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História 90's Love - norenmin - Escuro


Escrita por: SafiraOpaca e SafiraZen

Notas do Autor


Oi pessoinhas ><
A partir daqui as coisas começam a se encaminhar, mas já aviso pra não criarem esperança de nada antes do cap 10 kk

Boa leitura, perdoem os errinhos e até as NF!

Capítulo 8 - Escuro


Jeno tinha ganhado dos pais, no natal do ano anterior, um conjunto de jeans brancos que ele jurava serem as peças mais lindas que já vira na vida. Costumava usá-los com seu tênis vermelho e a camisa amarela quando animava se arrumar para sair ou quando ia para algum evento importante. Renjun sabia disso, também achava o conjunto lindo – mesmo tendo consciência de que poucas coisas não ficariam bonitas se vestidas por Jeno – e sempre sentia uma vontade irracional de beijá-lo, ainda mais do que o normal, quando o via vestido daquele jeito.

Por isso, quando chegou às portas do mercado onde todos tinham marcado de se encontrar, Renjun teve duas certezas: a de que queria muito beijar o namorado e que ele tinha se empenhado muito para parecer bonito naquela noite.

– Alguém pode aparecer – escutou o murmúrio baixinho e confuso quando ele se afastou de seus beijos, mas continuou o puxando pelos ombros.

Renjun sorriu. Em algum momento tinha convencido Jeno de que ninguém ia muito para o lado do depósito do mercado e a lâmpada queimada a meses do poste seria uma ótima cobertura para os beijos que queria dar nele. Jeno o observava com atenção, os olhos cheios de vontades enquanto tocava os fios que caíam pelo rosto bonito, limpando-o para poder olhá-lo melhor. O lábio inferior de Renjun já estava inchado e reparar nisso fez com que ele risse satisfeito, puxando-o pela jaqueta e grudando o amarelo de sua camisa no vermelho da dele antes de, controverso em seu próprio pedido, grudar as bocas em mais um beijo.

– Acho que estava com saudade de te beijar – confessou e viu o pomo-de-Adão subir e descer contra a garganta de Renjun, a respiração saindo trêmula. Amava o jeito como ele ficava todo afetado quando dizia com todas as letras o quanto o queria. Se encolheu quando os dedos dele alcançaram sua nuca, o queria mais perto do que seria fisicamente possível.

– Minha mãe vai pegar um turno noturno na sexta – Renjun comentou e os olhos de Jeno subiram aos seus cheios de intenções silenciosas, que também estavam presentes nas suas entrelinhas quando perguntou – Quer dormir lá em casa?

Jeno sentiu a respiração se atrapalhar toda e precisou separar um pouco os lábios para conseguir alguma clareza para pensar, as mãos suadas se fechando contra os botões da jaqueta e suas casas antes da ansiedade o trair e ele acabar falhando em conter um sorriso. Renjun o acompanhou e se inclinou para deixar um beijo do lado de seu queixo, apenas porque o achava adorável demais.

– Quero – ele falou e Renjun sentiu calor subindo do peito ao rosto, alastrando o amor que compartilhavam por suas veias.

Suspirando, o beijou uma última vez antes de afastá-lo da parede obscurecida do depósito, ajudando-o a tirar os rastros de poeira do conjunto bonito para voltarem ao estacionamento e esperar o restante dos amigos.

– Há! Você está me devendo cinco, pode pagar.

Mal tinham chegado e a voz enérgica de Chenle os alcançou, arrancando-os sorrisos antes mesmo de entender o motivo de Jisung puxar a carteira com uma cara emburrada e deixar uma nota na mão do melhor amigo.

– O que foi isso? – quem perguntou foi Renjun quando enfim os alcançou, parando alinhado entre Jeno e Chenle..

– Apostei com Jisung que vocês chegariam juntos – Renjun prendeu o riso e quase sentiu o calor das bochechas coradas de Jeno o atingir sem precisar olhá-lo.

– Não é como se vocês dois pudessem dizer muita coisa, 'né?

Era Mark, chegando com Donghyuck e completando a roda de amigos com um sorriso antes de sentir o namorado o cutucando nas costelas.

– Na verdade, a gente também não pode, viu?

Eles riram juntos antes de seguirem para dentro do mercado. Separados em duplas, alcançaram as cestinhas quadriculadas que segurariam os lanches pouco saudáveis que encontrassem pelos corredores.

– Jaemin não vem?

A menção do nome fez Jeno erguer a cabeça quando todos eles se esbarraram de novo em frente aos freezers de bebidas. A pergunta era de Jisung, mas quando Mark respondeu, Renjun também prestava atenção.

– Não dava tempo, ele deve estar chegando em casa agora. Disse que qualquer filme e qualquer lanche para ele está bom.

Jisung assentiu e logo eles dividiam as despesas ao passar as compras pelo caixa. Não muito longe dali, a locadora pouco movimentada parecia esperar apenas por eles antes de fechar as portas. Com seis adolescentes invadindo seus estreitos corredores, o atendente do outro lado do balcão se assustou com o som das risadas e dos comentários divertidos sobre os títulos. Foi Donghyuck quem puxou um longa romântico antes de falar.

– Sempre quis ver esse – ele virou para o restante dos amigos e Chenle sorriu.

– É muito bom. Tem o meu voto.

Sem verdadeiramente se importar tanto com o que iriam assistir, mas sim com quem, Donghyuck não encontrou objeções antes de levar a fita de O Feitiço de Áquila até o balcão. Caminharam pelas ruas como se tentassem impedir que a cidade dormisse com as conversas altas e os sorrisos calorosos compartilhados, Mark e Donghyuck servindo de guias até a entrada do pequeno galpão entranhado num beco escuro. Uma única lâmpada amarela pendurada do lado de fora iluminava a tinta verde descascada da porta de correr, que ecoou um som alto quando Mark bateu o nó dos dedos na superfície.

Jeno e Renjun, sem saberem o motivo, se olharam e encontraram a mesma ansiedade que sentiam nos olhos do outro. Do lado de dentro, antes de abrir a porta com a naturalidade de sempre, Jaemin precisou tomar fôlego e secar as mãos molhadas de suor. Estava sendo ridículo, sabia. Não era nada demais receber seus amigos em casa para verem um filme.

E estava certo. Os recebeu com um sorriso, sentindo mãos tocando seu ombro e um falso olhar de desprezo de Chenle que o fez rir. Não era nada demais receber seus amigos, mas quando o casal ficou para trás sendo os últimos a entrar, Jaemin percebeu que tudo o que envolvia aqueles dois sempre seria demais.

Eles pareciam uma versão fashionista de Yin Yang, o jeans escuro de Renjun contrastando com o branco de Jeno e nenhum deles percebendo que a mistura das cores que usavam, vermelho e amarelo, originava o laranja que Jaemin vestia por baixo do macacão.

Eram a visão mais bela que aquele velho galpão já tivera, e a de Jaemin também.

– Boa noite – cumprimentou, um pouco menos suavemente do que tinha feito com os outros. Recebeu sorrisos quase idênticos em nervosismo antes que eles se aproximassem. Banhados pelas luzes do galpão, Jaemin conseguia notar semblantes corados e olhos brilhantes, bocas bonitas que sorriam vermelhas em sua direção.

Seu coração errou todo o compasso da dança que deveria executar em seu peito.

– Boa noite – eles responderam no próprio tempo antes de entrarem, os olhos de Jaemin acompanhando-os por todo o caminho, a mente tão repleta deles que mal ouviu a bagunça que o restante fazia em sua casa.

Jaemin aproveitou os momentos do esforço de voltar a porta para o lugar para controlar os próprios pensamentos, sacudindo a cabeça até ter certeza de que o calor que sentia no peito não tinha chegado na forma de rubor às bochechas. Decidiu ajudar Chenle a tirar o que tinham comprado das sacolas do mercado e percebeu que a atenção dele já estava em sua direção.

– O que foi? – perguntou, meio sorrindo, meio preocupado.

Chenle espalhou as garrafas de refrigerante enquanto Jaemin tirava o último pacote de salgadinho do fundo da sacola.

– Está tudo bem? – ele perguntou e Jaemin deu as costas para pegar uma bacia verde e trincada entre as caixas que serviam de armário, usando como desculpa para dar as costas ao guitarrista dos Nightmares.

Há quanto tempo se conheciam e realmente conversavam ao ponto de Chenle perceber alguma coisa? Podia ser uma pergunta banal, mas não era como Jaemin sentia. Havia uma seriedade velada nos olhos preocupados e acabou engolindo em seco ao imaginar se seus sentimentos estariam estampados em sua face, se seriam tão fáceis de ler.

– Claro. Por que? – forçou um sorriso que Chenle não correspondeu. Ele o observou por mais um instante antes de começar a abrir os pacotes e esvaziar os conteúdos todos juntos na bacia de Jaemin. Acabou dando de ombros.

– Nada. Acho que às vezes vejo coisas demais – desconversou e Jaemin sorriu pequeno e sem sinceridade. Antes de abrir o próximo pacote, no entanto, Chenle completou – Mas caso eu não tenha visto demais e você precisar conversar com alguém, juro que sou um bom ouvinte que não faz julgamentos até o final da história.

Depois do momento paralisado, Jaemin acabou sorrindo agradecido antes de começarem a levar os lanches para os outros.

– Ah, quem misturou o salgadinho de cheddar com o de cebola? – Mark fez uma careta de desgosto, recolhendo as bolinhas alaranjadas como se as salvasse da imundície – Deveria ser crime existir essas nojeiras de cebola.

– Pois deveria ser um crime falar mal dos meus quadradinhos de cebola – Donghyuck revidou, puxando a bacia para seu lado e colhendo os quadradinhos temperados antes de enfiar três de uma vez na boca, vendo Mark fingir ânsia.

– Eu não vou beijar essa sua boca fedorenta depois.

Jeno riu tão alto que os outros acabaram imitando. Donghyuck olhou com um sorriso presunçoso para o namorado antes de se aproximar.

– Eu duvido que não.

Renjun sentiu a barriga doer enquanto ria de Mark tentando fugir dos lábios apertados em um bico do namorado, que só sossegou quando conseguiu um selinho com gosto de cheddar na boca fedorenta – que obviamente Mark não deixaria de beijar.

Ficou definido, sem que realmente conversassem sobre isso, que Mark, Jaemin e Renjun sentariam no sofá. Entre as pernas de Mark, encostado no sofá e dividindo o tapete com Jisung e Chenle, Donghyuck também abrigava Jeno entre as pernas, deitado confortavelmente em seu peito. Renjun acabou sorrindo, mas isso só até Jaemin deixar a fita VHS ser engolida e voltar para o espaço vago ao seu lado.

Não conseguiria prestar atenção no filme, foi o que ambos pensaram ao sentirem os pelos se arrepiarem nos braços que quase se tocavam. Mas a narrativa fantasiosa os embalou suavemente com o passar do tempo, a tragédia de Romeu e Julieta parecendo pouco perto da crueldade enfrentada pelo casal principal. Isabeau transformava-se em um falcão durante o dia enquanto seu amado, Etienne Navarre, virava um lobo de noite. Dessa forma, eternamente impedidos de tocar um ao outro, o crepúsculo do dia os dava apenas o vislumbre um do outro antes que as formas animais assumissem o controle e eles fossem separados pelas naturezas distintas. Renjun tinha o coração na garganta ao ver e imaginar a melancolia do casal. Imaginou estar tão perto de Jeno e não poder tocá-lo e algo doeu em seu coração. Antes que pudesse controlar o movimento, olhou para o lado, para Jaemin.

Ele tinha um semblante tão reflexivo quanto Renjun imaginava estar fazendo, os braços cruzados não escondiam as mãos que apertavam a própria camisa numa silenciosa demonstração do que sentia ao observar a luta solitária do casal. Renjun quis tocá-lo também, momentaneamente se sentindo como Etienne e Isabeau: a poucos centímetros de ter o que queria, sem nunca alcançar.

Então houve um apagão.

O bairro inteiro mergulhou no breu total, os postes zunindo baixinho pelo corte abrupto da energia e a sala sendo tomada pela escuridão antes que os olhos conseguissem se acostumar. E Renjun paralisou ao sentir uma mão sobre a sua.

Sua nuca queimava e ele sabia que se a luz voltasse naquele momento não conseguiria esconder o rubor da face. Os dedos de Jaemin tinham ido automática e ferozmente até os seus enquanto o corpo dele inteiro retesava, uma linha de tensão como a corda de um arco com a flecha a postos. Renjun olhou para o lado, lentamente distinguindo a silhueta dele contra a escuridão enquanto se acostumava com a falta de luz. Não ouviu os comentários do restante dos amigos, apenas abaixou a voz e perguntou.

– Jaemin – ele notou o movimento em sua direção. Só então Jaemin percebeu que o tocava, mas quando tentou tirar a mão, Renjun o segurou pelo pulso. Engoliram em seco ao mesmo tempo e desistiram de questionar as decisões dos próprios corpos – Você tem medo do escuro?

A falta de resposta foi ignorada quando a luz dos postes os banhou de dourado, o galpão ainda sem sinal de vida. Mas Renjun o viu assentir.

– Pode deixar o gerador comigo – provavelmente sabendo da fobia do melhor amigo, Mark se ofereceu e logo se erguia na direção da cozinha, onde o trambolho vermelho era fixado na parede e vez ou outra precisava ter as cordas puxadas para voltar a alimentar a Fortaleza.

Renjun só percebia o que acontecia ao redor com parte de sua atenção, o semblante tenso de Jaemin mais visível pela luz emprestada pelos postes, a mão suada na sua. Ele olhou para baixo, um jogo bonito de amarelo e preto ao redor das mãos dadas, e prendeu a respiração antes de entrelaçar os dedos.

Jaemin sentiu o coração bater alto contra as orelhas, o calor que começava na ponta dos dedos incendiando seu corpo e a mente pareceu pifar, pois só tinha consciência de Renjun. O corpo dele ao lado do seu, a respiração forte dele indicando que ele sentia o mesmo naquele momento, os dedos que ainda esperavam uma resposta ao tomar os seus. E Jaemin o correspondeu. Lentamente o recebeu nos espaços entre os dígitos, mais lentamente ainda os fechou ao redor dos dele e quando engoliu em seco, notou que os ombros dele relaxaram minimamente ao lado dos seus.

Não era para isso acontecer, não era para a união secreta e proibida das mãos despertar alívio. Mas foi o que aconteceu. Esquecendo-se até mesmo da escuridão a qual estavam confinados, Jaemin se pegou acariciando a mão de Renjun com o polegar. Como e por que eram as questões que rondavam sua mente. Por que algo tão errado poderia parecer tão certo? E como faria agora que haviam se tocado daquela forma, como esqueceria a sensação?

O som do gerador voltando à vida fez as mãos se separarem antes que fossem iluminados pelas lâmpadas altas penduradas sobre eles. Nenhum dos dois teve coragem de se olhar agora que as sombras não mais escondiam tudo o que seus olhos demonstravam e ambos tiveram a mesma reação: desviar o olhar para Jeno.

O que não esperavam era que Jeno, sentado de lado entre as pernas de Donghyuck, já estivesse olhando para eles. Para o exato ponto onde, minutos antes, suas mãos tinham se entrelaçado.

 

Quando os créditos subiram pela tela apoiada no caixote, corpos começaram a se espreguiçar para todos os lados e olhos foram esfregados com o dorso dos dedos para espantar as lágrimas acumuladas pelo tempo extenso na frente da televisão. Quando os amigos começaram a se levantar, Jaemin enfim criou coragem para olhar para Renjun. Ele conversava com Mark sobre o que tinha achado do filme, mas quando perdeu a atenção dele para o namorado, Renjun se viu sem escolha a não ser devolver o olhar.

Jaemin parecia tão apreensivo, pouco do garoto obstinado que liderava passeatas sobrando nos olhos inquietos e lábios crispados de nervosismo. Renjun suspirou, entendendo muito mais do que gostaria, e sorriu pequeno e de lado para ele. Foi quase uma forma de confortá-lo: estava tudo bem, não ficariam estranhos por causa do momento trocado na bruma do galpão. E não, ele não se arrependia.

– Nossa, mas eu daria tudo por um sorvete agora – Donghyuck, alongando a coluna para frente depois que Jeno se pôs de pé para estalar a coluna, resmungou. Surpreendendo aos outros, Jisung se levantou como se voluntariasse a sair do galpão.

– Eu e Chenle vamos comprar.

Ainda sentado no tapete e com os olhos espremidos pelo cansaço provocado pelo filme, Chenle o encarou confuso.

– Vamos?

Jisung revirou os olhos e o chutou sem força na altura do joelho.

– Vamos, hyung.

Suspirando, Chenle se esticou enquanto o restante deles juntava as últimas moedas para contribuir com um pote grande de sorvete. Eles saíram em silêncio pela calçada do bairro pouco confiável, Chenle alcançando os movimentos nervosos de Jisung pelo canto do olho toda vez que ele enfiava as mãos no bolso apenas para descobrir que ficava quente demais e tirá-las de lá, esfregando-as uma na outra.

– O que você tem?

Jisung sentia como se o coração fosse sair pela boca, suor brotando na nuca e na testa logo abaixo da raiz dos cabelos. Tirou os fios do rosto por apenas um momento, procurando ar, e encontrou o olhar curioso de Chenle em sua expressão momentaneamente exibida. O estômago revirou, mas não eram borboletas. Passavam pelos estabelecimentos fechados como se andassem em um bairro fantasma e o vazio quase completo da rua, ao invés de assustar Jisung, o muniu com coragem.

– Vem aqui – mesmo ainda tomado pela ansiedade, Chenle se surpreendeu com a firmeza da voz dele, o coração errando uma batida quando a mão comprida envolveu seu pulso e o puxou para a curva escondida de uma esquina.

O ar da noite estava repleto com o cheiro de óleo de carros e o som de pequenos animais noturnos. Eles estavam a um passo de serem cobertos pela luz do poste, mas ainda discretamente protegidos pela escuridão da sombra projetada pela parede de uma oficina. Jisung ainda não tinha soltado seu pulso e Chenle engoliu em seco. Os cabelos tampavam o rosto dele que, de semblante baixo, era impossível de ler.

– Sungie?

Jisung tremeu da nuca à sola dos pés. Chenle nunca o chamava assim a não ser que estivessem sozinhos e havia sempre tanto carinho, tanta preocupação naquele apelido. Jisung sabia pouco do amor, mas o suficiente para reconhecê-lo na voz do melhor amigo. E agora ele queimava, o amor de Chenle parecia esmagar seu coração e sua consciência e Jisung foi covarde o suficiente para não olhá-los nos olhos quando falou.

– Eu gosto de você.

O som de um Opala vermelho cortando a noite abafou a declaração baixa e tímida, mas Chenle ouviu. E não acreditou que tivesse escutado certo. As sobrancelhas arquearam e a boca se separou em surpresa, os olhos de Jisung ainda no pulso que mantinha no abrigo da palma suada, os corações batendo alto contra as cabeças, mas por motivos diferentes.

– Como é? – Chenle amaldiçoou a boca seca, o nervosismo que não lhe cabia. Não era um bobo pelo amor, era um homem forte e acima das futilidades de paixões adolescentes. Mas a forma como Jisung parecia alcançável pela primeira vez lançou ao chão tudo o que ele acreditava que o constituía. Não tinha forças quando o assunto era ele.

Jisung umedeceu os lábios, sentia uma pressão estranha atrás dos olhos que, sabia, se pensasse demais acabaria se transformando em lágrimas. Inspirou profundamente e se aproximou um passo, o cheiro da noite foi tomado pela colônia conhecida do skatista e Chenle piscou mais lentamente.

– Eu disse que gosto de você, hyung – ele repetiu, a cada instante acumulando um pouco mais de coragem. O polegar trêmulo desenhou um carinho sem jeito no pulso acelerado de Chenle, que sentia as pernas perderem a consistência como se estivessem se transformando em macarrão – Você gosta de mim também, não é?

Chenle afastou o pulso do toque dele e Jisung enfim subiu o rosto para encará-lo nos olhos. Tinha surpresa e embaraço nos de Chenle, e mais alguma coisa melancólica que Jisung não soube interpretar. Ele parecia lê-lo de volta e Jisung ficou agradecido pelo cabelo tampar todos os traços firmemente travados de seu rosto, escondendo as linhas de apreensão que carregava.

– Jisung – o nome saiu meio como uma repreensão, meio como uma pergunta. O coração de Chenle batia tão rápido que ele não conseguia acompanhar o fluxo dos próprios pensamentos, por isso foi incapaz de se afastar de novo quando Jisung o pegou pelo rosto dessa vez.

Ele tinha mãos longas, perfeitas para as baquetas da bateria, e calejadas pelos tombos do skate. A respiração era pesada e atravessava os fios loiros para tocar Chenle no rosto. Ele sentiu o corpo corresponder, a pele aqueceu e o mundo rodou quando teve os lábios pequenos e cheios na proporção perfeita pairando sobre os seus. Em suas bochechas, as palmas continuavam úmidas, mas paravam de tremer aos poucos. Seus olhos estavam arregalados e ele pensou ter visto um misto estranho de medo e arrependimento nos de Jisung, mas os cabelos impediam que tivesse certeza.

– Eu quero tentar, hyung – a voz baixa saiu rouca e Chenle esqueceu como se respirava – Quero tentar com você.

Chenle teve um segundo para responder, mas não conseguiu pensar em nada para falar. E Jisung veio, exatamente como imaginava que ele viria. Meio afobado e perdido, o encaixe estranho das bocas a princípio, mas quente o suficiente para que Chenle precisasse prender a respiração na garganta por um momento e pensar nos passos básicos para continuar respirando. Quando entendeu o que estava acontecendo, calou a voz de sua mente e obedeceu a de seu coração: puxou Jisung pela cintura e o beijou de volta.

Era refrescante como emergir das águas do mar no verão e Chenle teve consciência o suficiente da inexperiência de Jisung para guiar o primeiro beijo. Tocou o queixo dele com carinho, o polegar puxando-o minimamente para baixo para que ele abrisse um pouco mais a boca e perdesse um pouco mais do receio. Jisung suspirou e o som fez Chenle tremer, puxando-o pela cintura para mais perto, mostrando com os próprios lábios os movimentos que ele deveria fazer. Ensinou o de cima e depois o de baixo, relaxou contra os braços dele e sentiu quando ele fez o mesmo.

Chenle encaixava em seu corpo como se fizesse parte dele, Jisung pensou. As bochechas eram macias em suas palmas e o cheiro dele era uma mistura familiar de desodorante e refrigerante. Ele era doce, não no sabor único que criavam, mas na forma que o tocava e guiava seus movimentos. A boca era cheia e inclinava suavemente para baixo nas laterais, mas se movia com a precisão de um professor contra a sua e Jisung quase explodiu de alegria quando sentiu que gostava. Gostava do beijo de Chenle, gostava de ser beijado. Poderia chorar ao descobrir que talvez não fosse tão quebrado quanto imaginava.

Engoliu mais uma vez a culpa que tentou tomar espaço em sua consciência, se concentrando na ponta da língua que deslizava entre seus lábios.

Chenle era paciente, mas autoritário. Jisung se assustou com o movimento, mas seguiu o comando mudo do polegar dele quando o queixo foi puxado mais para baixo, abrindo mais a boca. Os peitos queimavam, os pelos eriçaram ao mesmo tempo e Chenle enfim deixou seu maxilar trabalhar como desejava, dirigindo a mão até a nuca quente por baixo dos cabelos. Jisung tremeu e ficou nervoso por um instante quando viu que o controle agora era compartilhado e ele não sabia o que fazer. Chenle se afastou minimamente, os olhos brilhando, as bochechas coradas. Era lindo, tão lindo quanto Jisung sempre soube, como todos notavam. Mas ainda assim...

– Me abrace, Sungie.

Jisung engoliu seco e deixou que as mãos de Chenle guiassem as suas até a cintura delicada, suspirando quando automaticamente o puxou para mais perto e ele sorriu. Ignorou pela centésima vez na noite a sensação de culpa e buscou os lábios dele mais uma vez, acertando o ritmo que não soubera impor de primeira e percebendo quando isso fez Chenle sorrir.

Tinha um dos garotos mais bonitos e descolados da escola sorrindo no meio do seu beijo, tinha o cheiro e o calor do melhor amigo anuviando tudo ao redor, fazendo o risco de serem vistos parecer valer a pena. E ainda assim sentia que poderia chorar a cada movimento que as cabeças faziam para aprofundar o toque.

Chenle sentia que flutuava, os pés muito distantes do chão para se importar. Tudo era sobre os braços de Jisung ao seu redor, sobre sentir os ombros dele sob seus braços quando o abraçou pela nuca, sobre a forma que as bocas se acariciavam com intimidade e eles encontravam o próprio ritmo.

E ainda assim, mesmo que calasse por um momento a própria consciência e se deixasse desfrutar do que por tanto tempo seu coração quis, Chenle soube que havia algo errado.

Quando voltaram para o galpão, ouvindo reclamações sobre a demora para encontrar um sorvete, ficou decidido que todos passariam a noite por ali. E, de forma mais silenciosa, também ficou decidido que eles não contariam para ninguém sobre o que tinha acontecido na esquina da oficina a meio caminho de comprar um sorvete.


Notas Finais


É isso, galeris!
Fala pra mim se essas coisinhas boiolas quinem pegar na mão já deixa vcs tchubiraun daun daun quinem eu ou se sou doida :(
E esse chensung? Oq achamos?

Obrigada por lerem até aqui e até o próximo ~
XOXO


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