História 20 Days - Meet Me and My Shit Life

Abro os olhos devagar avistando o teto branco desgastado. Sento na cama com molas enferrujadas e barulhentas, me espreguiço. Coloco meu chinelo branco e sem graça e caminho até o "guarda roupa" que eu tinha no 'quarto dos sonhos'. Eu divido o quarto com a Scarlet, que foi banida para a cela solitária pois brigou com a tiazinha da cantina. Bem a Scar é a única com quem eu mais converso o dia inteiro. Mais ela não é minha melhor amiga. Minha melhor amiga é a Bunny, somos amigas de infância, ela se tornou enfermeira da clinica/reformatório, pra ficar perto de mim. Ela não pode ficar toda hora aqui mais ela vem o máximo que ela consegue. Infelizmente ela não é a minha "enfermeira do mês". Nenhum fica com o trabalho. Não aguentam o mau humor.

 Então eu tenho o quarto só pra mim. Não era aquelas coisas que aquelas princesinhas mimadas e chatas tem. Aqui é o meu reino, minhas regras. Eu acho que eu sou a paciente mais "velha" daqui. A que ficou mais tempo. 17 anos dentro desse inferno. Pois é, conheçam a merda que eu chamo de vida.

-OLÁ GARYT!-cumprimento o segurança diário, pela janelinha da porta, que só resmunga um oi forçado. -Idiota!- grito e ele bate na porta com o pé.

-Se arrume logo, ta na hora do café da manhã princesa!- ele fecha a janela e eu reviro os olhos.

Vou até o lado da Scarlet do quarto e ligo o rádio dela que passava a mesma música todos os dias. (Suicide, James Arthur). Vou dançando até o guarda roupa, abro as pequenas portas de madeira velha, que dão aquela rangida irritantemente irritante. Fico encarando as "muitas roupas" que tinha lá dentro. Não é todo mundo que tem o prestigio de ter uma vadia como irmã. Coloco meu velho amigo, vulgo moletom grande que parecia um vestido. Tiro o short do pijama que usava e o jogo em algum lugar pelo quarto. Prendo meu cabelo em um coque desajeitado, e coloco minha pantufa velha de ursinhos.

Bato na porta em sinal que estou pronta. Gary abre a mesma e me revista.

-É sério que você ainda faz isso? Depois desses anos todos?- ele me empurra em direção ao corredor que dava pro lugar onde comíamos. Ando junto com o resto dos zumbis que andavam com as costas corcundas e com caras de bem, doidos. Vou dando pulinhos até o refeitório, pego a fila da comida e depois uma bandeja.

Vejo as coisas "deliciosas" do dia. Pego uma maçã, cereal com leite, e um copo de suco de laranja azedo, como de costume. Vou até a que era considerada a minha mesa, a ultima perto da parede onde ninguém mais sentava além de mim. Percebo os olhares em cima de mim e reviro os olhos. Era normal as pessoas aqui sentirem medo de mim. Pois pra eles eu sou a menina que matou a família. Já falaram tantas coisas absurdas sobre mim que só dando risada. Sento na mesa, cruzo as pernas no banco e dou um colherada no cereal, observando o refeitório em uma quinta feira. As pessoas, doidos, comiam e falavam sozinhas. Brincavam com seus amigos imaginários, com a comida, com seus considerados amigos de refeição. Fico observando duas mulheres brigando quando sou interrompida por um susto.

-OI!-Bunny senta com as duas mãos na mesa, me olhando.

-Bom dia..-tomo um gole do suco -Pra que a animação!?!-sorrio

-Porque? Hoje faltam exatamente 5 meses pra você sair daqui! Pro seu aniversário de 18 aninhos! Para nós irmos morar juntas! E também hoje é dia da chegada..-reviro os olhos.

Dia da chegada, era o dia em que chegavam ou os seus novos enfermeiros, ou novos pacientes. Hoje tínhamos o direito de ficar no quarto de quem quisermos por 2 horas. Pois é.. Eu mudava de enfermeiro todo mês, eles não aguentam meu mau humor, ou tem vezes que eu ataco eles. Por serem extremamente bonitos, ou extremamente chatos! Depende da situação!

-E você acha que vai aparecer o que de bom hoje?- ela ri pegando minha maçã e dando lhe uma mordida.

-Sei lá vai que aparece um enfermeiro bonito ou até um paciente, o que eu acho meio difícil mais vai que..- rio olhando os seguranças levando as mulheres que brigavam pra fora.

-E o que eu tenho a ver com isso ?- ela revira os olhos

-Você sabe..- ela toma um gole do meu suco e faz careta. Solto minha gargalhada histérica. -Vou estar no seu quarto daqui a meia hora pra te arrumar.. O dia da chegada começa 1 hora então vai pro seu quarto e separa coisas bonitinhas, apesar que eu acho muito difícil deixar você bonita!-ela diz levantando e mandando beijo

-Vai se foder vadia..- digo um pouco alto de mais, recebendo muitos olhares, principalmente os reprovadores dos seguranças

FODA-SE. Sorrio e saio indo em direção ao meu quarto. Esbarro em alguém e olho pra trás vendo um enfermeiro. Novo provavelmente, achei que começava só 1 hora. Paro na frente de Gary que fica de braços cruzados me olhando.

-O que quer?-ele pergunta me olhando com aqueles olhos cor de bosta.

-Comprar carne ai dentro.. -ele bufa e abre a porta

-Cuidado senão eu te deixo sem comer..- entro e ele fecha a porta

-Que medo.- digo irônica.

Deito na cama e fico olhando o teto sem graça.

Como será que esta tudo lá fora? Nas ruas frias de inverno em Vancouver. Não sou nativa aqui no Canadá, nasci em Birmingham na Inglaterra. Tenho um sotaque predominante.  Lembro de quando eu era pequena, caminhava pelas ruas movimentadas por aqueles ônibus de dois andares vermelhos. Eu era pequena, tinha 2 anos praticamente andava pelas ruas com meus pais. Eu era feliz. Depois que tive que me mudar pro Canadá, muita coisa mudou. Perdi meus pais com 4 e fui morar com minha vó, depois que tudo aconteceu eu vim pra cá com 6 anos. Ótimo para uma criança passar sua infância em uma clinica.

Sento na cama e olho a tatuagem no minha costela, que fiz aqui dentro com 15 anos, Espoir pour l'espoir, está em francês. A segunda língua daqui  do Canadá, quer dizer 'Esperança para os sem esperanças'. Tenho outra no pulso esquerdo escrito Fuck You, fiz com 15 também. Outra que dá a volta na coxa escrita 'Nothing Lasts Forever' que quer dizer 'Nada dura pra sempre'. Tenho bastantes tatuagens mais nada muito grande. São todas meio disfarçadas. Minha favorita é a do pescoço é um mini coração escrito em baixo 'I trust in myself' 'Eu confio em mim mesma'. Todas elas foram feitas no Dia do Livre, para os pacientes de cima é claro, é o dia em que você tem direito de pedir alguma coisa. Pedi um tatuador e ele era bonitinho até. Bem quando eu digo pacientes de baixo são os REALMENTE loucos. Tipo aqueles bem birutas mesmo. Eles ficam trancados lá em baixo. Quando você faz alguma coisa de ruim, você vai lá pra baixo, em uma cela aparte. Com os doidos te olhando. Muitos não voltam, pois ficam doidos também. Eu já fui e é horrível! Mais eu voltei pois eu já sou meio doida, não queria ficar parecendo eles.

Desperto de meus pensamentos quando ouço a porta sendo aberta.

-VACA, EU PEDI PRA VOCÊ SEPARAR COISINHAS! -Bunny, seu nome mesmo era Jane mais ela parecia um coelho então ficou Bunny.

-Me distrai...- ela sorri cínica e me puxa da cama

-Eu consegui me livrar do trabalho por 2 horas pra ficar com você! -ela bate palminhas e eu sorrio -Trouxe umas roupas, e trouxe isso!-ela me mostra o CD do One Direction! Na verdade era um mix com as nossas músicas favoritas deles. Eram a nossa banda favorita, bem não temos acesso a muita música e essa é a única que nos mantém vivas com música até hoje. Pulo em seu pescoço a abraçando e logo coloco o CD no rádio da Scarlet. Começa a tocar They Don't Know About Us!

-But I Say they don't know what they talk talk talking about!- cantamos e logo ouvimos o chute na porta do Gary

-CHATO!-grito

Ela trouxe uma roupa que eu senti muita falta de usar! Ela conseguiu me convencer a passar batom e a pintar minha unha. E ela ainda trouxe meu perfume favorito. Vê se ela não é abençoada.

.....

Eu e Bunny estávamos no grande salão tomando Coca-Cola que faz acho que um ano que eu não tomo. Pois é um inferno. Eu observava as pessoas ficarem felizes por terem novos enfermeiros, porque? Eles só serviriam para te vigiar e na minha opinião eu já era vigiada demais ali.

-Aquele parece um esquilo..-aponto para um novo "morador" e ela ri

-Olha aquele ali! -ela diz apontando para um menino de óculos bonito, confesso. Era o mesmo que eu havia trombado hoje mais cedo.

-Vai lá atacante!-ela nega e eu empurro ela -Vai logo! -ela vai até ele e os dois começam a conversar. Se combinam.

Caminho até o lugar com copinhos de Coca, quando me viro acabo trombando com alguém, derrubando a tudo em mim.

-PORRA PRESTA ATENÇÃO! -grito chamando atenção das pessoas do local. Vejo a tal de Liz, com quem trombei, na minha frente com as mãos na cara.

-Não me bate por favor! -rio irônica e saio dali pisando duro. Vai tomar no cú! Presta atenção nessa merda um pouco. Pego meu roupão, que Bunny me deu hoje, meu pijama e saio indo em direção ao banheiro compartilhado das mulheres. Estava vazio pelo menos.

Deixei minhas coisas em uma cadeira, do lado do chuveiro. Ligo o chuveiro e deixo a água molhar meu corpo e fui relaxando tirando o melado de refrigerante. Ouço um barulho e desligo o chuveiro.

-Alguém? -me enrolo na toalha

-Desculpe, não queria assustar ..- um menino sai de trás da porta. Um menino muito bonito na verdade e um detalhe muito interessante e importante de se acrescentar é definitivamente o sotaque britânico dele, igual ao meu puxado. 

-É.. Aqui é o das meninas.- ele ri

-Eu sei..- coloco meu roupão

Ele tinha cabelo meio que loiros ou castanho beem claro, seus olhos eram mel, e seu sorriso era extremamente lindo. Ele era lindo por inteiro.

-Então você simplesmente sai entrando no banheiro feminino do nada.. -me troco.

-Achei que era o dos homens..- rio

-Então não sabe ler? -caminho até a porta que tinha o desenho de uma menina escrito "Banheiro Feminino".

-Sou analfabeto.. -rio e fico o observando por um momento. -Sou Matthew..-ele chega mais perto

-Legal.. -ele sorri, caminho até a saída -Sou Kylie Williams ..- saio indo até meu quarto

Legal te conhecer Matthew..