 

Sabrina comemorou, sorrindo.

— Agora, você vai realmente tentar parar de beber e fumar, Cheryl. A partir de hoje não gastará dinheiro com nicotina e álcool, ficarei até o início do final de semana... Vamos começar isso juntas.

Incentivou-me.

Sinceramente foi o melhor conselho que ganhei até hoje porque em momento algum a loira quis me mandar para alcoólicos anônimos, ela mesma quer me ajudar a largar a bebida e acredito que se me esforçar e ganhar seu apoio dará tudo certo.

— Olha o que consegui escrever...

Mudei de assunto, minha mão foi em direção ao copo que estava sobre o piano, mas no mesmo momento recuei. Fechei os olhos, os apertando com força e obrigando meu cérebro a desapegar dessa mania. 

— Deixa que eu fico com isso.

Sabrina pegou o copo, o tirando do meu campo de visão.

Peguei meu rascunho em mãos, a loira estava atenta esperando o início da minha leitura. Talvez ela tenha sido a pessoa que mais ouviu minhas composições pessoais e não me arrependo, todos elogios, críticas que vem dela sei que são sinceras.

— Me diga uma coisa, mas me diga com as mãos, lentamente quando você me toca, me pinta como um van gogh. Eu quero estudar cada centímetro de você até confiar em mim para fazer os anjos entrar. Como um coral cantando “aleluia” quando meu corpo está colidindo com você... [ Living Proof - Camila Cabello ]

Era apenas o início de uma música, mas tinha quase toda pronta em minha mente, tenho certeza que Camila irá adorar e coloca-la no álbum. 

— Uhn, pelo jeito a noite foi boa. – Sabrina riu ao falar, balancei a cabeça em negação. — Ah, Blossom. Sei muito bem que você é louca pela Toni, não a deixaria ir embora sem uma noite de sexo.

O seu tom era repleto de malicia, piscando ao final.

— Eu só... – suspirei, algo de que estava convicta de que era o certo parecia completamente errado. — Só consigo pensar que posso magoa-la, a qualquer momento.

— Você não vai, eu vou te ajudar a passar por isso, lembra? 

Assenti.

Tinha total confiança em Sabrina, mas ela não ficaria aqui para sempre, em algum momento ficarei sozinha e talvez esse seja o meu maior medo. Não quero ter apenas o whisky e o cigarro de companhia, preciso de alguma maneira aprender que eles não são minha salvação para as frustrações. Pelo contrário, podem ser os causadores de minhas maiores decepções.