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História 7 Minutos No Paraíso - Adaptação Supercorp (G!P) - O Que Eu Mais Preciso


Escrita por: ScorpCamren

Notas do Autor


Esse capítulo <3

Capítulo 17 - O Que Eu Mais Preciso


Lena Luthor P.O.V

- Mas nós não podemos simplesmente demitir cinco médicos para cumprir as metas. Seria o mesmo que tirar máquinas de uma fábrica porque elas são caras — John, gerente de Recursos Humanos do hospital falou, depois de colocar molho na sua salada de uma cor só.

Estávamos numa reunião no primeiro andar do Mikaelson's, um restaurante flutuante, discutindo a melhor forma de baixar os gastos do hospital para conseguir cumprir a meta estipulada para aquele ano. Duas coisas que estavam me irritando: eu já tinha dado a minha ideia, que até agora parecia ser a melhor. E a outra coisa é que ainda faltavam mais de seis meses para o final do ano e eles insistiam em realizar essa mesma reunião a cada três meses, falando sempre a mesma coisa e chegando sempre à mesma conclusão.

— Acho que Lena tem razão — Paul, o gerente administrativo pontuou, erguendo a taça como se fosse propor um brinde, enquanto olhava na minha direção. — Terceirizar os serviços de limpeza e reduzir o volume do estoque de medicamentos. Tivemos um prejuízo de quase cem mil dólares no último mês apenas em remédios que perderam o prazo de validade.

— E treinar melhor as enfermeiras que estão gastando muito material para curativos sem necessidade — lembrei. — Na última ronda que fiz, vi uma jogando um frasco de antisséptico só por não conseguir abrir.

— Richard disse que viu algo parecido — John falou, se referindo ao gerente financeiro que estava conosco, mas se mantinha calado há alguns minutos apenas tomando notas. — O que foi que aquela enfermeira fez?

Mas o que a mulher tinha feito, eu jamais saberia. Por que foi naquele instante que eu vi Kara Danvers entrando no restaurante.

Era como se minha mente e todos os meus sentidos fossem atraídos para ela a qualquer instante, porque nem mesmo estava sentada perto da entrada. Estava no primeiro andar, onde ficavam as mesas maiores, que geralmente eram reservadas para reuniões como a que estava tendo, ou grupos de amigos o andar de baixo, com a mesas menores que comportavam no máximo quatro cadeiras, geralmente eram ocupadas por casais ou famílias pequenas. Mas ainda assim eu vi o exato instante em que ela entrou, usando um vestido quase da cor da sua pele e seus cabelos sempre ondulados agora estavam extremamente lisos, caindo numa cascata suave pelas suas costas.

Meu coração disparou dentro do meu peito apenas por vê-la depois de quase duas semanas, mas ainda mais acelerado ele ficou quando vi que ela não estava sozinha — mas dessa vez não de alegria. Logo atrás dela, parecendo em dúvida se deveria colocar ou não uma mão nas suas costas, estava o tal moreno que tinha dado carona para ela depois da tarde de estudos na minha casa. O mesmo que tinha tecido elogios a respeito da inteligência de Kara.

A vontade que eu tinha era levantar naquele mesmo instante e tirar satisfações com os dois, mas no mínimo ia assustar o tal de Mike. E Kara, eu gostando ou não, não me devia nada. Eu era casada, afinal. Que direito eu tinha de lhe exigir qualquer coisa, e ainda mais fidelidade? Sim, eu tinha dito que ela era minha, mas aquele era apenas o meu desejo. Não significava que era verdade.

Ainda assim, foi impossível continuar me concentrando na reunião, me limitando apenas a assentir ou murmurar vagos "sim" ou "não" sempre que achava necessário. Meu olhar desviava a todo instante para os dois sentados perto de uma das janelas em uma mesa para apenas dois lugares, do outro lado do enorme salão.E eu quase gemi de frustração quando vi aquele moleque tentando pegar a mão de Kara sobre a mesa. Não sei se não percebeu sua intenção ou fez de propósito, mas ela puxou a mão no mesmo instante, passando o resto do jantar com elas sobre o colo. Mesmo àquela distância, eu consegui ver quando o idiota tentou pedir vinho depois de avaliar o cardápio apropriado com cuidado, provavelmente apenas tentando impressionar. Mas o garçom foi firme, mesmo depois de ter sido afastado da mesa com Mike, que pareceu ter tentado lhe passar alguma espécie de suborno, ao que o garçom apenas meneava a cabeça com firmeza. No fim, foi com um sorriso que eu o vi voltando à mesa e depois coquetel — sem álcool, com certeza — foi servido desde a entrada até a sobremesa.

— Você não acha, Lena?

Me voltei ao ouvir meu nome, vendo os três homens me encarando à espera de uma resposta para uma pergunta que eu não fazia ideia do que se tratava.

— Desculpem, eu... Me distraí — falei apenas, tentando me focar um pouco naquela reunião.

— Eu estava falando das viagens de reconhecimento — John esclareceu pacientemente. — Paul acha que devemos cancelá-las, mas eu voto por mantê-las.

De novo aquele assunto? Todo ano a mesma pergunta. Todo ano a mesma resposta.

— Essas viagens motivam nossos funcionários, Paul — lembrei. — Sem elas, o que vamos oferecer? Presentes inúteis? Viagens ficam na memória para sempre. Presentes perdem o valor em pouco tempo.

— Não dá para tirá-las, Paul. Pense bem — John continuou, falando com mais empolgação agora que tinha obtido o parecer do diretor do hospital. — Se nós tentarmos reduzir mais custos diminuindo a qualidade dos benefícios aos funcionários, pode ter certeza que vamos ter uma baixa na satisfação dos...

— Com licença — pedi, já levantando, deixando os três discutirem sobre o mesmo assunto, sabendo que aquilo ainda ia render muito.

Mas agora tinha acabado de ver Kara levantando para ir ao toalete e me apressei a descer as escadas, indo naquela direção.

Fiquei no corredor que levava aos banheiros, esperando encostado na parede, enquanto ensaiava as coisas que precisava falar para ela, esperando apenas que Kara me ouvisse. Mas quando ela apareceu, parecendo meio nervosa ao andar, eu esqueci completamente o que ia falar. Só agora, vendo-a de perto, percebia a maquiagem que cobria seu rosto. Não era a Kara que eu estava acostumada a ver, mas não mudava o fato de que ela estava linda.

E quando ela ergueu o olhar, só então me vendo ali parada esperando-a, a surpresa naquelas íris azuis trouxeram um pouco da minha Kara de volta, quando seus olhos arregalaram de leve.

— O que você está fazendo aqui? — Kara perguntou, franzindo o cenho.

— Eu é quem deveria te perguntar isso.

— Você está me seguindo?!

— O quê?! Não! Eu... Eu... — Respirei fundo tentando me acalmar, não apenas porque estava começando a soar culpada quando não tinha feito nada de errado. Mas também tinha o fato de que eu precisava conversar com ela e já tinha começado da forma errada. — Vem comigo — pedi, colocando uma mão às suas costas para guiá-la, mas Kara se esquivou.

— Eu não vou com você a lugar nenhum.

— Kara, por favor, venha comigo. Nós precisamos conversar.

Ela ainda ficou um tempo me encarando, piscando aqueles longos cílios enquanto eu me torturava de vontade de beijar seus lábios cobertos por uma fina camada de gloss, deixando sua boca ainda mais tentadora.

— Ir para onde? — ela perguntou por fim e eu nada falei, apenas voltando a guiá-la para fora da área dos toaletes até que chegamos a uma porta que levava ao deck no navio.

O sol já tinha se posto completamente e a vista era fantástica de onde estávamos, com as luzes dos prédios e ruas de Nova York refletindo nas águas do rio. Mas mesmo aquela vista sempre me deslumbrando, naquele momento eu tinha coisas mais importantes para fazer.

— Eu vim para uma reunião com os gerentes do hospital — comecei, depois que paramos contra a murada de madeira e metal que rodeava o navio. — Não estava te seguindo.

— Mas me seguiu até o banheiro — ela retrucou de imediato, cruzando os braços sobre os seios.

— Por que você veio com ele, Kara? — perguntei, ignorando seu comentário.

— Não é da sua conta com quem ou saio.

— Mas ele?! Aquele moleque só está querendo...

— Querendo o quê, Lena? — Kara me interrompeu, seu tom irritado saindo por entre os dentes. — Querendo me levar para a cama? Grande diferença entre vocês dois.

— Não foi você que disse que não tinha tempo para isso agora? — lembrei, começando a soar irritada também. — Não foi você que falou que precisava estudar? Você me expulsou da sua casa por causa disso, Kara. Ignorou todas as minhas ligações e mensagens como se eu não significasse nada. E depois eu descubro que naquela mesma semana você foi para uma festa e–

— Eu não te devo satisfações da minha vida!

— E agora isso! — continuei como se não tivesse sido interrompida, apontando na direção do restaurante. — Vem jantar no meio da semana com um moleque que fica tentando te impressionar, pedindo vinho, te trazendo para um dos restaurantes mais caros da cidade. Ou aquela coisa do "não gaste seu dinheiro comigo" só valia para mim?

— Eu não sabia que ele ia me trazer para cá — ela falou, seu tom enfraquecendo um pouco e pude ver seu rosto corando de leve.

— Não muda o fato de que você está aqui com ele, depois de ter me afastado da sua vida como se nada tivesse acontecido entre nós.

— Eu precisava de tempo — Kara murmurou, evitando meu olhar agora.

— Tempo para quê, Kara? Para estudar não foi. Tempo para ir a festas usando aquele vestido indecente? Tempo para sair para jantar com um garoto que acha que embebedar uma mulher é a única forma de conseguir o que quer?

— Já falei que não é da sua conta o que eu faço com a minha vida! — Seu tom cresceu mais um pouco novamente, seu olhar encontrando o meu com fúria. — E por que você está aqui afinal? Vai lá para a sua esposa, vai. Ela deve estar te esperando na cama de vocês, para vocês passarem a noite juntas e fazerem planos para o futuro. Ou talvez só conversar sobre o passado. Vá para a sua casa perfeita, para o seu casamento perfeito. Ou talvez não tão perfeito, não é? Se você procurou alguém fora de casa, é porque alguma coisa estava faltando. Sexo, sem dúvida, porque foi só para isso que eu servi.

— Você sabe que não é assim, Kara. Eu–

— Quem é você para me dizer o que fazer ou com quem sair? — ela continuou, ainda falando irritada, mas baixo o bastante para não chamar a atenção de ninguém. — Eu sou solteira, Lena. Diferente de você! Então volta para a sua esposa e me deixe em paz.

— Kara, não! — exclamei apressando, segurando-a pelo braço quando ela tentou se afastar. — Não vai, por favor. Me escuta.

— Eu não quero te escutar. — Mais uma vez ela tentou se afastar, puxando seu braços com força.

— Mas você vai. Eu te escutei e agora você vai me ouvir — murmurei, deixando seu corpo preso entre o meu e a murada às suas costas.

— Me larga! Me deixa ir, Lena. — Seu corpo tentava a todo custo encontrar um espaço para sair, mas eu apenas a segurava com mais firmeza, embora não o suficiente para machucá-la. — Eu não quero ouvir nada do que você tenha a dizer. Só quero que você esqueça que eu existo!

— Eu não consigo te esquecer, Kata! — praticamente gritei, impaciente com sua insistência em se afastar, mas então ela parou, seu olhar longe do meu. Arrisquei soltar seus braços, vendo se ela iria tentar sair correndo, mas Kara permaneceu parada. Ainda assim coloquei uma mão na murada de cada lado do seu corpo, mantendo-a presa, mas sem tocá-la muito. — Tudo que eu faço é pensar em você. Todos esses dias eu tentei te dar espaço, mas não consegui. Porque eu sinto muito a sua falta, pequena. E eu sei que errei na forma como agi com você, mas–

— Não vem dizer que não estava comigo por causa do sexo, porque isso é mentira! — ela me interrompeu, mesmo não sendo nada daquilo que eu iria falar.

— Não é mentira! — Um resmungo de escárnio escapou pela sua boca, mas ela nada falou. — Não é mentira, Kara. É claro que eu adoro transar com você, mas quanto tempo nós ficamos sem isso até que acontecesse?

— Isso não te impedia de tentar alguma coisa, todo dia.

— É claro que eu tentava. É claro que eu sempre queria gozar quando estava perto de você. — Soltei um suspiro cansado, levando uma mão aos cabelos. — Você tem noção de como me deixa? De como me deixou desde o primeiro momento que me tocou, ainda naquela droga de armário? É claro que eu te desejo, Kara. Mas como poderia ser diferente? Como eu poderia ser indiferente à você? E eu sei que você também se sente da mesma forma, pequena. Mas isso é o que se chama de química dos infernos. Porque eu simplesmente não consigo manter as mãos longe de você.

Seu olhar encontrou o meu naquele momento e ainda vi um pouco de raiva ali, mas havia algo mais. E foi esse algo mais que me motivou a continuar, porque sabia que agora ela estava me ouvindo com atenção.

— Eu sei que errei com você, pequena. Acho que errei mais naquele final de semana do que em todo esse ano. Eu vi que você estava chateada por ter me visto com Sam, mas deixei meu desejo falar mais alto e não te pedi desculpas por isso. Mas eu sinto muito, de verdade. Não apenas por não ter te pedido desculpas naquela hora, como também ter te feito transar na minha casa, quando você claramente não estava confortável com isso.

— Você me tratou como uma vagabunda naquele dia — ela murmurou, seus olhos começando a ficar marejados. — Como se eu não fosse nada além de alguém para te fazer gozar quando você quisesse.

— Eu sei. Eu sei que agi como uma idiota, Kara. Me perdoe por isso, por favor — implorei num murmúrio. — E sei que isso não é justificativa para meu comportamento, mas eu não consegui processar bem ter você dentro da minha casa. Não que eu não te queira lá, mas me deixou confusa. Eu tenho a minha vida naquela casa e tenho a vida aqui fora que te envolve completamente. E te ver dentro da minha outra vida, me deixou desnorteada. Eu não sabia o que fazer, o que falar. E acabei fazendo tudo errado.

Mesmo com receio de vê-la recuar novamente, levei uma mão ao seu rosto, enxugando uma única lágrima que escorreu. Kara permaneceu parada, sem falar nada e ficamos assim por um instante em que apenas apreciei a maciez da sua pele sob meus dedos.

— Me perdoe, Kara — sussurrei, deslizando meus dedos pelo seu rosto, vendo-a fechar os olhos com aquele toque. — Me desculpe por agir como uma idiota. Me desculpe por me comportar daquele jeito e ainda ficar te perseguindo por essas duas semanas. Eu juro que não sou uma psicopata, ok?

Um pequeno sorriso surgiu nos seus lábios, o suficiente para me dar alguma esperança. Mas quando tentei me aproximar para beijá-la, Kara desviou o rosto, fazendo meus lábios encontrarem apenas sua face.

— Kara , eu–

— Está tudo bem — ela murmurou, tirando minha mão do seu rosto, mas continuou segurando-a entre as suas que estavam geladas. — Eu entendo o motivo que te fez agir daquela forma, embora não tenha gostado. Mas acho que deveríamos deixar as coisas como estão.

— O quê?! Não! — exclamei, o desespero soando evidente na minha voz. — Kara, não faz isso, por favor.

— Eu é que não posso mais, Lena — Kara retrucou, voltando a evitar meu olhar, mas não sem antes eu conseguir vê-los marejados mais uma vez. — Sei que falei que estar com você era fácil para mim, porque isso iria me livrar de compromissos, mas eu não consigo mais fazer isso. Não consigo mais fazer de conta que você não é casada e que é com ela que você passa as noites, os dias, os finais de semana, os feriados. Ela é a sua esposa, Lena. E eu cansei de ficar me remoendo, tentando adivinhar se você está transando com ela ou não, quando não está comigo. Tentando pensar se você vai pedir para ela te fazer gozar quando eu estiver ocupada demais estudando. Eu não quero mais isso para mim.

Mesmo ela não olhando para mim, continuei encarando-a, enquanto absorvia aquelas palavras, sentindo uma dor no meu peito que jamais imaginei sentir.

— Nem eu — sussurrei por fim, dando mais um passo na sua direção e a abracei com força, deixando meu rosto escondido na curva do seu pescoço.

Senti seu corpo sacudir de leve pelo choro silencioso e ela me abraçou de volta, envolvendo meu pescoço com seus braços delicados.

— Vai ser melhor assim — ela murmurou com a voz entrecortada, acariciando minha nuca como se tentasse passar alguma espécie de conforto. — Nós duas sabíamos que isso nunca poderia ir muito longe. Então o melhor a fazer é nos–

— Não — a interrompi num sussurro e me afastei apenas o suficiente para encará-la, ainda mantendo meus braços ao redor da sua cintura, enquanto Kara tirava suas mãos do meu pescoço, pousando-as sobre meus braços. — Não é disso que estou falando. Eu não quero me separar de você, Kara. Eu não consigo fazer isso.

— Lena, nós não–

— Eu disse que não quero mais isso para mim, mas estava me referindo a não querer mais te deixar e ter que voltar para minha esposa — expliquei num tom firme, vendo-a franzir o cenho com força. — Cansei de ter tempo e dia para te ver, Kara. Eu não quero mais isso. Quero poder te ver o tempo todo, sempre que tiver vontade. — Meu coração batia violentamente no meu peito enquanto levava minhas duas mãos ao seu rosto. — Aqueles dias na casa de campo foram os melhores que já tive em muito tempo, simplesmente porque eu acordava e te via ali do meu lado. E eu quero isso de novo, pequena. Todos os dias. Eu quero poder dormir e acordar ao lado da mulher que amo.

Um pequeno soluço escapou da sua garganta enquanto ela me encarava com o olhar arregalado de surpresa, quase tão pasma quanto eu estava. A verdade é que eu não havia percebido que era daquela forma que me sentia até que as palavras foram saindo da minha boca como se tivessem vida própria. E só agora eu percebia o quanto elas eram verdadeiras.

— Eu amo você, minha pequena — murmurei, sentindo um sorriso surgir nos meus lábios. — E não falo isso apenas porque quero você de volta. Eu preciso de você comigo, mas não como minha amante.

— Lena–

— Eu vou pedir o divórcio — falei apressada, sentindo uma empolgação que há muito não sentia. — Você só precisa esperar um pouco. Preciso de um tempo para organizar tudo e sair de casa, e então–

— Lena, para! — Kara me interrompeu e foi a sua vez de segurar meu rosto entre suas mãos, me encarando com firmeza. — Eu não quero que você faça isso. Não quero que você peça divórcio algum. Eu nunca te pedi isso.

— Eu não estou fazendo por você, Kara. Quer dizer, é claro que estou, porque eu quero ficar com você. — Foi só então que me dei conta de que Kara poderia não se sentir da mesma forma comigo. Ela acabara de dizer que não queria que eu pedisse o divórcio, mas dissera antes que não queria mais ficar em segundo plano. Então se me separar da minha esposa não era o que ela queria que eu fizesse, só restava a certeza de que Kara não queria mais ficar comigo. Engoli em seco quando aquela constatação me atingiu e eu tentei a todo custo continuar agindo normalmente como se não tivesse sentido como se algo tivesse sido arrancado de mim. — Eu não posso continuar casada, quando estou apaixonada por outra. É claro que eu gostaria que você pudesse ficar comigo depois disso, mas se não for essa a sua vontade, não vai mudar a minha decisão. Eu ainda vou pedir o divórcio. Por mim.

— Você... Está falando sério? — ela perguntou ainda com o cenho franzido.

— Eu não consegui tocar na minha esposa nessas duas semanas, Kara — confessei, não sei exatamente levado por qual ideia de que ela poderia gostar de ouvir aquilo, mas simplesmente precisava deixar as coisas claras entre nós. — Eu mal consegui falar com ela nesses dias, porque me sentia errada, suja, não porque tinha traído ela, mas porque estava traindo você. E não é certo continuar enganando a todos nós dessa forma. Enganando a ela por fazê-la pensar que ainda está tudo bem entre nós; enganando a mim por tentar continuar essa vida dupla que nunca foi o que eu quis; mas principalmente enganando a você, Kara. Eu não quero mais te magoar. Nunca mais.

— Eu nunca te pedi nada, Lena — ela murmurou novamente.

— Eu sei.

— E eu não sei se estou preparada para encarar um relacionamento assim. Ficar no meio de um divórcio que–

— Espera! — a interrompi, sentindo a esperança voltar com tanta força que me assustou. — Você está dizendo que me aceita de volta?

Seu cenho franziu ainda mais e quando ela meneou a cabeça de leve, minha vaga alegria quase ruiu novamente. Teria ruído por completo se ela não tivesse dito nada a seguir.

— Por que eu não aceitaria? — Kara perguntou como se aquela minha ideia fosse absurda.

— Você... Você disse que não queria que eu pedisse o divórcio.

— Porque eu tenho medo do que pode vir a seguir — ela admitiu, novamente falando como se tudo fosse óbvio demais e eu fosse lento ou estúpido demais para perceber. — Você é meu porto seguro, lembra? Estando com você, eu não preciso me preocupar com relacionamentos que possam fracassar como o dos meus pais. Como de tantas pessoas que eu conheço.

— E eu pedir o divórcio te tira isso — concluí.

— É, mas...

— Mas? — insisti quando Kara não continuou.

Seus lábios entortaram de leve e ela levou suas mãos à minha nuca novamente, me puxando para mais perto.

— Mas te deixa só para mim.

Fiquei como uma idiota encarando-a sem acreditar nas suas palavras e acho que havia um enorme ponto de interrogação na minha cara, como se eu precisasse de algo mais para confirmar que aquilo que Kara tinha falado era verdade e que eu não estava imaginando coisas. Tudo que ela precisou fazer, no entanto, foi apenas assentir de leve, antes que eu cobrisse seus lábios, beijando-a com quase desespero.

Eu não me importava com quem pudesse ver aquilo. Com o que as pessoas poderiam falar ou pensar de ver uma mulher da minha idade com alguém como Kara. Naquele momento, eu não dava a mínima para o que a sociedade poderia pensar do nosso relacionamento quando assumíssemos tudo. Só o que importava era a certeza de que Kara era só minha e seria assim dali para frente.

— Me tira daqui, por favor — ela pediu num tom arfante quando interrompemos o beijo, ainda continuando abraçadas com força como se um temesse deixar a outra ir. — Meus pés estão me matando nesse sapato.

— E seu encontro? — perguntei, mesmo sentindo uma raiva anormal crescendo dentro de mim só por lembrar que Kara estava em um encontro ali. Com aquele moleque, na verdade.

— Aquele idiota que só sabe se gabar do dinheiro que os pais tem? — ela devolveu, arqueando uma sobrancelha, me fazendo rir.

— Me espera aqui. Não demoro — avisei, depositando um pequeno beijo nos seus lábios antes de voltar para dentro do restaurante, andando apressada até o andar de cima onde os três ainda estavam conversando e bebendo. — Desculpem, mas preciso ir — avisei apenas, tirando algumas notas de cem da carteira que deixei sobre a mesa para pagar a conta, lhes dando as costas sem falar mais nada.

Quando voltei para onde tinha deixado Kara, a encontrei no mesmo lugar, suas mãos esfregando seus braços nus numa tentativa de se aquecer. Mesmo sendo verão, a brisa soprava fria naquele ponto.

— Você veio com casaco? — perguntei ao me aproximar dela, envolvendo sua cintura com uma mão.

— Não. Sara disse que nada ia ficar bem com esse vestido.

— Sara?

— Ela me emprestou essa roupa — Kara esclareceu. — E foi ela quem me incentivou a vir nesse jantar idiota também, mesmo eu não querendo.

— Nesse momento eu não gosto muito dela — resmunguei, escondendo meu rosto na curva do seu pescoço novamente, ouvindo-a rir enquanto aspirava seu perfume. — Senti tanto a sua falta, minha pequena.

— Eu também — ela murmurou, me abraçando de volta. — Me leva para casa?

— Claro. — Me afastei dela mesmo sem querer e tirei minha jaqueta, colocando-o sobre seus de leve quando Kara o vestiu, sua mão nem mesmo aparecendo nas mangas do blazer, o comprimento chegando à barra do seu vestido. — Vamos?

— Uhum — ela murmurou quando peguei sua mão na minha.

Por pedido seu, querendo evitar encontrar com Mike, demos a volta no navio pela parte externa até chegar à entrada onde as pequenas lanchas levava os clientes de volta ao solo. O percurso da lancha até o meu carro que não estava estacionado muito longe, foi feito em completo silêncio, só sendo quebrado quando já estávamos em meio ao trânsito pesado de Nova York.

— Posso te pedir uma coisa? — Kara perguntou de repente.

— Qualquer coisa.

— Não pede o divórcio agora.

A encarei rapidamente, franzindo o cenho, sem entender aquele seu pedido.

— Eu não vejo motivo para esperar, Kara. De que vai adiantar ficar adiando isso? Não vai fazer bem para nenhuma de nós.

— Apenas alguns dias — ela insistiu, se voltando de leve na minha direção. — Até... Não sei. Pensarmos numa forma de fazer isso sem causar tanto impacto.

— Talvez você tenha razão.

— Só uns dias — Kara repetiu, colocando uma mão sobre minha coxa. — Eu não quero que Thomas e Stephen me odeiem por ser a responsável por acabar com o casamento da mãe deles.

— Kara, nada disso é culpa sua — falei com firmeza, pegando sua mão na minha. — Já há algum tempo meu casamento não andava muito bem. Eu só demorei a perceber isso. E você aparecer na minha vida foi apenas uma forma de me fazer enxergar que não era daquela forma que eu queria continuar.

— Isso é como você pensa, mas não é como os outros vão pensar.

— Eu sei.

— E ainda tem o fato de eu ter idade para ser sua filha.

— Eu sei — repeti, apertando sua mão de leve na minha e aproveitei o trânsito parado à minha frente para me voltar na sua direção, me aproximando até que nossos lábios estivessem quase colados. — Mas não é. Você é a mulher que eu amo. Minha pequena que virou minha vida de pernas para o ar e eu só tenho a te agradecer por isso.

Um pequeno sorriso surgiu no seu rosto e eu beijei seus lábios de leve antes de ser obrigada a colocar o carro em movimento novamente, depois de ouvir muitas buzinas.

— Posso te ver amanhã? — perguntei quando já estávamos chegando ao seu apartamento.

— Amanhã é sábado, Lena — ela lembrou.

— Eu passei duas semanas sem te ver, Kara — resmunguei ainda segurando sua mão na minha. — Só esse tempo que estamos tendo agora não é suficiente. Preciso te ver de novo. E logo. Se você não tiver que estudar, é claro — me apressei a completar.

— Eu... Eu acho que minha mãe vai sair amanhã à tarde. Se ela sair mesmo, eu te aviso.

— Não precisa ser aqui — falei, me voltando rapidamente para encará-la antes de voltar a atenção para a estrada. — Podemos ir a outro lugar. Podemos ir ao cinema, ao Central Park, ou qualquer outra coisa que você quiser fazer.

— Alguém pode nos ver juntos, Lena.

— Eu não me importo.

— Mas eu sim. Ao menos até resolver tudo isso, é melhor continuar como está, em segredo. Nosso segredo, lembra?

Soltei um suspiro consternado, parando o carro em frente ao seu edifício, mas não desliguei o motor, me limitando apenas a tirar o cinto quando Kara fez o mesmo, começando a tirar a jaqueta que tinha lhe emprestado.

— Posso te ligar mais tarde? — perguntei depois de jogar a peça de qualquer jeito no banco de trás. Sem perder tempo, me aproximei, puxando-a pela nuca até estar novamente a apenas alguns centímetros do seu rosto, mas agora nossos corpos também quase completamente colados.

— Pode. Qualquer hora. Acho que não vou conseguir dormir muito cedo hoje de qualquer forma.

— Eu te ligo assim que der — prometi.

— Tudo bem. Só não conversa com sua esposa sobre isso hoje, ok?

— Não vou. Você tem razão. Preciso mesmo pensar numa forma de fazer isso sem magoar muita gente no processo.

Kara assentiu concordando, antes que eu a puxasse mais para perto, cobrindo seus lábios com os meus. Aquele beijo, tão parecido com o que trocamos do lado de fora do restaurante em se tratando de desespero e urgência por compensar o tempo perdido, logo se transformou em algo ainda mais faminto. Não sei se por estarmos sozinhas dentro de um ambiente fechado onde ninguém poderia nos ver, ou apenas porque realmente sentíamos muita falta uma da outra, mas em segundos estávamos arfando, minhas mãos logo passando a vagar pelo seu corpo, como se tivessem vida própria. Apenas o que me fez parar — mesmo eu me chamando de idiota mil vezes por fazê-lo — foi senti-la abrindo mais as pernas quando minha mão chegou naquele ponto.

— Desculpe — murmurei contra a sua boca, respirando com tanta dificuldade que fazia meu peito doer. — Aqui estou eu jogando todas as minhas palavras no lixo, depois de jurar que não é só sexo o que eu quero com você.

— Eu sei que não é — Kara murmurou de volta, agarrando os fios da minha nuca com força. — Mas agora é só o que eu quero.

— Não fala assim, pequena — resmunguei, fechando os olhos para tentar pensar com clareza, porque ver o desejo estampado nos seus olhos não estava ajudando muito.

— Falo sim — ela devolveu, quase me fazendo pular de susto quando sua mão cobriu meu membro que começava a ficar duro, por cima da calça, e então começou a me tocar de leve, como numa tortura.

— Porra, Kara. Não me tenta dessa forma — praticamente rosnei, levando uma mão direto para seu sexo, encontrando sua calcinha úmida. — Eu queria muito fazer isso, mas não dá. Não aqui.

— Depois — ela concordou depois de olhar ao redor, só então parecendo se dar conta de que estávamos dentro de um carro em frente ao lugar em que ela morava.

— Depois.

Tirei minha mão do meio das suas pernas, tendo que fazer o mesmo com a sua que continuava me tocando e então a puxei para mais um beijo, dessa vez apenas sentindo o gosto doce dos seus lábios, embora meus instintos tentassem me empurrar para fazer aquele beijo ficar mais urgente.

— Nos falamos mais tarde, pequena — murmurei, respirando fundo antes de me afastar.

— Até mais.

Quando ela saiu do carro, entrando correndo no prédio, mais uma vez experimentei aquela sensação de perda que sempre sentia quando a deixava. Dessa vez, no entanto, me confortei com a certeza de que logo isso iria mudar.



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