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História 20 anos depois - A salvação da Escola Mundial - Capítulo 13


Escrita por: Believe8

Capítulo 16 - Capítulo 13


No carro, Margarida não abriu a boca. Jorge manteve os olhos na direção da rua, mas ela sentia pequenos olhares furtivos vindos do canto do olho dele. Tinha medo de perguntar, por temer ainda mais a resposta.

Entraram na garagem subterrânea do prédio e pegaram o elevador. O prédio em que moravam era alto padrão, e o elevador dava no hall de entrada de cada apartamento. Ela preferia algo menor, mas Jorge insistiu que fosse assim.

A empregada abriu a porta assim que o elevador apitou no andar, o choque sendo visível em seus olhos.

─ Suas visitas o aguardam na sala, seu Jorge. ─ avisou ela, fechando a porta.

─ Obrigada, Gabriela. Pode esperar aqui um momento, logo uma delas irá se retirar. ─ pediu ele, recebendo um aceno afirmativo. O rapaz então se virou para a namorada, que estava aflita ─ Vamos? Tem uma pessoa te esperando.

Sentados no grande sofá de couro preto, uma mulher na faixa dos trinta e um menininho de pouco menos de quatro anos conversavam baixinho. O pequeno tinha cabelos pretos e bagunçados, além de brilhantes olhos azuis.

Ao ver Margarida, seu rostinho se iluminou em um sorriso.

─ Mamãe. ─ o pequeno saltou do sofá, correndo com passinhos rápidos até a modelo, que caiu de joelhos no chão e o acolheu em seus braços, os olhos enchendo de água ─ Senti saudade.

─ A mamãe também estava morrendo de saudade, bebê. ─ garantiu a morena, analisando o seu rostinho ─ Você cresceu bastante, hein?

─ Alguns centímetros desde a sua última visita. ─ contou a visitante no sofá, se levantando. Margarida levantou com o menino no colo e caminhou até ela. A mulher baixou a voz ─ Marga, o que está acontecendo?

─ Eu não sei, Diana, mas acho que eu vou descobrir em breve. ─ sussurrou a dona da casa, temerosa.

─ Um homem estava esperando nós dois no aeroporto e nos trouxe direto para cá. Disse que era a pedido do Jorge. Você não disse que ia contar para ele.

─ Eu não contei. ─ as duas suspiraram, Margarida com o filho enroscado em seu pescoço.

─ Diana, o meu motorista te espera lá embaixo. Ele vai te levar aonde você quiser ir. ─ Jorge se fez presente, a expressão séria.

─ Nós já vamos embora? ─ se chateou a criança.

─ Não, meu príncipe, só a tia Di que vai. Você vai ficar aqui com a mamãe. ─ explicou Margarida.

─ Tchau, meu amor. Logo a titia vem te ver. ─ Diana se despediu do pequeno, lhe dando um beijo na face ─ Tchau, amiga. Boa sorte.

─ Obrigada, Di. E obrigada por trazer ele para mim. ─ agradeceu a morena, ninando o filho enquanto a amiga partia.

Gabriela acompanhou a visita até a porta, esperando que ela entrasse no elevador. Assim que as portas se fecharam, ela fechou a porta principal e se virou para os patrões.

─ Precisam de mais alguma coisa?

─ Por favor, prepare um lanche para nós dois e o menino, Gabriela. Obrigado. ─ orientou o advogado, as mãos no bolso da calça. A mulher assentiu, sumindo pelo corredor até a cozinha. Jorge então se voltou para Margarida e a criança, um sorriso brincando no rosto ─ Olá, Jack. Como vai?

─ Oi. Você é amigo da mamãe? ─ para quase quatro anos, o garoto tinha uma pronuncia perfeita.

─ Sim, eu sou um grande amigo da sua mãe. ─ concordou o homem, se aproximando ─ Você está com fome?

─ Muita. Eu e a tia Di só comemos no avião. Mamãe, você já andou de avião? É muito legal. ─ a atenção da criança logo se desviou para a mãe, que sorriu para ele.

─ Já sim, meu anjo. É realmente muito legal. ─ Margarida puxou o garotinho de novo para os seus braços, e ele se deitou em seu ombro ─ A mamãe estava com tanta saudade de você, Jack.

─ Eu também estava com muita saudade sua, mamãe. ─ ele sorriu, revelando uma pequena covinha ─ Se eu vou ficar aqui com você, então a gente vai dormir aqui?

─ Vão sim, Jack. De agora em diante, você vai dormir nessa casa, junto com a sua mamãe. Porque aqui é a casa dela. ─ Jorge disse, as mãos ainda no bolso.

─ Sabia que eu nunca dormi na casa da mamãe? Eu morava na casa da tia Di, e a mamãe ia me visitar e dormir lá comigo. ─ ao ouvir isso, as lágrimas escorreram pelo rosto de Margarida, que o abraçou novamente.

─ Com licença, seu Jorge, o lanche está na mesa. ─ avisou Gabriela, aparecendo no corredor ─ Onde eu devo colocar as malas do pequeno Jack?

─ No nosso quarto, Gabriela, é o único mobiliado por enquanto. ─ mandou o dono da casa, sério. Ao vê-la sair, virou-se para a namorada ─ Vamos comer?

─ Jorge, o que você está fazendo? ─ perguntou Margarida, parando ao lado dele e sussurrando.

─ Depois que você colocar o nosso filho para dormir, nós conversaremos.

 

~*~

 

─ Os pais do tio Davi são muito legal, sabia mamãe? ─ perguntou Sara, enquanto Valéria a colocava na cama.

─ Eu conheci eles, muito tempo atrás. São pessoas muito bacanas mesmo. ─ concordou a jornalista, cobrindo a pequena com o lençol ─ E a noiva dele? Você conversou com ela?

─ Uhum, ela e o tio Davi levaam eu no paquinho. E ela desenhou comigo. Ela é muito legal, de veidade. Queo binca com ela de novo. ─ Sara sorriu, bocejando ─ Sabe o que eu queia, mamãe?

─ O quê?

─ Que o tio Davi fosse meu papai. Ele é legal, binca comigo, e os cabelos dele são molinhas tamém. ─ contou a menina, bocejando e abraçando o seu ursinho de pelúcia.

─ Eu também queria, princesa, eu também. ─ suspirou Valéria, beijando a sua testa ─ Boa noite, para você e o Teddy.

─ Boa noite, mamãe. ─ os olhinhos se fecharam, indicando que a pequena estava para cair no sono.

Já do lado de fora do quarto, Valéria se escorou na porta e chorou. Esse reencontro não estava lhe fazendo bem, já há tanto tempo que já havia deixado de chorar por Davi todas as noites. E agora, isso estava acontecendo de novo.

Acabou voltando para o quarto da filha, sentando no chão ao lado da cama e encarando o ursinho. Aquela havia sido a forma de Davi de participar do nascimento da filha: um ursinho enviado através de Cirilo, assim que ficou sabendo que Sara havia chegado ao mundo.

─ Que ela seja uma boa madrasta para você, meu anjo. Mesmo que você e ela não saibam disso. Que possam ser amigas. ─ suspirou a jornalista, deitando a cabeça na cama da filha.

Por mais que quisesse muito, não conseguia acreditar que Davi se afastaria da religião judaica, muito menos que confrontaria os pais o bastante para romper o noivado e assumir a filha.

E principalmente, para voltarem a ficar juntos.

 

~*~

 

─ O Leo dormiu. ─ Daniel entrou no quarto, encontrando Carmen encolhida na cama. Como esperado, ela chorava ─ Hey, calma.

Ele deitou ao lado da esposa, a aninhando em seu peito. Enroscaram seus pés, um costume que tinham desde o começo do namoro, e o homem se colocou a afagar os cabelos dela.

─ Eu sou uma péssima mãe, Dan. ─ ela choramingou.

─ Claro que não, meu amor, você é a melhor mãe do mundo.

─ Daniel, eu larguei o nosso filho e corri para o incêndio. Eu não pensei, em momento nenhum, no bebê que eu carregava na minha barriga. E por isso eu perdi ele, Dan.

─ Carmen, o que aconteceu foi uma fatalidade. Você queria salvar a Escola, foi uma atitude nobre da sua parte. Você deixou o Leo seguro nos meus braços, e não se preocupou com o bebê porque acreditou que, na sua barriga, ele estava seguro. Mas não foi bem assim. ─ Daniel continuou afagando o cabelo dela, ele mesmo tentando evitar as lágrimas.

─ Acho que foi um sinal de Deus, Dan. De que não era hora de termos outro filho, de que não estamos prontos.

─ Então vamos fazer por merecê-lo, meu amor. Vamos salvar a escola e provar para Deus que podemos ser ótimos pais, não só para o Leo, mas para quem mais vier. ─ ele sorriu, beijando a testa dela ─ Agora dorme, descansa. Você teve um dia longo.

 

~*~

 

─ Mário, ela está calma? ─ perguntou Marcelina, entrando no quarto e encontrando o marido deitado na cama com a filha no peito.

─ Está sim. Ela já fez as necessidades, só falta mamar e vai capotar. ─ ele fazia caretas, deixando a pequena brincar com os seus dedos.

─ E-eu quero fazer um teste. Você me ajuda? ─ ela pediu, recebendo um aceno afirmativo ─ Eu não tomo o remédio desde a o meio da tarde.

─ O efeito já passou, eu sei. Você não conseguia segurar a Oli na casa do Dan. ─ lembrou Mário, sentando-se e fazendo a filha sentar em sua perna ─ O que isso tem a ver?

─ A Alicia me pediu para fazer uma coisa quando estávamos lá na escola, que foi o que me ajudou a segurar a Olívia. Eu quero tentar de novo.

Ela sentou na cama, cruzando as pernas de “indinho”. Suspirou e fechou os olhos, tentando esvaziar ao máximo a mente. Quando sentiu que havia conseguido, buscou pelos sentimentos certos. A euforia quando descobriu que estava grávida. A emoção quando ela e Mário descobriram que teriam uma filha. A ansiedade gostosa que sentia ao dobrar e lavar cada uma das roupinhas, ao arrumar o quartinho... Como o seu coração se aquecia a cada vez que a filha se mexia em sua barriga, reagindo as suas conversas. Os sonhos que tinha de poder afinal segurar a filha quando nascesse, lhe dando todo o seu amor e afeto.

Conseguiu perceber a mudança em seu corpo, e Mário também. Os ombros ficaram menos rijos, a expressão menos dura, a própria respiração desacelerou. Ela tinha medo de abrir os olhos, mas queria tentar. Quando o fez, encontrou Mário e Olívia a encarando, idênticos, repletos de ansiedade.

Ela estendeu as mãos em silêncio, e foi só o que Olívia precisou. Ela se jogou para os braços da mãe, ávida, e se aconchegou ali. A mais velha estendeu a mão para o marido, indicando a mamadeira ao lado dele. Mário a entregou para a esposa, que começou a alimentar Olívia.

─ Vida... ─ os olhos do veterinário marejaram ─ É a primeira vez que você consegue dar de mamar para ela.

─ É, anjo... E é bom, é muito bom. ─ os olhos da baixinha se encheram de lágrimas ─ É do jeitinho que eu imaginava quando estava grávida dela.

─ E como você está se sentindo, Marce?

─ Nervosa, e em paz ao mesmo tempo. ─ ela sorriu, ainda encarando Olívia ─ Eu não quero que esse momento acabe nunca.

─ Nós vamos dar um jeito de durar para sempre, Marce, eu prometo. ─ Mário secou uma lágrima do rosto dela, aproveitando para fazer um carinho, fazendo-a fechar os olhos.

─ Hoje, quando eu vi a Carmen perder o bebê, alguma coisa baqueou em mim. Eu lembrei do parto, de tudo o que eu e ela enfrentamos juntas, e pensei: eu enfrentei tudo aquilo por ela, para poder ter ela comigo. É conflitante dentro de mim, Mário, mas eu só tenho mais e mais certeza do quanto eu amo a nossa filha, e do quanto eu quero estar com ela, todo o tempo.

─ Mas você resolveu parte desse conflito agora, vida, e tenho certeza que vai conseguir vencer ele muitas outras vezes. Eu estou muito orgulhoso de você, vida. ─ garantiu Mário, deitando na cama e ficando admirando as duas coisas mais importantes da sua vida, em uma paz livre de remédios.

 

~*~

 

Margarida estava deitada na enorme cama de casal, Jack agarrado no decote de sua camisola, dormindo tranquilo. Estava tão feliz, que honestamente não conseguia parar de chorar. Se lembrava de quando ele havia nascido, que vivia naquele cubículo com Diana, e não tinha sequer um berço para colocar o garoto. Ele dormia com ela na cama de solteiro, os dois agarradinhos após ele dormir mamando, agarrado à ela daquele mesmo jeito.

Na poltrona do canto do quarto, Jorge observava a cena tentando não se emocionar. Achava apaixonante o olhar que a namorada dirigia àquela criança, fruto do amor dos dois. Ou pelo menos, de seu amor por ela.

E por mais que ansiasse pela conversa que teriam, ficava se contendo por não querer interromper o momento. Aquela talvez fosse a pintura mais bonita que alguém poderia fazer, e era só dele. Que acervo particular!

─ Eu acho que nós precisamos conversar. ─ quem quebrou o silêncio foi ela, ainda encarando o filho ─ Mas não aqui, porque ele pode acordar.

─ Vamos para a sala, pode ser? ─ Jorge levantou, observando ela fazer o mesmo, porém com muito mais cuidado. Soltou a mãozinha gordinha de sua roupa, ajeitou o lençol nele, beijou o seu rostinho diversas vezes.

Era maravilhoso ver Margarida como mãe.

Na sala, sentaram um em cada sofá, se encarando em silêncio. A modelo mordia o lábio inferior, abraçada aos joelhos, enquanto Jorge batia o pé nervosamente no chão.

─ Então... Como você descobriu sobre o Jack? ─ perguntou a mulher por fim, cansada de enrolar. Jorge riu baixinho, negando com a cabeça.

─ Eu estranhava a frequência das duas idas para Boston, mas nunca tinha imaginado nada. Até que um dia cheguei em casa mais cedo, e flagrei você conversando por vídeo com o Jack e a Diana. Puxei os seus extratos bancários, somei dois e dois, e entendi tudo. ─ ele explicou calmamente.

─ Então você realmente nunca olhou o extrato do meu cartão? Do banco? ─ ele negou ─ Não encontrou a bombinha de leite que eu usei por meses, quando voltei, ou mexeu nas compras que eu fazia?

─ Eu te disse que não iria mexer em nada que fosse seu, especialmente dentro daquele quarto. Eu posso ter muitos defeitos, Margarida, mas eu sou um homem de palavra.

─ Há quanto tempo você sabe?

─ Logo que eu descobri, pedi demissão e resolvi que voltaríamos para o Brasil. ─ ela arregalou os olhos, chocada, e depois a sua expressão virou de ódio ─ Achei que era a única forma de você me contar a verdade sobre ele.

─ E por que você queria a verdade sobre ele, Jorge?

─ Porque ele é meu filho, Margarida. Quer dizer, eu pelo menos acho que é. Ou tem alguma chance de...

─ Não tem chance nenhuma de ele ser filho do Ramon, e você sabe disso. ─ ela se irritou, vendo-o desviar os olhos ─ Você nunca deixou eu me explicar, Jorge.

─ Para mim tudo ficou muito óbvio naquela época, Margarida. Você estava comigo porque não tinha aonde cair morta ou o que comer. ─ ele foi enfático, e ela perdeu a paciência de vez.

─ Você se acha o dono da verdade, não é? E quer saber: é por isso que eu deixei o Jack bem longe de você. ─ ela se levantou, nervosa.

─ Você não tinha o direito de ter escondido o meu filho de mim, Margarida. ─ Jorge rebateu, também se levantando.

─ Você tinha me expulsado da sua casa, Jorge, você queria que eu fizesse o quê? ─ ele se encolheu diante disso, voltando a se sentar. A morena respirou fundo, tentando se acalmar ─ Se você deixar, eu vou te explicar tudo.

─ Eu não quero as suas desculpas.

─ E nem eu penso que você as mereça. Mas você quer uma explicação para tudo o que aconteceu, e isso eu posso te dar. ─ ela avisou, voltando a se sentar no sofá ─ Posso?

─ Por favor.

Ela esfregou as mãos, tentando organizar os pensamentos. Nesse meio tempo, Jorge ficou em silêncio, à espera do que ela diria.

─ Como você já sabe, quando nós nos encontramos em Nova York, eu estava na pior. Eu havia ido a trabalho, como modelo, e quando cheguei lá as coisas não foram como o esperado. Perdi o quartinho em que dormia, comecei a dormir em albergues, tinha apenas um armário na estação de metrô, onde eu guardava minhas coisas. Fazia bicos aqui e ali, para conseguir comer.

─ Até aí eu já conheço a história, Margarida. Segue em frente. ─ mandou Jorge, escondendo o rosto nas mãos.

─ Foi nessa época que eu conheci o Ramon. Ele me conseguiu um emprego de garçonete em uma lanchonete, e nós começamos a sair. E então eu encontrei você no Central Park naquela tarde, quando eu estava indo encontrar o Ramon. E você estava tão... Diferente. Mais gentil, amigo, carinhoso. Eu fiquei balançada por você, e você sabe que é verdade.

─ Mas continuou saindo com o porto-riquenho.

─ Eu jurava que você só estava se divertindo comigo, Jorge, e você também achou que seria só isso à princípio. Quando você descobriu a minha situação e me convidou para morar com você, eu quis sim me aproveitar de você e da sua bondade. Eu estava vivendo no bom e no melhor, sem gastar nada, sendo tratada como uma princesa. ─ conforme ela ia falando, Jorge ia se encolhendo cada vez mais ─ E o plano era ir aproveitando até eu conseguir o dinheiro para voltar para o Brasil, e trazer o Ramon junto, mas... Mas eu me apaixonei por você, Jorge.

Ele ergueu os olhos pois ouviu o choro na voz dela ao contar isso. Ela encarava as próprias mãos, com um olhar distante.

─ Depois disso, eu ainda vi o Ramon algumas vezes, mas desde muito antes de eu dormir com você pela primeira vez, eu não tive mais nenhum contato íntimo com ele. Honestamente, quando nós ficamos realmente juntos, pela primeira vez, a minha história com o Ramon já era passado, mas eu não tinha tido coragem de colocar um ponto final. ─ um pequeno sorriso brincou no rosto dela ─ Nós concebemos o Jack naquela noite, a primeira em que ficamos juntos. Eu sempre tive certeza disso.

Ela se levantou, indo até a janela de vidro que pegava a parede inteira, encarando São Paulo de cima. O advogado permaneceu sentado, afoito por ouvir o que mais ela tinha para dizer.

─ Eu descobri que estava grávida naquela manhã, sabe? Você me perguntou o que eu tinha ido fazer na clínica comunitária pela manhã, e eu menti sobre a gripe. Queria te fazer uma surpresa, mas o Ramon foi mais rápido. Ele me encontrou na entrada do prédio, e isso eu te garanto, foi o mais próximo da nossa casa que ele chegou. Nós nunca nos encontramos no apartamento, ou transamos na nossa cama, como ele te disse. Ele queria que eu roubasse algo do seu apartamento, para vender e poder trazer ele para o Brasil. Ele já tinha sumido com o dinheiro que eu tinha conseguido juntar, e queria mais. Quando eu me neguei, e coloquei um ponto final em tudo, ele fez exatamente o que eu temia: foi até você e te falou um milhão de barbáries; e você, é claro, acreditou.

─ Por que você não me contou isso na época, Margarida?

─ E você queria me ouvir, Jorge? Chegou no apartamento já gritando comigo, pegando as minhas roupas e jogando no chão. Mandou eu sumir da sua vida e me chamou de golpista. ─ ela cuspiu as palavras da mesma forma que ele havia feito na ocasião.

─ Tudo seria diferente se eu soubesse que você estava grávida. ─ ele tentou prometer, mas ela negou.

─ Não seria, Jorge, seria pior. Você me acusaria de golpe, diria que o meu filho era do Ramon. O Jack mal teria nascido e já estaria no meio de batalhas judiciais, dessas que você sempre se envolve. Não, não era isso o que eu queria para ele. Eu conhecia a Diana da época em que fomos modelos, mas ela deu mais sorte do que eu. Conseguiu um emprego em Boston, um apartamento razoável. Me deu um quarto para ficar com o Jack, me ajudou a conseguir um emprego em outra lanchonete. Estava comigo quando eu dei à luz no meio de uma tempestade de neve, sem chances de chegar ao hospital. E então, quando aquele brutamontes apareceu atrás de mim, a mando seu, ela cuidou do Jack. Manteve ele seguro e protegido.

─ Você podia ter me contado ali, Margarida, você sabia que eu aceitaria qualquer coisa.

─ Mas ele não é qualquer coisa, Jorge. Ele é o nosso filho, é um ser humano. ─ a voz de Margarida se elevou pelo choro e pela decepção ─ Você disse que não se importava com o que eu fizesse, que você só não podia viver sem mim, longe de mim. Eu quis ir embora na hora, mas então eu pensei nele. Em como era difícil comprar comida, comprar as roupas... Eu fiquei com você pelo meu filho, Jorge, para poder cuidar dele. Então, se quiser falar que eu estou com você por interesse, pode encher a boca. Mas eu não me arrependo disso nem um minuto.

─ E qual era o seu plano, trazendo o nosso filho para o Brasil? ─ mesmo em meio a discussão, um calorzinho gostoso envolveu o coração de Margarida ao ouvi-lo falar “nosso filho”.

─ Meu plano segue o mesmo: eu vou para o sítio da minha mãe. Os negócios estão indo bem, eu posso trabalhar com ela, e morar lá com o Jack. Vou parar de sugar o seu dinheiro assim que essa situação da Escola Mundial estiver resolvida. ─ a reação dele ao ouvir aquilo foi um pulo do sofá, irritado.

─ Você não vai levar o meu filho para longe de mim de novo, eu não vou deixar. ─ ele se aproximou, e ela se arrepiou. Ele ergueu as mãos, como se fosse segurar os seus braços, mas parou no ar, arfando ─ Eu falei sério, Margarida, eu não suporto ficar longe de você. E agora, não suporto a ideia de ficar longe do Jack. Que você não me ame, não me queira, eu não ligo. Mas não vá embora com ele, eu te imploro.

─ Você realmente acredita que eu não te amo? ─ ela negou com a cabeça, lágrimas escorrendo sem perdão ─ Às vezes você é cego demais, Jorge.

─ Mamãe? ─ se viraram depressa, vendo Jack parado no meio do corredor ─ Tá tudo bem?

─ Está sim, carinha, eu e a mamãe só estávamos conversando. ─ Jorge caminhou depressa até o filho, o pegando no colo ─ Que tal o papai te colocar na cama?

Os olhinhos azuis de arregalaram depressa, despertando, externando toda a surpresa daquele pequenino. Ele encarou Jorge, e então Margarida, voltando para o pai de novo.

─ Você é o meu papai?

─ Você não percebeu que os nossos olhos são iguais? ─ o homem sorriu orgulhoso, admirando o sorriso do filho.

─ Isso é verdade, mamãe? ─ Jack perguntou para Margarida, que concordou com um sorriso vacilante ─ Agora eu tenho um papai e uma mamãe! E eu vou morar com eles dois.

─ Vai, filho. Agora, eu, você e o papai vamos morar juntos. ─ concordou a modelo, caminhando até os dois.

─ Agora nós vamos ser uma família de verdade, ok, Jack? Eu, você e a mamãe. Nada vai separar nós três, eu te prometo. ─ Jorge beijou a cabeça do garoto, que a deitou em seu ombro ─ Melhor voltarmos para a cama, hã?

─ Só se a mamãe vier junto.

─ A mamãe não vai para lugar nenhum longe de você, meu amor, nunca mais. Eu te prometo. ─ eles começaram a caminhar para o quarto, quando Jorge a abraçou com o braço livre.

Viviam uma realidade estranha, Jorge e Margarida. Marcada por um carinho genuíno, mas muito machucado. Não era raro Jorge disparar comentários ácidos para ela, mas também estava sempre buscando a sua mão, o seu abraço, o seu corpo. Havia lhe prometido uma vez, após ela voltar para casa, que nunca encostaria nela de forma agressiva, ou sem a sua autorização. Ela sabia que, mesmo quando ele a abraçava ou segurava a sua mão, era só ela demonstrar que não estava feliz e ele se afastaria.

Mas ela sempre retribuía, porque no fundo, esperava que ele entendesse que o seu carinho, amor e afeto eram verdadeiros, e não interesse e aparência como ele imaginava em sua cabeça.

Se deitaram um de cada lado do menino, que dormiu agarradinho com eles. Margarida se sentia plena, feliz, realizada. Mas ao mesmo tempo, sentia medo.

Porque, naquele momento, quando olhava nos olhos de Jorge, não sabia dizer o que havia ali.


Notas Finais


VOCÊS TEM NOÇÃO DO QUE SÃO 20 COMENTÁRIOS EM 13 HORAS? TEM? GENTE DO CÉU, VOCÊS SÃO INCRÍVEIS! Eu escrevo fanfics há quase 10 anos, e poucas vezes vi leitores tão vorazes, carinhosos e participativos quanto vocês! Isso é maravilhoso!
Quero deixar aqui registrado um grande abraço de urso para a Clara (paulicia7) por entender minhas referências sempre (adoro leitoras assim), e um beijo muito especial para a Juhbert, que me fez chorar e me emocionar MUITO com o seu comentário. Digo novamente, ele foi muito especial para mim, e estará guardado para sempre no coração!
Graças a pedidos, o próximo bônus (e capítulo postado) será Jorge e Margarida. Já estou terminando de escrever, deve sair entre hoje ou amanhã!
Agora sobre o capítulo: CHAMA OS BOMBEIROS QUE A BAGAÇA PEGOU FOGO! Espero que estejam todas vivas e vivos, ok? Até o próximo!
Beijos ;*


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