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História Casada com o inimigo - A morte pode tornar você frio.


Escrita por: Cobrelia

Notas do Autor


Capítulo revisado√
Boa leitura.
BEIJOS NA BUNDA♡

Capítulo 17 - A morte pode tornar você frio.


Fanfic / Fanfiction Casada com o inimigo - A morte pode tornar você frio.

-"podemos conversar?" ela pergunta. Charlotte está em um incrível vestido preto, que abraça suas pernas até o joelho, e moldura bem seus seios. Ela também carrega uma bolsa prata, como se fosse para uma premiação após a visita.
-"Martty, leve a sra. Mecness até o escritório" digo ao Martty, ignorando a mulher atrás dele. Bem, eu lhe darei uma conversa. A chave é mostrar imparcialidade, já que Charlotte é um assunto inquietante. Desço os degraus que subi, e rumo ao escritório atrás deles.
Ela toca seus saltos no chão como uma serpente rasteja pelo prado. Sutil e predadora. Eu conheço sua maneira discreta de mostrar superioridade. Charlotte é um enigma ambulante, ela sabe colocar as pessoas em dúvida, e sair vitoriosa em qualquer situação.
Martty abre a porta do escritório, e ela anda para dentro, sem esperar por um convite formal. Talvez sua atitude, para além da beleza, tenha cativado ao Christian.
-"Eu não quero ser incomodada" digo, como uma ordem. Martty assente.
Caminho para dentro e fecho, trancando logo após, a porta. Charlotte está em pé perante a grande janela de vidro, olhando para o horizonte além de si.
-"eu sei que não sou sua visita favorita" ela comenta distraidamente. Estamos em impasse, pois ela acertou.
Eu me inclino sobre a mesa do Christian, e observo suas ações. Ela está segura, ao contrário de mim, que me sinto desconfortável.
-"nós começamos com o pé esquerdo. Por que manter inimizade? Pessoas têm relacionamentos passados, e não devemos nos prender em inseguranças" Charlotte vira-se para me encarar. Eu pensei que ela ficasse linda em vermelho, porém, ela também parece esplêndida em preto.
É a minha casa, porra! Não vou deixar essa vadia me provocar usando uma fraqueza. Ser forte...confiante...segura. Ela irá me atacar quando ver uma brecha na armadura.
-"meu marido é um homem de passado marcante. Contudo, eu não duvido do amor que ele sente por quem está no presente, no caso, eu" murmuro. Se ela pode ser cínica, eu lhe mostrarei um Nobel em cinismo.
-"Ótimo, Ana. Realmente bom" ela cobre os lábios com a mão esquerda, em sinal de ironia e surpresa.
-"por mais que eu duvide...é bom" Charlotte sussurra.
-"perdão, o que disse?"
-"que eu duvido desse presente tão exclusivo. Anastasia, eu conheço os desejos de um homem trocando apenas duas palavras. E sobre Christian...foram mais que duas palavras" ela sorri com alguma lembrança satisfatória.
Tudo bem, vadia. Seu salto precisaria ser muito mais alto para estar sobre mim! Não fode meu humor.
-"você pode conhecer todos os desejos, de todos os homens. Mas, do meu homem, eu conheço, e satisfaço" digo. Ela semicerra os olhos, e leva alguns segundos para assimilar. Eu não sou obrigada a jogar esse jogo ridículo, mas me divirto.
-"por que ele paga os psicólogos de Leila?" Pergunta olhando diretamente nos meus olhos. O que? Ela pensa que eu não sei sobre isto, ou que é um assunto mal resolvido?
-"Você veio até minha casa para falar sobre as boas ações do meu marido?" questiono. Seja mais filha da puta, pois ainda está fácil.
-"não" ela diz em uma voz arrastada, vendo o quão imparcial me sinto falando sobre Leila.
-"vim pedir desculpas por ser tão..." Charlotte balança as mãos para encontrar a palavra correta.
-"insinuativa" ela finalmente encontra. Bingo! Insinuativa parece vadia em termos sutis.
-"você não seria a primeira mulher a agir como uma vadia perto do Christian" murmuro.
If I see you and I don't speak, that means I don't fuck with you. I'm a boss, you a worker, bitch.
(Se eu te ver e não falar, significa que não me misturo com você. Eu sou uma chefe, você é uma empregada, vadia)
-"ah...desculpe o termo, mas o fato é que não precisa se desculpar" corrijo, como se tivesse usado o epitáfio de forma errada.
-"entendo sua posição" ela passa ambas as mãos pelo cabelo, e o coloca inteiramente para trás. Eu sorrio cordial.
-"Ana, não haja como se fossemos inimigas" Charlotte busca fixar seus olhos em mim, falando manso e pausado. Este é um ato de sinceridade, mas, diante de toda sua farsa, é duvidoso.
Por que ela está tentando prolongar essa conversa?
-"Charlotte, não haja como se fossemos íntimas" peço, usando um tom igual ao seu. Ana? Isto é sério, porra? À quanto tempo nos conhecemos? Dez anos?
-"está cometendo um grande erro" Ela me considera por um longo momento, deixando toda sua raiva transparecer. Sua voz inspira ameaça, o que assusta o inferno fora de mim. Não preciso ter coragem, apenas mostrar que não tenho medo, afinal.
-"aviso ou ameaça?" pergunto.
-"conselho" Charlotte responde imediatamente, sem sorriso ou insinuação. Por favor, deixe a merda do seu conselho no inferno mais próximo!
-"bem..." eu caminho até a porta, e a destranco. O show acaba aqui.
-"se estiver terminado, foi uma boa conversa" digo. Abro a porta, e estendo o braço para que ela se sinta convidada a sair. Charlotte caminha em passos rápidos para sair. Eu ouvi dizer que um louco se sente intimidado quando encontra alguém menos sano. Eu me sinto muito louca, e bem, confesso.
-"revigorante, não?" ela ergue as sobrancelhas, e sorri. Oh, você não imagina o quanto!
-"não volte aqui, se quiser que nossa relação seja apenas revigorante, e não infernal" esta, sim, é uma ameaça convicta. Martty está ao lado da porta, em uma distância respeitável. Não sei ao certo se ele ouviu, mas, seria bom que ele soubesse a hospitalidade que esta mulher deve ter aqui. Foda-se!
-"claro!" Charlotte acena com a cabeça, e posso ver lágrimas de ódio se formando em seus olhos. Ela procurou um demônio para a porra do seu inferno ao aparecer aqui para me provocar, ou pior, me intimidar!
-"Martty, leve a Sra. Mecness até seu carro" ordeno.
-"sim, senhora" ele concorda. Martty ainda não está apto, por isso ele permitiu que Charlotte entrasse. Espero ter sido clara o suficiente, para ambos.
-"adeus" sorrio para ela, e fecho a porta do escritório antes de ver sua reação. Ela seria muito filha da puta, e obtusa, se ainda quisesse foder comigo. Meu corpo relaxa de uma tensão que eu não senti antes. Não sei como consegui ser tão fria, e dizer coisas ofensivas. Não faz parte de mim, ou do que eu costumo ser!

●●●

Hoje, eu decidi que iria trabalhar após o almoço. Não sabia ao certo o horário que Christian sairia, e não quis correr o risco de estar no trabalho. De qualquer forma, eu preciso dizer que Charlotte esteve aqui, em paz. Talvez eu possa dizer quando chegar, porém, Martty deve dizer antes.
Merda!
Não houve problema, então, não há preocupação. Ele deve estar em pleno vôo. A viagem é de aproximadamente uma hora. Deixo uma mensagem para ele, antes de me arrumar para o trabalho.
*EU RECEBI CHARLOTTE AQUI, ELA QUERIA ME PEDIR DESCULPAS. ESTÁ TUDO BEM AGORA. ME LIGUE*
Uma reação vinda do cinquenta nunca é esperada. Estou tensa com o que ele pode fazer, quem sabe até voltar. Bem, eu espero que a mensagem seja superficial o suficiente para que ele não se preocupe.

Após o banho, escolho uma roupa no closet, calça envelope preta e camisa nude. Eu poderia calçar qualquer sapato, porém, me lembro do Louboutin que estava calçando ontem, no quarto de jogos.
Ando até o nosso quarto, e pego o salto sobre a cama. Eu o coloquei aqui, para guardar depois. Calço o salto, e foco na missão de arrumar meu cabelo. Um coque alto deve ser o suficiente.
Enquanto prendo o cabelo, meu BlackBerry toca 'Your love is king'. É uma chamada de Christian.
-"oi" murmuro assim que alcanço o aparelho e atendo.
-"Ana, oi" sua voz soa aliviada ao me ouvir. Acabo de prender o cabelo com um elástico preto, quase pronta.
-"Tudo bem?" ele pergunta, em seguida.
-"eu posso lidar com a sua ex, e ainda apaixonada submissa" brinco. Encaro meu reflexo no espelho, e gosto muito do resultado. Precisa apenas de algum gloss e hidratante facial.
-"Anastasia" Christian me repreende. Ele está se preocupando com algo fútil!
-"não se preocupe com assunto resolvido" eu reviro os olhos. Eu lidei bem com Charlotte, talvez melhor que Martty poderia.
-"eu me preocupo com qualquer coisa que possa te machucar" Christian derrama sua preocupação. Ele não quer seu presente colidindo com o passado, e eu entendo.
-"está tudo bem, ela veio me pedir desculpas." colocando em palavras, parece mais ridículo. Ando até a cômoda, e escolho um brilho labial de maçã, com pouca coloração.
-"você deve ter feito um bom trabalho com ela. Assustou até Martty" Christian diz em tom admirado. Martty foi rápido em avisar. O que posso dizer? trate uma vadia como o que ela é.
-"eu diria que ela está muito bem fodida, em muitos tons" ironizo. Aplico o brilho, e pressiono os lábios para o espalhar.
-"Anastasia, o que eu vou fazer com sua boca suja?" Questiona com diversão. Eu adoraria debater o que ele pode fazer com ela, claro, se não houvesse mais de mil quilômetros entre nós.
-"enquanto estiver longe? absolutamente nada" este é um claro desafio.
-"está me desafiando?" bingo, Sr. Grey! Eu não respondo, apenas espero que ele pegue o desafio.
-"eu posso voltar apenas para relembrar o quanto gosto de um desafio" Christian murmura, esperando apenas pela minha resposta para dar seu veredito.
-"eu sei que pode, e também sei que faria. Mas, acalme seus pensamentos sórdidos, não foi um desafio" digo. Lançar um desafio porque ele está longe é uma ideia excitante, e minha deusa interior se anima com isso.
-"ponto muito bem feito, Sra. Grey"
-"seu mal comportamento me anima, e me preocupa" ele confessa. Pego minha bolsa, que já está pronta em cima da cama, com tudo que eu preciso antes de sair.
-"eu sou uma boa garota. Não farei nada absurdo, além de saltar de paraquedas, ou dirigir na contramão" digo séria, e logo depois solto uma gargalhada. Saio do quarto, e fecho a porta atrás de mim. Eu posso sair dentro de vinte minutos, se a Sra. Jones tiver terminado o almoço.
-"Ana, fique longe de carros, ou paraquedas" Por que tão chato, Grey? Vamos brincar.
-"eu gosto de carros, especialmente Lamborghini" murmuro. Não me esqueço da sua promessa com o carro, e espero que seja cumprida.
-"isso me excita" sussurro, após um ou dois segundos de silêncio.
-"eu sei o que você está fazendo"
-"no momento? apenas vestindo sua cueca" digo divertida, porque eu quero que ele saiba.
-"você está? Isso me deixa muito...feliz" feliz é mesmo a palavra?
-"eu gosto que você vista minhas roupas" Christian admite. Ouço alguém, um homem, falar com ele. Uma voz distante. Não parece um problema, apenas um compromisso.
-"comporte-se, Ana. Eu preciso desligar"
-"eu prometo me comportar. Adeus, Christian"
-"baby, eu te amo"
-"eu te amo" repito. Ele continua na linha, em silêncio, como se não quisesse desligar. Ouço sua respiração compassada, e imagino que ele esteja fazendo o mesmo.
-"até mais" dito isto, Christian desliga. Apenas uma conversa com ele pode levantar meu humor. É surpreendente o efeito que ele tem em mim.
I've been dancing on my own
There's boys up in my zone
But they can't turn me on
'Cause baby you're the only one I'm coming for
(Tenho dançado sozinha
Há garotos dando em cima de mim
Mas eles não conseguem me excitar
Porque, querido, você é o único que eu estou querendo)

DIA SEGUINTE...

Acordo com alguns raios de luz infiltrando o quarto. Olhando o relógio de cabeceira, vejo que são oito horas da manhã. Ainda é cedo, e, como não irei trabalhar, posso fazer algo proveitoso. Christian não está para fazer companhia, ou mais que isso...
Seria mais fácil suportar a ausência dele se eu fosse ver Kate. Certo, farei isto!
Me levanto, e rumo ao banheiro. O dia de ontem foi cansativo, eu fiquei até tarde na SIP, e, na volta, ainda houve um trânsito terrível. Espero poder relaxar hoje, e nos próximos dias...sem o cinquenta.
Tomo um banho descontraído, sem resquícios de pressa. Visto um vestido azul, com tela inglesa sobre a saia, comprimento até o joelho, e uma cueca do Christian. Vou passar a usar suas cuecas mais vezes.
Enquanto analiso o vestido no espelho, decido se irei ver Kate, ou José...quem sabe Ethan. Apenas uma visita para não ficar só. O vestido é realmente lindo, e foi comprado durante a nossa lua de mel no Sul da França. Uma roupa que me expira bons pensamentos.
Bem, conversar com alguém íntimo sobre o que acontece na minha vida, seria muito bom. Ninguém melhor que Kate para ouvir meus desabafos.
Procuro o nome do Martty na minha lista de contatos, e escrevo uma mensagem para o mesmo. Ele é o único segurança comigo, pois Taylor e Ryan estão com Christian. Lough está resolvendo os problemas que Taylor resolveria, e voltará para o Escala ainda hoje.
*MARTTY, BOM DIA. PODERIA ME LEVAR ATÉ O APARTAMENTO DE KATE KAVANAGH?"
Enquanto espero sua resposta, penteio o cabelo defronte ao grande espelho do quarto. Escovo as mechas molhadas mesmo, apenas para desembaraçar os fios. Pego um par de sapatilhas azuis, assim como o vestido, dentro do armário. Porra! Eu pareço uma boneca com roupa e sapatos cordiais. Troco as sapatilhas azuis por uma plataforma de couro caramelado, com uma tira frontal, e outra presa ao tornozelo.
Meu BlackBerry vibra com uma nova mensagem. Resposta de Martty, espero.
*BOM DIA, SRA. GREY. EU TEREI QUE AVISAR AO SENHOR GREY*
Reviro os olhos para sua resposta. Eu tenho permissão para respirar sem que Christian saiba? Foda-se, então.
*CLARO* pressiono a tecla 'enviar' e lanço o aparelho sobre a cômoda. Assim que o faço, ele começa a tocar. Martty não pôde ser tão rápido em avisar a ponto de Christian me ligar agora. Analisando em perspectiva, não é o toque que eu separei para Christian. Olho o identificador de chamadas, é minha mãe.
Meu coração perde uma batida. Ela não faz ligações surpresas. O que há com Carla, ou Bob?
Respira fundo, Ana, não aconteceu nada. Atendo ao telefonema, e ouço uma voz chorosa. Porra! Não é minha mãe!
-"Bob?" murmuro indecisa. Não sei se realmente é ele, pois a voz está embargada.
-"Ana" sussurra Bob.
-"Bob, o que aconteceu?" Pergunto. Todo meu corpo está tenso, e o sangue é drenado do meu rosto.
-"ela...ela estava bem" ele inicia. Ela? minha mãe? merda!
-"Carla começou a sangrar, e nós pensamos que fosse algo comum. Ela iria para o hospital no dia seguinte, mas..." Bob é incapaz de completar. Ele está apavorado, e eu me pego imitando sua respiração pesada.
-"merda! O que aconteceu?" pergunto.
-"o sangramento ficou mais intenso. Ela sangrava pela boca, e eu liguei para a emergência" por que ele está dando rodeios? eu quero saber a porra que houve com minha mãe! Bob está me enrolando!
-"quando eles levaram sua mãe, ela estava quase inconsciente"
Tento dissolver o conjunto de informações. Ainda não sei o estado dela, e menos sobre o que realmente houve. Bob está chorando, desolado. Deus queira que seja apenas um susto!
-"Foi uma hemorragia interna, causada por....por um AVC" ele finalmente diz. O que? Por um instante, vejo meu mundo em órbita. Vários 'e se' rondam minha mente, e nenhuma certeza me mantém constante.
-"o que?" é a única coisa que consigo pronunciar.
-"estamos no hospital, e até agora está é a única informação que eu tenho"
-"Bob, quando isso aconteceu?" reúno todos as forças para perguntar. As palavras estão escapando de mim, e eu penso apenas em estar com minha mãe.
-"de manhã, no primeiro horário" Bob volta a soluçar. Eu entendo o desespero dele, e me encontro no mesmo estado.
-"tudo bem...tudo bem" digo para lhe tranquilizar, em uma falha tentativa. Eu desabo de joelhos no chão, a superfície mais próxima do meu corpo. Minhas pernas estão como gelatina, sem forças para me sustentar.
-"Ana, eu estou desesperado!" Ele confessa. Eu não estou desesperada. Minha mente ainda não abraçou a idéia de que minha mãe está...o que? doente?
-"ela é forte, e vai ficar bem" sussurro. Por que esta frase parece uma mentira? No meu íntimo, eu sei que a situação é delicada, e tenho poucas esperanças. Não sei o que pensar, droga!
É óbvio que eu preciso ir para lá, ficar com ela. Eu quase perdi Ray, e fiquei tão mal por isso. Não posso chegar perto de perder minha mãe!
-"me ligue quando tiver notícias. Estarei com vocês assim que puder. Eu ligo depois, Bob"
-"certo, Ana. Eu ligo"
Assim que desligo a chamada com Bob, sinto as lágrimas frias escorrendo pelo meu rosto. Como se eu estivesse acreditando somente agora, um choque de realidade me atinge. Algo, alguém, sempre alguma merda desaba sobre mim!
O que eu posso fazer? Um vôo comercial iria demorar muito, mas, não vejo outra opção. Christian não pode, e não iria se opor. É a minha mãe, caralho!
Não tenho palavras, apenas lágrimas. Por não estar com minha mãe, por estar longe de Christian, por ter ouvido insinuações ridículas de Charlotte, por não ter aproveitado meus momentos com Carla. Minhas lágrimas são mais que tristeza, são  o resultado de tanto peso.
Eu preciso ligar para o Christian, eu preciso estar o quanto antes na Geórgia. Com as mãos trêmulas, eu busco seu contato na lista de chamadas recentes, e tomo uma grande ingestão de ar antes de ligar para ele. Não posso parecer histérica!
-"oi, baby" Christian atende no primeiro toque, como se estivesse com seu BlackBerry em mãos.
"Christi.." sussurro sem terminar de dizer as palavras, e meu choro volta. Eu pensei que poderia ser mais forte do que isto! Meu coração está doendo muito, apertado como se meu peito não tivesse espaço suficiente.
-"Ana, o que aconteceu? Você está bem?" ele pergunta. Minha ligação, e choro, devem estar acabando com ele. Tudo bem! Eu preciso explicar.
-"Anastasia" Christian chama.
-"minha mãe..." eu não sei se ele vê algum nexo no que eu digo.
-"Calma, Ana. Me diga o que aconteceu com sua mãe" ele pede ainda em seu tom preocupado. Não consigo dizer, porra! As palavras estão presas na minha garganta. Apenas soluços e lágrimas saem de mim. Estou presa no cativeiro das minhas emoções.
-"respire, baby. Respire fundo" sua voz soa mansa, me relaxando. Tento respirar como ele pede, profundamente. Fecho os olhos para me concentrar em dizer o que houve. Quanto antes eu disser, melhor será.
-"Bob me ligou para dizer que minha mãe está no hospital. Desde a madrugada, eu acho. Ela teve uma hemorragia, seguida por AVC" digo em um só fôlego. Sinto que se eu parar para pensar, as palavras serão mais pesadas.
-"oh, Ana" Christian pondera por um instante.
-"você precisa de mim em Seattle?" questiona. Sim, eu preciso desesperadamente! Não me obrigue e mentir, e dizer que não. Eu o quero para me abraçar, e dizer que tudo ficará bem, por mais que não seja verdade. Apenas sua presença...é o suficiente.
-"não, Christian, resolva seus problemas. Eu preciso ir para a Geórgia, o quanto antes" mudo o assunto, para que ele não perceba a carência em minha frase. Eu o amo muito para colocar meus problemas acima dos seus.
-"o jato está em Seattle. Você estará saindo em torno de uma hora" eu admiro a praticidade do meu marido, e ainda mais o seu amor e compreensão. Me sinto feliz em contar com sua ajuda, mesmo distante.
-"obrigada" sussurro.
-"Ana, vai ficar tudo bem. Eu irei ligar a cada minuto, será como estar comigo" seu tom é reconfortante. Baby, estar com você é uma sensação incomparável. Porém, eu me conformo com sua boa vontade. É o suficiente para manter aquecida durante o inverno que se forma dentro de mim.
-"eu sei..."
-"eu te amo muito" ele diz. Sua voz é como um talismã, e agora me sinto forte o bastante para ir até a Geórgia sem cambalear em meus pés.
-"eu também te amo. Bem, eu preciso arrumar algumas coisas agora. Me ligue" peço, quase suplicando. No estado em que estou, qualquer sinal de abandono acabaria comigo.
-"eu prometo. Até mais, amor"
-"Adeus, Christian"
Seco as lágrimas usando as costas da mãos. Preciso ser forte agora. Sair por aquela porta é a minha missão mais árdua. Me levanto com alguma dificuldade, tendo em mente apenas pensamentos positivos. Pego minha bolsa sobre a cômoda, que é o essencial. Não tenho tempo para malas, e, pela primeira vez, não me importo em comprar roupas depois. O que eu irei vestir não é prioridade. Coloco o BlackBerry dentro da bolsa, e pesco meus óculos escuros. Eu quero esconder a derrota no meu olhar, pelo menos o quanto eu aguentar.
Abro a porta do quarto, e me deparo com Martty indo para abrir a mesma. Ele está pronto para me avisar sobre o vôo, eu acho.
-"Sra. Grey" ele avalia meu rosto. Me pergunto se ele sabe sobre ocorrido, e chego a conclusão que não. Christian não seria mais indiscreto que cavalheiro.
-"o jato está esperando por nós na pista de decolagem" anuncia. Quão rápido isso foi? Não se passaram cinco minutos, e Christian têm tudo pronto.
-"está bem"
O caminho até a pista de pouso é mais longo do que nunca. Meu coração está disparado, a respiração difícil, rosto gélido. Puxo minhas pernas contra o peito, e às abraço. Me encolho no banco de trás do Audi SUV, tentando me proteger e isolar de toda dor. Eu quero ligar para Bob, mesmo que ele não tenha notícias. Alcanço o BlackBerry dentro da bolsa, e faço uma chamada para o celular da minha mãe.
-"Bob" saúdo assim que ele atende. Minha voz é a personificação da decadência
-"Ana" ele diz usando um tom baixo, pior que o meu.
-"eu não tenho novidades, e isso é bom" ele respira fundo, mal crendo em suas próprias palavras.
-"sim, claro. Eu estou indo para a Geórgia, mantenha-se forte até eu chegar" peço. Carla precisa dele em seu melhor estado.
-"eu tento. Mas, como você está?" sua pergunta é quase retórica. O que posso dizer? meu mundo está desmoronando em baixo de mim.
-"eu não estou bem" sou sincera ao responder. Martty para em frente às grades da pista de pouco, esperando por um terceiro que caminha rumo ao carro para abrir os portões.
-"eu quero ser informada sobre qualquer coisa, Bob" murmuro.
-"eu sei, Ana" ele diz com compreensão.
-"obrigada por estar com ela" agradeço. Eu não sei o que faria se Bob não existisse. Ele está sendo muito prestativo em me avisar, e seu desconforto mostra o quanto ele a ama.
-"é meu dever estar aqui" sussurra. Eu me sentiria da mesma forma com relação ao Christian.

Martty parte com o carro adentro dos portões, e eu avisto o jato da GEH em posição de embarque.
-"eu irei entrar no vôo em poucos minutos. Eu ligo quando pousar"
-"tudo bem. Adeus, Anastasia"
-"até mais, Bob" digo, e desligo. Encosto minha cabeça no vidro do carro, e faço uma oração silenciosa.
Por favor, por favor, deixe que minha mãe fique bem. Deus, por favor.
Espero encolhida no carro, enquanto Martty conversa com o piloto e copiloto. Meus pensamentos divagam para as lembranças felizes que eu tenho deste jato. A situação é diferente agora, e eu estou, e me sinto, completamente sozinha.
Martty bate dua vezes no vidro oposto ao que eu estou encostada, para capturar minha atenção.
-"Sra. Grey, já pode embarcar" murmura.
-"claro" concordo. Ele circula o carro para abrir minha porta, e eu desço juntamente com minha bolsa. Ouço meu Blackberry tocar 'Your love is King', e meu coração acelera. Atendo imediatamente a chamada de Christian.
-"oi" sussurro com a voz chorosa. Nas últimas horas, tudo o que fiz foi chorar. Martty anda atrás de mim até o jato.
-"Ana, como está sua mãe?" Pergunta. Eu sei o quanto ele está se preocupando comigo. Leio os crachás do piloto e copiloto, Joe e Dylan, respectivamente.
-"Bob não disse muito" respondo. Joe e Dylan acenam com a cabeça, vendo que eu estou em uma chamada.
-"e como você está?" Ele questiona. Oh, Christian, eu estou desabando, e tudo o que eu preciso é do seu abraço. Tomo uma aguda ingestão de ar.
-"morrendo um pouco a cada segundo"
-"vai ficar tudo bem. Eu vou estar com você assim que puder" ele garante. Serei o mais forte que puder até terça, quando ele poderá estar comigo. As horas não estão passando para mim, e dias serão como milênios. Por Deus! estou entrando em desespero.
-"talvez até lá eu não precise tanto de você como eu preciso agora" assim que falo, eu me arrependo. Ele não precisa pensar que está sendo inútil, porra!
-"Mas, eu quero que você fique em Las Vegas. Sei que seus problemas são grandes. Não quero atrapalhar" tento remediar.
-"você não me atrapalha nunca" sussurra. Eu subo as escadas do jato, pronta para encerrar a conversa com Christian, antes que eu implore em códigos para que ele volte.
"Bem, eu vou embarcar agora. Eu ligo quando pousar"
Os homens sobem as escadas atrás de mim, mesmo Martty. Está situação colocou todos em um inferno fodido!
-"até mais, baby" Christian se despede.
-"tchau" murmuro e desligo. Meu pensamento está inteiramente na Geórgia, em algum hospital, com minha mãe. Não sei se ela sente dor, ou algo pior. As ideias sobre seu estado estão me machucando muito.
Sento-me na mesma poltrona que estive na nossa lua de mel. Afivelo o cinto, pronta para todo o mal que a decolagem me causa. Martty toma seu lugar do outro lado, parecendo tranquilo.
-"Sejam bem vindos a bordo do Boeing 737-200. Aqui é o comandante Joe. Pedimos a sua atenção para demostração do nosso equipamento de emergência. Os cintos deverão estar afivelados enquanto permanecerem sentados. Mantenham os encostos das poltronas na posição vertical" Joe inicia dizendo os preâmbulos que precisa, antes de decolar.
-"Daremos a seguir algumas informações sobre a nossa viagem. O tempo de vôo até Geórgia, Savannah está estimado em quatro horas. A partir deste momento, é proibida a utilização de qualquer equipamento eletrônico. Tenham uma boa viagem"
A aeronave começa a patinar sobre a pista, e toma velocidade suficiente para decolar. Meu estômago despenca em queda livre. Christian costuma segurar minha mão nesse momento, mas ele está ocupado com seus próprios problemas. Eu tenho que aguentar!
Fecho os olhos para que a sensação seja menos ruim. Penso em uma época distante, quando eu era apenas uma criança. Minha mãe nunca foi uma boa cozinheira, mas eu adorava a comida dela, simplesmente pelo fato de ser feita pela pessoa que eu mais amava.

●●●

Assim que Joe efetua o pouso, eu diria que perfeitamente, eu e Martty descemos na pista de pouso da Geórgia. O vôo durou quatro horas, e, considerando o fuso horário, são cinco horas da tarde. Ainda tenho tempo para ver minha mãe hoje.
Ligo para Christian quando estou em terra firme, porém, ele não atende. Ele está ocupado, e irá retornar depois.
-"Sra. Grey, o SUV está esperando por suas ordens" Martty avisa. Concordo com a cabeça. Bem, irei mandar uma mensagem para Bob e perguntar sobre a localização do hospital
*OLÁ, BOB. ESTOU EM SAVANNAH. ME DIGA O NOME DO HOSPITAL, POR FAVOR*
Na mesma pista de pouso, há um Audi SUV branco, esperando por nós. Christian é realmente um homem de praticidade!
Martty abre a porta traseira para que eu entre, e eu o faço. Há um homem na frente, o motorista. Ele é um homem de aparentemente trinta anos, ou menos, com barba castanha, e olhos na mesma cor. Sua barba lhe deixa envelhecido.
-"Sra. Grey, eu sou Caio" o homem cumprimenta.
-"olá, Caio" murmuro. Martty permanece do lado de fora, trocando algumas palavras com Joe. Merda! Por que Bob não responde? Não posso perder tempo. Como se o pensamento fosse sobrenatural, recebo uma mensagem. O ditado 'falando no diabo' nunca foi tão propício.
*CERTO. HG-EMERGENCY* responde.
-"HG-emergency, por favor" digo para o motorista.
Confesso que estou cansada, muito cansada, mas, minha mãe é mais importante do que qualquer coisa. Agora estou perto de estar com ela.

Seasons, they will change
Life will make you grow
Death can make you hard.
Everything is temporary. Everything will slide

(Estações, elas vão mudar
A vida vai fazer você crescer
A morte pode te deixar frio.
Tudo é temporário. Tudo vai deslizar)

Chegamos no hospital dez minutos depois. É o hospital Central, portanto, perto da maioria dos locais. Na recepção, não recebi muitas informações. Uma moça ruiva me disse para esperar na recepção do segundo andar. Segundo ela, havia um homem esperando pela mesma pessoa. Neste momento, estou no elevador com Martty, rumo ao segundo andar. As portas metálicas se abrem, e eu salto para fora o mais rápido que minha anatomia permite. A recepção é pouco decorada, e menos acolhedora. Apenas cadeiras brancas, e um filtro com copos descartáveis.
Avisto Bob sentado em uma das cadeiras, parecendo muito desconfortável.
-"Bob" chamo ao me aproximar. Ele ergue a cabeça, e eu posso ver olheiras profundas em seu rosto pálido.
-"Ana, querida" Bob se levanta com os braços estendidos para me abraçar. Eu retribuo seu abraço. A sensação é angustiante, pois estamos partilhando da mesma dor.
-"como está?" pergunto. Seu olhar magoado diz muito. Ele parece abatido, cansado, perturbado.
-"esperando" responde vagamente. Eu estive esperando pelo mesmo que ele, notícias. Nenhum de nós sabe, porém, ele esteve aqui desde a manhã, e precisa descansar.
-"você precisa descansar" digo.
-"não, eu vou ficar" murmura balançando a cabeça, enfatizando sua negação. O que há com homens difíceis em minha vida? Porra, eu irei ficar e fazer o mesmo que ele vem fazendo! Sou a filha dela!
-"Bob, não adianta ficar aqui sem notícias. Por favor, um de nós deve estar bem para quando ela acordar. Eu saio daqui apenas quando ver minha mãe" murmuro olhando para seus olhos cansados.
-"você venceu" Bob lança as mãos para cima, indicando desistência.
-"eu volto a noite" ele diz.
-"tenho certeza que sim" sorrio gentilmente. Bob, com certeza, subiu em meu conceito. Eu não esperava tanto dele, digo, comparado aos maridos anteriores. Ele deixa um beijo em minha face, e ruma ao elevador. O homem precisa de uma banho, comida decente e horas de sono.
Eu jogo meu corpo na mesma cadeira que Bob estava. Quanto tempo ainda preciso esperar? Quero a certeza de que ela está bem, e nada mais!
-"Ana" Martty chama. Estou profundamente surpresa com sua maneira sutil de me chamar. Onde estão as formalidades? Talvez ele esteja dando lugar a empatia.
Ele me entrega um copo descartável com água, e eu aceito. Não tenho nada em meu estômago desde ontem! É a primeira vez no dia que sinto falta de suprimentos.
-"obrigada, Martty" agradeço forçando meu melhor sorriso.
-"não por isso."
Ouvimos o 'ding' das portas do elevador. Imagino que seja Bob mudando de ideia sobre descansar. Porém, para minha alegria e surpresa, Christian entra na sala de recepção.
Puta merda!
Seu olhar varre todo o ambiente procurando por mim. Quando ele me encontra, seus olhos travam em com ansiedade. Christian sorri, e a sombra de um sorriso cruza meu rosto, em reflexo.
Me levanto, e literalmente corro ao seu encontro. Christian me recebe com braços abertos, e me prende contra seu peito. Abraço seu torso como se fosse minha última oportunidade.
Ele está aqui...está aqui por mim!
-"oh, Christian" sussurro. Era isso que eu queria e precisava, do meu marido, dos seus braços. Estava faltando muito antes dele.
Christian beija o topo da minha cabeça e inala suavemente meu aroma. Uma lágrima isolada escorre pelo meu rosto. Ele faz por mim basicamente o que Bob faz por minha mãe, e, para além de encantada, me sinto mais apaixonada.  
-"você tem um aroma celestial, Anastasia" murmura.
-"você disse que não poderia voltar antes da próxima semana" sussurro, quase lhe acusando. Christian segura meus ombros, e me mantém na distância de um braço. Ele está me analisando. Quantos danos eu tenho, afinal?
Christian enxuga a lágrima da minha bochecha, e sorri reconfortante.
-"você me ligou chorando" ele diz, como se isto fosse explicação suficiente.
-"eu cancelei todos os meus compromissos para ficar com você" murmura. Com certeza, uma parte de mim está melhor por ele estar comigo.
-"Christian, não precisava estar aqui, esses são meus problemas" digo. Sim, eu estou melhor, porém, não quero atrapalhar sua vida. Eu penso que ele veio por pena, ou por estar comovido.
-"seus problemas se tornaram meus quando você disse sim" Christian diz e volta a me abraçar. Deixo um beijo em seu peito, mesmo sobre a camisa, e posso sentir seu aroma amadeirado invadir minhas narinas. É o meu homem...o amor da minha vida!
-"eu amo você" sussurro.


Notas Finais


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Beijos na bundaaaaa♥
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