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História 1860 - Capítulo 13 - Fúrias


Escrita por: Doidorotto

Notas do Autor


A Fic "1860" busca esclarecer pontos que ficaram obscuros durante o episódio especial de Halloween de 2011 do jogo Amor Doce. Por isso, os personagens do jogo terão nomes e papéis levemente alterados, para encaixar-se nesse novo contexto.

Neste especial, sua docete é enviada ao passado, no ano de 1860, e conhece um morcego falante chamado Noir. Ele fala sobre o lorde vampiro do castelo, Dimitry, e a história de Mary Magdaleine.

Dimitry e Noir apresentam fragmentos do que aconteceu naquele lugar. Mary, e todos da cidade, foram infectados por uma misteriosa doença e a única esperança de salvá-la era levar a moça para o castelo, o único lugar seguro e livre da doença.
Dimitry se transforma em um vampiro e deseja transformá-la, mas, por algum motivo, ele não chegou a tempo e a garota morreu.

Qual foi a origem da doença? Quem era o vampiro que transformou Dimitry? Por que ele não chegou a tempo? Por que o castelo era o único lugar seguro? Estas são algumas respostas que a fic "1860" busca esclarecer.

Espero que gostem.

Esta fic é um spin-off da Fic, "Você é Meu Amor Doce", mas funciona em um universo único e separado, não sendo necessário a leitura de uma para a compreensão da outra. Mas, eu recomendo você ler. É uma fic muito boa! ;)
http://www.amordoce.com/forum/t31179,1-gl-iris-voc%C3%AA-%C3%A9-meu-amor-doce-parte-2-por-realdoido.htm

Capítulo 13 - Capítulo 13 - Fúrias



Castelo do Conde de Faraize, 12 de Dezembro de 1859... Madrugada

Primeiro tudo era azul. Rápido. Manchado com borrões brancos e uma leve lembrança de o porque tudo aquilo estava acontecendo. Depois um barulho alto, como uma explosão. Então tudo ficou frio, confuso, caótico. Não havia controle, direção, cima ou baixo, esquerdo ou direito. Tudo girava, corria, tonteava e confundia.

Era como se estivesse em um turbilhão sendo puxada para trás pela gola da camisa, por uma força incontrolável.

E então, as duas sensações se misturaram em um único martírio de altos e baixos que confundiam os sentidos e roubavam o ar de seus pulmões. A queda veloz e força incontrolável que a jogavam para cima e para baixo, como se fosse uma boneca de trapos fixou-se em um ponto e golpearam impiedosamente em um único instante, fazendo com que tudo ficasse escuro e silencioso.

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- Mary!! – A voz de Dimitry atingiu Mary quase como um sussurro em meio ao turbilhão de sons que eram os cascos do garanhão castanho galopando pela terra úmida e lamacenta. – MMARRYYyyy...

Ela não parou. Não poderia voltar. Não poderia apenas ficar em segurança, presa em um castelo repleto de guardas, quando sua mãe, a única pessoa que sobrou de sua família, poderia estar em um enorme perigo.

Explosões, fogo e fumaça vinham da Cidade de Sucré Hollow e eram cada vez mais frequentes e forte. Conforme se aproximava mais, era possível também distinguir os gritos e tiros. Vozes desesperadas, pessoas gritando, pedidos de socorro, ameaças e maldições. Tudo misturado com o barulho das explosões, metal tilintando contra metal e tiros.

Mary não havia pensado em sua atitude. Agiu por puro instinto. Correndo em direção ao perigo para ajudar sua mãe. Sua casa ficava do outro lado da cidade, o que há obrigaria passar por entre toda a zona de conflito. Mas, agora não era hora para pensar nisso. Se ela pensasse muito, perderia a coragem. E, naquele momento, ela poderia perder tudo, menos a coragem.

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- MORTE AOS FRANCESES! – Dakota gritava a plenos pulmões para seus compatriotas. – MATEM TODOS!!

E eles matavam. Os cidadãos britânicos residentes naquela cidade invadiam casas, comércios e fazendas. Saqueando, pilhando, matando inocentes e culpados. Machucando as mulheres, degolando crianças e assassinando mesmo os animais. Não poupavam ninguém. E, para piorar, os cidadãos franceses faziam exatamente o mesmo.

Depois, ambos saiam para guerrear nas ruas. Lutando com armas, espadas, pedaços de madeira ou mesmo com suas unhas e dentes. Qualquer coisa era válida para ferir ou matar o inimigo.

- NÃO FAREMOS PRISIONEIROS DESSA VEZ!! – Nathan gritava em meio a praça de guerra. – MATEM TODOS OS INGLESES!!

E assim a guerra se estendia. Com morte e devastação pelas ruas da cidade. Prédios eram saqueados. Vidas eram ceifadas em segundos. Os únicos que ganhavam com o conflito eram os ratos.

Ninguém prestava a atenção naquelas pequenas criaturas que corriam desesperadas por entre as pernas dos combatentes.

Gordos, cada vez maiores e mais gordos, os ratos daquela região pulavam e mordiam pernas e pés de quem conseguissem, tirando pedaços de carne e deixando marcas de sangue escuro e pestilento. Transmitindo uma raiva incontrolável a todos os que eram mordidos ou arranhados. E aquela febre não estava mais controlada e contida apenas aos roedores. Mesmo cães e gatos que eram mordidos, passavam a ter um temperamento agressivo e violento.

Cães soltavam-se de suas correntes e avançavam contra qualquer um em seu caminho. Gatos pulavam e mordiam quem eles conseguissem encontrar. Até mesmo galinhas e porcos agiam descontroladamente contra qualquer um próximo.

- MATEM TODOS!! MATEEMAAAHHHHH....

Nathan sentiu algo violento mordendo sua perna. Se estivesse em seu juízo normal, aquele soldado se assustaria ao ver a criança agarrada a sua canela e mordendo como se fosse uma besta selvagem, com os pequenos dentes sujos de sangue e olhar ensandecido. Mas, aquele soldado não estava em seu juízo perfeito.

Ele não se importou em saber qual era a origem da criança, se era um francês ou um inglês. Ele não se importou em saber a idade do pequeno (talvez tivesse uns cinco anos). Ele não se importou em saber se, aquele pequeno, estava apenas tentando defender sua casa e sua família (que provavelmente já estavam mortos). Ele não quis saber de nada.

Apenas ergueu sua espada e desferiu um golpe violento na cabeça da criança, que morreu instantaneamente e caiu na rua com a cabeça aberta e parte dos miolos, misturados ao sangue, escorrendo pelo esgoto aberto que havia no lugar.

- AAAHHHRRRGGGHHHHH.... – Outro soldado, ainda mais enfurecido do que a criança, lançou-se contra o capitão de armas e encravou a espada em suas costas. – AAAARRRGGHHHH...

Nathan nunca soube o motivo daquilo. Não sabia se aquela criança era o filho do colega, sobrinho, irmão ou qualquer outra coisa que justificasse aquela agressão. Mas, a verdade, é que não havia nenhuma. O que havia ali era puro ódio, raiva e loucura. Começou o momento em que ninguém mais sabia quem era o aliado e quem era o inimigo. Todos apenas queriam o sangue uns dos outros.

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O taverneiro Bóris ainda estava lúcido. Lúcido do problema. Lúcido do perigo. Lúcido de que algo estava errado em sua cidade. Mas, não lúcido o suficiente para saber que deveria ter fugido daquele lugar o mais rápido possível. Quando percebeu uma leve mudança nos ânimos de seus clientes, ele começou a tomar precauções.

Passou a deixar sua machadinha de cortar carnes sempre a mão, e não foram poucas as vezes em que ele precisou ameaçar um ou outro cliente mais exaltado. Para o caso daqueles “muito exaltados” e que não se intimidaram com a machadinha, Bóris tinha uma velha pistola embaixo do balcão que iria resolver o problema.

Começou a fechar as janelas e bater tábuas com pregos nelas, para que ficassem trancadas. Mesmo as que ficavam no segundo andar da estalagem. Tudo ali parecia seguro. Mas, ele não percebeu que estava criando uma armadilha. Para ele mesmo.

Ganancioso, quando a guerra estourou do lado de fora, o homem trancou-se em seu estabelecimento, derrubando o balcão de seu comércio sobre a porta de entrada e alguns barris de carvalho nas portas dos fundos. Pegou sua pistola e seu machadinho e esperou que algum valente tentasse invadir sua casa.

Aquilo era sua vida. E ele iria morrer para defender aquilo.

E iria mesmo.

Uma batida violenta na porta chamou a atenção de Bóris. Duas. Três. Na quarta, uma das dobradiça de metal velha cedeu, deixando a porta caída sobre o balcão que a escorava.

- VÃO EMBORA!! – Bóris berrou. – ME DEIXEM EM PAZ!!

As janelas também forma atacadas. Com pedras, pedaços de madeira e mesmo com as mãos. O vidro começou a voar para o lado de dentro. Mãos começaram a surgir por entre as frestas do vidro estilhaçado. Bóris correu e começou a agredir aquelas pessoas com a parte sem fio do machado. Ele não queria machucar ninguém, apenas ser deixado em paz.

BASTARD!! – As vozes do lado de fora da taverna gritavam. - Damn you, french bastard!!

Aidez! Aidez - Bóris estava desesperado e atirou em direção a janela, matando alguém que ele nunca saberá quem foi. -Quelqu'un m'aide!

As mãos furiosas puxavam o vidro, madeira, cortinas velhas e desgastadas, tentando de toda a forma entrar na estalagem e agredir o homem que, por tantos anos, foi um amigo, confidente e até fez vistas grossas para algumas dividas daquelas pessoas na cidade.

Não foram poucas as vezes em que alguém precisava de mantimentos para cuidar da família e não podia pagar por eles, por que a colheita havia sido fraca ou os impostos foram um pouco mais pesados do que o mês anterior. Bóris, mesmo a contragosto, fazia uma pequena cesta com o básico para manter a família daquele cidadão alimentada por um inverno.

É claro que na próxima estação tudo era cobrado e recuperado, mas, ainda assim, ele nunca foi egoísta a ponto de deixar alguém passar fome por que, ele, conscientemente, se omitiu de ajudar. Morreria tranquilo com aquele pensamento. Acreditando que a balança da justiça poderia pesar a seu favor.

Alguma coisa líquida começou a escorrer para dentro da taverna. Através das janelas quebradas, alguma coisa molhada e mau cheirosa começou a escorrer para o interior do recinto. Bóris reconheceu o cheiro imediatamente. Óleo de lamparina.

- NÃO!! POR FAVOR!! – O taverneiro ficou horrorizado com o que os moradores da vila estavam prestes a fazer. – NÃOOO!! POR FAVOORRR!!

Agora ele correu em direção a porta e começou a tentar empurrar o balcão que trancava a passagem, mas, as pessoas do lado de fora desistiram de entrar e forçavam a saída para mantê-la fechada, com barris de bebida e cerveja, roubadas do próprio dono da estalagem.

- NÃÃÃÃÃOOOOO.... POR FAVOOORRRR...

Era possível ouvir o homem tentando abrir uma passagem com a sua machadinha, tentando remover as tábuas que ele mesmo pregou nas janelas. Mas ninguém se importou em ficar lá para descobrir se ele havia ou não conseguido fugir. Os cidadãos enfurecidos de Sucré Hollow atearam fogo na taverna e deixaram o lugar.

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Em meio a uma guerra civil como a que acontecia em Sucré Hollow, ser uma garota era ser um alvo fácil para todo o tipo de má intenção existente na mente humana. Alguns iriam querer aproveitar a desordem e o caos para dar vazão a todo o tipo de perversidade existente em sua cabeça deturpada.

Outros, podiam despertar a compaixão e a piedade.

As garotas que faziam serviços domésticos no Castelo do Duque tentavam desesperadamente correr para qualquer lugar longe daquela selvageria. Kimberly, a moça de pele negra, maior e mais forte do que as outras, lutava desesperadamente para abrir caminho por entre os combatentes enfurecidos.

Havia, no coração delas, um certo alívio de ver aqueles homens tão enfurecidos e insanos. Porque, naquele meio, não havia espaço para nenhum tipo de perversão que as deixasse feridas, desonradas e largadas em alguma sarjeta. Aqueles homens não estavam interessados naquilo. Para alívio delas.
Por outro, elas sabiam que, se fossem pegas, seriam mortas das formas mais brutais e desumanas possíveis. Como se fossem atacadas por uma matilha de lobos selvagens. Que as mataria e despedaçaria. Sem luxúria. Só a morte brutal e desumana.

A garota de cabelos castanho na altura do ombro, Capucine, tinha conseguido uma rota de fuga para ela e seu noivo, Samuel. Iriam fugir os dois pelo rio, com um barco de pesca que o rapaz usava como meio de vida, mas, para chegar até ele, seria necessário atravessar o campo de batalha que a cidade havia se tornado.

Kimberly, sua colega de trabalho era a moça mais forte e corajosa que conhecia, então concordou que ela poderia vir junto. A terceira moça, Peggy, apenas estava por perto e se juntou ao grupo. Cupicine não ficou feliz em vê-la, mas também não poderia simplesmente expulsá-la. Pensaria no que poderia fazer com elas depois. Por enquanto, precisava fugir.

Talvez as deixasse no primeiro porto afastado da cidade e que se virassem depois disso. Ela não tinha a obrigação e nem a vontade de salvar ninguém, mas, naqueles últimos momentos em Sucré Hollow, toda a ajuda seria necessária.

- Continuem correndo!! – Kimberly balançava um pesado pedaço de madeira, atingindo cabeças de quem quer que estivesse em seu caminho. – Não olhem para trás!!

E as duas moças obedeciam. Corriam até as pernas doerem e os pulmões arderem. Gritavam a cada vez que um rato pulava em seu caminho, tentando mordê-las, o que chamava a atenção de qualquer maluco que estivesse por perto. Kimberly já estava exausta de tanto lutar.

- CUPICINEEEE CORRAAAA!! – Um rapaz magro com cabelos castanhos penteados para trás gritou ao ver as garotas se aproximando. – CCOOORRREEEE...

Aquele grito deu novas forças para as moças. Elas correram mais. Puxaram o ar frio da madrugada para dentro dos pulmões e deixaram com que a adrenalina da sobrevivência tomasse conta de seus corpos. Mas, isso ainda não havia sido o suficiente para vencer a loucura e o ódio.

Um borrão azulado passou por entre elas, correndo com a velocidade de um predador selvagem, deixando no ar um leve odor de almíscar, alecrim e sangue coagulado. Elas não reconheceram de imediato a mulher que passou por entre elas, correndo furiosamente em direção ao barco.

- SSSSAAAAAAMMMM.... – Cupicine berrou desesperada quando a mulher furiosa pulou da margem em direção ao pescoço de seu noivo.

Ambos caíram na água, com a mulher mordendo e puxando o rapaz para o fundo do rio. Samuel tentava se libertar, mas era inútil. Ele não tinha forças para lutar contra a ira furiosa daquele monstro.

- É A LADY MELODY!! – Peggy reconheceu os olhos azuis e cabelos longos da nobre que visitava o castelo regularmente acompanhado do capitão Nathan. – Por que ela está fazendo isso??

- Não sei!! Não dá tempo de saber!! – Kimberly correu para o barco, puxando uma desesperada Cupicine que tentava pular na água e socorrer seu noivo. – Vamos embora daqui!!

- SSAMMMMMM.... PELO AMOR DE DEUS, SOLTA ELE!! SSAAAAMMMM.... 

Kimberly largou a garota desesperada e a jogou para que Peggy a segurasse. Ela empurrou o barco para longe do pequeno porto e começou a remar com toda a força que ainda restava, ansiosa para fugir daquele inferno que era a cidade. A poça de sangue que era o jovem Samuel crescia e seguia as ondulações que o barco produzia ao se afastar.

Porém, o alívio durou muito pouco.

Correndo furiosamente, Lady Ambre, pulou do pequeno atracadouro em direção ao barco, colhendo as três moças com os braços de uma só vez e as jogando na água. O barco virou e todas as garotas foram para a água, lutando desesperadamente para se livrar de Ambre. Kimberley socava a nobre com toda a sua força, mas a água do rio atrapalhava o combate.

Peggy e Cupicine tentaram voltar para a embarcação, mas sentiram algo lhes puxando para baixo. Lady Melody surgiu das águas, espumando sangue pela boca e berrando. Ela encravou as unhas longas no ombro das meninas e as puxou para baixo.

Ninguém viu o resultado da luta furiosa que acontecia nas águas do Rio de Sucré Hollow. E ninguém procurou nenhuma das cinco jovens. Nem pais, irmãos, noivos ou família. As cinco garotas morreram sozinhas, afogadas naquele rio.

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Sucré Hollow... 12 de Dezembro de 1859... Manhã

Mary cavalgou por entre dos combatentes da cidade, ignorando gritos, ameaças e forçando o animal grande e pesado a atropelar qualquer um que tentava entrar em seu caminho. Foi fácil para ela tirar qualquer um da sua frente, porque o cavalo estava ainda mais assustado e nervoso do que ela. Mary cavalgou em disparada para o outro lado da cidade.

Quando a chegou até a área rural da cidade, as fazendas, colheitas e plantações ardiam em chamas altas e descontroladas. O mundo era uma grande fogueira para Mary. A fumaça irritava seus olhos e sua garganta. O cavalo começava a vacilar e as passadas ficavam difíceis no solo irregular.

Mary avistou sua casa. Estava intacta. Não havia fogo ou fumaça. Aquilo lhe deu um pouco mais de esperança. Ela forçou o cavalo e correu até a sua casa. Na hora de descer do animal, quase foi arremessada longe, mas conseguiu firmar os pés no chão, antes de cair. Infelizmente, não conseguiu segurar o animal que estava muito assustado e fugiu.

Pensaria em como voltar depois. Mary correu até sua casa e abriu a porta desesperada, atingindo a madeira com um esbarrão de ombro.

- Sabia que você viria!

A voz de Dakota atingiu Mary como um tiro no peito.

O seu “noivo” estava lá. Com um sorriso maníaco no rosto e uma espada ensanguentada nas mãos. Havia, alguma coisa estranha, coberta de sangue espalhada pelo chão. O mais perto do que Mary poderia ter imaginado é que aquilo (sem dúvidas o corpo de sua mãe), havia sido atacado por um urso. Mas, não havia urso. Só um homem.

- MALDITOOOO... – Mary gritou e pegou a primeira faca que encontrou e partiu para cima de Dakota, mas foi inútil.

Dake conseguiu sobrepujar facilmente a garota, torcendo sua mão com força até ela largasse a faca.

- Linda... e cheirosa... – Dake lambeu o rosto de Mary, deixando uma mancha de sangue em toda a bochecha da menina. – Tudo que eu sempre quis... agora... Nós vamos...

Dake não terminou a frase. Apenas agarrou Mary e a puxou para mais perto de si, forçando sua língua esponjosa e malcheirosa para dentro da boca da moça. Mary não teve dúvidas e mordeu com violência a boca de Dake, arrancando-lhe um pedaço da língua.

Mas, no reflexo, ela acabou engolindo aquele pedaço de carne podre.

Mary emburrou Dake com força e começou a tossir, tentando expelir a carne podre da língua dele. Dake levou a mão a boca, tentando parar o sangue escuro que escorria como uma fonte aberta. Ele ergueu a espada e preparou-se para matar a moça caída no chão em meio ao sangue e a sujeira.

Flap Flap Flap Flap

Alguma coisa preta voou em direção ao rosto de Dakota, arranhando e mordiscando.

- AAAAHHHHH.... BICHOOO DO DÊMONIO!! SAIA!! – Dake tentava espantar o morcego que arranhava sua cara. – SSSAAAAAIIIIII....

- Mary!! – Dimitry correu para dentro da casa e viu a garota caída no chão, próximo a uma massa distorcida de sangue e o rapaz lutando contra Noir. – Mary... fuja rápido!!

Dimitry avançou contra Dakota e o golpeou com sua espada, sem dar tempo de o vilão reagir. A lâmina do duque não vacilou e atingiu Dakota em cheio no pescoço, abrindo um corte mortal.  Noir se afastou quando Dimitry chegou e a cabeça do rapaz caiu no chão do lado oposto ao corpo. Não havia chances de ele escapar daquilo.

- Mary... – Dimitry soltou a arma e correu até a garota. – Mary... fale comigo...

Mary estava tossindo o mesmo sangue escuro que ele viu em todos na cidade e em Dakota, mas, ao contrário deles, ela tinha pequenas linhas escuras em todo seu rosto e pescoço. Era como se ela tivesse uma doença em um estágio muito avançado, diferente de outros naquele lugar. Mary não respondia. A pele da garota queimava em febre.

- Eu vou te tirar daqui... Vem... – Dimitry pegou a moça no colo e correu para fora, colocando-a sentada em seu cavalo. Ele viu o corpo da bondosa senhora Magdalene e pensou que não poderia deixa-lo daquela forma. Correu até a fogueira mais próxima e ateou fogo na casa de Mary. Era o melhor enterro que ele poderia lhe dar.

Estava amanhecendo. Ele precisava correr até o castelo. Ele subiu em seu corcel e cavalgou com o vento, atropelando qualquer um no seu caminho. Mary tinha pouco tempo.

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Castelo do Conde de Faraize, 12 de Dezembro de 1859... Manhã...

BLAM... BLAM... BLAM...

Os soldados do Castelo estranharam o barulho vindo da porta dos fundos. Àquela hora? De manhã cedo? Quem poderia estar batendo? Com uma guerra acontecendo na cidade, as ordens do Conde tinham sido claras: Ninguém entrava e ninguém saia, exceto Dimitry, que deveria ser trazido de volta imediatamente para o castelo.

Os homens que foram atrás do jovem duque não regressaram, mas, se o fizessem, entrariam pela porta da frente. Um dos soldados correu pela escada para chegar ao alto da muralha, armado suas pistolas e lanças, para o caso de algum possível ataque.

- ABRAM!! – O jovem gritou do alto da muralha. – Abram o portão rápido!!

Sem entender muito bem o que estava acontecendo, os soldados do conde obedeceram à sentinela. Correram até o portão e removeram a pesada tranca de madeira que travava o portão e o abriram.

Eles imaginavam que qualquer coisa poderia estar do lado de fora naquele momento. Um animal selvagem tentando entrar. As criaturas do rio que vagavam a noite. Refugiados da cidade procurando abrigo. Menos aquilo...

...o corpo da caçadora Deedra, ferido, molhado e com a respiração fraca, entrando manca no pátio do castelo...

- Cadê... o conde...?

Foi tudo o que ela disse antes de desmaiar.


Continua...



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