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História 500 Dias Com SprinterKombi - (84) Video Boy


Escrita por: PalestraBoy

Capítulo 9 - (84) Video Boy


Fanfic / Fanfiction 500 Dias Com SprinterKombi - (84) Video Boy

Capítulo 9

Vídeo Boy

(Dia 83)

“Happy New Year” apareceu na tela da TV de tubo quando Maurílio apertou o play no videocassete empoeirado. Era fevereiro e o ano havia começado de forma feliz, agora que havia descoberto o amor. Inicialmente ficou surpreso ao descobrir que Julinho ainda possuía aquele equipamento audiovisual em casa, mas considerando a quantidade de fitas VHS em uma caixa debaixo da cama, conseguia entender a necessidade.

O piloto sorriu instantaneamente ao ver o Julinho do final dos anos 90, enxaguando um carro branco, só de calção e boné. Cantarolava e dançava, animado, um pagode – ou samba, ele não sabia a diferença – do grupo Revelação. Fazia gracejos pra câmera com seu corpo mais magro e menos peludo. Tatuagem no braço e um cavanhaque no lugar do conhecido bigode.

Maurílio pegou-se fechando o sorriso ao pensar em quem estaria filmando seu namorado naqueles dias. Olhou para a caixa encardida do VHS, onde estava escrito com letras de forma: “VIDEO BOY”. Palavras que no take seguinte, onde o vídeo corta pra outro momento daquele dia, Julinho gritava em alto e bom som.

Eis que a câmera, com dificuldade, dá um zoom em um boteco de esquina, de onde surge um rapaz de camisa azul e rosa. Maurílio não pode deixar de enxergar alguma semelhança entre ele mesmo e o Vídeo Boy: ambos eram magros, estatura mediana, cabelos escuros e volumosos. Este, porém, usava mullet, aquele cabelo de Chitãozinho e Xororó que já havia saído de moda naquele tempo. Não pode deixar de notar, entretanto, que o rapaz tinha um bigode muito semelhante ao que Julinho usa hoje em dia.

No vídeo, o piloto da Sprinter para o caso em frente ao boteco e o Vídeo Boy caminha em sua direção, pulando para dentro do veículo pela janela. No instante em que os dois se encontra, a lente da câmera é direcionada para baixo, permanecendo assim por alguns segundos misteriosos, que pareciam uma eternidade na mente de Maurílio.

Quando a imagem retorna do corte caseiro, o veículo já está em movimento e o vídeo boy está no comando da filmagem. O foco por um tempo mantem-se em Julinho, com sua costeleta abaixo da orelha e um óculos de sol digno de Reginaldo Rossi. Batucava na janela algum brega desconhecido que tocava no rádio, enquanto bebericava uma latinha de cerveja gelada.

- ‘Cê tá curtindo um curta metragem? – perguntou Julinho, surgindo ao lado de Maurílio com uma xícara de café e uma toalha ao redor do pescoço, sentando-se ao seu lado no sofá surrado, só de calça jeans. – E você não gostar do que vai ver, dodói.

Maurílio precisou racionar alguns instantes se pagaria para ver o que o namorado o estava alertando. Na TV, cenas do Julinho rapaz com seu Vídeo Boy em um churrasco com pagode no estacionamento do estádio, dançando com uma morena gostosa e comendo um espetinho de procedência duvidosa.

Parecia o mesmo Julinho, que gostava de saborear e festejar a vida, comendo e bebendo e fazendo apenas o que queria. Brigando com o time rival e gritando palavrão quando se empolgava com o futebol.

- Vou vestir uma camisa, já estamos atrasados pro trabalho. – disse Julinho, levantando-se do sofá enquanto esfregava a toalha no cabelo. – Não diga que não avisei.

Maurílio permaneceu sentado, de pernas cruzadas, aproveitando a xícara de café que o namorado havia deixado. No controle remoto, avançava o vídeo para matar a sua curiosidade. Enquanto as filmagens alternavam entre um jogo morno e uma torcida organizada com tambores e gritos de guerra, o rapaz pensava se realmente desejava continuar.

- AGORA É NA GAVETA, OTÁRIO! – gritou o Julinho jovem na TV. Aparentemente, seu time havia sofrido um pênalti no último lance do jogo. O rapaz pulava na arquibancada, torcendo para seu atacante fazer aquele gol.

A câmera focou a trave do adversário quando a bola entrou e com muita dificuldade continuou filmando aquele momento de festa. Como uma selfie num tempo em que elas não existiam, o vídeo boy virou a câmera pra si próprio, enquanto Julinho lhe abraçava e trocava um beijo de língua. A visão foi tapada pela nuca de uma loira, que se meteu entre os dois e também trocou saliva com o futuro piloto de sprinter.

Corte na edição do filme, agora em meio a arquibancada em festa após o encerramento do jogo. Maurílio fica levemente ruborizado ao ver o vídeo boy sendo filmado por Julinho. O rapaz moreno tira rapidamente toda a sua roupa, escalando nu a tela do alambrado, invadindo o campo como veio ao mundo.

- Ah muleque! Caralho, que bundinha bonita, heim bixo. – dizia a voz de Julinho por trás da câmera, dando um close nas nádegas do rapaz e seguindo-o enquanto o time adversário tentava segurá-lo.

Julinho retornou a sala, agora vestido de regata, calça jeans e tênis. Parou na frente da TV para chamar a atenção do namorado, olhando-o com um sorriso levado no rosto. Maurílio levantou a cabeça, um olho no namorado e o outro tentando continuar enxergando o vídeo.

- Então era assim que o pequeno Julinho se comportava? – perguntou Maurílio com ironia. Os três meses que passaram juntos haviam sido bastante esclarecedores sobre que tipo de pessoa era o piloto, mas ele sempre tinha algo a mais para lhe revelar.

- É, Maurílio. – respondeu Julinho, olhando a tela da TV e vendo uma cena em que estava envolvido em uma briga no meio do campo contra a torcida rival para salvar seu parceiro pelado. – E algumas merdas eu continuo fazendo igual. Falo com tranquilidade. Ó, foi aí que consegui essa cicatriz.

- O que aconteceu com o Vídeo Boy? – perguntou Maurílio, com curiosidade, enquanto o vídeo da briga continuava a ser filmado com a câmera solta no gramado.

- O que acontece com todo mundo. – disse Julinho, sentando-se ao seu lado. – A vida. A gente percebeu que não daria certo, a gente nem entendia o que tava fazendo.

- Você nunca mais viu esse cara? – indagou o rapaz curioso. Percebia que havia algo na voz do piloto que guardava algum carinho por aquela pessoa.

- Na real, faz tempo que não vejo ele. – respondeu o piloto, olhando para o alto como se tivesse tentando buscar algo em sua mente. – Ele começou a trabalhar com TV... ou cinema... aí prometi que nunca mais iria me envolver com gente desse meio.

O olhar dos dois se cruzou, mas Julinho timidamente virou-se e focou na televisão.

- Até conhecer um palestrinha metido com audiovisual...

Julinho olhou de volta, com um sorriso levado e um certo rubor no rosto. Maurílio mordeu os lábios, controlando a emoção pela aquela declaração. Não era todo dia que conseguia uma demonstração de afeto cedo da manhã.

- Justo. – respondeu Maurílio, levantando-se do sofá, ajeitando a camisa por dentro da calça e desligando a TV. Antes de sair, porém, recordou-se dos avisos que o namorado havia lhe dado sobre o VHS. – Mas Julinho... eu vi você beijando homem, vi beijando mulher, vi um cara correndo pelado, mas não vi nada de mais, considerando que foi sua juventude, naquele vídeo.

O piloto da Sprinter sorriu novamente, aproximando-se lentamente do namorado e lhe dando um beijo apaixonado, antes de revelar o motivo de toda aquela traquinagem que lhe fazia rir.

- Promete que não vai surtar? – perguntou Julinho, segurando o rosto do seu amor com as duas mãos.

- Mas eu nem sei... – começou Maurílio.

- Promete? – perguntou o piloto mais uma vez.

- Julinho... – disse Maurílio, com desconfiança.

- Olha, vamos combinar uma coisa. – disse Julinho, olhando-o dentro dos seus olhos. – Passado é só pra dar risada. O que importa é que nós dois estamos aqui, juntos, agora. Ok?

- Ok... prometo então... – respondeu Maurílio, ainda relutante.

- Ótimo! Vamos, eu te conto tudo no caminho. – disse Julinho, puxando o namorado pela mão em direção à porta. – Não é nada demais.

- O que não é nada demais? – perguntou o piloto da Kombi, enquanto deixavam a casa e entravam na sprinter.

- A fita continua mais um pouco. – disse Julinho, sem como suavizar a informação. Deu a partida no veículo e esperava que o som do motor ajudasse a abafar sua situação. – E a gente se filmou transando naquele campo. E depois a loira peituda se juntou a nós. E fugimos pelados dos seguranças. E bati o carro numa ambulância. E acho que atropelei uma velinha no caminho.  Isso você não gostaria de ver, meu amor.

Happy New Year, Maurílio.


Notas Finais


O vídeo em questão é inspirado no comercial da Bolovo+Rider com o Leandro. E o Video Boy é o Giovani Groff.


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