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História 25 Dias De Escrita - A bailarina


Escrita por: Sweetrange

Notas do Autor


"Dia 2 - Você conheceu a sua alma gêmea"

Capítulo 2 - A bailarina


Fanfic / Fanfiction 25 Dias De Escrita - A bailarina

- Até mais, mãe. Daqui a pouco desço – eu disse, já correndo para fora, pronta para subir as escadas para ir até a parte de cima da casa.

- Tudo bem – ela suspirou, desistindo de mim – Mas vai lavar a louça quando voltar!

Fingindo que não havia escutado, continuei a subir. Eram cerca de vinte e cinco degraus, e eu já estava na parte de cima da casa. Desde que nossa morada havia sido reformada, aquele era meu lugar favorito. Afinal, tinha uma parte aberta onde a brisa batia em meu rosto, me dando até mesmo uma sensação de liberdade, como um pássaro. Além disso, o sol batia em minha pele, me deixando aquecida, assim como o chão, onde eu pisava descalça, apreciando o clima. Era definitivamente meu lugar favorito na casa inteira.

Assim que cheguei até lá, fechei os olhos e estendi os braços, apreciando um pouco o vento. Coloquei uma música no celular, algo que combinasse com o momento: uma música calma e agradável, que facilmente te remetia à sol e ar fresco, e coloquei o celular ao meu lado, depois deitando no chão. Como meus cachorros não iam até lá, o chão era limpo, então eu deitava ali sempre. Só levantei depois que a música acabou, e uma mais agitada começou. Uma música na qual eu estava simplesmente viciada esses dias, o que me impediu de trocá-la para outra calma. Era daquelas que também combinavam com esse clima, mas de uma forma mais agitada, o que fez com que eu me levantasse imediatamente. Como o esperado, comecei a dançar. Mesmo que essa fosse a parte de cima da casa, ninguém nunca ia lá. Além do mais, não tínhamos vizinhos, o que me deixava totalmente livre. Eu dançava de qualquer jeito, de forma desengonçada. Eu não sabia a coreografia ou algo do tipo, e nem pretendia aprender, era apenas por diversão.

Quando a música enfim acabou, eu sorria satisfeita. Era verão, minha época favorita do ano: agradável, quentinha, e eu estava de férias. Eu podia pedir coisa melhor?

Finalmente decidi dar uma olhada por cima das outras casas, como eu sempre fazia. Não morava ninguém por lá, as casas eram todas vazias. Foi quando eu vi, uma casa depois da minha, uma garota de cabelos negros, olhando para mim. Ou melhor, parecia me encarar. Além do mais, ela tinha um sorriso torto em seu rosto.

Na mesma hora, abaixei e fiquei atrás do muro, que era extremamente baixo, que protegia quem fosse até ali de cair em qualquer lugar.

Nós não tínhamos vizinhos. Antes.

Eu esquecia com frequência que agora uma família morava uma casa depois da nossa. Apesar de minha mãe as vezes falar com a nova dona, eu nunca tinha ido lá, e nem pretendia ir. Eles eram novos, então eles que deveriam falar conosco. No entanto, agora, mais do que nunca, eu desejava que nenhum deles viesse falar com qualquer membro da nossa família novamente. Eu podia sentir minhas bochechas tão quentes, que poderia facilmente substituir o sol.

Eu não costumava olhar para os lados antes de dançar. Eu não sabia há quanto tempo ela estava ali, me olhando, mas com minha sorte provavelmente ela estava ali desde o começo. Vendo meus movimentos destrambelhados e espalhafatosos, movimentos rudes que nem sequer seguiam o ritmo da música direito.

Depois do que pareceram horas, eu levantei um pouco o rosto, e pude ver que a garota não estava mais me olhando do terraço de sua casa. Então, aproveitei a chance e corri o mais rápido que consegui para a parte de baixo da casa novamente. Me encostei no muro da parte de fora e na mesma hora todas as coisas que já fiz lá em cima vieram à tona em minha mente. E se ela tivesse visto mais do que só aquilo? Eu dançava com frequência, fingia interpretar e até mesmo já tentei praticar yoga, o que resultou em uma queda no chão, enquanto tentava dominar a pose do coqueiro. O que obviamente não deu certo, a menos que meu objetivo fosse o coqueiro enquanto está sendo cortado ou derrubado.

- Filha? – Minha mãe me chamou, após me ver da janela.

- Sim, mãe?

- A louça.

Era verdade. Apesar de estar ainda morrendo de vergonha e cogitando nunca mais ir até a parte de cima, eu não podia esquecer da promessa que havia feito à minha mãe: eu sempre lavava a louça quando descia, como um trato. Então, fui até lá, decidida a não contar nada para minha mãe do que havia acontecido. Ela era incrível, mas também adorava me provocar, então ela com certeza iria usar essa história para sempre.

Então, a semana passou. Como eu estava de férias, claro que passou voando. Em duas semanas eu estaria de volta às aulas. Eu não sabia mais qual pensamento me aterrorizava: o fato de alguém ter me visto dançando, ou a volta às aulas se aproximando. Quando eu estava quase decidindo, a campainha tocou. Coloquei um chinelo e fui até o portão.

- Sim? – Perguntei, parecendo até mesmo entediada, quando vi quem era: a garota do sorriso torto.

- Boa tarde – ela sorriu, sendo simpática. Porém, eu só conseguia ver aquele sorriso de uma forma, que era sarcasticamente – Minha mãe pediu para perguntar se vocês não tem um pouco de gelo sobrando?

- Gelo? – Indaguei, um tanto confusa – É bem fácil de fazer, mas nós temos, sim...

- É que minha mãe já havia usado todo o gelo, mas precisávamos de algumas pedrinhas a mais – ela sorriu, explicando.

- Certo... Entre...

Mesmo sem muita vontade, a convidei para entrar para pegar o gelo. Afinal, se isso chegasse aos ouvidos de minha mãe, eu escutaria ela brigando comigo pelo resto da vida. “Onde já se viu, deixar uma pessoa na porta da sua casa, plantada? Pelo menos seja simpática com os vizinhos!” e variações disso, eu com certeza os escutaria pelo resto do ano.

Ela entrou, pela primeira vez parecendo um pouco desconfortável. Mais do que isso, seu rosto parecia se contorcer um pouco de dor. Ao olhar para baixo, entendi o motivo. Afinal, a garota estava mancando, e haviam três degraus para chegar até a porta de nossa sala. Imediatamente me coloquei ao seu lado, fazendo com que ela se apoiasse em meu ombro, para facilitar o trajeto. Eu não era forte o suficiente para carregar ela no colo, é claro, mas pelo menos isso iria ajudar um pouco. A ajudei a sentar no sofá, enquanto fui pegar gelo. Quando voltei, já havia ajeitado as pedrinhas de gelo em um pano, e entreguei à ela, que sorriu em troca.

- Obrigada – ela disse, enquanto colocava o gelo em cima de seu tornozelo.

- Deve ter sido uma queda feia – comentei.

- Um pouco – ela admitiu, enquanto seu rosto se contorcia um pouco pelo contato do gelo no machucado – Caí do palco.

- Palco?

- Eu sou bailarina – ela sorriu, e então eu quase me afundei no sofá de vergonha. Eu havia passado vergonha, dançando mal, na frente de uma bailarina – Estava ensaiando, mas girei um pouco demais e me desequilibrei. Quando vi, já estava no chão.

- E ninguém lá te socorreu? Digo, eles não tinham sequer uma pedrinha de gelo?

- Não... Na verdade, eles não sabem que eu me machuquei.

- Como não? – Indaguei, um pouco surpresa.

- Estávamos no final do ensaio. Consegui durar o suficiente para fazer um último giro. Depois disso, fomos dispensados.

- Você caiu, fez isso e ainda dançou mais? – Eu enfatizava cada vez mais palavras, indignada.

- A dor não é nada – ela deu de ombros.

- Nada? Você está ai, sofrendo, contorcendo seu rosto de dor, e a dor não é nada? Me poupe.

Em seguida, sem dizer mais nada, e sem dar tempo de ela dizer mais alguma coisa também, levantei e fui até a estante da sala, onde minha mãe deixava uma caixinha cheia de remédios e bandagens. Peguei a caixinha inteira, um pouco de água, e carreguei até o sofá comigo, onde a garota ainda aliviava um pouco sua dor.

- Estique a perna – ordenei, ao que ela apenas me olhou, parecendo descrente – Estique a perna, por favor – pedi novamente, agora de forma gentil, ao que ela enfim obedeceu.

Quando ela esticou a perna, passei um gel que minha mãe tinha, e que sempre passava na gente quando nos machucávamos. Eu não sabia o nome, já que há muito tempo ela havia tirado o rótulo da embalagem, mas sabia que era eficaz. Logo em seguida, enfaixei seu tornozelo. Eu não era tão boa assim nisso, mas havia ficado satisfeita com o resultado. A garota pareceu pensar assim também, analisando o tornozelo enfaixado.

- Você é boa nisso – ela comentou, me devolvendo o pano, que agora estava só molhado.

- Não, não sou – eu ri, achando graça no elogio.

- É boa o suficiente, pelo menos – ela riu também.

Depois disso, organizei as coisas na caixa novamente, exatamente do jeito como estava antes de eu mexer, e guardei na estante novamente. Quando voltei ao meu lugar do sofá, ambas ficamos em silêncio por um bom tempo ainda. Eu não tinha nenhum assunto em comum com ela, que eu soubesse, então simplesmente não sabia o que dizer. Antes que eu conseguisse pensar em qualquer coisa, ela quem começou:

- Desculpe – ela encolheu os ombros, agora me deixando realmente confusa.

- Pelo que?

- Pelo outro dia... Eu não devia estar olhando, mas você parecia estar se divertindo...

Por um momento eu havia esquecido completamente que ela havia me visto dançando aleatoriamente na parte de cima de minha casa, e por isso estava confusa. De repente, a vergonha me consumiu por completo, tanto que eu nem conseguia mais formular uma frase direito em minha mente, quanto mais pronunciar alguma coisa.

- N-não tem p-problema... Eu n-não devia dançar assim por a-aí.

- Não é por aí. É sua casa. Eu não tinha exatamente o direito. Mas era divertido te assistir.

- Eu sei – abaixei a cabeça, desistindo por completo – Eu danço horrivelmente mal...

- Não é por isso que eu achei divertido – ela riu – Eu disse que é divertido porque você parecia se divertir. Faz anos que eu não sei o que é dançar de forma livre, por pura diversão. Eu senti como se estivesse junto com você – ela sorriu de forma amigável, mas em instantes seu rosto foi se apagando e suas bochechas ficando rosadas – Desculpe... Eu pareço uma avó falando, não é?

- Parece – respondi, enquanto seus olhos se arregalaram um pouco e seu rosto corou ainda mais. Ri um pouco, mas em seguida disse – É brincadeira.

 Assim que disse isso, ela me encarou um pouco ainda, talvez se certificando de que eu estava mesmo brincando, enquanto eu estava rindo. Depois de alguns segundos, ela começou a rir também e deu um leve tapa em meu braço.

- Ei! – Reclamei, mas ainda rindo. Nem sequer havia doído, na verdade.

- Isso é por me enganar! – Ela riu também.

Depois disso, conversamos ainda mais um pouco. Descobri que ela tinha aulas de balé desde os dez anos de idade, o que totalizava oito anos de balé, até hoje. Ela treinava muito, quase todos os dias, e se esforçava fora das aulas também. Sua mãe sempre sonhou em ter uma filha bailarina, e de uma forma ou outra estava realizando esse sonho.

Eu não havia comentado nada, é claro, mas eu achava isso um pouco triste. Afinal, ninguém nunca realmente perguntou se ela tinha vontade de ser bailarina. Ela parecia adorar, sim, mas não foi uma opção realmente dela. Sua mãe parecia cobrar bastante dela. Eu deduzi isso por uma ou duas coisas que ela havia deixado escapar durante a conversa.

Olhei no relógio e então percebi que estávamos a duas horas conversando. Nossa conversa não havia se prendido ao balé, já que ela também havia perguntado o que eu gostava de fazer, e coisas do tipo. Mas quando ambas olharam no relógio, ela me disse que tinha que voltar para casa. Então, a ajudei a chegar até o portão de sua própria casa, fazendo com que ela se apoiasse em meu ombro durante todo o trajeto. Podia não ser muito, mas isso evitaria que ela forçasse o pé, pelo menos por alguns minutos. Nos despedimos, e eu já não pensava mais em como havia passado vergonha dançando. Ela havia achado legal, afinal. Disse que parecia uma dança livre. Ri achando graça de como ela tentara amenizar a situação para que eu não ficasse constrangida, e achando legal da parte dela.

Conversamos mais durante os próximos dias, e acabamos ficando bem próximas. Era pouco tempo, mas eu já considerava parte da minha rotina conversar com ela. Depois disso, passamos semanas sem nos ver. Nos vimos por pura coincidência, enquanto ela andava até a padaria, e eu também.

- EI! – exclamei, encostando em suas costas, fazendo com que ela desse um pulo, assustada. No entanto, assim que olhou para trás e percebeu que era eu, começou a dar risada e me empurrou levemente.

- Não faça isso – ela tentava brigar comigo, mas sua risada não convencia ninguém de que ela estava tentando falar sério – Eu me assustei!

- Que bom. Era essa a intenção – provoquei, e mostrei a língua para ela. Fomos juntas até a padaria, conversando durante todo o trajeto - E seu tornozelo?

- Está ótimo – ela sorriu, balançando o pé no ar por um momento, demonstrando que estava bom – Novinho em folha.

- Fico feliz em saber disso – Eu sorri, sendo totalmente sincera - Trate de se cuidar melhor da próxima vez.

- Eu tenho feito isso. Até pedi para minha professora colocar uma marca no chão, o que ela fez. Desde então, consigo me guiar melhor onde devo parar sem cair de novo.

- Sorte sua que você só torceu o tornozelo, poderia ter sido algo bem pior.

- Fico feliz de ter machucado apenas o tornozelo, realmente. Fico feliz também de você ter me ajudado. Me ajudou a melhorar mais rápido.

- Ainda bem. Eu não tinha certeza do que estava fazendo – admiti, o que fez com que nós duas gargalhássemos.

- Você devia improvisar mais coisas, então.

Ao chegarmos na porta de sua casa, ainda conversamos mais um pouco, mesmo que as duas ainda segurassem a sacola com os pães recém comprados. Era dia em que eu ia lavar a louça, então não tinha a menor pressa de voltar para casa. No entanto, quando ela me disse que iria entrar, comecei a cumprimenta-la normalmente: com um abraço e um beijinho no rosto. Mas as duas pareceram pensar na mesma coisa, indo na mesma direção, porque ambas erraram o alvo e acabamos por nos beijar diretamente. Nos afastamos no mesmo instante, visivelmente sem-graças.

- D-desculpe – ela começou a dizer, porém ainda olhando para a minha boca de vez em quando.

- Eu que peço desculpas... Foi automático...

Mas mesmo enquanto eu dizia isso, meu olhar parou de se fixar em seus olhos e desviou para sua boca. Menor que a minha, e tão delicada. Enquanto isso, suas bochechas estavam coradas, uma cor natural que a deixava parecendo uma boneca, já que sua pele era naturalmente pálida, enquanto a minha era um pouco mais bronzeada, por eu amar ficar exposta ao sol todo o tempo que eu puder. As vezes minha vergonha era disfarçada por conta disso, mas eu tinha absoluta certeza de que esse não era o caso.

Enfim desviei o olhar dela, e passei a olhar apenas para a calçada. Nos despedimos novamente, dessa vez apenas verbalmente, e ela entrou em casa. Dei alguns passos e entrei em minha casa também, totalmente distraída. Estava levando a sacola de pães comigo, para meu quarto, quando percebi o que estava fazendo e voltei à cozinha para colocar em cima da mesa.

Cheguei ao meu quarto, e sentei na frente do computador, pronta para fazer absolutamente nada. Sempre que estava entediada, sentava na frente do computador. Geralmente eu arranjava algo para fazer, fosse entrar em sites aleatórios, em minhas redes sociais ou ler alguma coisa. Eu gostava de ler os livros que queria online. Os livros físicos tomavam um espaço no meu quarto que eu nem sequer tinha, e online era muito mais rápido, e o melhor: de graça!

Mas quando olhava para a tela, encarando o meu plano de fundo, enquanto tentava pensar em alguma coisa, meu dedo automaticamente foi na direção de minha boca, passando pela mesma. Havia sido rápido, duvidava que tivesse passado sequer um segundo, mas então porque eu não conseguia parar de pensar nisso?

Passei o resto da semana pensando nisso, mesmo contra a minha vontade. Eu fazia de tudo para me distrair, mas quando percebia estava pensando novamente no acontecido. Com certeza eu estava assim só por ter sido estranho. Afinal, não foi uma coisa proposital, nenhuma das duas tomou essa iniciativa. Só... aconteceu.

Nas outras vezes em que nos vimos na semana seguinte, apenas nos cumprimentamos de longe, rapidamente entrando em casa ou indo fazer qualquer outra coisa. Isso me deixava triste. Estava começando a fazer uma amizade, e de repente algo como isso acontece e começamos a nos evitar. Me doía o coração pensar em me afastar dela, mesmo que nossa amizade seja algo recente, mas já é algo que eu prezo bastante.

Em uma quarta-feira, enquanto sentava no computador tentando me distrair, um impulso me pegou de surpresa e fez com que eu me levantasse e fosse até a casa da bailarina. Afinal, esse clima era desconfortável, e eu não queria que nos afastássemos por algo assim. Toquei a campainha e esperei uns três minutos até que ela viesse no portão.

- Oi – ela sorriu, tentando ser simpática, mesmo que suas bochechas estivessem ligeiramente rosadas apenas por me ver. Seus cabelos negros estavam soltos, decorando seu rosto. De fato, ela parecia uma boneca, delicada e frágil.

- Ahm... – demorei um pouco para dizer algo, já que não tinha nenhum pretexto. Logo, tratei de dizer a primeira coisa que veio em minha mente – Minha mãe perguntou se vocês não tem... açúcar.

- Açúcar? – Ela repetiu, ao que eu confirmei com a cabeça, mesmo assim ela me olhava de forma desconfiada. – Temos, sim. Espere um instante – ela começou a se virar, mas virou em minha direção novamente – Ou você prefere entrar?

- Eu espero – dei de ombros, mas ao invés de entrar e procurar pelo açúcar, ela foi para a calçada e encostou o portão atrás dela.

- Você realmente veio buscar açúcar? – Ela indagou, quase em um sussurro.

- Não – imediatamente descartei minha história – Mas eu queria falar com você.

- Eu também – ela tinha os braços cruzados na frente de seu corpo – Não nos vemos... há algum tempo...

- Na verdade, continuamos a nos ver. Mas não conversamos mais. Eu acho isso estranho.

- E é – ela riu soprado – Mas eu não sabia se você estava com vontade de falar comigo...

- Claro que estou! – exclamei – Conversamos há pouco tempo, mas eu realmente gosto de conversar com você. Passei muito tempo sem uma vizinha, mas agora que eu sei como é ter uma, eu não quero me afastar – Quando acabei de falar, dei uma pausa e então continuei – Você quem não quer falar comigo, não é?

- É claro que quero! – Dessa vez, foi a vez dela exclamar seu desejo – Nos demos realmente bem, e é divertido estar com você... Mas eu estava com medo de ficar um clima estranho entre nós, ou algo assim. Aquilo de outro dia não significou nada, pelo menos para mim, mas eu não sei como outra pessoa reagiria a isso.

- Eu sei como eu estou reagindo, mas também estava com medo de como você ia ficar – ri, e ela me acompanhou.

- Acho que nós duas fomos bobas, afinal. Não nos falamos por pura vergonha e, talvez, orgulho.

- Exatamente - sorri, achando graça - Então... amigas? – estendi minha mão, ao que ela aceitou prontamente.

- Amigas – ela respondeu, com um sorriso lindo.

Na mesma hora, as duas olharam fundo nos olhos uma da outra. Eu sabia que tinha ido ali para pedir desculpas pelo ocorrido do outro dia, mas naquele momento simplesmente esqueci de tudo aquilo. Segurando sua mão, a puxei para perto de mim, enquanto ela, distraída, veio facilmente. Antes que qualquer uma das duas pudesse pensar em qualquer coisa, selei meus lábios contra os seus. Aproveitei a maciez de seus lábios o máximo que pude, e só me empolguei mais ao ver que ela me correspondeu. Só nos afastamos quando começamos a ficar sem ar, mas nos afastando aos poucos, ainda olhando nos olhos uma da outra. Assim como seus cabelos, que eram escuros como carvão, seus olhos eram igualmente escuros. Minha mãe costumava dizer, por superstições que minha avó colocara em sua cabeça, que se você olhar profundamente em olhos tão escuros assim, você tem sua alma roubada. No entanto, naquele momento, eu soube que ela já havia roubado muito mais do que isso. Ela havia realmente roubado meu coração.

Havia sido de repente, e eu nem mesmo havia percebido. Mas quando estávamos juntas, tudo parecia fazer mais sentido. Qual era a lógica de não nos falarmos, de nos afastarmos? Simplesmente não conseguiria fazer isso, não mais. É incrível como depois que uma pessoa entra em sua vida, é impossível você se acostumar com a ausência dela.

Quando nossos olhos nos encontraram, ficamos por alguns minutos nos encarando. Seus olhos estavam um tanto arregalados, aparentando até mesmo estar um tanto assustada, ou apenas surpresa. Ela havia correspondido, claro, mas parecia se dar conta disso só agora. Ela passou a mão em seus lábios, como eu havia feito da primeira vez em que havíamos nos beijado, mesmo que tivesse sido sem querer. Havia sido um beijo, afinal. Depois de algum tempo, ela finalmente falou, em uma voz rouca:

- O que está fazendo?

- Seguindo seu conselho – eu sorri instintivamente - Improvisando mais.

- Eu devia saber – agora seus olhos voltavam ao estado normal, enquanto um sorriso brotava em seu rosto – As pessoas realmente deviam ouvir mais os meus conselhos.

Desse dia em diante, estivemos mais juntas do que nunca. De fato, ela havia roubado completamente o meu coração, assim como eu sabia que havia roubado o dela. A alma? Nenhuma das duas precisava roubar nada disso, já que eu tinha absoluta certeza de que éramos almas gêmeas. Contanto que estivéssemos juntas, não precisávamos de mais nada além da companhia uma da outra.


Notas Finais


Estou testando novos tipos de historias, talvez (?)
Então, o que acharam? :3
Espero que gostem ~
Até o próximo capítulo/desafio


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