História 7 sentidos - Seguindo Em Frente

Prov Liz

  Depois de muitas semanas chorando no banheiro da escola, muitas semanas sem comer direito, muitas semanas sem falar com ninguém e não pensar em nada, só na morte do Zac e no nosso filho, eu estava um pouco mais calma até, mas preocupada com muitas coisas. Seria um período difícil, muito difícil.

  Era sexta, a luz do pôr do sol entrava pela minha janela e dava luz aquele quarto que ultimamente era o cômodo mais escuro da casa. Eu estava lendo um livro qualquer que tinha pego na biblioteca só pra passar o tempo e antes que eu percebesse, ali estava eu alisando minha barriga mesmo ainda pequena, sorri e continuei minha leitura.

  Eu não tinha planejado aquela criança, eu sonhava me formar, comprar uma casa, um carro, casar, e ai sim planejar uma gravidez. Mas aconteceu e eu estava feliz porque aconteceu com alguém que eu amava, e agora que esse alguém foi embora, eu tinha um pedacinho dele ali, dentro de mim.

  Eu queria muito que o Ian estivesse presente nesse momento, mas tinha que aceitar que acabou. Foi muito bom, meu primeiro amor de verdade e com ele vivi e conheci muitas coisas, mas tinha chegado ao fim, tinha que aceitar.

  O final de semana foi como um qualquer, passei junto com a minha vó cuidado do nosso mais novo jardim, limpamos a casa, fizemos alguns bolinhos para distribuir pela vizinhança e trocamos alguns móveis de lugar.

Mas a segunda feira chegou e eu tinha que encara-la, as férias de verão estavam próximas, dava pra aguentar um pouco. Enquanto as férias não chegavam, lá estava eu, andando pelo corredor, sozinha, enquanto todos estavam ali com seus devidos grupos, mas eu ate que estava bem sozinha.

Prov Ian

  Eu estava frequentando vários bares ultimamente, muitas boates, e até tinha feito alguns amigos. Eu poderia parecer muito feliz, mas não estava. Mandei a mulher que eu amava embora da minha vida, e ela foi. Agora eu passaria a eternidade procurando ela em outros beijos, em outros abraços.

  Depois de uma dessas minhas saídas, me encontrei na calçada da boate, bêbado e sozinho. O sol já estava raiando e lá estava eu. Eu poderia estar naquela calçada, mas minha mente estava em Liz.

  Fiquei sabendo que Zac tinha morrido e pensei o quanto arrasada ela estaria. O que eu mais queria era correr pra casa da vó dela, abrir aquela porta, subir as escadas e a encontrar em seu quarto, a pegar pela mão e sumir, viver algo novo com ela e ser feliz novamente.

  Mas o que eu fiz foi ir pra casa, tomar uma ducha e escutar Nothing Like Us do Justin Bieber (Liz que me fez gostar desse cara) e chorar, chorar e chorar. ESSE CARALHO DE MÚSICA FAZIA TODO SENTIDO. PARECIA QUE ESSE CARA FEZ JÁ PREVENDO O MEU FUTURO. MERDA

“I gave you everything, baby, everything I had to give

Girl, why would you push me away?

Lost in confusion, like an illusion

You know i’m used to making your day

But that is the past now, we didn’t last now

Guess that this is meant to be

Tell me was it worth it? we were so perfect

But baby i just want you to see

There’s nothing like us, there’s nothing like you and me

Together through the storm

There’s nothing like us, there’s nothing like you and me

Together.”

Prov Liz

  Quarta feira, mais um dia de escola. Acordei e fiz tudo o que eu fazia todos os dias. Fui pra escola de bicicleta mais uma vez e cheguei la em quinze minutos, guardei minha bicicleta e tinha tudo para ser mais um dia normal, até que eu coloquei o pé na escola.

  Todas as pessoas daquele corredor me olhavam e sussurravam, algumas riam, e eu não entendia nada até que uma voz gritou “ALI A MENINA GRÁVIDA DO GAROTO MORTO, VAI SER MAMAE AOS 17  E AINDA POR CIMA, SOLTEIRA.” E todos dali caíram no riso, gargalhavam ali, na minha cara, me chamando de nomes horríveis. Atravessei aquela multidão correndo em direção ao banheiro em meio a prantos.

  Tranquei-me em um dos banheiros e ali fiquei o resto do dia chorando. Eu queria minha casa, meu quarto, o abraço do meu pai, ele saberia o que dizer numa hora dessas. Ele faria meu chá favorito e me chamaria pra ver Disney. Daria-me os melhores conselhos antes de dormir.

  Mas eu não tinha meu pai, nem minha mãe, nem o Zac, nem o Ian.

  Antes do sinal final bater, lavei meu rosto, respirei fundo, sai do banheiro, bebi um pouco de agua e fui embora. O tempo estava fechado, parecia que uma chuva horrível estava prestes a cair. Peguei minha bicicleta e fui pra casa.

  Quando cheguei, minha avó viu meu estado e conversamos um pouco:

-Vó, não quero mais ir pra escola.

-O que houve minha filha?

-Eles zoaram o fato de eu estar gravida de “um cara morto” e por eu ter 17 anos... Foi horrível, todos riram de mim.

-Minha filha... – Em meio à pausa, ela secou minhas lagrimas – Você não pode se deixar atingir por essas pessoas. Você tem que ter orgulho de carregar o filho de um cara tão legal como o Zac. Claro que você é muito nova pra estar gravida, mas você está. Vamos seguir com essa gravidez e com sua vida e tudo vai dar certo no final. Sei que dá muito medo, mas vai ficar tudo bem. Eu estou aqui, e vou te ajudar pro que você precisar, linda. Não deixe de ir a escola, ano que vem é seu ultimo ano, está mais próximo do que parece. Até lá muita coisa já vai ter se resolvido.

- Não sei se eu aguento vó...

- Claro que aguenta Liz!! Se você olhar pra trás e ver tudo pelo o que você já passou minha filha... Você é mais forte do que você pensa.

  Eu nunca pensei que dona Barbara me daria um conselho que me fizesse me sentir bem, mas com aquele conselho, aquelas palavras dela, eu tive mais vontade de lutar pelo meu filho, pelo Zac, mais vontade de continuar e não ligar pro que as pessoas falariam.

  Quando eu vi, três meses já tinham passado, férias de verão e a barriga já estava dando as caras.