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História 366 Dias - Estrelas perdidas.


Escrita por: miukie

Notas do Autor


SOMEONE CALL THE DOCTOR PORQUE NÃO ESTOU PASSANDO MUITO BEM.

+300 FAVORITOSSSSS!

Muito obrigada, de verdade, por lerem e acompanharem a 366 dias. Como vocês sabem, essa história é importante pra mim, os sentimentos do Jimin refletem muito bem os meus e desabafar através dessas linhas me deixa bem, de alguma forma, escrever me alivia. Eu só tenho a agradecer por tudo.

Bom, sem enrolar muito, vou deixar vocês lerem em paz kjdksjds~
Boa leitura <3

(Ah, recomendo ouvirem o cover do Kookie de Lost Stars enquanto leem, só uma dica mesmo hehe.)

Capítulo 7 - Estrelas perdidas.


Fanfic / Fanfiction 366 Dias - Estrelas perdidas.

Capítulo Seis – Estrelas perdidas. 

Deixei o laptop em cima do colo e fiquei encarando a tela do word, seria ótimo começar a minha carreira de escritor agora, isso se eu conseguisse ter alguma ideia. Minha mente estava como naqueles filmes de faroeste, vazia, com aquele negócio passando, para indicar que o personagem estava em uma cidade fantasma e não havia nenhuma alma viva ali.

Escrevi algo como “sou um bosta” e dei enter. No parágrafo debaixo, escrevi: “nunca conseguirei escrever um livro”, depois, foi a vez do “talvez eu seja melhor com corpos celestes do que com histórias fictícias”. Suspirei e fechei o laptop, passando a mão pelos cabelos.

— Que merda.

Tentei focar em algo que desse uma boa história, nos sons a minha volta, por exemplo: havia o som baixo da decapitação de zumbis na sala de estar, onde JungKook jogava videogame – não que isso seja novidade –, havia o som dos passarinhos cantando na árvore em frente a minha casa, onde a janela estava aberta, e já que meu quarto ficava no segundo andar, eu conseguia ver o pássaro assobiando, era fofinho. Havia também o som dos carros ao longe passando pela rodovia, o som de um avião contornando as nuvens.

Entediante.

Levantei da minha cama e caminhei até o banheiro.

Encarei meu reflexo no espelho e baguncei meus próprios cabelos castanhos. Castanho... que sem graça.

Quando eu era menor e via na TV os idols com cores de cabelo exuberantes e danças sincronizadas, eu queria muito ser igual a eles. E lembrando disso, tingir o cabelo me pareceu uma ótima ideia. Eu queria mudanças, e isso teria que incluir minha aparência também.

— JUNGKOOK! VEM AQUI POR FAVOR! – gritei do andar de cima, e pude ouvir o jogo ser pausado e os passos apressados do garoto subindo as escadas. Sua silhueta apareceu no batente da porta do banheiro, ele estava ofegante.

— Quem morreu? O que eu fiz? Eu juro que não fui eu e...

— Ei, ei, se acalma. – o segurei pelos ombros e ele me encarou — O que você acha de eu mudar a cor do meu cabelo? – perguntei e ele sorriu.

— Acho legal. Você iria ficar tipo aqueles personagens de anime! Qual vai ser a cor? Pode ser branco, que nem o do Kaneki de Tokyo Ghoul ou loiro que nem o do Naruto – disse dando pulinhos.

Olhei novamente no espelho, e estalei a língua.

— Nah, eu já tenho uma ideia – sorri e me virei pra ele — Vem comigo.

— Onde a gente vai? – sua expressão era confusa.

— Só venha, JungKook.

— Mas está chovendo! – ele reclamou e eu desci as escadas correndo, abrindo a porta da frente e olhando para o céu cinzento, de onde finos pingos de chuva estavam caindo. Por sorte era só uma garoa, eu odiava tempestades.

— Você é de açúcar? – perguntei vestindo um casaco e colocando o capuz, ele fez uma careta juntamente com um bico fofo e vestiu uma jaqueta.

— Não sou – murmurou e eu o puxei para fora, correndo em direção à uma farmácia.

Ele acabou por rir quando eu tropecei e cai no meio do asfalto molhado, mas eu o passei uma rasteira e seu corpo foi jogado para cima do meu. Ele se afastou um pouco e me encarou, nossos rostos perigosamente perto e sua respiração batendo contra os meus lábios. Suas bochechas adquiriram um tom rosado e o meu olhar desceu para os seus lábios entreabertos, ele estava ofegante. Voltei a encarar seus olhos escuros, completamente perdido. Eu não mentiria se dissesse que seus olhos pareciam esconder muita coisa, muita dor, e eu estava curioso sobre eles.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele se afastou rapidamente e se levantou, erguendo a mão para mim e virando a cabeça para o outro lado, algo me dizia que ele estava com vergonha de me encarar. Suspirei e o olhei divertidamente, quando segurei sua mão quente.

— Quem chegar por último é a mulher do Taehyung – falei e saí correndo, ele riu alto e veio atrás de mim, estávamos totalmente encharcados e meu cabelo já grudava na testa, se misturando com o suor e as gotas da chuva. Joguei-os para trás e sorri, alcançando a porta da farmácia, respirei fundo e torci a barra do casaco, retirando o excesso da água.

Como quando nós andamos de bicicleta juntos, eu estava me sentindo uma criança novamente.

JungKook me alcançou e me puxou para si, passando o braço pelo meu pescoço, ele era mais alto e conseguia facilmente me nocautear se quisesse. Me debati um pouco com a forcinha que ele fazia, com cuidado para não me machucar e o empurrei, rindo.

— Ya! Você quase me matou. – reclamei e ele continuou com um sorriso infantil no rosto, logo mostrando a língua pra mim. Revirei os olhos.

As pessoas nos olharam com ar de reprovação e eu abaixei a cabeça, caminhando por entre as prateleiras.

— Procure por água oxigenada e pó descolorante para mim – pedi ao garoto, que assentiu, sumindo pelo estabelecimento. Peguei uma caixa de tinta para cabelos e sorri.

Eu tinha certeza que com aquela cor, daria pra me ver do outro lado do país, era exuberante, como eu queria. E chamativa. 

— Laranja? – Jeon perguntou por trás de mim.

— É. A cor é bonita, será que fica bom em mim?

— Qualquer coisa ficaria bonita em você, hyung – ele riu baixinho e eu senti as bochechas esquentarem. 

Eu sempre ficava assim quando JungKook me dirigia elogios. 

— O-obrigado...

— Vai comprar essa mesmo? – mudou o foco da conversa rapidamente.

— Sim – murmurei e o acompanhei até o caixa, pagando pelos produtos.

E então saímos, eu com a sacolinha na mão e ele com as mãos no bolso da jaqueta, andando despreocupado, revisando o olhar entre o chão e o céu. Parei para reparar na beleza do garoto, e isso me pareceu errado, já que sua camiseta por baixo da jaqueta estava grudando em seu peitoral, dando para ver um pouco de seus músculos. Corei e desviei o olhar, eu me perguntava se algum dia ele havia malhado ou havia nascido com esse corpo escultural. 

— A chuva parou – ele fechou os olhos e respirou fundo.

— E o céu abriu – respondi, observando como era bonito o jeito que o arco-íris decorava o céu — Ei, JungKook.

Ele virou o rosto na minha direção.

— Você já tingiu o cabelo?

. . .

— Tem certeza que quer fazer isso? – perguntou com certo receio.

— Anda logo com isso – falei, apressadamente.

Fechei os olhos, sabia que provavelmente me arrependeria depois, mas não seria tão ruim.

É preciso haver dor, para reconhecer o prazer. Não é isso o que dizem?

— Serei cuidadoso – ele sussurrou e eu assenti.

— Vai logo com isso, por favor... – implorei.

— Estou com medo de te machucar, hyung.

— Anda logo, JungKook!

E então finalmente ele o fez.

O garoto jogou toda aquela mistura pastosa – onde continha água oxigenada e descolorante – na minha cabeça. Só que ele jogou TUDO de uma vez.

— Uh, eu acho que não era assim...

— MEUS OLHOS! – gritei de dor — JUNGKOOK, EU VOU TE MATAR! – apertei os olhos, que ardiam, assim como o meu couro cabeludo. Corri de um lado para o outro, sentindo meus olhos queimarem. Eu iria ficar cego por tentar tingir o cabelo, puta que pariu — SOCORRO!

— HYUNG, SE ACALMA! – ele me puxou e eu acabei escorregando e batendo a cabeça em algum lugar, que eu deduzi ser a pia pela superfície gelada, gemendo de dor — Ai meu Deus...

O menor me pegou no colo e me jogou dentro do box do banheiro, ligando o chuveiro e esfregando meus cabelos.

— Veja pelo lado bom, agora você está loiro – ele disse num bom humor forçado, sabendo que eu daria uma bronca daquelas assim que voltasse a enxergar.

— EU VERIA, SE VOCÊ NÃO TIVESSE ME DEIXADO CEGO! – gritei e ele suspirou — Vou matar você assim que ver sua cara.

E então depois de um tempo, eu finalmente abri os olhos, não ardia mais tanto quanto antes, o encarei e ele parecia tranquilo enquanto lavava o meu cabelo. Seus dedos desceram para o meu rosto e ele tocou minha bochecha com cuidado, fechei os olhos sentindo seu toque, era reconfortante. Por um minuto, me permiti sentir aquilo, ele movimentou o polegar com leveza, acariciando minha bochecha, e pareceu pensar no que estava fazendo, se afastando. 

— Você bateu a cabeça na pia – riu — Foi muito engraçado.

Fiz uma careta e revirei os olhos.

— Você acha engraçado porque não foi você que sentiu essa dor infernal – resmunguei e ele deu um passo para o lado, ainda rindo.

— Olhe no espelho. – falou e eu obedeci, passei a mão no espelho para tirar o embaçado feito pelo vapor do chuveiro e arregalei os olhos ao me ver loiro, extremamente diferente.

— Uau – passei a mão nos cabelos molhados — E agora?

— Agora vamos tingir! – ele disse animado.

— Só me prometa que não vai me deixar cego de novo, por favor, a primeira experiência foi muito traumática, a segunda seria dez vezes pior – pedi e me sentei na cadeira que ele havia trazido.

— Vou tomar cuidado de verdade, hyung – ele secou meus cabelos com o secador, misturando a tinta num pote e passando com um pincel nos meus fios descoloridos.

— Onde aprendeu a fazer isso? – perguntei.

— Ah, vi num tutorial no YouTube.

Ri baixo. Um tempo depois, pude relaxar e esperar até que ele terminasse, pedindo mentalmente a Deus que ele não tivesse feito merda no meu cabelo. Ele lavou com cuidado novamente depois de deixar a tinta agir por uns minutos e secou.

Voilá.

Olhei meu reflexo e sorri, eu estava bonito, e diferente. O laranja pareceu deixar minhas feições mais maduras, eu parecia bem mais adulto.

— Não acha muito chamativo? Dá pra te ver até do Japão com essa cor de cabelo.

Neguei com a cabeça.

— Eu gostei.

JungKook sorriu.

— Fiz um ótimo trabalho, né? Eu também gostei muito, você parece mesmo um personagem de anime.

Aproximei-me do garoto e lhe dei um beijo na bochecha. Não sei porque fiz aquilo, eu apenas... fiz. Sua bochecha era macia, e eu queria acariciá-la, mas me limitei a só bagunçar seus cabelos e dar dois passos para trás. 

— É, você fez.

. . .

Me encolhi no chão do quarto, a chuva tinha voltado, dessa vez com mais intensidade. Estava trovejando, e eu tinha medo de trovões. Um pequeno trauma de infância, eu diria. Foi quando eu havia caído de uma árvore e quebrado o braço aos nove anos, nesse mesmo dia, meu avô faleceu. Estava chovendo, os trovões eram cada vez mais altos.

Lembro-me de chorar pedindo que o trouxessem de volta para casa, mas os trovões me calaram.

Abracei os joelhos, será que estava chovendo quando o carro dos meus pais derrapou na pista? Será que a culpa havia sido da chuva? Será que eles tiveram medo dos raios? Não era seguro, como eles haviam me garantido.

— Hyung – JungKook sussurrou, se aproximando com cuidado.

— Agora não, Kook... – murmurei, com medo, e mais trovão veio, meu corpo estremeceu e eu coloquei as mãos nos meus ouvidos, os tapando. JungKook se ajoelhou na minha frente e segurou minhas mãos, as trazendo de volta para meu colo. O encarei.

— Meu irmão costumava cantarolar para mim quando eu tinha medo – ele disse baixinho e me puxou, me fazendo cair contra o seu peito, ele me rodeou com seus braços e começou a cantar.

Sua voz calma fez meus ombros relaxarem instantaneamente, e eu permaneci intacto, me permitindo ser abraçado. Meu coração parecia que iria sair pela boca a qualquer momento. Fechei os olhos e inspirei o seu cheiro.

— Converse comigo, só assim eu esquecerei dos trovões lá fora – falei baixo.

— Claro. Você gosta de música, hyung? – ele perguntou e eu assenti.

— Gosto. E você?

— Eu amo música, meu irmão me ensinou a gostar, ele disse que era um ótimo jeito de esquecer os problemas – apesar de não ver, eu sabia que ele estava sorrindo.

— Qual a sua música preferida? – perguntei.

— Hm, eu acho que é Lost Stars, do Adam Levine  – disse, e eu sorri.

— Inacreditável.

— O quê?

Eu amava essa música, sentia como se a letra se encaixasse perfeitamente em mim, combinava comigo. 

— É a minha preferida também – falei e ele começou a cantar a música.

Sua voz melodiosa dançava nos meus ouvidos, e eu estava confortável deitado em seu peito, esqueci por um momento de todo o mundo ao redor, dos trovões e da chuva e me concentrei em ouvi-lo cantar minha música preferida. Era suave, gostoso. Eu poderia ficar ouvindo-o cantar aquilo por todos os dias da semana sem reclamar. Ali, ouvindo, não havia mais problemas. Não havia dor, não havia pensamentos suicidas, só eu e ele cantando baixinho para afastar os trovões.

Por favor não veja

Apenas um garoto preso em sonhos e fantasias

Por favor me veja

Tentando alcançar alguém que não consigo ver

Pegue minha mão

Vamos ver onde vamos acordar amanhã

Os melhores planos

Às vezes são apenas uma noite sem compromisso

Vou ser condenado

O cupido está exigindo a sua flecha de volta

Acompanhei a letra com ele, e ele parou de repente.

— O que foi? – sussurrei. Ele me afastou devagar e sorriu pra mim.

— A chuva parou, hyung.

Devolvi-lhe o sorriso e o apertei mais contra o meu corpo. 

— Muito obrigado, Kook.

E Deus, diga-nos o motivo

Da juventude ser desperdiçada nos jovens

É temporada de caça

E esse cordeiro está na corrida

Estamos procurando um significado

Será que todos somos estrelas perdidas

Tentando iluminar a escuridão?

. . .

Em mais uma consulta com Seokjin, eu estava passando o olhar pela estante de livros do consultório dele, enquanto batíamos papo sobre algo aleatório, eu apenas balançava a cabeça enquanto ele falava sem parar, não prestei tanta atenção. Não me julguem, era mais legal fuçar as coisas dele do que ouvi-lo falar sobre ovnis.

— Eles são reais, uma vez eu acampei na floresta e juro que vi um no céu, era de madrugada! – ele disse — Aliás, adorei a cor do cabelo, é bem chamativa. Então, continuando...

— Podia ser uma gaivota e você nem sabe e... – parei por um momento e me virei — Pera, você disse acampar?

— Eu juro que não era! E sim, eu disse acampar, por que?

— Nada, só me pareceu uma boa ideia... – sorri, falando mais para mim do que para ele — Os meninos talvez gostariam.

— De acampar?

— É. O que acha? Você pode ir junto! Vamos todos, vai ser legal.

— Hm, eu não sei... – falou pensativo, ajeitando os óculos no rosto. Aqueles óculos era estilo o que o Harry Potter usava, e eu sempre achei que era impossível algum ser vivo ficar bonito usando aquilo, mas por incrível que pareça, Seokjin ficava demais nele.

— Ah, vamos, hyung! – implorei, eu me sentia o JungKook.

— Tá, tá... Pra quê você está aqui mesmo? Eu sou seu psicólogo e estamos falando de extraterrestres ao invés de falar sobre os problemas da sua vida.

Revirei os olhos e me deitei no sofá dele. Peguei uma bola de beisebol que ele tinha como decoração e fiquei jogando para cima e pegando.

— Ei, não toca nisso, é um item de colecionador – ele apontou.

— Ah é? Legal. – fiquei virando a bola de beisebol, procurando por algum detalhe especial, até um autógrafo, mas não tinha nada. Era só uma bola. — Não parece ser item de colecionador, não tem nada demais aqui.

— Como ousa? Os Yankees jogaram com ela contra o Angels of Anaheim, ela é muito especial. Comprei na internet – se levantou e tomou o objeto de mim, colocando de volta no lugar.

Eu não entendia nada de esportes, muito menos de beisebol, mas Seokjin parecia ser viciado nisso.

— Ah, meu amigo, acho que você foi enganado – ri.

Ele revirou os olhos e se sentou na ponta do sofá.

— Seu convênio tá me pagando só pra mim falar com você, acho melhor me contar o que andou fazendo nos últimos dias que não veio aqui. Você faltou duas consultas.

Bufei, estava um tanto nervoso.

— Nada, eu... eu ainda me sinto fora dos trilhos, sabe? Não sei se tenho um propósito, não sei nem porque ainda venho aqui, não sei porque estou respirando já que eu não faço nada direito. Não sei nem porque estou te contando coisas da minha vida, porque tá estampado na sua cara que você não se importa. Você é só um psicólogo.

Aquilo pareceu surpreendê-lo, Seokjin arregalou os olhos e engoliu em seco. Merda, eu falei que ele era só um psicólogo, quando eu tinha contado tudo da minha vida para ele, quando estávamos criando uma amizade.

— H-hyung, desculpa, eu... – suspirei — Não foi minha intenção. Você é um bom amigo.

— Eu só estou tentando te ajudar, Jimin. Você não entendeu ainda? Eu falo sobre coisas aleatórias com você pra te fazer se sentir confortável aqui, pra você confiar em mim e me contar as coisas abertamente. Eu estou pouco me fodendo se eu sou só um psicólogo, porque pra mim, você é meu amigo, não meu paciente. Então é claro que eu me importo, porra.

Eu mordi o lábio para conter a vontade de rir alto, nunca imaginei que ele poderia ser capaz de soltar algum palavrão.

— Desculpa, isso não foi nada educado.

— Tudo bem. – sorri — Jin-hyung, você é meu amigo também, eu confio em você, mas não estou acostumado a confiar nas pessoas e isso me assusta. E você pode falar palavrões comigo, eu me sinto mais confortável assim.

— Certo, eu compreendo, mas você não pode guardar as coisas pra si. Fingir que está tudo bem quando está com os amigos enquanto todos os seus sentimentos te corroem por dentro é burrice. Precisa desabafar pra alguém, é por isso que eu estou aqui.

Eu concordei.

— Como você disse, você está quebrado. Só vai se consertar quando perceber qual é seu propósito na vida, não viva para os outros, viva para você mesmo.

— E qual é meu propósito? – perguntei.

— Eu não faço ideia – ele riu — Mas eu quero te ajudar a descobrir.

Mordi os cantos dos dedos.

— Então venha acampar comigo, talvez se você souber como eu sou entre os meus amigos, esse tipo de coisa, sua mente de psicólogo pode pensar em algo. Que tal?

— Fechado.

. . .

Parei o carro um pouco afastado do hospital e chequei o horário no celular. Meia-noite. Estava tudo vazio e silencioso, olhei para os lados, havia uma praça em frente ao prédio e haviam alguns arbustos altos, se chamassem a polícia, eu poderia me esconder ali sem que me achassem. Bem, a não ser que eles estivessem com cães farejadores.

Respirei fundo e peguei o celular mais uma vez. Eu havia conseguido o número de Yoongi, o garoto do playground com leucemia, e foi fácil. Céus, tantas características no garoto para apontar, como por exemplo a cor do seu cabelo, a palidez da pele, etc, e eu vou me lembrar logo do maldito câncer. O ser humano é mesmo horrível. Eu consegui o número dele lançando um charme na recepcionista outro dia, acho que esse cabelo laranja realmente ajudou, as pessoas agora caíam na minha lábia facilmente, me sinto um mafioso.

Digitei uma mensagem para o garoto e esperei um pouco.

“Eu estou aqui, você consegue pular o muro ou precisa da minha ajuda?” Foi visualizada dois minutos depois e apareceu “digitando...” na tela.

“Ás vezes eu te acho meio burro, é claro que eu preciso de ajuda, olha o meu tamanho, cacete.”

Ri baixo daquilo e digitei um “ok”, me aproximando do muro.

— Jimin? Você tá aí? – ouvi a voz baixa do outro lado e respondi um “tô” — Tem uma escada aqui, calma, eu vou subir.

Logo ele subiu e sentou no muro, me encarando.

— Pula, eu te seguro.

— Cara, isso vai dar merda.

— Não vai não, confia em mim.

— Porra, eu vou cair! Eu tenho câncer!

— Merda, Yoongi! Desce logo!

E ficamos em uma discussão por um tempo, até ele finalmente pular em cima de mim, eu acabei caindo pra trás e batendo a cabeça no asfalto, mas ele estava intacto, e nem se importou de me ajudar a levantar, só bateu um pouco na roupa pra tirar a sujeira e ajeitou a mochila nas costas.

— Sai desse chão, vamos.

— Você nem vai me ajudar?

— Eu não, você tem duas pernas – cruzou os braços e me encarou com uma expressão de indiferença. Eu o socaria sem pensar duas vezes se ele não tivesse câncer.

Praguejei baixo e me levantei.

— Você é lerdo demais, vamos embora logo e não faça eu me arrepender de ter fugido do hospital.

 Suspirei.

— Tá.

Caminhamos lado a lado, a noite era fria.

— Onde você colocou o carro?

— Na outra rua – respondi e ele ficou resmungando baixinho.

Abri a porta pra que ele entrasse e ele entrou, a puxando com força.

— Não é porque eu sou doente que eu não consiga puxar uma porta – ele disse e eu sorri.

— Você tem a língua bem afiada.

— Cala a boca.

Continuamos nos alfinetando por um tempo, até o silêncio tomar conta de nós. A gente iria acampar só no dia seguinte, então ele ficaria na minha casa, eu só tinha medo do que poderia acontecer com ele e JungKook. Yoongi não era lá muito sociável, e JungKook era sensível. Isso poderia dar errado de várias formas possíveis.

— Yoongi.

— Hm?

— Tem um garoto... JungKook, ele mora comigo, ele é sensível, então não o faça chorar logo no primeiro dia em que se conhecerem.

— É seu namoradinho?

Corei.

— O-o que? N-não! Digamos que eu sou... hm, babá dele.

Ele riu.

— Relaxa, eu não sou de pisar nos sentimentos das pessoas assim.

— Ah eu duvido muito.

Ele revirou os olhos e eu ri, parei na garagem de casa e logo que entramos, pedi que ele ficasse a vontade. Vi a silhueta do garoto no sofá, a TV estava ligada e passava um desenho animado, me aproximei e vi que seus olhos estavam fechados.

— Kook, ei, acorda – cutuquei-o e seus olhos se abriram devagar.

— Hyung, desculpa, você demorou e eu acabei pegando no sono – ele murmurou e se espreguiçou.

— Você ficou me esperando esse tempo todo?

Ele assentiu com a cabeça e eu baguncei seus cabelos.

— Vá para o quarto, Yoongi vai dormir aqui.

— Quem é Y...

— Eu não vou dormir nesse sofá – o mesmo interrompeu e subiu as escadas, gritando de lá em cima em seguida: — Tem um colchão no chão grande o suficiente para vocês dois, eu durmo na cama! Minha coluna agradece!

— Na minha cama? Nem pensar! – subi correndo atrás dele, que me ignorou completamente, se jogando e se cobrindo com meu edredom com estampa de bichinho, suspirei.

— Quem é esse, hyung? – Jeon apareceu atrás de mim.

— É um amigo, ele vai acampar conosco e os meninos amanhã – respondi e bocejei — Eu estou cansado, vem, vamos dormir.

Ele assentiu e eu tirei o casaco.

— Muito prazer, JungKook – Yoongi disse de olhos fechados.

— É... muito prazer – o mais novo respondeu e eu ri.

Me deitei no colchão, o menor se deitou ao lado e eu cobri nós dois com um cobertor. Parecia meio estranho dormir com ele, mas isso não me incomodou em momento algum. Quando ouvi o ronco do esverdeado alguns minutos depois, presumi que talvez ele estivesse muito cansado, já que pegou no sono rapidamente.

Fechei os olhos, mas abri assim que a voz baixa do garoto ao meu lado me chamou.

— Hyung?

— Sim? – o observei, ele estava de olhos fechados, encolhido debaixo do fino cobertor, apoiei a cabeça no braço e fiquei o fitando, seus lábios formaram um pequeno sorriso.

— Boa noite.

Soltei um um riso baixo. Sua franja lisa caía pelos seus olhos, me impedindo de vê-los fechados pelo cansaço e o sono, então eu a afastei com cuidado e continuei reparando em cada detalhe do seu rosto. Havia uma pequena cicatriz na maçã do rosto, e eu a toquei, ele se retraiu um pouco mas permaneceu parado. 

Só de imaginar que alguém pudesse tê-lo machucado, eu sentia vontade de colocá-lo entre meus braços e protegê-lo do mundo. Não queria, de modo algum, que machucassem-no, ele não merecia isso, não merecia passar por tanta dor, não como eu. Fechei meus olhos também e tateei o lençol em busca da sua mão quentinha. Eu a peguei, soltando-a logo em seguida, visto que ele já havia adormecido e sua respiração estava lenta e pesada. Não sei o motivo, mas fiquei com um pouco de medo de segurar sua mão. 

Suspirei.

— Boa noite, Jeon JungKook. 


Notas Finais


Pra quem nunca ouviu nosso bebê (aka Jungkook) cantando Lost Stars, aqui está: https://www.youtube.com/watch?v=HKBjM4HsUcY

O que estão achando? Esse provavelmente é meu capítulo preferido até agora kekeke~
E repararam que a capa do capítulo está com fotos diferentes? A partir de agora vai ser usada essa, já que o Chim mudou a cor do cabelo na história. :v

É isso, comentem o que acharam, amo vocês e novamente obrigada pelos favoritos. ♥


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