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História 366 Dias - Imergindo.


Escrita por: miukie

Notas do Autor


Hey, i'm back!

Esse é o primeiro capítulo da 366 dias, lembrando que o anterior foi apenas um prólogo. E eu queria agradecer de coração mesmo pelos +70 favoritos! Eu não esperava nem que tivesse 30. Ah, e também pelos comentários, muita gente gostou e eu fiquei motivada a continuar, então, obrigada. <3

✩ Sobre o título: "imergindo" (vem do verbo "imergir"), é o mesmo que: afundando, permanecer imerso. Mas no sentido figurado que eu usei, é o mesmo que tornar-se invisível, ou desaparecer.

Capítulo 2 - Imergindo.


Fanfic / Fanfiction 366 Dias - Imergindo.

Capítulo Um – Imergindo.

Eu já disse que amo estrelas? Não? Hum, então aqui vai: eu amo estrelas. Sério, vocês já repararam o quanto é gostoso se debruçar na janela do seu quarto escuro, no silêncio da noite, apenas sentindo a brisa leve e fria no rosto e a luz da lua iluminando o cenário? Se não, então por favor, separem um momento a noite que possam fazer isso. De preferência de madrugada, quando há poucos carros na rua e o barulho é menor.

Estrelas são bonitas e ao mesmo tempo parecem ser frutos da sua imaginação. São como miragens. Quando você olha para o céu e vê uma, ela parece perto, não parece? Como se você pudesse tocá-la apenas ao esticar o braço, mas, na verdade, ela está longe demais, brilhando no infinito. É só mais uma entre uma imensidão de estrelas, perdidas num universo que não enxergamos, assim como eu.

Estrelas são ótimas metáforas para aquilo que não se consegue alcançar.

É uma ótima metáfora para a minha vida também, porque quando eu acho que estou perto de alcançar algo... bam! Uma chuva de problemas cai sobre mim.

Foi o que aconteceu, para ser exato, a uma semana e vinte e três horas atrás.

E vejam só: lá estava eu, Park Jimin, sentado na guia de uma calçada, com a cabeça enfiada entre as mãos, me desmanchando em lágrimas. Mas eu tinha um motivo, aliás, eu tinha vários motivos!

Eu queria morrer. Nunca havia pensado nisso antes, sempre tive uma boa vida, amigos, família unida, carinho... Mas eu perdi tudo em um piscar de olhos. Minha patética e superficial vida virou de cabeça para baixo.

Quando pingos de chuva caíram sobre meu paletó, decidi que talvez poderia ser Deus chorando por ver o quanto minha vida estava ruim.

Obrigado Deus, pelo menos você tem compaixão por mim.

Caso você, leitor, tenha caído de paraquedas aqui e se pergunta “por que esse pobre coitado está fazendo todo esse drama?”, aí vai: meus pais sofreram um maldito acidente de carro e eu tinha acabado de sair do velório deles. Depois disso, tive que ouvir lamentações de pessoas que eu sequer havia visto na vida. "Eu sinto muito, seus pais eram tão jovens...", eles diziam. Também haviam aqueles tios e tias que eram sempre convidados para os almoços de família e viviam fazendo a piadinha do "é pavê ou pacumê?", mas naquele dia eles tiveram a decência de calarem as bocas e apenas me olharem com dó.

Ofereceram-me até dinheiro, do qual eu recusei educadamente.

— Tem certeza que não quer nada, meu querido? – Uma parente distante, acariciou meu ombro e eu neguei com a cabeça.

— Obrigado por ter vindo. – Eu respondi, e ela assentiu, caminhando para longe.

Quando cada convidado foi embora, eu finalmente estava sozinho. Isso é, até a minha vizinha – uma senhora de setenta e poucos anos que costumava me tratar como seu próprio neto – vir até mim com um olhar pesaroso, o que fez meu rosto se contrair em uma expressão de choro e eu abraça-la com força, chorando alto.

Eu chorava, soluçava, retomava o fôlego, soluçava novamente e voltava a chorar.  

— Vai ficar tudo bem. – Passou a mão nos meus cabelos e eu pude sentir seu sorriso que enrugava os pequenos olhos.

Sempre pensei que ouvir um "vai ficar tudo bem" seguido de um abraço de algum conhecido faria tudo ficar bem realmente, mas naquele momento não estava funcionando.

Depois de muito tempo, muito mesmo, abraçando aquela senhorinha, eu me afastei e enxuguei vestígios de lágrimas do canto dos meus olhos.

— M-me desculpe, eu molhei seu suéter. – Apontei e ela riu baixinho, me entregando um lencinho, onde assoei o nariz e joguei em uma lixeira ao meu lado.

— Não se preocupe, querido – sua voz suave saiu baixa — Venha comigo, tem uma torta de maçã deliciosa esperando por você, a sua preferida.

Aquilo me deu mais vontade ainda de chorar. A senhora Jeon costumava cuidar de mim quando eu era pequeno, e toda quinta-feira fazia torta de maçã, enquanto eu esperava meus pais chegarem do trabalho.

Ela abriu o guarda-chuva e o colocou sobre nós dois, caminhando tranquilamente de volta para casa, onde a acompanhei em silêncio.

Quando ela abriu a porta, a sensação de conforto foi inevitável, e a nostalgia também. O calor me abraçou, um calor mais do que familiar. Dei um passo a frente e olhei em volta, nada tinha mudado desde quando eu tinha doze anos.

— Você sabe que é sempre bem-vindo aqui, Jimin – ela disse e tirou a torta do forno, deixando em cima da mesa. Fui beliscar, mas ganhei um tapa leve na mão — Nada disso! Vá lavar as mãos primeiro. – Ordenou em tom brincalhão e eu sorri de leve, assentindo.

Caminhei pelos corredores vazios da casa e reparei na decoração. Um papel de parede velho e florido se estendendo pelas paredes, fotos da família da senhora – que eu nunca havia chegado a conhecer – e souvenirs.

Entrei no banheiro e encarei meu reflexo.

— Céus, você está péssimo. – Sussurrei a mim mesmo e joguei água no rosto, lavando minhas mãos.

Voltei logo depois para a sala de jantar e puxei uma cadeira para me sentar, onde fui servido com um pedaço de torta, que tinha sabor de lembranças. A senhora Jeon falava sobre algo que eu não estava prestando atenção, então parei para ouvir, porque sabia que teria que responder em algum momento.

— Meu neto virá passar uns dias comigo em janeiro – ela sorria lavando a pouca louça — Eu gostaria que vocês dois se conhecessem, os dois são garotinhos muito especiais para mim.

Eu era especial, pelo menos para ela. Sorri.

— Isso é... muito bom. – Falei.

— Me desculpe, estou falando tanto de mim e você está sendo obrigado a ouvir...

— Não, tudo bem, eu gosto de ouvir.

— Jimin-ssi, eu estou bem velha e doente, não posso cuidar do meu neto por tanto tempo, seria ótimo se ele pudesse passar um tempo com você. – Ela comentou, a voz um pouco falha.

E tudo ficou em silêncio.

— Como ele é? – Indaguei, um pouco curioso.

— Ele é um menino educado – sorriu — É lindo, simpático, uma criança muito doce. Vocês iriam se dar super bem.

Assenti e dei a última garfada.

Quando criança, eu sentia esse mesmo sabor de torta às quintas, e quando voltava para casa com um sorriso grande e as roupas sujas por brincar na terra, minha mãe ria e beijava a minha testa.

"— Tome um banho e se prepare para o jantar, sujinho. Seu pai chegará em breve."  

Antes que eu percebesse, meus olhos se encheram de lágrimas. Cada mísera lembrança dela e do meu pai me fazia querer gritar, chorar, espernear.

— Desculpe, eu preciso ir.

Corri para casa tropeçando nos próprios pés, chegava até ser patético a situação em que eu me encontrava. Assim que girei a maçaneta, abri a porta esperando ouvir a voz animada da minha mãe como sempre acontecia, e sentir o cheiro delicioso da sua comida, mas claro que isso não aconteceu.

Jimin, seu idiota, ela está morta. Isso nunca vai voltar.

Passei a mão nos cabelos, nas madeixas castanhas úmidas, e sequei os olhos. Fechei a porta atrás de mim e tirei o paletó, pendurando-o no cabideiro. Tirei os sapatos devidamente engraxados e folguei um pouco a gravata que estava quase me sufocando. Caminhei lentamente e depressivamente para meu quarto, joguei o corpo contra a cama e chorei, chorei muito mais porque agora estava sozinho, o meu maior medo – a solidão – havia se tornado realidade.

. . .

Desde criança eu sempre gostei de coisas pequenas assim como eu, literalmente. Eu apreciava coisas que para muitos não faziam diferença, como por exemplo como o céu ficava bonito antes das cinco da tarde, ou como os pássaros preenchiam aquela imensidão azul. Pelo menos da janela do meu quarto tudo parecia assim tão incrível. As casas, as ruas, o céu no fim de tarde quando o sol estava se pondo, a noite... E claro, as estrelas.

Hoje, sentado no fundo do ônibus vazio eu observava o pôr do sol e as cores. Ficava imaginando qual seria a minha cor. Talvez vermelho por ser intenso, ou azul porque me lembrava o mar: às vezes calmo, às vezes agitado demais.

Estava voltando da casa de Hyemin, havíamos tido uma pequena discussão, algo como uma DR, o que resultou no fim do nosso relacionamento. Fiquei divagando por um tempo, com a mente mais turbulenta que o comum, já que por dentro eu estava arrasado. Os últimos dias não haviam sido nada tranquilos, começando pelo fato de que 1) eu perdi meus pais e 2) terminei um namoro que durou onze belos meses.

Agora que tudo estava acabado, eu pensava se realmente havia sido feliz nesses onze meses, e cheguei a concluir que eu nunca havia sido feliz de verdade. Sorria só por obrigação, dava o orgulho que meus pais queriam, não vivia a minha vida. Mas para quê? Para eles falecerem, tudo fora jogado no lixo. A minha vida jogada no lixo, para ser mais específico.

E qual foi a desculpa dela para terminar comigo? "Eu não consigo lidar com você neste momento, Jimin."

Uau. Eu fico praticamente órfão e ELA não consegue lidar. Até entendo, Hyemin nunca foi tão esperta, mas se queria ter terminado comigo poderia ter arrumado uma desculpa melhor.

Meu coração doía muito, doía porque nunca imaginei-me sem meus pais ao meu lado. Sem minha única família. A situação me servia para refletir sobre o futuro – se é que vou ter um –, eu não sabia se ia continuar com a faculdade que escolhi, se ia descobrir um tumor no cérebro ou algo do tipo, ou se gostava do que eu estudava.

A realidade era que meu interior estava um caos. Pensamentos desorganizados, sentimentos esvaídos para algum lugar, meu corpo era agora uma casca vazia, da qual eu estava cansado de usar. Minha mente desocupada criava problemas para que eu pudesse resolver, como uma conta de matemática. Por sorte, eu era bom em exatas.

Mas não era o suficiente. Eu me sentia vazio e sufocado ao mesmo tempo, há um tempo parei de ter sentimentos. Eu queria ser preenchido novamente. Como era antes. Me sentia como uma parede branca, pronta para ser pintada com diversas novas cores, misturas, estampas. Cores que marcassem a alma.

O coração parecia bater por obrigação, mas ele também estava cansado. Bombeava sangue para o meu corpo mas pedia socorro a cada batida, e eu podia sentir.

O ônibus parou e eu desci, caminhando de volta para casa.

Chutei os sapatos para fora dos pés, os deixando próximos a porta e tirei o sobretudo que usava. Fechei os olhos por uns segundos, respirando fundo, ainda tentando me lembrar de como era essa casa quando meus pais estavam aqui. Eu chegava por volta das uma da tarde, já que eu ia para a faculdade às dez da manhã, deixava o casaco pendurado, os tênis perto da porta, a mochila no chão e andava somente de meias até a cozinha. Implicava com a senhora Park pela décima quinta vez no dia, ria das piadas dela e esperava pelo almoço. E aí o meu pai chegava, se juntava a nós na mesa, contava sobre o dia dele e de como tinha sido cansativo, mas ele era feliz por ter um bom filho e uma boa esposa. Ele se orgulhava de mim. E então eu acabava de comer, tirava a mesa e fazia os deveres da faculdade no meu quarto, às vezes passava a tarde com os amigos ou estudava, a noite tirava um tempo para ler um livro e então de madrugada, quando todos já tinham ido dormir, eu me apoiava na janela do quarto e observava as estrelas. Sorria do modo como elas brilhavam e pensava em me tornar uma quando batesse as botas. Ria do meu próprio pensamento tosco e então dava boa noite as constelações, indo me deitar.

Mas tudo isso pareceu sem sentido, quando em uma noite meus pais já não estavam mais naquele plano. Não havia mais sorriso no meu rosto, não havia motivos para continuar vivo.

E eu percebi que era idiota. Toda minha vida era ridícula. Eu sempre vi o mundo com cores diversas, mas ele se tornou preto e branco de repente.

Eu escolhi astronomia por apreciar as estrelas, mas esqueci que odiava números.

. . .

Ouvi as batidas na porta do meu quarto mas sequer me movi, apenas encarei o teto, sentindo as lágrimas molharem meu pescoço.

— Jimin, saia.

— Não vou. – Respondi.

Ouvi Hoseok suspirar.  ​

— Qual é, Jimin! Já faz mais de um mês, você não pode passar o resto da vida trancado no quarto. – Ele disse.

— Eu posso sim.

— ​Olha, sei que está se sentindo mal por tudo, acredite, eu ficaria pior... – ele começou e eu ouvi atentamente — Mas é ano novo, lembra do que disse a mim no ano passado? Ano-novo, vida nova.

Parei para refletir, talvez ele estivesse certo. Ou talvez aquela fosse só mais uma de suas besteiras.

Levantei e abri a janela do quarto pela primeira vez em tanto tempo. Por conta de todo aquele drama, eu havia me afastado até das estrelas.

O celular estava desligado e eu não fazia ideia de que dia era, ou que horas eram.

O céu não estava tão bonito, também. Estava fechado, nuvens cinzentas o cobriam, e eu sentia que uma tempestade chegaria. Mais um motivo para não sair de casa. Mas sair do quarto não tinha problema, tinha?

Caminhei até a porta e a destranquei, abrindo apenas uma frestinha. Vi Hoseok sorrir e empurrar com força a porta, correndo até mim e me abraçando.

— Cara, eu senti saudades de ver essa sua cara feia.

Ri baixo e logo ele me soltou, me encarando.

— Você pelo menos tomou um banho durante esse tempo todo? Porque você fede. E fede a depressão – disse e fungou — E a cigarros. Cara, você andou fumando?

Dei de ombros.

— Talvez. – Respondi e ele revirou os olhos.

A verdade é que eu fumei, uma vez ou outra. Mas era tão ruim que eu parei e joguei o maço de cigarro amassado (e pisado também) no vaso sanitário e dei descarga.

— E o seu quarto, céus, Jimin! Você sempre foi organizado, mas isso aqui 'tá parecendo a casa do Namjoon. – Se agachou e tirou do chão com a ponta dos dedos um pedaço de pizza mordido, fez cara de nojo e jogou na lixeira do banheiro.

O observei caminhar com cuidado por entre as tralhas jogadas no chão.

— Eu 'tô começando a achar que vou encontrar a passagem para Nárnia aqui no meio dessas roupas, e... Espera, o que é isso? – apontou para uma mancha no carpete — É sangue? Jimin, me diz que isso não é sangue.

Ele ficou meio histérico e veio até mim, procurando algum corte pelo meu corpo.

— Park Jimin, me diz que você não se cortou igual aqueles adolescentes!

— Hoseok! Hoseok, se acalma. – O segurei pelos ombros — Cara, é suco de uva. – Apontei para a caixinha de suco vazia debaixo da cama e ele soltou o ar que estava prendendo.

— Você vai tomar um banho, se arrumar e sair comigo. – Ordenou, cruzando os braços.

— Não vou. – Resmunguei.

— Ah, você vai, ou eu jogo toda a sua coleção de cartas do Yu-Gi-Oh no lixo. – Ameaçou.

— Você não seria capaz. – Ri sem ânimo, o encarando.

Ele se virou.

— Certo, diga adeus ao dragão branco de olhos azuis.

O segurei de imediato.

— NÃO! – suspirei — Tá bom, eu saio, mas sério, não toca no meu deck ou eu te mato.

Ele riu.

Fui para o banheiro e me despi, entrando na banheira em seguida. Eu estava me sentindo como se fosse a primeira vez que eu tomava banho. Não vou negar, ficar recluso durante um mês me fez ficar relaxado, mas não no bom sentido.

Fechei os olhos e prendi a respiração, abaixando mais e imergindo na água. Fiquei ali uns bons segundos, decidindo se me afogava de vez ou não.

— Jimin! – Hoseok bateu na porta e eu subi de volta, soltando o ar.

— H-hm?

— Está tudo bem? – Perguntou.

— Sim... já vou sair. – Falei e então me levantei, enrolei a toalha na cintura e vesti a roupa que tinha separado, saindo do banheiro.

Vi que meu quarto estava quase arrumado, Hobi tinha limpado praticamente tudo, relaxei os ombros e sorri de canto.

— Cara, eu achei muita coisa estranha aqui, quer me explicar por que tinha uma revista playboy de 2013 embaixo do colchão? – Perguntou e eu dei de ombros.

— Até eu tenho minhas necessidades de vez em quando.

— E isso inclui mulheres seminuas? – Riu, balançando a cabeça negativamente.

O ajudei a terminar de limpar o quarto, eu sabia que não iria durar muito, porque provavelmente eu bagunçaria outra vez, mas ele estava se esforçando e eu admirava isso.

Quando terminamos, fomos andando para a casa de Taehyung, mesmo eu não sabendo o que ele pretendia fazer lá. Quando finalmente liguei o meu celular, vi várias chamadas perdidas – mais de cem! – e mensagens. Fazia tanto tempo que eu não ligava o telefone, que a foto de papel de parede ainda era uma minha com minha ex-namorada, rapidamente troquei por um plano de fundo genérico e apaguei todas as outras fotos que tinha com ela.

— Eu soube dela – Hoseok apontou com o queixo para o celular — Sinto muito.

— Não sinta, ela foi insensível. – Guardei o aparelho.

— É, 'tô ligado. – Enfiou as mãos no bolso — Taehyung ficou muito bravo com ela, foi engraçado vê-lo te protegendo.

— Como assim?

— Na faculdade, depois do que aconteceu e quando começaram a dar falta de você, ficamos sabendo do que ela disse e Tae quis matá-la, sorte que eu e Namjoon o seguramos, ele disse algo como “Me solta que eu vou arrancar os cabelos daquela piranha!” – O moreno gesticulou enquanto falava e eu ri.

— Eu sinto falta deles, mas está tudo muito confuso. Sabe... ainda não caiu a ficha de que meus pais, eles...

— Não precisa falar, nós entendemos. – Hoseok passou o braço pelos meus ombros e sorriu, olhando para a casa a frente — Chegamos.

Tocamos a campainha e esperamos. Não demorou para a porta se abrir e a figura do garoto – semelhante a de um sem teto, com os cabelos castanhos bagunçados e vestindo apenas um moletom largo e uma samba canção – gritasse ao me ver e voasse em cima de mim.

— JIMIN!

Ri e o segurei, cambaleando um pouco. Eu deveria avisá-lo que ele já não era mais uma criança e que era pesado demais para eu segurá-lo sem preparação, mas fiquei quieto, apenas aproveitando o abraço.

— Você está me sufocando. – Falei por fim e ele me largou, pulando no chão.

— Ainda bem que chegaram, eu preciso de ajuda, temos muito o que conversar, Park. – Atropelou as palavras rapidamente e nos puxou para dentro.

Ainda confuso, eu o segui. Alguns minutos depois, o acastanhado me explicou que iria dar uma festa de ano-novo e que precisávamos urgentemente ajuda-lo a arrumar tudo. Mesmo a contragosto, tive que ajudar e logo a casa foi se enchendo de gente.

— 'Tá de brincadeira que você convidou ela? – O dei uma cotovelada de leve e apontei para a porta, onde Hyemin passava com duas amigas.

— Desculpe, convidei antes de saber de tudo… não achei que ela fosse vir mesmo depois de eu ter ameaçado puxar os apliques dela. – Ele disse e eu suspirei, vendo-o puxar minha mão e colocar nela um copo vermelho com um líquido escuro dentro — Bebe.

— Você envenenou? – Perguntei e ele revirou os olhos.

— Só bebe, você precisa disso.

E então eu virei o copo num gole só, Taehyung sorriu orgulhoso e me deu alguns tapinhas nas costas.

— Isso aí, garoto.

— Pare de beber essa porcaria. – Hoseok tomou o copo da minha mão e eu praguejei  — Ele precisa de nós, não de álcool.

Taehyung revirou os olhos outra vez.

— Você é tão careta, hyung.

Hoseok apenas o encarou como se estivesse bravo, e eu me encolhi, percebendo a tensão que havia entre eles. Queria perguntar o que estava acontecendo entre os dois, mas fiquei calado.

Eu queria beber mais um pouquinho daquela bebida amarga que queimava na garganta, então fui a cozinha pegar outro copo sem que os garotos vissem. Na verdade, eu queria qualquer coisa que me fizesse esquecer um pouco do quanto minha vida estava uma merda.

Perto das escadas, eu podia vê-la vestida de forma impecável, acompanhada das suas servas, digo, amigas. Hyemin usava uma minissaia vermelha e uma camisa de botões preta, cujo os botões de cima estavam abertos para dar destaque aos seus seios. Seus cabelos longos e escuros estavam soltos e ela usava um batom igualmente vermelho, para combinar com a saia. Ela dançava com um garoto e parecia se divertir. De repente, me senti enjoado. O garoto em que ela se esfregava era o capitão do time masculino de vôlei, e eles pareciam bem íntimos. Então tudo ficou claro.

Sabe quando nos desenhos animados, uma lâmpada acende na cabeça do personagem? Então, foi mais ou menos assim que eu descobri que era óbvio que ela não ia aos treinos apenas para jogar vôlei.

Eu acreditei nas promessas falsas, tive esperança de que um dia nos casaríamos e seríamos felizes para sempre, como nos livros que eu costumava ler. Acontece que, a minha história era diferente. Minha vida não era um conto de fadas.

“Como eu não percebi antes?”, me perguntei e o olhar dela encontrou o meu. O sorriso se desmanchou do rosto dela e ela arregalou os olhos carregados de maquiagem. Suspirei e virei-me para Namjoon, que olhava para o mesmo lugar que eu.

Ele estava certo o tempo inteiro.

— Me tira daqui, hyung.

. . .

Ainda era ano-novo, os únicos amigos que me restaram estavam agora enchendo minha taça de champanhe, Hoseok sorriu para mim, passando o braço pelo meu ombro e Taehyung fez o mesmo, só que do outro lado, na ponta ao lado de Tae estava Namjoon, fazendo piadas de teor sexual, no intuito de me fazer rir. Eles tentavam de todas as maneiras arrancar-me um sorriso, e com tanta palhaçada, foi impossível não sentir uma pontinha de felicidade na companhia daqueles três.

— Certo Jiminie, daqui a um minuto vai ser 2016, faça sua promessa de ano-novo. – O loiro disse.

— É uma boa ideia. – Hobi sorriu.

— Isso! Faça uma promessa! – O outro incentivou e eu fechei os olhos. Mordi a bochecha por dentro, pensando no que eu poderia prometer, algo que eu tinha certeza que cumpriria.

Antes que eu tivesse tempo de pensar na promessa, Taehyung apontou para o céu.

— Olhem!

As cores dos fogos de artifício estavam se misturando com o brilho da lua, refletindo no lago abaixo. Sorri e fechei os olhos novamente.  A contagem regressiva dos três garotos ao meu lado ecoando pelos meus ouvidos.

— Cinco!

2016 é um ano bissexto.

— Quatro!

Neste ano, se eu não conseguir ser feliz...

— Três!

Realizar nem que sejam meus menores desejos...

— Dois!

Eu irei partir para sempre.

— Um!

Eu não tenho muito tempo, então, essa é a minha promessa.

'Cause all of the stars

Are fading away

Just try not to worry

You'll see them some day

Take what you need

And be on your way

And stop crying your heart out

 


Notas Finais


Eu prometi que não ia demorar, hehe.

Já tenho mais quatro capítulos prontos até agora, vou soltando conforme escrever novos.

Música do capítulo: Stop Crying Your Heart Out – Oasis.
Aqui o link da tradução: https://www.letras.mus.br/oasis/63270/traducao.html

Eu realmente acho que essa música combina perfeitamente com o capítulo (talvez com a fanfic inteira) e ela é minha paixão, então ouçam também <3

Ela não está inclusa na playlist da fic mas talvez eu coloque, o que acham?

Acho que é isso... então, até a próxima!


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