Após o fechamento do shopping ao público, Jean e seus amigos chegaram ao local, manifestando insatisfação pela necessidade de permanecerem acordados durante toda a noite para vigiar o estabelecimento. Sasha, por outro lado, não expressou muita reclamação, sugerindo que poderiam desfrutar à vontade de sorvetes, uma vez que detinham as chaves de todas as lojas. Acreditava que poderiam consumir o que desejavam, pois ninguém poderia impedi-los. Os três amigos estavam posicionados na praça de alimentação, organizando-se e determinando suas responsabilidades: Jean assumiria o primeiro andar, supervisionando o estacionamento e outras áreas; Sasha permaneceria no segundo, monitorando a praça de alimentação e as salas de cinema; e Connie, no terceiro andar, responsável pelas joalherias e pela área do parque temático do estabelecimento.
A jovem morena percorria alegremente a praça de alimentação, observando as diversas lojas de comida com água na boca, ponderando se deveria utilizar seus privilégios de vigilante para adquirir algumas batatas fritas ou um milkshake. Sentia sua boca salivar só de imaginar tal possibilidade e, pensando que “o que não mata, engorda”, pegou as chaves da sorveteria para abrir o quiosque.
- Se eu levar um pouco para aqueles dois, eles nem vão me escrotear por isso. – ponderou consigo mesma, virando a maçaneta e adentrando na pequena sorveteria.
De sua pochete, retirou o tablet que lhe fora concedido, juntamente com seus amigos, pelo atual chefe dos três. Através desse dispositivo, podiam comunicar-se entre si e ter acesso às câmeras de segurança de todo o shopping, desde o estacionamento interno até a parte externa do estabelecimento. Seus dedos direcionaram-se ao botão que levava às câmeras do terceiro andar, buscando por Connie, vislumbrando-o perambular pela frente das lojas, notavelmente entediado com seu trabalho. Em seguida, examinou as câmeras do primeiro andar, identificando rapidamente Jean, que dormia sobre os bancos da recepção. Incomodada ao perceber o quão descompromissado o rapaz estava sendo, Sasha resolveu deixar seu posto e dirigir-se a Kirstein, que descansava tranquilamente no andar inferior. Com um copo de sorvete em uma mão e uma lanterna na outra, a mulher correu até onde seu amigo estava, deparando-se com ele dormindo sobre um banco e roncando alto, fazendo com que o som ecoasse por toda a recepção.
Desconsiderando o fato de que receberia uma repreensão em breve, ela introduziu o copo de sorvete no rosto do de cabelos castanhos, golpeando-o com vigor na face. O rapaz despertou imediatamente, visivelmente assustado com o que acabara de ocorrer. Ao avistar Sasha, Jean experimentou uma combinação de alívio e irritação: alívio por ela ter sido a responsável por despertá-lo e raiva por ter sido retirado de um sono que estava sendo agradável.
- Mas como você é um irresponsável, Jean!
- E você, uma grossa! Quem te deu o direito de me acordar dessa maneira? E onde diabos você conseguiu esse sorvete, hein? Porra, você me sujou todo! – protestou o de cabelos castanhos, utilizando as mangas de sua blusa para limpar o rosto.
- E você bem mereceu, quem mandou dormir durante o horário de trabalho!? Deveria, na verdade, me agradecer por tê-lo acordado, bela adormecida de Chernobyl. – retrucou Sasha, cruzando os braços.
Realmente, Jean deveria agradecer-lhe por tê-lo acordado. Seria um problema muito sério se fosse outra pessoa vendo-o dormir durante o horário de trabalho. “Se Sasha fosse homem, eu arrebentaria a cara dela com muito bom gosto...”, pensou o rapaz, enquanto ouvia um sermão da mais baixa, que destacava o quão irresponsável ele estava sendo naquele dia. Sasha Blouse, apesar de ser a mais louca do trio de amigos, era a mais responsável entre eles. Sempre tinha que resolver os problemas em que os dois rapazes se metiam, o que muitas vezes resultava em ela dar um tapa em um deles ou passar uma hora reclamando do quão burros eles conseguiam ser.
Connie ainda estava no terceiro andar, caminhando calmamente por todo o lugar. Focava sua lanterna nas vitrines das lojas e verificava se tudo estava em ordem, como esperado. Ele revirou os olhos e bufou de raiva, querendo entender como foi capaz de ceder à influência dos amigos e aceitar aquela proposta de trabalho, mesmo sem experiência para ser um guarda. No entanto, lembrou-se de que foi pelo salário ótimo e que seria útil para as dificuldades que o trio estava enfrentando naquele momento. O rapaz acabou tropeçando e sua lanterna saiu rolando pelo chão, passando pela entrada do parque temático do shopping. Ele correu imediatamente para dentro daquela área em busca do objeto fugitivo.
- A lanterna parou de funcionar, que saco! – reclamou Connie, batendo com força os pés no chão.
Estressado com a situação, Springer tirou o tablet do seu casaco e acessou a função de contatos para falar com seus amigos. Ele selecionou o ícone que conectaria seu dispositivo ao de Sasha e enviou uma mensagem de emergência para ela. Sabia que, ao ver seu nome em vermelho, ela responderia imediatamente. O rapaz de cabelos grisalhos olhou ao redor e achou o lugar bonito e divertido. Agora entendia por que tantas crianças insistiam em ir ao parque: havia muitos jogos de fliperama, um restaurante próprio, salão de festas e, o melhor de tudo, atrações musicais com robôs animatrônicos. Pensando nesses seres metálicos, Connie teve a brilhante ideia de ir até o palco onde eles ficavam para vê-los de perto e conferir se eram tão incríveis como as crianças diziam.
Ao se aproximar do palco, algo chamou sua atenção: os olhos do urso animatrônico estavam brilhando intensamente em um tom azul. Confuso, ele levantou uma das sobrancelhas e subiu no palco, se aproximando do robô e examinando seu corpo em busca de um botão de ligar e desligar, na esperança de economizar energia na atração. A única coisa que encontrou foi uma etiqueta com o nome daquele animatrônico e dos outros, o que o deixou levemente distraído.
- Freddy... Bonnie... Chica... e Foxy...
De repente, a atração robótica começou a apresentar espasmos, como se estivesse sofrendo um curto-circuito, levando Connie a se afastar, temendo ter feito algo errado e danificado a atração. Sentindo desespero e pensando nas consequências que aquilo causaria ao seu bolso esfarrapado, ele observou Freddy se contorcer, com o brilho dos olhos mudando de azul para vermelho intenso. Incapaz de entender o que estava acontecendo, Connie gradualmente se afastou do robô, percebendo que algo terrível estava prestes a ocorrer. Ele desceu do palco e decidiu sair do parque, mas antes disso, ouviu um rugido robótico extremamente alto vindo de dentro de Freddy, causando pânico no rapaz.
Imediatamente, ele saiu correndo dali e pegou seu tablet para verificar se sua amiga havia respondido, mas encontrou apenas uma caixa de mensagens vazia. Ele ligou para Jean, que não atendeu, e depois para Sasha, que também não atendeu, aumentando ainda mais seu desespero.
Enquanto isso, Jean e Sasha estavam desfrutando da sorveteria na praça de alimentação, saboreando sorvetes e alguns salgadinhos que pegaram no cinema, sem perceberem as chamadas perdidas de Springer. Sentados no balcão, cada um segurando uma casquinha de sorvete e um saco de salgadinhos, eles riam e conversavam sobre assuntos aleatórios, sem dar importância à sua verdadeira responsabilidade no shopping: vigiá-lo e garantir que nada de ruim acontecesse. O rosto de Blouse estava coberto de sorvete, enquanto Jean estava sujo e cheirando a Cheetos, ambos rindo da situação.
- O Connie vai ficar puto da vida quando descobrir que só ele está trabalhando! – disse Jean, soltando uma gargalhada alta.
- Coitado, deveríamos convidá-lo para a nossa festinha. Vou mandar uma mensagem para ele, me empresta o seu tablet? Esqueci o meu na recepção. – pediu Sasha, estendendo a mão para o amigo, que fez uma cara feia.
- Nem pensar, sua mão está toda suja de sorvete. Vai deixá-lo todo grudento, que nojo...
- Para de ser chato, me dá isso aqui! – gritou a morena, tentando pegar o aparelho que estava no bolso do amigo mais alto.
Os dois envolveram-se em uma briga devido ao tablet, com Kirstein tentando se livrar da mulher enquanto ela puxava seu cabelo, na esperança de fazê-lo desistir e entregar o que ela queria. Acabaram perdendo o equilíbrio e caindo do balcão, com Jean caindo no chão e Sasha por cima dele, ouvindo um som agudo de “creck”, indicando que o tablet foi danificado pelo impacto. Imediatamente, os dois jovens se levantaram para avaliar a extensão do dano, aliviados ao constatarem que apenas a tela estava trincada. Jean olhou furiosamente para Sasha, sentindo-se enfurecido, mas antes que pudesse repreendê-la, Connie apareceu.
O jovem de cabelos acinzentados transpirava frio, tremia e apresentava respiração desregulada, levando seus amigos a se aproximarem rapidamente, preocupados com seu estado físico.
- O que aconteceu com você? Não me diga que foi atacado por um ladrão! – perguntou Blouse, sentindo-se um pouco culpada, pois se tivesse sido mais responsável com seu trabalho, talvez pudesse ter evitado o que quer que tenha acontecido com o amigo.
- Não, mas foi quase...
- Ah, entendi o que aconteceu... puta que pariu, estamos fodidos! – gritou Jean, mostrando a tela de seu tablet, na qual estava aberta a visualização das câmeras de segurança do terceiro andar.
O trio sentiu o cu trancar ao avistarem Chica e Bonnie perambulando pelos corredores, enquanto Freddy descia as escadas rolantes com dificuldade, ameaçando cair. Sasha sentiu-se desesperada, rezando fervorosamente para que nada de ruim acontecesse a eles. Connie permaneceu assustado, mantendo-se calmo, enquanto Jean estava incrédulo e apavorado com a presença dos animatrônicos no andar de cima, especialmente porque um deles se aproximava da praça de alimentação onde estavam reunidos no segundo andar.
Os três não tinham a mínima ideia do que estava ocorrendo, mas tinham plena convicção de que não se tratava de algo positivo e que suas vidas estavam possivelmente em perigo.
Kirstein, mais uma vez, dirigiu-se às câmeras de segurança para verificar a localização dos animatrônicos, a fim de calcular o tempo disponível para fugir ou, ao menos, se esconder desses robôs cuja as intenções eram desconhecidas e suspeitas. Chica e Bonnie permaneciam na mesma posição, enquanto Freddy já havia alcançado o segundo andar. Foxy surgiu no salão de festas, demonstrando inquietação e olhando ao redor como se estivesse procurando alguém, o que aumentou ainda mais a apreensão do acastanhado, temendo que mais desses animatrônicos pudessem aparecer e colocar em risco sua vida e a de seus dois melhores amigos.
- E se eles forem bonzinhos? – questionou Sasha, tentando encontrar um aspecto positivo naquela terrível situação em que se encontravam.
- Não podemos ter certeza! Mas, ao olhar para a cara desses arrombados, é evidente que estão com o capeta na couro e provavelmente irão nos comer com farofa. – rebateu Jean, socando a parede com força, logo se arrependendo do ato ao sentir dor.
- Se fôssemos ricos, isso não estaria acontecendo. Odeio ser pobre! – choramingou Connie, abraçando sua amiga com força, compartilhando dos mesmos sentimentos de tristeza e revolta pelo fato de ambos serem pobres coitados que por pouco não iriam morar na sarjeta.
Kirstein revirou os olhos e voltou a analisar a situação com atenção, surpreendendo-se ao ver que Chica já havia alcançado a área do cinema. Sentiu indignação ao perceber como aquela galinha maldita havia chegado tão rapidamente até eles. Tentando manter a calma, ele procurou uma solução para fugir da sorveteria sem chamar a atenção da robô.
Com tranquilidade, o rapaz tentou explicar seu plano de fuga para os amigos, mas estes entraram em pânico e começaram a correr freneticamente pelo local, como baratas tontas. Sasha e Connie acabaram colidindo um com o outro e caíram no chão. Isso deixou Jean irritado e fez com que questionasse se valia a pena tentar salvar aqueles dois imbecis. No entanto, dado o amor que sentia por eles, como se fossem seus próprios irmãos, não teve outra opção senão escolher salvá-los também. De forma brusca, o acastanhado puxou as orelhas dos dois e começou a repreendê-los por agirem como idiotas, em vez de manterem a calma e executarem o plano que ele havia cuidadosamente elaborado.
Quando o trio finalmente se preparou para fugir da sorveteria, Chica apareceu, quebrando a porta de vidro e fazendo estilhaços voarem em sua direção. Eles conseguiram se esconder atrás do balcão, mas o desespero tomou conta dos jovens, que já não tinham certeza se conseguiriam sair dali vivos.
- Então, Sasha, ainda acha que eles são bonzinhos!? – perguntou Jean de forma irônica, sacudindo o corpo de sua amiga.
- Meu Deus, que “tistreza”!
- Vamos morrer, e eu nem tive a chance de me casar com um chef famoso! CARALHO, VÃO SE FODER, VOCÊS DOIS! – reclamou ela, chorando descontroladamente.
Kirstein observou ao lado e avistou uma cadeira de metal, tendo a brilhante ideia de pegá-la e correr na direção da animatrônica para atacá-la. Ao se aproximar o suficiente de Chica, começou a golpear a cadeira nos braços e rosto da galinha robótica, conseguindo afastá-la da entrada da sorveteria. Isso proporcionou espaço para que seus amigos pudessem escapar, o que eles prontamente fizeram. Jean, utilizando toda a força de seu corpo, desferiu um último golpe na cabeça do robô, fazendo-a se desprender e voar para longe. Sentindo-se aliviado ao pensar que isso a faria parar de se mover e voltar ao estado de quietude, sua tranquilidade foi efêmera, pois a mesma persistiu em se movimentar, procurando por sua cabeça e ignorando tanto o de cabelos castanhos quanto seus amigos.
Aproveitando-se da situação, ele correu em direção a Sasha e Connie, que o aguardavam do outro lado da praça de alimentação. Ao alcançá-los, foi calorosamente abraçado pelos dois, preocupados e temerosos de que algo adverso tivesse ocorrido com ele, dada sua importância para ambos. Jean revirou os olhos, suas bochechas coraram e ele prontamente afastou a dupla, solicitando o tablet de Connie, pois havia deixado o seu para trás.
- O coelho e o urso já ocupam este andar; precisamos evacuar imediatamente, pois não podemos contar com a mesma sorte que tivemos ao escapar da animatrônica anterior. – expressou ele, indicando os locais onde os outros dois animatrônicos se encontravam.
- Antigamente, eu amava a Freddy Fazbear Pizzaria... agora, desejo que ela seja demolida! A qualidade de suas pizzas sempre foi uma desgraça! Não farão falta. – comentou Sasha, cruzando os braços e surpreendendo seus amigos, que nunca a tinham ouvido falar negativamente sobre qualquer tipo de alimento.
Ignorando o comentário da colega e voltando a atenção para as câmeras de segurança, os três observaram os animatrônicos perambularem pelo andar onde se encontravam, mantendo uma distância considerável da praça de alimentação e da área do cinema, que estavam próximas uma da outra. Springer guardou seu tablet dentro do casaco e, junto de seus amigos, deixou o local cautelosamente, evitando fazer barulho para não atrair a atenção de Chica, que ainda estava presente, nem de Freddy e Bonnie, que se aproximavam da área onde o trio se refugiava.
Aproximaram-se das escadas de emergência, visando uma saída mais rápida do segundo andar. Contudo, não antecipavam encontrar-se com Foxy, que os observava alguns degraus acima. Sasha, surpreendida, arremessou um banco em direção ao animatrônico, atingindo-o em cheio, fazendo-o rolar pelas escadas e aproximar-se mais rapidamente. Jean e Connie olharam furiosos para ela, desejando matá-la. Kirstein segurou a mão de seus amigos e, sem hesitar, correu pelas escadas, concentrado apenas em sobreviver e salvar seus companheiros dos animatrônicos.
Chegando ao primeiro andar e se aproximando da saída para o estacionamento, Connie parou abruptamente, resultando em uma queda tripla. Jean encarou o rapaz esperando uma explicação para tal interrupção, mas a resposta de Connie foi simplesmente afirmar a necessidade de ir ao banheiro, levantando-se rapidamente.
- Preciso mesmo ir ao banheiro! – exclamou Springer, justificando sua parada.
- Agora, Connie? Estamos fugindo pelas nossas vidas, e você quer parar para cagar?
- Conseguimos despistá-los, acredito que dá tempo do Connie ir ao banheiro. – interviu Sasha, interferindo na discussão.
Jean permitiu que seu amigo fosse ao banheiro e voltou a observar as câmeras de segurança, percebendo que os animatrônicos estavam no segundo andar. Apesar do aparente momento seguro, não sabia quanto tempo demoraria para o retorno do acinzentado. Ameaçando urinar no carro se não fosse permitido, Connie foi autorizado, enquanto Jean e Sasha aguardavam, refletindo sobre a experiência e ponderando sobre a decisão de continuar trabalhando naquele shopping endiabrado que quase fez eles irem reencontrar seu ex-professor Erwin Smith.
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