História 12 Sóis - Bem vindo à noite

Capítulo 1 –Bem vindo à noite!

Ji Yeon tirou as madeixas negras de seu rosto, enquanto vislumbrava o prédio da gigantesca escola, na qual começaria estudar a partir daquele dia. Ji Yeon estava animada; não, mais que animada, ela estava praticamente vibrando de tanta excitação. Já fazia anos que ela não colocava os pés na Coréia e a sensação de voltar era tão boa que ela não podia conter seu riso bobo.

O pai de Ji Yeon era representante de uma famosa empresa coreana de produtos eletrônicos e isso fez com que a família tivesse que mudar de endereço a cada dois anos, por causa dos compromissos de seu pai. A família já tinha morado em quase toda Europa – pelo menos na parte interessante dela, pensou Ji Yeon – nos Estados Unidos e um tempo na China. Mas dessa vez o pai de Ji Yeon prometeu que ficariam de vez na Coréia, para que ela pudesse terminar o colegial e ir pra alguma faculdade coreana que ela escolhesse. Finalmente, Ji Yeon poderia fincar as raízes em algum lugar e ficar.

Não que ela não gostasse de viajar pelo mundo; muito pelo contrário, era isso que ela queria pra vida dela no futuro. mas ela achava que como adolescente, ela deveria fazer coisas normais que adolescentes fazem, como ter um grupo de amigos e um namorado. Especialmente um namorado.

Talvez fosse esse o motivo de tamanha animação da parte de Ji Yeon. Odiava as escolas estrangeiras; principalmente as americanas. Os meninos de lá não eram nada românticos e só pensavam “naquilo”. Ji Yeon queria romance, mas um digno de história de doramas. Não ia se contentar com um qualquer, estava guardando seu coração pra um verdadeiro amor.

***

- Oppa – Min Seo disse, entregando a bandeja de marmita para o irmão, que divagava em silêncio – não esqueça que temos reunião na sede hoje depois da escola, está bem?

Luhan acordou de seu devaneio, ajeitando o cabelo loiro enquanto pegava a bandeja e colocava em sua maleta. “Logo hoje que tenho um monte de coisa pra fazer...” ele pensou. Não era fácil ser presidente do conselho estudantil, representante de classe e aluno-chefe do jornal da escola, sem contar com suas responsabilidades na sede.

- Por que justo hoje Chanyeol resolve fazer isso? -  Ele resmungou, pensando que teria que adiar o futebol por causa disso – Tantos dias e ele escolhe logo o mesmo que eu tenho que recepcionar a aluna nova.

- Isso tudo é por causa do futebol, não é? – Ela perguntou, dando a última olhada no espelho para conferir se estava bem – Também tinha outras coisas pra fazer, mas deve ser muito importante... Chanyeol não costuma marcar as coisas sem antecedência.

Luhan olhou a irmã, que se arrumava distraidamente no espelho. Sabia exatamente o que Chanyeol queria e era por isso que não queria ir. Mesmo sabendo que não podia evitar o inevitável, ele tinha esperança de que aquela reunião nunca acontecesse, pelo menos não tão cedo.

Ele tocou o cordão em seu pescoço, enroscando o medalhão em seus dedos, como se aquilo fosse lhe trazer alguma resposta. As pontas dos dedos percorriam o desenho do medalhão, reconhecendo a figura de uma coruja encravado nele. Sim, Luhan era um dos campeões do clã Yang -  A coruja. E sua irmã também fazia parte, sendo ela o cervo.

Luhan estremeceu. Se Chanyeol tinha marcado essa reunião tão rapidamente era porque ele tinha se encontrado com os anciões. E isso só podia significar uma coisa; a guerra estava próxima.

- Luhan – Min Seo disse, cortando os pensamentos dele – Infelizmente terei que ir na frente. Tenho um monte de coisas pra resolver na escola e essa reunião também vai me atrapalhar bastante.

Min Seo guardou o seu medalhão por debaixo da camisa da escola. Ela não queria pensar muito na reunião, sabia que algo estava acontecendo, mas preferiu ignorar.

- Queria eu ter esse seu desprendimento com as coisas que estão pra acontecer, Min Seo. -  Ele disse.

- Ora... É só não pensar muito nisso. Vá por mim – Ela calçou os sapatos rapidamente – É melhor desse jeito. Omma! Estou indo!

Um senhora apareceu na sala, com um sorriso pacífico no rosto. Ela deu um beijo na filha e disse.

- Tome cuidado no caminho Min Seo. Você anda fazendo muitas coisas ao mesmo tempo e isso não pode ser bom pra sua saúde.

Min Seo simplesmente beijou a mãe de volta e saiu de casa, sorrindo.

- Luhan -  A mãe disse, enquanto olhava Min Seo saindo pelo o portão da casa – Por favor, cuide da sua irmã. Fiquei sabendo que Chanyeol convocou uma reunião... E você sabe o que isso significa...

- Omma. Eu farei tudo o que é possível.

Luhan olhou o semblante triste da mãe, adivinhando os pensamentos dela. Min Seo certamente era a mais prejudicada nessa história toda e os dois temiam pela segurança da garota.

Mas o que Luhan poderia fazer? Era o que estava escrito na história da família, na história de seu clã. Ele sentiu seu coração pesar, mas dispersou aquele pensamento logo. “Não vou resolver nada se ficar aqui parado” ele pensou. Antes de tudo tinha que cumprir as tarefas da escola. Leu o papel que continha o nome da aluna nova – Park Ji Yeon – e deu um suspiro. Era a última coisa que queria fazer, mas infelizmente era sua obrigação.

- Espero que ela seja simpática pelo menos – Ele pensou por fim.

- Park Ji Yeon? – Alguém perguntou, fazendo com que ela se levantasse da cadeira onde estava.

Ji Yeon olhou para a senhora da recepção com um pouco de tédio. Estava sentada ali por algum tempo e a pessoa que devia mostrar o colégio pra ela estava atrasada. “Péssima maneira de se começar” ela pensou, penteando sua franja rebelde pela milésima vez.

- O presidente do conselho estudantil acabou de chegar – A senhora disse, sem tirar os olhos dos papéis que lia – O nome dele é Kim Lu Han, e ele vai lhe mostrar o local. Por favor, ele é um menino muito ocupado e tem muito compromissos. Não sei o que lhe ensinaram lá no exterior, mas aqui na Coréia nós respeitamos os nossos superiores.

- Eu sinto muito Ajuhmma – Ela disse, se curvando rapidamente – É que eu estou muito ansiosa pra começar e conhecer os alunos daqui. Me perdoe se por acaso fui rude.

- Não tente ser educada agora – Ela disse por fim – Luhan, essa aqui é a aluna nova. Por favor, mostre os arredores... E não ligue se por acaso ela começar a ser um pouco espalhafatosa, pelo visto é como as pessoas no exterior se comportam.

Ji Yeon fez uma careta, “Ora, a culpa não é minha se esse tal de Luhan se atrasa... Tenho culpa de estar ansiosa? Eu só queria que tudo começasse...” Seus pensamentos foram cortados quando ela colocou os olhos no menino que se curvava, pedindo desculpas.

- Eu sinto muito pelo meu atraso, Ji Yeon – Ele disse – Espero não ter te atrapalhado.

- Não... – Ela gaguejou, sentindo as bochechas corarem um pouco – Eu não...

Ji Yeon não acreditava no que seus olhos a mostravam; talvez ela tivesse na verdade morrido e um anjo estava a recepcionando na porta do céu. Luhan era simplesmente....  Perfeito. Tudo nele parecia se harmonizar perfeitamente e ela teve quase certeza de que ouviu uma música angelical tocar ao fundo quando ela olhou nos olhos daquele garoto. O cabelo loiro escuro adornava o rosto fino e a boca se projetava num sorriso amigável, que a fez suspirar por um momento.

- Ji Yeon – Luhan falou, reparando que a garota tinha se desligado por um momento – Está pronta para conhecer a escola?

- Ah! Sim! Sinto muito! – Ji Yeon se sentia envergonhada. Já estava sendo estranha com a primeira pessoa que conhecera – Muito prazer Luhan.

Luhan olhou a garota. Era bonita, mas não apresentava nada que chamasse sua atenção. Na realidade, tinha a achado um pouco esquisita e afobada. Ele lembrou que leu na ficha de Ji Yeon que ela morou muitos anos no exterior, devia ser por isso que ela parecia tão incomum para seus costumes.

A senhora da secretaria riu a ver a cena. Não era a primeira vez que alguma garota se derretia pelo aluno Luhan. Não era pra menos; ela mesmo se fosse alguns anos mais jovem – alguns muitos anos mais jovem –teria uma queda pelo aluno com cara de anjo. Ele era tão bonito, responsável e mais gentil do que muitas pessoas que ela conhecia.

Talvez ela tivesse uma queda por ele mesmo sendo uma Ajuhmma. Mas não ligava pra isso; todos naquela escola tinham o mesmo sentimento.

- Park Ji Yeon – Ela disse, enquanto os alunos saiam da recepção, com os olhos afiados como de uma raposa – Espero que goste daqui.

- Então você já conheceu a realeza do colégio – uma menina companheira da sala de Ji Yeon falou – O Luhan é tudo de bom não é mesmo?

- Realeza? – JI Yeon perguntou curiosa.

Depois do tour com Luhan pela a escola, ele a apresentou a classe dela, que por acaso era a mesma que a dele -  Ji Yeon chamaria esse acaso de destino mais tarde. Depois de algumas aulas ela já estava enturmada com boa parte da turma e as meninas contavam os detalhes da escola que Luhan obviamente não tinha citado.

- É, realeza. – A menina repetiu, rindo – Ou você não acha que ele é um príncipe? E isso porque você não viu o resto da família dele por aqui. Dignos de sangue azul.  A irmã dele é a menina mais bonita da escola, tanto que todos a chamam de Princesa Min Seo.  Até os primos deles são lindos... Uma família abençoada, com certeza.

Ji Yeon olhou a nova amiga, não acreditando nas coisas que ela dizia. Tudo bem que a beleza de Luhan era fenomenal, mas todo esse rebuliço só por causa de pessoas com boa aparência era um pouco ridículo de se ouvir.

Por mais que ela também estivesse extremamente encantada com Luhan. Mas aquilo iria passar.

- Você não acha que está sendo um pouco exagerada? – Ji Yeon riu -  Eles até podem ser lindos, mas chamá-los de realeza estudantil já é demais...

- Ah, você acha isso? – A menina puxou Ji Yeon pelo braço, levando-a para fora da sala – Deixa eu te mostrar então.

Ela e a menina foram até a sala do segundo ano e olharam a turma pela porta aberta. Ji Yeon nem precisou ser avisada de quem era a tal Princesa Min Seo, pois ela se destacava magicamente na turma inteira. Era um pouco alta, com o corpo esguio e gracioso. Tinha os cabelos muito longos da mesma cor dos de Luhan e os mesmos olhos penetrantes e misteriosos.

Realmente, até Ji Yeon que não gostava de admitir a beleza feminina de outras garotas tinha que dar o braço a torcer. Min Seo parecia mesmo uma princesa.

- Min Seo – A menina em seu lado a chamou e a garota prontamente veio – Essa aqui é Park Ji Yeon, a aluna nova do terceiro ano.

- Ah – Min Seo disse, apresentando um sorriso tão gracioso quanto o de Luhan – Muito prazer, Unnie. Você já deve ter conhecido o meu irmão Luhan. Espero que ele tenha te tratado bem.

- Claro que tratou! – A menina disse, não deixando Ji Yeon responder – Luhan é exemplo de boas maneiras! Comportamento digno de um príncipe!

Min Seo se limitou a sorrir gentilmente com a resposta da garota e Ji Yeon conseguiu perceber uma pequena ponta de irritação em seus olhos. Ji Yeon gostava de seu dom de perceber o que quase ninguém percebia – Ela se auto intitulava  a versão feminina de Sherlock Holmes -  e por um momento achou que Min Seo não gostava muito da fama que ela e seu irmão tinham na escola. Mas achou que isso era bobeira sua, já que Min Seo rapidamente mostrava seu olhar afetuoso para as duas amigas.

- Espero que você goste daqui Unnie – Min Seo disse, se curvando rapidamente – Qualquer coisa, por favor, não hesite em me procurar.

- Eu não disse? -  A menina sussurrou enquanto Min Seo se distanciava – Realeza.

- Realmente. Os dois parecem personagens de dorama – Ji Yeon concluiu.

- Aquele ali falando com ela é um dos primos – Ela apontou pra um menino baixo e galante, com os cabelos um pouco avermelhados e bochechas rechonchudas, dando-lhe uma aparência infantil – Xiumin. Não é tão bonito quanto os dois, mas tem seus encantos. Ah, e aquele ali – Ela apontou para um garoto muito alto, que sentava em silêncio no fundo da sala. Tinha uma aparência amedrontadora e não parecia ser muito popular – É o Kris. Não, ele não tem nada em relação com Luhan e Min Seo. Só quero te avisar que ele é problema, por isso evite chegar muito perto dele.

- Nossa – Ji Yeon resmungou, voltando pra sua sala – vocês realmente categorizam as pessoas daqui pela aparência.

- Ah, por favor, não se faça de santa. Todo mundo faz isso. Aquela ali é a Bo – Ela apontou para uma menina magra e esguia, de cabelos muito negros. – Apesar de ser prima do Luhan, ela é meio insuportável e assustadora. Mas não deixa de ser muito bonita. Mas cuidado, ela é faixa preta em alguma arte marcial por aí e se você olhar torto pra ela, BAM, ela vai te colocar em pedacinhos!

- Eu duvido muito que ela tenha feito alguma coisa do tipo. Senão ela já teria sido expulsa.

- Bem, é o que o povo gosta de pensar. Por último, aqueles ali são o Kai e o Kyungsoo – Ela apontou para dois meninos no fundo da sala que conversavam pacificamente.

- São primos do Luhan também?

- Não. Mas são lindos não são? Kai tem uma certa rivalidade com o Luhan, mas apesar de achar os dois lindos, acho que o Luhan ganha na simpatia. Enfim... Eu sei que o Luhan te mostrou o colégio todo e o que se passa por aqui, mas eu tinha que te inteirar no que realmente interessa.

- Fico agradecida! – Ji Yeon riu com o jeito estranho da nova amiga, mas no fundo tinha adorado conhecer todas aquelas pessoas. De certo modo todos eles exalavam algo muito diferente que Ji Yeon não conseguia identificar o que era e isso os fazia ainda mais interessantes. “Um ótimo material pra algum dorama...” Ela pensou, divagando em seus pensamentos.

- Por favor – Ji Yeon ouviu a voz de Luhan e rapidamente se virou para ele, que estava em pé perto do professor, discursando algo. Luhan realmente tinha muitas responsabilidades e isso o deixava com mais aspecto de príncipe ainda – Antes de irem embora eu gostaria de avisar que a escola continua sendo invadida por alguém a noite. Se alguém tiver alguma informação da identidade dessa pessoa, por favor, entre em contato com o conselho estudantil.

- Ei, psiu – a amiga de Ji Yeon sussurrou, chamando a atenção dela – Outra coisa que eu não te contei. Faz uns dois ou três meses que essa escola é invadida por uma pessoa misteriosa, quase todas as noites. Alguns disseram que ele tem incríveis habilidades de salto e é muito ágil. As pessoas o chamam de Le Parkour Ninja.

- Que nome terrível – Ji Yeon espremeu os olhos, descontente. Aquele nome era terrível pra um personagem tão misterioso – Mas ninguém tem nem ideia de quem seja esse cara?

- Pelo visto não. Ele está sempre encapuzado e usa uma máscara tapando parte do rosto. E ele sempre escapa quando tentam pegá-lo. Digno de filmes de ação.

Luhan sentou-se no chão da varanda da sede do clã Yang, cansado e com fome. “Ninguém merece isso” ele pensou, suspirando. Um vento de inicio de primavera roçou em seu rosto e ele se sentiu um pouco mais animado. As férias estavam pra chegar e isso trazia uma felicidade borbulhante ao garoto. Finalmente ele teria tempo pra fazer as coisas que realmente gostava sem precisar cronometrar seu tempo. A escola lhe tomava quase todo seu tempo livre e ele as vezes se sentia sufocado com tanta coisa. Isso sem contar com todas as tarefas que Chanyeol lhe mandava fazer, já que o próprio era incapacitado para certas coisas. Em pouco tempo Luhan poderia respirar um pouco.

Isso se a Guerra não estivesse tão próxima quanto ele achava que estivesse.

- Luhan, você conseguiu chegar cedo – Disse uma voz masculina, se aproximando – Chanyeol ainda não está pronto e os outros ainda não chegaram, então acho que você terá que esperar mais um pouco.

- Eu estava imaginando isso – Disse ele, olhando para o amigo, Baekhyun. – Mesmo com um bando de coisas pra fazer eu consegui chegar mais cedo do que deveria.

- A escola está tirando o seu coro, não é mesmo? – Baekhyun riu. Era da mesma sala que Luhan e via quanto o amigo se esforçava.

- Sim, principalmente por causa dessa história de Le Parkour Ninja – Luhan riu quando falou o nome do infeliz que atormentava o seu sossego já fazia três meses. Realmente, era ridículo o título que deram ao invasor da escola – Eu juro que quando descobrir quem é.... Essa pessoa vai sofrer muito.

- Você acha que pode ser alguém do outro lado? – Baek perguntou com preocupação.

- Não sei. Chanyeol acha que sim, pois ele é um tanto ágil. Mas não sei ao certo. Pode ser só um aluno sem muita coisa pra fazer.

- Nos tempos que estamos, qualquer coisa é um sinal de alerta.

Luhan olhou o amigo e agradeceu mentalmente pela preocupação de Baekhyun. Mesmo ele não sendo um dos campeões do clã, ele era o braço direito de Chanyeol e estava sempre a par dos acontecimentos. Luhan às vezes até achava que Baekhyun sabia mais das coisas do que ele próprio. Luhan era grato pela presença de Baekhyun, principalmente nos dias que Chanyeol destilava seu veneno e sua ira em todos.

Chanyeol certamente não era uma pessoa muito fácil de se lidar.

- Você sabe do que se trata essa reunião, Baek? – Luhan enfim perguntou.

- Claro que sei. Mas não cabe a mim te dizer. Acho que Chanyeol me mataria se eu começasse a fofocar sobre as coisas dele.

- Acho que ele mataria a todos nós. – Luhan e Baekhyun riram juntos.

- Ótimo saber o que os dois pensam de mim – Chanyeol disse com sua voz grave e séria, empurrando sua cadeira de rodas pela varanda – Tira das minhas costas a premissa de parecer simpático.

Luhan se levantou rapidamente, curvando-se em respeito ao líder do clã. Chanyeol era o mais velho do grupo de campeões e representava a fênix, com o poder do fogo. Apesar da aparência nada intimidadora por causa da cadeira de rodas e do rosto juvenil de Chanyeol, todos ali sabiam que ele era uma pessoa a se temer. Uma pessoa com sede de vingança e sangue. Luhan agradecia também pelo fato de estar do mesmo lado de Chanyeol nessa guerra, porque se estivesse do outro lado... Ele teria medo, muito medo mesmo.

- Sua irmã já chegou? – Chanyeol disse, suspirando um pouco com o tédio que os dois jovens lhe causavam. Min Seo ultimamente era a única pessoa que podia arrancar um sorriso de Chanyeol e, mesmo assim, com muita dificuldade.

- Acredito que ela esteja a caminho. Bo e Xiumin também já devem estar chegando...

- Ótimo -  Chanyeol começou a empurrar sua cadeira de rodas para dentro do salão principal, ignorando que Luhan tinha citado o nome de Bo e Xiumin – Min Seo anda fazendo muitas coisas ao mesmo tempo. Ando preocupado com ela.

- Sim, claro... – Luhan tentou disfarçar seu desinteresse por aquela conversa. Era mais que óbvio que Chanyeol nutria uma paixão por Min Seo e, se ele não fosse impossibilitado por causa das regras do clã, com certeza já teria firmado um compromisso com sua irmã.Luhan só não sabia se Min Seo aceitaria o convite.

Logo os outros chegaram. Min Seo vinha de braços dados com o primo Xiumin e Bo permanecia atrás dos dois, em silêncio. Luhan sorriu secretamente para irmã, enquanto esta cumprimentava todos os presentes, quase como dizendo “Hoje Chanyeol está de mau-humor, cuidado!” e Min Seo rapidamente entendeu, tentando ser o mais gentil e cordial o possível com o líder.

- Boa tarde, Oppa – Ela disse para Chanyeol, sorrindo – Espero não ter me atrasado.

- Você seria incapaz de tal feito, Min Seo – Chanyeol disse, esboçando um sorriso – Estou preocupado com você. Faz tempo que você não toca o Gayageum pra mim. Já estou com saudades da sua música.

Bo revirou os olhos. Não aguentava aquela ladainha de Min Seo e Chanyeol. Aliás, não suportava nada que envolvesse a princesinha do clã. Bo não entendia o que todos viam naquela insuportável; ela só enxergava a interesseira e vazia Min Seo, sempre querendo agradar a todos, fazendo com que todos a amassem. “Insuportável” Bo pensou, revirando os olhos mais uma vez e sendo percebida por Luhan, o que a fez corar um pouco.

- Acho que podemos começar – Chanyeol disse, quando todos estavam devidamente acomodados em seus lugares – Infelizmente Lay não chegará a tempo para essa reunião, mas é de extrema importância que eu fale com vocês.

Luhan deu um suspiro ao ouvir a notícia que Lay não estaria lá. Fazia alguns anos que ele não via o amigo, que estava estudando na China. Seria agradável ter a presença de Lay nos tempos difíceis que estavam por vir, mas Luhan sabia que logo ele estaria de volta para atormentá-lo com suas piadas e brincadeiras.

- Vocês já devem ter imaginado que eu me encontrei ontem com os anciões... E com Jun Ah. – Chanyeol continuou, captando cada reação que os campeões tinham ao ouvir o nome da odiada líder do Clã Yin.

- Então começou mesmo – Bo sussurrou, não escondendo o sorriso que brotava nos seus lábios.

Min Seo suspirou com tristeza. Sabia o que significava e por mais que quisesse evitar o assunto, não conseguia parar de pensar no que aquilo tudo representava pra ela. Sendo Min Seo a representante do Cervo, estava escrito na história de seu clã que ela teria que sacrificar sua vida.

Ela nunca entendeu direito o porquê de ter que se sacrificar, pois se achava em perfeitas condições de lutar tanto quanto os outros. Mas era a tradição. Desde as primeiras batalhas, o representante do cervo presenteava seu oponente com sua vida, como símbolo da busca pela paz. Porém, nos tempos que estavam o sacrifício de Min Seo era visto como vantagem para a fênix na batalha final.

O clã Yang era tido como pacífico, sábio e heroico, sempre em busca do equilíbrio e -  por mais que tivessem falhado nesse quesito todas as vezes – da paz. Isso podia ser visto nas características dos animais que representavam; O fogo da justiça da fênix, a sabedoria da coruja, a frágil renúncia do cervo, a solidez do salmão, a astúcia da raposa e a ambição do escorpião.

E essa atitude pacífica, sábia e heroica era a esperada de Min Seo.

- Está mais próximo do que vocês imaginam – Chanyeol disse, cortando os pensamentos de Min Seo – E, se tudo correr bem, essa será a última batalha que nosso clã enfrentará. A árvore da vida será inteiramente nossa.

Luhan engoliu em seco, um pouco preocupado. Por mais que quisesse honrar as tradições, ele tremia ao pensar no que teria que fazer para completar sua missão.

- Oh, Min Seo! Faz tempo que não ouço você tocar o Gayageum pra mim! – Luhan zombou da frase dita anteriormente pelo líder. – Por que você não está dando mais atenção a mim, Min Seo? Por que?

- Isso que você está fazendo é muito rude, Luhan – Min Seo disse, tentando parecer ofendida, sem sucesso. – Chanyeol só gosta da minha companhia, nada mais.

Ela e Luhan voltavam juntos pra casa, com a noite já em evidência no céu. A reunião tinha demorado mais do que o esperado; Chanyeol resolveu revisar todas as estratégias de combate que tinha em mente com o grupo, mesmo sem a Guerra estar oficialmente anunciada. Isso fez com que os dois estivessem muito cansados e sedentos pelo colo e abrigo da mãe, que provavelmente os esperava com um jantar quente e gostoso.

- Já estou cansada antes mesmo de tudo começar – Ela disse, agarrando o braço do irmão, fazendo um muxoxo – Oppa, por favor, me leve nas suas costas. O dia foi muito difícil pra mim.

Luhan riu do comportamento infantil de sua irmã, mas não quis recusar o pedido.

- Você está bem, Min Seo? – Ele murmurou, enquanto levava a irmã nas costas, como eles sempre faziam desde pequenos – Está chateada?

- Um pouco – Ela disse, agarrando o pescoço do irmão e se apoiando em suas costas, afim de balancear seu peso – Mas logo passa. Já conversamos sobre isso... É o meu dever, estou conformada.

Mas Luhan não estava. Acima de tudo odiava o fato que em breve sua irmã não estaria mais ali, só por causa de estúpidas tradições de seu clã. Min Seo e a Omma eram as pessoas mais importantes na vida de Luhan e doía pensar que perderia uma delas. Desde a morte de seu pai, Luhan prometeu que protegeria a família a todo custo, mesmo que pra isso ele tivesse que ir contra as tradições.

Mesmo que pra isso ele tivesse que ir contra Chanyeol.

- Isso ainda não acabou – Ele disse, enquanto se aproximavam de sua casa – eu te prometo, Min Seo. Eu vou dar um jeito nisso tudo. Tem que ter um meio de te poupar...

- Eu confio em você, Oppa – Ela disse, sorrindo e dando um beijo na bochecha do irmão, em sinal de compaixão – Mas não se preocupe muito com isso. Tudo vai dar certo.

Luhan queria acreditar naquilo que a irmã dissera, mas sabia que nem mesmo Min Seo tinha fé naquelas palavras de apoio.

- Vamos tentar não preocupar a Omma, está bem? – Min Seo sussurrou, abrindo a porta de casa – Já basta tudo o que ela passa atualmente. Não quero que ela fique pior.

- Certo. – Luhan disse, por fim.

E entraram na casa. Luhan com um misto de tristeza, raiva e dúvida.

Mas ele iria conseguir. Tinha certeza disso.