História 199 dias com você - Você me perdoa?

Já estava escuro quando acordei. Não totalmente escuro, ainda entrava luz na janela, mas sabia que havia dormido por mais de quatro horas. Peguei o celular para olhar a hora e vi que tinha uma mensagem. Niall.

"Passo aí às 18:30."

Adivinhem quem tem a sorte de dormir a tarde toda e só ver a mensagem 20 minutos antes da hora?! Isso mesmo, a Emma aqui.

Não que ter dormido a tarde toda foi ruim, estava precisando mesmo dormir um pouco mais.

Levantei rapidamente e corri para o banheiro. Tomei um banho, escovei os dentes e voltei para o quarto, peguei uma calça jeans, uma blusa de manga cumprida, calcinha e sutiã e voltei para o banheiro. Sim, eu tenho costume de me trocar dentro do banheiro.

- Emma? - ouvi a voz de Ryam longe, quando terminei de colocar a calça.

- Estou no banheiro!

- Ah, Niall está lá embaixo te esperando.

- Diga que já estou descendo - falei colocando o sutiã rapidamente.

- Eu já disse isso duas vezes.

- Quanto tempo ele está lá? - perguntei agilizando para colocar a blusa.

- É melhor eu não dizer. Vou enrolá-lo por mais cinco minutos. Nada mais - abri a porta do banheiro e Ryam ainda estava lá.

- Como estou? - falei dando uma voltinha rápida.

- Com a blusa ao contrário - Ryam segurou o riso e fui olhar no espelho. De fato eu havia colocado a blusa ao contrário. Estava explicado por que estava me sentindo tão sufocada. Tirei a blusa ali mesmo e coloquei-a no devido lugar.

- E agora? - perguntei virando-me para Ryam.

- Belo sutiã - encarei-o e o observei fechar os olhos. Algo em sua face me fez achar que ele estava pensando o mesmo que eu. - Isso foi gay.

- Muito - gargalhei e peguei duas sapatilhas para calçar, uma preta com detalhes em dourado e outra toda vermelha. - Preciso da sua opinião gay - provoquei-o. - Preto ou vermelho?

- Vamos ignorar seu comentário - ele falou coçando a barba e olhando repetidamente para os sapatos e para mim. - O vermelho. Combina mais com a blusa - ele decidiu, apontando para a blusa que eu vestia, da mesma cor da sapatilha, e caminhou até a porta. - Vamos?

- Vamos.

Assim que cheguei na sala vi Niall sentado com um copo de água na mão conversando com tia Ivy. Ela estava sorrindo e falando rápido, o que me fez pensar que eles estavam conversando há um bom tempo, e melhor: estava gostando.

- Oh, aí está ela! - tia Ivy falou quando me viu descendo as escadas, fazendo com que Niall olhasse para mim. - Você demorou bastante, hein?!

- Desculpe. Há quanto tempo estão aqui? - perguntei olhando para Niall, mas ele não respondeu. Apenas levantou-se e cumprimentou Ivy.

- Foi um prazer conversar com você, Ivy.

- Igualmente, Niall, agora vão, senão vou ficar aqui puxando conversa com vocês - tia Ivy nos levou até a porta e abriu a mesma. - Juízo hein?

- Não iremos demorar, prometo - falei para Ivy.

- Não prometa o que não pode cumprir, querida - tia Ivy me deu um sorriso malicioso e eu a olhei impressionada. Não estava acreditando no que ouvira.

- Tudo bem, voltaremos logo. Até mais - Niall falou e me acompanhou até seu carro.

- O que vocês conversaram tanto? - perguntei assim que ele entrou.

- Nada de mais - ele deu de ombros e ligou o carro. - Para onde vamos?

- Pare o carro na próxima praça que aparecer - ele assentiu e eu treinei algumas palavras para lhe pedir desculpas. Todo aquele silêncio estava me matando. Ele não tinha ligado o rádio, e eu não tinha me atrevido a fazer isso. Continuei pensando em algumas palavras para pedir desculpas até que percebi que passamos por uma praça e ele não parou o carro.

- Hm... Passamos por uma praça - falei apontando o polegar para trás, indicando o lugar que ia se distanciando cada vez mais.

- Uhum - ele murmurou e continuou a dirigir. Silêncio e orgulho, vocês estão me irritando.

- Ok, você tem uma praça específica para ir?

- Uhum - Niall "falou" novamente, mas pude ver um pequeno sorriso em seus lábios.

- Preciso falar que isso está me irritando?

- Preciso falar que estou me divertindo com isso?

Novamente o silêncio se instalou. Não tinha mais o que falar, ponto.

- Como foi depois das aulas? - ele perguntou, provavelmente sabendo que eu não ia dizer mais nada.

- Dormi a tarde toda. Por isso me atrasei. Acho que estava dormindo quando você chegou.

- Com certeza você estava dormindo - ele falou dando uma risada. - Sua tia é bem legal.

- Ah, sim! Sobre o que vocês conversaram?

- Você já perguntou isso. E eu já respondi.

- Desculpe. A falta de assunto e a curiosidade por uma resposta com mais detalhes estão me corroendo - confessei.

- Falta de assunto? Tenho várias coisas pra conversar - ele falou tranquilo.

- Ah, claro. Várias formas diferentes de dizer o quão idiota eu fui hoje de manhã. Prefiro pular essa conversa.

- Coisas como a festa do Matthew e a do colégio, por que você dispensou o almoço hoje, o motivo de estar com raiva de Harry, entre outros.

- Por onde começar? - perguntei apoiando a cabeça no banco do carro e fechando os olhos.

- Chegamos - Niall desligou o carro e eu abri os olhos. Estávamos em frente a uma casa grande e ao lado de uma praça. Nem percebi quando Niall desceu do carro e veio abrir a porta para mim, mas agradeci. - E então, prefere ver a casa ou a praça primeiro?

- Você mora aqui? - perguntei apontando para a casa.

- Sim, alguma coisa contra? - ele perguntou cruzando os braços e ficando sério.

- N-não, não é isso. É só que... Eu... Eu não achei que viríamos pra cá - falei gaguejando e ele caiu na risada.

- Só estou brincando, Em - ele passou a mão pelo meu ombro e me guiou até as escadas da casa. - Como eu já conheci sua casa, nada mais justo que você conhecer a minha - ele explicou enquanto procurava a chave de casa no chaveiro.

- Sinta-se a vontade - Niall abriu a porta e me deu passagem para entrar. - Mãe, cheguei! - ele gritou enquanto ia até a cozinha.

A casa era enorme, cheia de detalhes antigos e bonitos. Se eu tivesse dinheiro, compraria uma casa do mesmo estilo. O piso era de madeira, com as portas do mesmo material, um sofá, com três lugares, e duas poltronas preenchiam o espaço da sala de estar junto de uma TV LED presa na parede e um suporte com retratos de família e outras decorações.

Caminhei mais um pouco e sentei num banco alto e me apoiei num balcão que dividia a sala da cozinha, encarando Niall comer alguma coisa.

- Ela saiu - uma voz masculina disse um pouco longe de nós -, foi fazer umas compras, mas volta logo - logo a figura apareceu. Bem mais velho que Niall, alto, com barba, cabelos castanhos e curtos e olhos azuis pequenos. - Olá! - ele disse para mim sorrindo.

- Emma, esse é meu irmão, Greg. Greg, essa é Emma, amiga do colégio - Greg me estudou da cabeça aos pés sorrindo. Pra não ficar tão retardada, resolvi falar.

- Olá, Greg! Hm... Você não parece nada com Niall - só depois de falar foi que percebi a merda que eu tinha resolvido soltar. Ele riu um pouco e depois olhou para o irmão.

- Sempre falam isso, não se preocupe, já estamos acostumados com isso - ele sorriu. E andou até a cozinha. - Quer comer algo, Emma? Não duvido nada que Niall chegou aqui e apenas veio pegar algo para comer e não ofereceu.

- Eu ia preparar algo pra ela!

- Não ia não, conheço você.

- Ah, não precisa, não estou com muita fome - na verdade meu estômago estava dando voltas de reclamação. Dormi a tarde toda e quando acordei nem tomei um copo d'água. Podia desmaiar a qualquer momento.

- Não está com fome? Você não comeu antes de sair, comeu? - Niall perguntou, lendo minha mente.

- Não, mas...

- Nada de mas, vou preparar café e waffles - Niall me interrompeu e já foi pegando as coisas para fazer o café.

- Enquanto isso, que tal ir lá em cima comigo? - Greg perguntou. - Tenho algo que vai gostar - olhei para Niall, curiosa, e ele apenas confirmou. Dei de ombros e acompanhei Greg ao andar de cima.

Seguimos a direita e entramos no terceiro cômodo. Tinha cheiro de talco de bebê muito bom e logo depois percebi que havia um berço.

- Ah meu Deus - soltei quando cheguei perto do berço. Tinha um bebezinho muito fofo brincando com um mordedor nas mãos gordinhas. Como se Greg adivinhasse o que eu queria fazer, tirou o bebê do berço e me ofereceu.

- Esse é Theo, o novo membro da casa - ele falou sorrindo para o menininho em meus braços.

- É seu filho? - perguntei empolgada. Greg apenas confirmou com a cabeça, sorrindo. - Que gracinha! Oi Theo, eu sou a Emma! Você é um fofucho, sabia disso? - Theo agarrou meu dedo indicador e sacudiu, depois começou a sorrir.

- Ele gostou de você - o pai de Theo falou.

- Você gostou de mim foi? - falei com uma voz afetada para a criança, que me respondeu com uma apertada em meu dedo indicador. - Meu Deus! Ele é muito fofo!

- É sim. Pelo visto foi amor a primeira vista de ambas as partes, não é? - ele perguntou olhando para o bebê.

- Acho que sim - sorri e dei um beijinho na testa de Theo e o entreguei para Greg. - Obrigada por mostrar seu fofucho para mim.

- Você foi a primeira estranha de que ele gostou logo de cara, sinta-se uma garota de sorte.

- Ok, me sinto uma garota de sorte - sorri para Greg, que balançava Theo e tentava alimentá-lo. - Ahn... Greg?

- Sim? - ele perguntou concentrado na atividade.

- É que... Você está segurando errado - falei baixo, sem querer interromper nada.

- Ainda bem alguém que sabe segurar bebês! Por favor, me ensine as coisas básicas para se fazer com essa criatura - ele me devolveu o bebê rindo.

Sentei numa cadeira que tinha próxima ao berço e ajeitei Theo em meus braços. Quando ele estava na posição cera para se alimentar, Greg me entregou a mamadeira e coloquei na boca do fofucho, que logo agarrou a mesma com as duas mãos gordinhas.

- Entendeu como se faz?

- Mais ou menos - ele respondeu começando a cabeça. - Mas eu tenho una dificuldade maior.

- Qual? - perguntei revisando entre olhar para Greg e Theo.

- Trocar fraudas - não consegui me segurar da careta que ele fez. - O quê? É impossível trocar a frauda desse garoto, ele fica mexendo as pernas o tempo todo e se balançando.

- Calma - falei recuperando o fôlego. - Você tem algum boneco por aqui?

- Niall comprou um de pano, serve?

- Claro. Traga o boneco, uma frauda, pomada e talco.

- Tudo isso? - não pude deixar de notar o espanto de Greg. Será que ele não sabia mesmo trocar uma frauda?

- Sim.

Assim que ele saiu para buscar as coisas, Theo terminou a mamadeira. Agora vinha a parte mais demorada: fazê-lo arrotar. Caminhei de um lado para o outro com o bebê em meus braços e dando tampinhas de leve em suas costas para fazê-lo arrotar.

- Emma? - ouvi a voz de Niall e virei-me para ele. - Já está pronto. Quando terminar aí pode descer para comer.

- Obrigada - sorri.

- Greg já está te fazendo de babá, é?!

- Ah, não. Estava ensinando a ele como dar mamadeira. E ele foi pegar as coisas para aprender a trocar frauda.

- Também preciso dessas aulas! Sou um tio prestativo, mas bem desengonçado - Niall admitiu baixo, coçando a cabeça. Sorri e escutei um arroto baixo.

- Bem, você sabe como segurar bebês? - perguntei ajeitando Theo em meus braços.

- Hmm - ele parou um pouco para pensar. - Mais ou menos.

- Isso significa um não - sorri. - Vamos lá - entreguei o bebê para Niall e observei como ele o segurava. Realmente, ele não fazia ideia de como segurá-lo.

Após ajudar Niall com esse passo, Greg chegou com as coisas que eu tinha pedido. Coloquei Theo no berço novamente e peguei o boneco. Expliquei como limpar o bebê, o que precisava colocar antes da frauda e como vestir a mesma nele. Depois de uma aula bem dada com uma demonstração num boneco, Niall e Greg pareciam ter entendido tudo.

- Ok, acho que peguei tudo - Niall disse.

- Eu também, só não sei se vou conseguir fazer no Theo.

- Claro que vai! - encorajei-o - Com o tempo acostuma.

- Acho que está na hora da senhorita ir comer - Niall me cutucou e logo segurou minha mão, me guiando para o andar de baixo. - Greg, Denise ligou, disse que estava em casa cuidando do pé machucado. Perguntou se não podia passar lá.

- Pé machucado? - ele perguntou desentendido.

- É, parece que ela machucou ou torceu o pé, não sei direito, mas pediu para você ir lá - Niall deu de ombros e me puxou para a cozinha enquanto observava Greg correr pela casa procurando a chave do carro.

- Pode cuidar do Theo num instante? - ele perguntou já se preparando para sair. 

- Claro, pode ir. Melhoras para a Denise. 

- Obrigada, tchau Emma, obrigada pelas dicas, acho que vão servir - Greg falou fechando a porta. 

- Denise? - perguntei. 

- Esposa dele. Aqui está - ele falou me entregando um prato com waffles e coberto de mel, junto com chocolate em barra.

- Obrigada – parti um pedaço e coloquei na boca. – Isso está muito bom! – falei dando ênfase no muito. – Precisa me ensinar a fazer isso.

- Foi mal, apenas a família Horan sabe da receita, e eu não posso passá-la para outra família – ele falou sorrindo.

- Então me deixe ser uma Horan – falei rindo, mas depois percebi o outro sentido que aquilo podia soar. – Digo, não... Não desse jeito, eu...

- Tudo bem – ele falou rindo. – Eu entendi – ficamos em silêncio por um tempo e depois eu bati na minha própria testa.

- Me desculpe. Sabe, por tudo. Por hoje de manhã, pelo dia no bar, por tudo. Eu sinto como... Eu não sei, como se nada estivesse dando certo, mas ao mesmo tempo, sei que a culpa é minha. E eu não tenho feito nada para melhorar as coisas. Hoje com a Emily eu fui uma estúpida! Eu não sabia por que estava agindo daquele jeito. Não sei por que agi daquele jeito quando conversamos. Eu parecia uma ridícula ciumenta – parei e respirei fundo. Não estava olhando para Niall. Achei que se olhasse perderia toda a coragem que eu tinha encontrado para falar com ele, mas me obriguei a encará-lo. Seus olhos, fixos nos meus, não transmitiam nada, mas continuei. – Me desculpe. Você está certo. Eu... Sou uma idiota ignorante. Uma completa idiota. Obrigada por ter me dito antes de sair da sala, talvez eu só estivesse precisando de umas palavras como as suas.

- Não, Emma – ele falou e se aproximou mais. – Eu falei aquilo porque estava com raiva.

- Mas falou a verdade. Não se desculpe, Niall, sou eu quem precisa fazer isso – falei olhando para o chão novamente. – Eu já pedi desculpas a Emily e queria saber se... Você me perdoa – encarei-o, com esperança. Ele não disse nada, apenas me abraçou forte e acariciou meu cabelo. Apertei-o contra meu corpo e apoiei minha cabeça em seu ombro.

- Eu já tinha te perdoado antes de você chegar aqui.