História 199 dias com você - Apenas uma brincadeira

... E então aconteceu uma coisa que eu nunca pensei que aconteceria...
 

Niall recuou.

Eu estava prestes a beijá-lo quando ele simplesmente desviou da minha boca e me deu um beijo na testa. Fiquei com os olhos fechados por mais alguns segundos até sair do transe no qual eu esperava ele me beijar - na boca.

- Eu... Preciso ir. De verdade - ele falou se afastando e levantando da cama, mexendo no cabelo.

- Claro, eu... Levo você até a porta - falei tentando me recompor e abrindo a porta do quarto.

- Até amanha então - ele falou quando chegamos à porta, depois de se despedir dos meus tios.

- Tchau - sorri para não parecer tão óbvio que eu estava irritada.
Ele me deu um abraço desajeitado e um beijo na bochecha. Observei-o até chegar em seu carro, depois entrei dando um suspiro longo e voltando-me para dois olhares que eu não sabia o que transmitiam.

- Emma, por que não avisou que o rapaz viria jantar conosco? - Ivy perguntou, olhando intensamente para mim.

- Desculpe, tia Ivy, foi de última hora.

- Ele falou que lhe traria antes do anoitecer - foi a vez de meu tio falar, não tão doce quando sua esposa.

- Acontece que perdemos a noção do tempo. Mas chegamos na hora certa do jantar, não chegamos? - perguntei passando o olhar de um para o outro. Os dois ficaram sem resposta.

- Apenas avise-nos quando trouxer visita...

- Principalmente do sexo masculino - meu tio completou a frase de minha tia. Preciso comentar que essa conversa estava ficando patética?

- Okay, pra mim já deu. Vou para meu quarto, qualquer coisa, sabem onde me achar.

Subi para meu quarto e, quando cheguei na porta do quarto de Ryam, parei.

- Ryam? - perguntei depois de bater na porta. Ninguém abriu. Bati mais uma vez. Nada. Dei as costas para seu quarto quando ouvi a trinca fazer barulho. Girei novamente e a porta estava aberta, com um Ryam sem camisa, novamente - ele havia colocado para jantar -, e um cabelo bagunçado.

- O que você quer? - perguntou mal humorado.

- Atrapalhei algo?

- Diga logo o que quer.

- Tio James falou que você toca violão...

- E...? - ele me interrompeu, aquilo já estava me deixando sem graça.

- E que eu queria umas aulas suas... Se for possível, claro - um sorriso apareceu em seu rosto. Não um sorriso de deboche, um sorriso verdadeiro.

- Entra.

- Como?

- Entra, no quarto - demorei realmente bastante tempo para entender que ele estava pedindo para entrar em seu quarto, coisa que ele nunca pediu.

Entrei, um pouco confusa por ele ter feito o pedido, e me deparei com um quarto organizado e limpo, porém cheio de pôster de bandas e frases. Pelo menos meu primo tinha um bom gosto musical.

E um belo corpo.

- Senta aí - ele falou se referindo a sua cama. Fiz o que ele pediu e observei seu quarto com mais atenção.

Uma das paredes era completa de pôsters. Não havia um espaço vazio. Pensei em como aquilo deveria ser trabalhoso e caro. As outras paredes eram brancas, com a oposta aos pôsters sendo preta. Uma TV led em frente da cama pendurada na parede, PS3, Xbox e vários jogos. Tinha uma prateleira grande com vários troféus de futebol.

- Então quer dizer que você quer aprender a tocar?!

- Se não for incômodo pra você... - falei ainda encarando o quarto, e pelo visto ele percebeu.

- Gostou do quarto? - ele perguntou e eu o olhei. Percebi que ele estava sorrindo.

- É... Você tem um bom gosto musical - respondi retribuindo o sorriso.

- Nunca soube que gostava de rock.

- Não é um privilégio  seu - sorri encarando-o e ele mudou para o assunto principal.

- Okay, quais dias você tem disponível? - perguntou pegando seu violão, sentando numa poltrona em minha frente e tocando alguns acordes.

- Quais dias você tem disponível? - ele pareceu pensativo por alguns instantes e depois respondeu mexendo o cabelo.

- E se fizermos assim: depois da janta, todos os dias, aqui no meu quarto. Quando algum dos dois tiver um compromisso, damos um jeito de fazer uma aula substituta.

- Por mim tudo bem.

- Quando começamos? - ele parecia realmente animado com a proposta.

- Han... Amanhã talvez...? - ele sorriu com a resposta e colocou o violão do lado.

- Amanhã então depois da janta.

- Obrigada, de verdade - falei levantando-me e sorrindo alegremente.

- Não precisa agradecer - ele sorriu timidamente e eu caminhei até a porta, abrindo a mesma. Mas quando estava saindo, Ryam me chamou novamente.

- Sim?

- Desculpe pelo jantar. Sério.

- Tudo bem, não se preocupe com isso.

- Sério, eu fui um besta em falar com meu pai e...

- Ryam, está tudo ok, relaxe. Boa noite - despedi-me e fui ao meu quarto tomar um banho.

Após o banho, olhei minha agenda e fiz os deveres que eu não tinha feito e depois fiquei mexendo no celular, até que recebi uma mensagem.

"Hey, Lindinha, como foi seu dia? xx Harry"

"Hey, Harry! Foi incrível! E o seu? xx Emma"

" O que fez de tão bom? O meu foi normal xx"

" Ah... Passei a tarde com o Niall... xx"

" Hum, então deve ter sido bom mesmo. O que vai fazer amanhã?"

" Estudar apenas, e você?"

" Estava pensando em te chamar pra sair... Topa?"

"Claro. Depois da aula, pode ser? A noite já tenho compromisso."

"Tudo bem, depois da aula. Vou te deixar dormir. Boa noite, sonha comigo xx"
 

Respondi dando-lhe boa noite terminei adormecendo.
 

...
 

- Emma... Em, vai se atrasar para a aula. Emma, já são 7:50. Emma... EMMA!

- O quê? Onde? Quando? - levantei assustada, mas aí percebi que só era Ryam tentando me acordar - Ah, oi Ryam.

- Bom dia, bela adormecida. Você está atrasada, então se quiser carona é melhor se apressar.

Levantei e fui andando estilo zumbi até o banheiro tomei banho e fui trocar de roupa. Quando estava pronta, Ryam passou novamente no quarto falando que eu só tinha mais cinco minutos. Corri para o banheiro, escovei os dentes, peguei minha mochila e desci.

- Bem na hora, moça. Ryam já está no carro – tio James, que estava na sala tomando café e lendo seu jornal me avisou.

Peguei uma maçã, despedi-me dele  e saí. Quando chegamos, os corredores já estavam um pouco vazios, apenas com os alunos que gostam de matar aula neles.

- Emma, minha sala é a 39, e a sua?

- 43, mesma direção?

- Mesma direção - ele confirmou e fomos em direção ao corredor que dava para a sala 39.

- Ah, Ryam.

- O quê? - ele respondeu sem olhar pra mim.

- Hoje eu vou pra casa com o Harry, tudo bem?

Ryam pareceu prestar mais atenção e olhou pra mim sério.

- Em, seja sincera comigo - ele falou parando em frente à sala 23. - Você tem algo com o Harry? Ou com o Niall?

- Ryam...

- Eu só quero saber, não é por nada em especial - ele me interrompeu, olhando com mais intensidade.

- Eu... Eu não tenho nada com nenhum dos dois... Naquele dia eu... Estava bêbada e ontem não aconteceu nada. O Harry só me chamou pra almoçar com ele, conversar, essas coisas.

- Okay, não precisava dizer os detalhes. Só sim ou não - ele falou dando um risinho e voltou a caminhar.

Cheguei à minha sala e a aula já havia começado. Sabe aquele momento em que todos param e ficam olhando para você como se fosse um E.T.?! Então, estava acontecendo comigo. Eu não conhecia ninguém na sala, até que encontrei dois olhos verdes cravados nos meus.

- Srta., será que poderia sentar? Está atrapalhando minha aula.

Olhei para o quadro e tinha em letras maiúsculas "LITERATURA, PROFESSOR JACKSON". Voltei meu olhar para o professor, que esperava impaciente, e depois para a turma, que ainda me olhava como se eu fosse um E.T. Por sorte havia um lugar bem ao lado dos inconfundíveis e belos olhos verdes. Algumas garotas começaram a cochichar olhando pra mim, mas não me preocupei com isso. Sentei-me ao lado de um Harry sorridente e tirei meu livro de literatura de dentro da mochila.

- Bom dia, Lindinha.

- Harry, em primeiro lugar, - olhei para o professor para ver se ele me observava, mas ele estava virado para o quadro - pare de me chamar de Lindinha. Em segundo, de onde você tirou esse apelido?! - perguntei olhando-o com certa curiosidade.

- Em primeiro: não, eu não vou parar de te chamar de Lindinha. Em segundo: eu achei que você sabia raciocinar mais rápido - ele falou sorrindo e eu continuei sem entender.

- Como assim? - perguntei confusa.

- Lindinha... As meninas super poderosas... - ele falou dando pausas como se quisesse fazer com que eu entendesse.

- Não. Não, não e não. Harry Styles, você não fez isso - falei sem conseguir acreditar na idiotice que ele havia falado.

- O quê?!

- Esse apelido. É a coisa mais ridícula que eu já ouvi! - falei prendendo o riso.

- Ridícula nada. Já se olhou no espelho? Você tem cabelo loiro e olhos azuis, igual à Lindinha. Se você prender o cabelo que nem ela, as pessoas até confundem.

- Harry, chega - comecei a rir baixo e ele me acompanhou, reconhecendo a idiotice que havia falado. 

-... Tenho certeza que o Sr. Styles sabe, não sabe? - o professor Jackson parou em frente ao Harry, e ficou encarando-o desafiadoramente. Harry, que antes sorria com sua própria babaquice, fechou a cara e tentou se manter sério. 

- O que, professor? 

- Ótimo, não sabe nem do que estamos falando - ele deu um risinho sem humor e voltou a encarar Harry. - Conte-me, Sr. Styles, como vão suas notas? Piores que as do semestre passado? - olhei para Harry, que sorria debochadamente para o Sr. Jackson, e depois voltei a encarar o nada, apenas escutando. 

- Diga-me o senhor de quem foi a nota mais alta das provas passadas - isso foi o suficiente para calar o Sr. Jackson e causar tumulto nos alunos presentes. 

- Ora essa, está tentando me desafiar? Pois bem, pegue todo o seu material e vá para a sala 15, aguarde-me fazendo uma redação sobre a importância da literatura para a vida, frente e verso - olhei para Harry novamente e ele estava quase queimando o professor apenas com o olhar. Pegou o material e saiu de sala depois de me olhar e dar um sorrisinho percebido por toda a sala.

A aula passou normal, apenas com vários olhares para mim, provavelmente por conta de Harry. Quando terminaram todas as aulas do primeiro horário, fui direto para a porta esperar Harry e terminei encontrando Ryam, que estava lá conversando com Niall.

- Hey, Emma! – Ryam falou quando me viu – Como foram as aulas hoje?

- Oi Ryam, Niall – falei sorrindo para ele e ele sorriu de volta. – A aula foi legal...

- Com uma simples expulsão do Styles aqui – a voz rouca de Harry surgiu atrás de mim, olhei-o e ele, como sempre, estava sorrindo.

- Por que foi expulso? – Ryam perguntou.

- O Jackson estava falando merda e eu apenas o respondi – ele falou dando de ombros. – Enfim, vamos lá? – Harry perguntou olhando para mim.

- Vocês vão juntos? – Niall, que estava em silêncio o tempo todo, perguntou. Acho que senti tristeza em sua voz.

- Sim, Emma vai almoçar comigo hoje – Harry respondeu por mim e passou o braço pela minha cintura. Senti o olhar de Niall abaixar-se até o mesmo local onde estava a mão de Harry e depois subir.

- Tudo bem então. Eu vou indo, divirtam-se.

Niall saiu andando pelo estacionamento até achar seu carro e deu partida, Ryam despediu-se de nós e foi andando para casa e nós fomos ao estacionamento. Harry abriu a porta para mim e eu agradeci com um sorriso. Ele deu a volta e entrou no carro, dando partida no mesmo.

- Para onde vamos? – perguntei colocando o cinto de segurança.

- Minha casa – ele respondeu sem me olhar.

- Não íamos almoçar?!

- Sim, e vamos, eu vou cozinhar.

- Você? Desde quando sabe cozinhar? – perguntei sorrindo e ele ficou sério.

- Desde que meus pais faleceram e eu tive que morar sozinho – ele respondeu sério e eu me senti como se uma faca atravessasse meu peito.

- Ah meu Deus. Isso é sério? – perguntei me sentindo péssima, mas com esperança de que alguém me entendesse.

- Claro que não, Emma – ele gargalhou. – Só estou brincando.

Nunca me senti tão mal. Um misto de fúria e tristeza adentrou em mim e a vontade de chorar foi tão grande que um nó tinha se formado em minha garganta. No mesmo instante, Harry parou o carro em algum lugar e, impulsivamente, abri a porta e saí do carro, correndo até o outro lado da pista e sentando nos fundos de uma casa, que era onde ficava o “jardim”. Abracei minhas pernas e comecei a respirar fundo, tentando evitar lágrimas.

Harry não tinha feito por mal, eu sei que não, até porque ele não sabe que sou órfã e moro com meus tios. Mas o jeito de como ele falou, me fez acreditar que tinha alguém que me entendia de verdade, que sabia como era morar com pessoas estranhas e como era ruim sentir falta de pessoas que nunca mais voltariam.

Comecei a escutar Harry me chamar e me encolhi mais, tentando me tornar invisível, mas no minuto seguinte ouvi os passos se aproximarem e braços me envolverem.

- Emma, o que houve? Em... – ele falou tentando me acalmar – Eu fiz alguma coisa? Foi... Foi o que eu falei? Desculpe, eu só estava brincando, não era minha intenção te fazer chorar, eu... – não deixei Harry terminar, lancei-me em seus braços e o abracei. Ele ficou imóvel por um tempo, mas depois retribuiu o abraço e começou a alisar meu cabelo – Me desculpe – ele disse por fim e eu o soltei. Quando encarei seus olhos verdes, percebi que os mesmos transmitiam uma culpa enorme. – Você está bem? Digo, precisa de água, comida? Alguma coisa? Ainda não chegamos na minha casa, mas eu posso providenciar algo se você quiser. Daqui a duas quadras tem um posto de conveniência, eu posso ir lá e buscar um lanche para você, ou então nós pod...

- Harry, cale a boca – falei olhando-o e ele se calou. – Você fala demais quando está nervoso – sorri e ele relaxou e sentou-se ao meu lado.

- Sua vez de falar então. O que houve?