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História 100 Suns - Consequences


Escrita por: zarrybyziegler

Capítulo 4 - Consequences


Fanfic / Fanfiction 100 Suns - Consequences

Voei da cama quando gritos estridentes e agastados soaram do andar de baixo, a rouca voz de Harry ecoando junto ao tom cominador que eu tanto conhecia.

Abotoei a calça jeans e vesti a primeira polo que encontrei no guarda-roupa, saindo do quarto descalço, tendo que fechar os olhos quando a luz do sol iluminou meu rosto, tonteando-me por breves segundos.

Segurei no corrimão da escada e recuperei o equilíbrio, desejando que tivesse maneirado na bebida na noite anterior, escolhendo cerveja ao invés de whisky.

Os gritos ecoaram mais altos, mais furiosos, subitamente lembrando-me por qual motivo havia saído com tanta pressa do quarto, fui rápido ao terminar de descer os degraus.

Identifiquei automaticamente o esboço de duas pessoas no meio da sala, Sr. Styles usando suas típicas vestes, compostas pelo terno e sapatos sociais, enquanto Harry vestia apenas uma calça moletom, possibilitando a visão de seus braços tatuados e abdômen.

— Depois de tudo que conversamos, você ainda consegue me aprontar uma dessas? — Greco gritou, apontando o dedo para o filho. — Qual o seu problema, garoto?

— Eu já disse que sinto muito! O que quer que eu diga?

— Nada! Não há nada que você possa dizer que diminua a gravidade da situação.

— Gravidade? O que tem de tão grave? Eu dei uma festa, ponto. — Harry estirou as mãos para o alto.

Arregalei os olhos, finalmente percebendo as garrafas de bebidas espalhadas pela sala, algumas embalagens de salgadinho jogadas pelo tapete persa, onde, acidentalmente, um dos meus amigos havia manchado de vinho.

Entrei em desespero, incerto sobre me aproximar e me responsabilizar pela bagunça, ou subir e deixar que Harry resolvesse a situação.

— Ponto? É isto que você tem a dizer? — Greco tornou-se duas vezes mais furioso do que já parecia.

— Ontem foi o meu aniversário, não pode me privar de fazer uma festa em comemoração. — Harry gritou, cruzando os braços.

Deixei de ouvir o restante da conversa quando o aniversário de Harry, que eu não fazia ideia, foi mencionado.

Por qual motivo ele não havia me contado?

— Você precisa pedir a autorização antes de decidir qualquer coisa! — Greco esbravejou, atingindo uma coloração vermelha. — Você se aproveitou da ausência da senhorita Gonzales e do motorista, esta é a razão por qual decidiu dar uma festa sem meu consentimento.

— Eu teria avisado se você ao menos tivesse me ligado para desejar feliz aniversário. — Harry estendeu os braços em objeção. — Mas obviamente você esqueceu que dia era ontem... outra vez.

— Não fale bobagens, ontem estive ocupado durante o dia todo, não tive tempo para ligar.

— Oh, claro, agora faz todo sentido. — Harry sorriu ironicamente.

— Não tente mudar de assunto, garoto, não tente fazer com que esta conversa se torne sobre mim! — Greco criticou, chutando uma das embalagens de salgadinhos no chão. — Quero que você limpe a casa, quero tudo isto limpo até o fim da tarde, ouviu?

— Veio aqui somente para isso? — Harry perguntou, com a voz embargada.

— Vim para dizer que arrumei uma nova governanta, e para informar que já encaminhamos a certidão de casamento para a imigração, também já solicitamos uma nova averiguação do visto de Zayn. — Greco declamou, aproximando-se do filho. — Mas estes não são assuntos que eu queira conversar com você enquanto sinto minha casa feder a bebida barata.

Aquelas foram as últimas palavras de Greco antes de virar e caminhar até a porta, deixando Harry estático no meio da sala, transpirando de forma irregular.

— Você não me disse que ontem era o seu aniversário. — Proferi, quando ele caminhou em direção da escada.

— Você não precisava saber.

Foi tudo que ele disse ao passar por mim, subindo as escadas mais rápido do que todas as outras vezes, batendo a porta com força assim que entrou no quarto.

Iniciei a limpeza da sala ao tomar um café da manhã reforçado, levando horas para conseguir remover a mancha de vinho do tapete, mais horas ainda para organizar todos os móveis no lugar.

Não vi Harry pelo resto do dia, fui completamente ignorado quando o chamei para almoçar, entendendo, por seu silêncio, que ele não queria a minha companhia.

A culpa por ter exagerado com meus amigos pesou como se um grande rochedo estivesse sobre minhas costas, sequencialmente me lembrando que desrespeitar as regras do Sr. Styles não havia sido uma boa ideia.

Ao final da tarde desci para contemplar o pôr do sol, aproveitando o silêncio para fechar os olhos e manter meus pensamentos distantes de todo o drama que rondava aquela casa.

Cada dia parecia mais difícil que o outro, cada situação, cada obstáculo, cada regra idiota, tudo acarretava para o caos.

Abriu os olhos rapidamente quando ouvi barulhos de passos atrás de mim, girei o corpo da janela e encarei os olhos verdes.

Silêncio.

Silêncio.

Silêncio.

— Você está bem? — Murmurei, aproximando-me do sofá.

Harry manteve o foco no chão, provavelmente discutindo internamente consigo próprio, em uma luta acirrada para decidir se estava ou não.

— Claro. — Alegou, levando os dedos para brincar com o piercing na sobrancelha. — Estou acostumado com as explosões do meu pai.

— Ele não deveria tratá-lo dessa maneira.

— É a única forma que ele sabe tratar todo mundo. — Riu sem humor, sentando no sofá.

— Mas é errado, ele é abusivo, controlador...

— Não é muito diferente do seu pai. — Harry cortou-me de repente.

— Certo, você está certo... — Concordei, sentando ao seu lado. — Mas meu pai começou a agir desta maneira quando começou a trabalhar com o seu pai. Antes ele era um homem incrível, sempre fez tudo por mim, e de fato ainda faz.

Harry olhou-me com surpresa.

— Ele era bastante presente em minha vida, trabalhava para mantermos um vida confortável. — Prossegui, encarando os olhos verdes com firmeza. — Desde que nos mudamos para o Canadá, os interesses dele mudaram, ele se tornou competitivo, ganancioso, começou a trabalhar para comprar coisas que nem mesmo precisa.

— Não quero que se chateie com o que venho a dizer... mas você vem herdando muito da ganância do seu pai. — Harry falou em baixo tom, jogando os olhos para chão. — Ou pelo menos achei que estava.

O encarei boquiaberto, atordoado por saber que aquelas eram as considerações dele sobre mim.

 O que quer dizer com isso? — Sussurrei, sentindo o lado esquerdo do peito apertar.

— Antes do casamento, sempre nos encontrávamos pelos corredores da escola ou nos eventos organizados pela empresa do meu pai. — Harry parou por alguns segundos, ainda evitando o contato visual. — Sempre ouvia você se gabando para seus amigos quando ganhava algum relógio estúpido que custava mais de trinta mil dólares, ou zombando de alunos menos afortunados.

Permaneci em silêncio, como se tivesse sido pego no flagra.

— Achei que você fosse esnobe e mesquinho até mesmo longe dos amigos, mas com a repentina convivência com você, percebi que toda aquela presunção era uma farsa. — Harry prosseguiu, finalmente erguendo o olhar. — Você tem o coração bom, Zayn, mas sente uma necessidade absurda de se provar, de ser incluso, de querer ser igual aos outros.

Não consegui dizer uma única palavra, ainda tentando absorver o que havia escutado.

— Não seja igual ao seu pai, porque em pouco tempo ele será como o meu, e então você será tudo o que tanto repudia agora. — Ele mordeu os lábios, enquanto soltava ar pelo nariz. — Não há nada mais lindo que ser diferente... só quero que se lembre disso.

Silêncio.

Silêncio.

Silêncio.

Eu estava envergonhado, completamente desalinhado com meus próprios pensamentos, repudiando severamente todas as minhas atitudes e ações passadas.

Como não havia percebido aquilo antes?

Eu estava, aos poucos, me tornando meu próprio pai, o que era a mesma coisa de dizer que eu era uma mini-versão de Greco Styles, o terrível homem que eu tanto temia e desprezava.

— Você está chateado comigo? — Harry perguntou, receoso.

— De maneira alguma, você apenas me deixou... pensativo. — Garanti, olhando-o com tranquilidade. — Não estava ciente dos meus atos, não percebi o que eu estava fazendo.

— Normalmente não percebemos até que alguém jogue as cartas na mesa. — Ele sorriu de lado. — Falando sobre cartas, você quer jogar baralho?

— Ore, quer me ver perdendo outra vez? — Cruzei os braços, incrédulo.

— Quem sabe a sorte está ao seu favor hoje? — Ele ergueu a sobrancelha furada, com um sorriso genuíno nos lábios.

— Disso eu tenho dúvida, mas vamos ver.

Escorreguei para o tapete no mesmo momento que Harry levantou para pegar o baralho na gaveta do armário, voltando segundos depois.

Ele sentou de frente para mim e cruzou as pernas em borboleta, tirando todas as cartas da caixa, espalhando-as por todo o centro.

— Vamos jogar burro outra vez? — Ele perguntou, embaralhando o monte.

— Não quero ser o burro de novo. — Choraminguei, dramatizando a derrota de ontem.

— Qual tal jogarmos baralho normal? — Ele sugeriu.

— Gosto da ideia. — Estalei a língua no céu da boca. — Assim tenho chances reais de ganhar.

— Não colocaria tanta fé nisso se fosse você. — Provocou, distribuindo nove cartas para cada um.

Antes de iniciarmos, Harry levantou e buscou por uma barra de chocolate na geladeira, comentando que o estoque de doces estava chegando ao fim.

Iniciamos a primeira rodada em seguida, completamente centrados no jogo, o silêncio do ambiente favorecendo a disputa.

Vibrei quando venci, vitória que se repetiu por três vezes, Harry sempre grunhindo quando eu alegava ter feito os três trios necessários.

— Hoje é o meu dia de sorte. — Me gabei, jogando as nove cartas no centro, mostrando meu jogo.

Havia vencido outra vez.

— Este jogo é entediante. — Ele revirou os olhos, embaralhando as cartas outra vez.

— Diz isso porque está perdendo. — Debochei, cantando vitória.

— Engraçadinho. — Resmungou, distribuindo as cartas.

A quarta rodada foi tomada por tensão, a clara competitividade no rosto de Harry exibindo que ele não aceitaria outra derrota, porém, para seu enfurecimento, ganhei outra vez.

No meio da oitava vitória seguida, aceitei que aquele era o meu dia de sorte, assim como ontem havia sido o dia de Harry, eu estava confiante, certo que não havia chances de reviravoltas.

— Por que não tornamos o jogo mais interessante? — Propus, balançando os lábios de um lado para o outro.

— O que você tem em mente? — Ele lançou as cartas no vidro, irritado.

— Podemos apostar.

Harry me encarou pensativo, analisando meticuloso a sugestão.

— Jogos e apostas não é uma combinação muito afável, alguém sempre leva para o lado pessoal ou não aceita a derrota. — Ele comentou, incerto.

— Pelo que estou vendo, você é o alguém que leva para o lado pessoal. — Provoquei, rolando os olhos para o chão. — Mas tudo bem, se não consegue aceitar a derrota...

— Vamos apostar! — Ele enunciou, com firmeza.

— Tem certeza, maridinho? — Ergui as sobrancelhas, encarando-o.

Harry deixou os olhos em linha reta e passou a língua algumas vezes pelos lábios, provavelmente se segurando para não retrucar.

— O que vamos apostar? — Perguntou, embaralhando as cartas.

— Estive pensando em coisas que possam nos deixar desconfortáveis, ao invés de apostarmos itens ou dinheiro. — Expliquei, esticando a coluna por breves instantes. — Algo como uma prenda, ou uma consequência.

— Gosto de consequência. — Ele sorriu malvado. — O que você tem em mente para mim?

— Se eu ganhar... — Olhei para cima, pensando em alguma coisa. — Você terá que passar um mês sem comer doce.

Os lábios de Harry se entreabriram, incapazes de aceitarem o que o dono dos olhos verdes havia acabado de escutar.

— Você está falando sério? — Indagou, frustrado.

— É uma consequência válida. — Dei de ombros, ignorando os olhares raivosos em minha direção. — Non essere un codardo.

— O que falamos sobre insultos em outra língua? — Harry bufou.

— Chamei você de covarde.

— Eu não sou covarde! — Ele chacoalhou a cabeça, irritado.

— Então pense em algo válido para mim.

— Vou pensar, pode ter certeza que vou pensar. — Ele murmurou, ameaçador.

Relaxei os ombros, cético que não importasse o que Harry decidisse, ele não possuía nenhuma chance de virar o jogo.

— Se eu ganhar... quero furar um piercing em você. — Abriu um sorriso de meia boca.

— O que? Um piercing? — Franzi o cenho, olhando alarmado para Harry.

— É uma consequência válida, maridinho. — Ironizou, cruzando os braços.

— Oh, então vai ser assim? — Ergui as sobrancelhas. — Tudo bem, apostado.

— Encerraremos com quantas partidas? — Ele perguntou, aproximando-se mais do centro.

— Eu já ganhei oito partidas, podemos encerrar com vinte e uma.

— Certo.

Harry sorriu e separou as cartas, erguendo o próprio jogo na altura dos olhos, impetuosamente concentrado nas cartas, piscando pouquíssimas vezes até puxar a primeira carta.

Minutos depois minha nona vitória foi declarada, os olhos amedrontados de Harry esbugalhando-se em indignação, a realidade apontando que faltava pouco para que ele passasse o próximo mês sem tocar em nenhum doce.

Ele suspirou e fechou os olhos antes de iniciarmos a décima rodada, ainda mais concentrado que nas partidas anteriores.

Gostaria de provocá-lo e dizer que a concentração não valia de nada no jogo, e que tudo aquilo se tratava de pura sorte, simplesmente sorte.

Estava pronto para expor meus pensamentos quando um sorriso gigantesco surgiu nos lábios de Harry, ele jogou as cartas no centro e mostrou o três trios formados.

— Você conseguiu ganhar uma vez, finalmente. — Caçoei, juntando as cartas para embaralha-las. — Agora só faltam onze vitórias para que você ganhe.

— Não cante vitória antes da hora, Malik. — Harry semicerrou os olhos, mordendo o piercing dos lábios.

Mantive o sorriso convencido nos lábios, sorriso que foi se desestabilizando à medida que Harry ganhava partida atrás de partida.

Uma carranca tripla tomou minha testa quando as vitórias de Harry contabilizaram sete seguidas, quase empatando comigo.

— Onde está o seu sorriso agora, hum? — Ele caçoou, embaralhando as cartas.

O bolor em minha garganta afrouxou quando finalmente venci a décima quinta partida, dando conta que só faltava mais um ponto para que eu declarasse a vitória.

Porém, para minha preocupação, Harry ganhou as duas partidas seguintes, empatando comigo.

Nossos olhos se encontraram no mesmo segundo.

— Quem ganhar agora é o vencedor. — Ele murmurou, afobado.

Assenti lentamente, compreendendo no que havia me metido. Até o momento não havia percebido o tamanho da consequência daquela perda, sequer almejava a derrota.

Harry embaralhou as cartas e as distribuiu.

Era aquilo, não tinha volta.

Ergui meu jogo e suspirei quando encontrei cartas de naipes completamente diferentes, uma bagunça total.

Iniciamos a partida com o primeiro descarte de Harry, puxei o oito descartado tendo em mente construir uma sequência, conseguindo idealizar o primeiro jogo em minha mão.

Eu podia sentir meu estômago roncar, consequência por não pararmos para jantar, e aquilo, de alguma forma, me desordenou por alguns segundos, porque, em vez de me concentrar nas cartas, foquei no barulho contínuo em minha barriga.

Dez minutos se passaram, havíamos usado metade do monte, eu tinha conseguido fazer dois jogos, faltava apenas uma carta para que eu ganhasse.

Meu coração parou no instante em que Harry largou as cartas no centro, com uma sequência de três noves, três setes, e três dois.

Ele havia ganhado.

O momento que Harry levantou para comemorar passou em câmera lenta por meus olhos, soltando aclamações de alivio por não ter que se desfazer dos doces na dispensa.

Engoli em seco quando o desespero me tomou, eu havia apostado, apostado e perdido, e agora precisava cumprir com o prometido.

— Harry, esta é uma boa hora para eu voltar atrás no que disse, vamos esquecer esta aposta estúpida...

— Nem comece! Se você tivesse ganhado, com certeza não permitiria que eu desistisse do combinado. — Ele colocou as mãos na cintura. — Você perdeu, prepare-se para sua consequência.

Levantei do chão em agonia, observando Harry correr até as escadas, gritando para que eu o esperasse na sala.

Sentei vacilante no sofá, sentindo o nervosismo me tomar aos poucos, certo que, com mais um pouco de tensão, eu desmaiaria ali mesmo.

Girei ao olhos para o lado quando vi Harry descer as escadas, segurando uma pequena maleta vermelha na mão, em seus lábios um sorriso animado.

— Você já sabe o local que quer furar? — Ele perguntou, ajoelhando-se no tapete para abrir a maleta no chão.

— Precisamos fazer isso hoje? — Choraminguei, jogando a cabeça no encosto do sofá.

— Precisamos.

— Não acredito que eu perdi.

— Não acredito que eu ganhei. — Ele vibrou, enfiando uma das mãos dentro de uma luva cirúrgica.

— De onde você tirou isso? — Franzi a testa, ao ver um cateter na mão de Harry.

— Comprei alguns desses quando furei minha sobrancelha. — Ele revelou, esterilizando a agulha com álcool.

— Você furou sua própria sobrancelha? — Ergui as sobrancelhas, assombrado.

— O único piercing que furei em um profissional foi o do nariz, os furos do septo e da sobrancelha fiz em casa. — Alegou, dando de ombros.

— Harry, por favor, vamos esquecer essa ideia estúpida...

— Onde você quer furar? — Ele perguntou, em voz firme.

Examinei o rosto de Harry por alguns segundos, encarando os piercings espalhados, acreditando que todos ornamentavam satisfatoriamente um com o outro.

— Na sobrancelha. — Escolhi, mordendo os lábios com força.

— Jura? — Ele lançou um olhar surpreso. — Achei que escolheria na orelha.

— Eu não sabia que podia escolher a orelha! — Esbravejei, levantando do sofá.

— Agora já era, você já escolheu. — Ele sorriu impiedoso.

Meu corpo foi empurrado outra vez para o estofado do sofá, com Harry sentando-se ao meu lado, inclinando o próprio corpo em minha direção.

Ele passou um algodão encharcado com álcool por minha sobrancelha, alegando que precisava limpar o lugar antes de furar, depois marcou o lugar com um hidrocor preto.

— Harry, por favor...

— Fique quietinho, codardo. — Ele zombou, aproximando-se com o cateter.

Agarrei a lateral do sofá com força, sentindo Harry se curvar contra mim, deixando seu rosto próximo do meu, delicadamente apoiando as mãos na minha bochecha.

— Relaxe o rosto. — Ele sussurrou, concentrando-se nas marcações.

Deixei um suspiro de dor escapar por meus lábios quando senti a agulha atravessar minha pele, Harry foi rápido em puxar o cateter para encaixar a argola na perfuração, agilmente rosqueando a tarraxa.

Suspirei firme quando vi sangue espalhado pelas luvas, provavelmente a cena sendo responsável por baixar minha pressão.

— Prontinho, só falta limpar. — Ele fixou a atenção nos meus olhos. — Está tudo bem? Você me parece meio pálido.

— Estou... apenas limpe, por favor.

Harry sorriu de lado e se livrou das luvas, procurando pelo celular jogado no centro, rapidamente apontando a câmera em minha direção.

— Olhe como ficou. — Ele posicionou o aparelho em meu campo de visão. — Você ficou sexy.

Encarei a tela com curiosidade, observando o novo adorno em minha sobrancelha esquerda, percebendo que a argola estava parcialmente suja de sangue, mas se sobressaia em meio aos pelos.

— Agora deixe-me limpar.

Fui tomado por aflição quando Harry se aproximou com um cotonete, passando a parte do algodão pelo furo, limpando delicadamente o sangue.

Prendi o fôlego e olhei para cima, notando a proximidade de nossos rostos, olhando a forma que Harry mordia levemente os lábios, respirando suavemente pelo nariz.

Suas mãos amenas deslizavam por minha bochecha, sempre tomando cuidado para não pressionar os recentes furos por acaso.

De repente, percebi que havia perdido todo o fôlego guardado no peito enquanto olhava para Harry, gravando as finas linhas de expressão que marcavam sua boca, e também a maneira que seus olhos curiosos rolavam de um lado para o outro.

Quando ele terminou, apenas abriu um gigantesco sorriso e continuou a me olhar, certamente contemplando o bom trabalho.

Devagar, desci o olhar para os lábios de Harry, automaticamente sentindo meu estômago apertar, uma sensação estranha tomando-me o peito.

O sorriso nos lábios rosados desmanchou-se assim que ele notou para onde eu olhava, e, antes que ele pudesse se afastar, sustentei meu peso nos antebraços e o beijei.

Milésimos de segundos.

Esse foi o tempo que nossas bocas ficaram coladas, isso porque Harry se afastou imediatamente, levantando-se do sofá depressa.

Sentei rapidamente no sofá, procurando palavras que explicassem meu ato de loucura, porém ruídos e gaguejos incompreensíveis foram tudo que consegui pronunciar.

— Harry, eu...

— Nunca mais faça isso de novo.

Ele não me deu chances de responder, apenas agachou-se no chão e guardou todo o material na maleta, levantou e, de forma silenciosa, caminhou até as escadas, sem emitir nenhum ruído.

Permaneci petrificado no sofá, repetindo várias e várias vezes em minha cabeça o que havia acabado de acontecer, ainda sentindo a sensação dos nossos lábios encostados.

Precisando de poucos minutos para assimilar que tinha acabado de estragar tudo.

 

"Eu acredito em nada, nem no dia e nem na escuridão". — 100 Suns



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