História A Amante - Capítulo 13

Todo seu corpo doía. Após finalmente chegar a seu apartamento no dia anterior, berrou, chutou, praguejou todo o mundo. Sakura era a personificação da dor e da frustração, sua mente beirava a escuridão e sofrimento, a completa ausência de paz. Continuou assim até ser vencida pelo cansaço e esgotamento emocional que estava experienciando.

No dia seguinte, também ficou em casa. Não saiu, não comeu, não carregou o celular, estava totalmente desconectada do mundo. Praguejou todos aqueles que afirmam, convictamente, que o tempo cura tudo. Para a rosada, apenas estava ficando cada vez pior. Enquanto ajeitava seu apartamento, ia guardando os pertences perdidos do loiro na mesma caixa. Sentiu uma angústia enorme ao se aperceber que provavelmente teria de arranjar outra caixa, eram demasiados objetos.

Assim que terminou, entrou no banheiro e deixou que água quente levasse seu sofrimento. Sua mão tateou o colar oferecido pelo Uzumaki. Num movimento brusco, arrancou o acessório e o atirou para o chão molhado. De seguida saiu do banheiro, enrolada numa toalha e adormeceu, exausta.

Na manhã seguinte, acordou antes do seu alarme. Eliminou todas as notificações que continuavam aparecendo, desde ligações de Ino, Hinata e até Sasuke. Ainda não se sentia preparada para regressar ao escritório. Provavelmente nunca se iria sentir. Engoliu em seco e se ergueu. Colocou uma blusa justa preta, seguida por uma calça de napa preta. Prendeu os cabelos no topo da cabeça e os pranchou. Apesar de estar arrasada, não queria deixar que ninguém a visse assim. Pegou uns saltos e um casaco comprido, a tempestade ainda estava presente, apesar de já não estar chovendo como há uns dias.

Quando adentrou o edifício, sentiu todos os olhares sobre si. A ausência da Haruno tivera sido temática entre os funcionários, uma vez que estavam num momento tão importante para a empresa. Continuou caminhando até seu escritório. Assim que abriu a porta, agradeceu por Ino estar no seu dia de descanso. Estava demasiado maquilhada para deixar suas lágrimas arruinarem tudo. E definitivamente não queria ser bombardeada com questões.

Ficou horas naquela divisão sem avisar alguém de sua chegada, se enterrando em trabalho e documentos que precisavam de revisão. Apesar de escutar seu celular, escolheu ignorar, não queria ser interrompida. Infelizmente, devido a passar quase três dias sem ingerir algo, seu estômago não estava aprovando aquele comportamento e foi obrigada a procurar algo para comer.

Logo que abriu a porta, seus olhos caíram sobre o Uzumaki e o Uchiha. Naruto sentiu seu coração falhar uma batida. Não sabia que a rosada se encontrava na empresa. Ainda tivera ponderado entrar em contacto com ela, mas depois da decisão que fora tomada, achou que não seria o mais correto a fazer. Nos últimos dois dias tinha se certificado que estava repleto de trabalho, tentando aliviar sua mágoa.

Dois dias. E já estava frustrado. Tinha saudades de Sakura, do seu toque, do seu sorriso, da forma como os cabelos dela grudavam seu corpo após atingir o clímax. Uma pequena parte de si estava orgulhoso. A mulher estava se apresentando ali, com sua postura firme, sensual e poderosa, como sempre fora. Mas o loiro reconhecia a tristeza nas orbes verdes. E estava sentindo exatamente o mesmo.

- Baby! – Sasuke caminhou até a rosada, beijando sua mão. – Estava questionando Naruto sobre você.

- Tive um contratempo pessoal. Mas já tratei de todos os documentos atrasados.

- Eficaz, como sempre. Você foi feita na medida de deus. – O Uchiha flertou. A rosada ia responder, mas foi interrompida por uma terceira voz masculina.

- Tem de ser obra do destino. – O moreno se aproximou do trio. Sakura reconheceu, de imediato, o homem que lhe tivera ajudado durante a tempestade. – Que prazer a rever, menina Haruno.

- Julian. – A rosada sorriu. – O mundo é pequeno. – O moreno sorriu de volta. Naruto e Sasuke se fitaram, confusos com a situação atual. Ironicamente, ambos queriam socar o rosto perfeito do francês.  – O que faz aqui?

- Sou vosso investidor. – Sakura engoliu em seco. Tinha se esquecido da chegada do novo acionista. – Confesso que esperava encontrar a famosa Sakura quando cheguei ao edifício. E, de certa forma, até encontrei.

- Parece que sim. Apesar de estar completamente encharcada.

- Posso lhe confirmar que estava radiante. Agradeço por ter me desviado do caminho.

Sakura não conseguiu prender uma risada leve, enquanto um leve rubor se formava em seu rosto. Naruto e Sasuke continuavam assistindo a cena, incrédulos com a intimidade entre o acionista e a secretária. Frustrado, o Uchiha se colocou entre ambos.

- Lamento informar Julian, mas Sakura já tem uma lista de candidatos demasiado comprida. – A mulher revirou os olhos. – Não sei como é na França, mas aqui, em Nova Iorque, respeitamos a ordem de chegada.

- Totalmente de acordo. – Julian não deixava de fitar Sakura, completamente encantado com a beleza da mesma. – Mas o povo francês também respeita a opinião de qualquer senhorita. É ela que tem a decisão final.

- Esse discurso costuma funcionar? – A Haruno perguntou, sem perder o sorriso do rosto.

- Em norma, podemos afirmar que a taxa de sucesso é elevada. – A mulher riu, de novo.

Naruto estava ficando cada vez mais impaciente, era por isso que ele e Sakura não funcionavam juntos. Não conseguia suportar todos esses jogos, tinha mais que fazer do que ficar assistindo esse espetáculo.

- Julian, quero lhe apresentar um dos melhores restaurantes da área. Sasuke e eu estamos indo para lá, agora mesmo.

- Gostaria de saber mais sobre a senhorita Haruno. Me perdoem, mas passei esses dois dias com vocês, acho fundamental conhecer todos os membros da organização. O que me diz Sakura?

- Gosta de sushi?

- Confesso que nunca comi. – Sorriu, envergonhado.

- Vai adorar o senhor Nakazawa, não tem melhor! Me deixe colocar meu casaco. – A rosada entrou no seu escritório.

- Meus senhores, nos vemos em uma hora. – Julian falou, com um sorriso estampado no rosto. Naruto revirou seus olhos e se retirou, com Sasuke o seguindo. Essa parceria já estava começando de forma errada.

- Aquele safado, já dando em cima da minha baby. – O moreno resmungou.

- Ela parece ter gostado, não culpe apenas Julian. – O loiro cuspiu, com raiva.

- Ela estava sendo cordial Naruto. Um dia tem de me explicar porque cada vez que alguém fala com Sakura, você assume que a culpa é dela… - O Uchiha esperou uma resposta, mas nada veio. Ignorou o assunto e continuou pensando como afastar o acionista de sua mulher.

***

Sakura não conseguia parar de rir, seu rosto doía com toda a situação. Nunca, em seus 24 anos, tivera visto alguém com tão pouco talento para manusear palitinhos japoneses. Julian era realmente uma alma velha, com sua cortesia e educação. Para além de ser uma ótima companhia, não estava sendo questionada sobre sua ausência. Um fator chave para se permitir relaxar.

- Desisto! Isso é algo inventado pelo próprio capeta. – O moreno largou os palitinhos.

- Você irá apanhar o jeito, não se preocupe. – A rosada levou um rolinho até seus lábios, mastigando. – Me conte algo novo. Apenas sei que é francês.

- Nasci em Paris, minha mãe é americana e meu pai é francês. Tenho 29 anos e escrevo códigos de programação. Foi assim que lancei minha própria empresa. Mais tarde, comecei desenvolvendo um interesse enorme no setor turístico. Após alguma pesquisa, vossa organização se revelou um investimento próspero. Assim que comecei questionando empresários que já estiveram ligados ao vosso negócio, seu nome era sempre mencionado. Admito que fiquei extremamente curioso para a conhecer.

- Espero que apenas lhe tenham falado bem de mim.

- Claro que sim. Aqui entre nós, digamos que tive uma pequena discussão com um empresário britânico, Gregory Smith, se a memória não me falha. Ele tentou me convencer a abandonar a proposta.

Sakura revirou os olhos. – Gregory é um homem tradicional.

- Mas não poupou elogios quanto a você. E confirmo que ele tem sua razão. Tenho analisado alguns documentos, maioritariamente revistos por você, a organização da informação é de extrema qualidade, permite-me ter uma visão clara sobre vossa situação financeira. Meus parabéns.

- O-Obrigada. – Seu rosto estava ficando cor de beterraba. Havia algo de extremamente sedutor em Julian, a rosada não podia negar.

Terminaram a refeição e voltaram para o edifício, conversando como se conhecessem há anos. Antes de a porta se fechar, o Uzumaki e o Uchiha entraram no elevador, junto de Sakura e Julian. Naruto se manteve silencioso, seu ódio crescia a cada segundo, enquanto cerrava seu punho, tentando disfarçar sua raiva. Sasuke, decidido a não deixar o francês ocupar seu lugar, ia se envolvendo na conversa.

- Espero ter a honra de repetir o momento de hoje menina Haruno. – O francês pegou a mão delicada da mulher e depositou um beijo cálido. Pela primeira vez, Sakura não se sentiu desconfortável e sorriu. Julian tivera sido tão envolvente, sentia-se cortejada.

Sentia as orbes azuis sobre si. Suas mãos tremeram um pouco enquanto sua ansiedade aumentava. Assim que as portas se abriram, saiu num andar diferente dos homens. Antes de o elevador iniciar sua partida, verde guerreava com azul.

Merda.

Naruto queria pegar na rosada e a levar para sua sala. Seu maior desejo era socar o francês antiquado e trancar Sakura no escritório enquanto lhe mostrava que nenhum homem poderia lhe tocar como ele. Queria relembrar a quem ela pertencia.

Continuaram caminhando pelos setores empresariais, o loiro certificava-se de apresentar toda a equipe e, dessa forma, responder a qualquer dúvida que Julian pudesse ter. Com o decorrer das horas, notou que o clima era tenso. Sasuke estava extremamente irritado com a cumplicidade entre a rosada e o francês. Naruto bufou forte por ver o Uchiha agindo tal como um garoto.

- Acho melhor terminar por hoje Julian. Já conheceu toda minha equipe principal. Qualquer dúvida, pode perguntar a Sakura, ela conseguirá lhe ajudar. – Sorriu, cinicamente.

- Ou pode perguntar para nós. – Sasuke falou, seco. Naruto estava quase socando o rosto do sócio. O moreno se retirou e o Uchiha tremeu assim que o loiro o encarou. Apesar da atitude positiva e alegre do Uzumaki, Sasuke, por vezes, se esquecia o quanto intimidante ele conseguia ser. Engoliu em seco e se desculpou.

- Mas ele não pode chegar aqui e pensar que minha baby lhe pertence. – Reforçou mais uma vez.

-Se você não se envolvesse com minhas funcionárias, não teria esse dilema. – O loiro falou, frio.

- Naruto, estamos falando de Sakura, minha deusa da sedução, é impossível não desejar aquela mulher. – Os olhos negros brilhavam quando falava da amante do loiro. – Carismática, extremamente bela, inteligente e completamente envolvida por uma embalagem de sensualidade sublime.

Cansado dos dramas do sócio, o loiro se retirou. Quando chegou ao estacionamento, ficou surpreso ao encontrar a rosada sozinha, fitando seu celular. Involuntariamente se aproximou da mulher. Seus sentidos se alertaram assim que o aroma de Sakura invadiu seu nariz. A mulher se sobressaltou com a presença do Uzumaki. Seu coração estava quase saindo do peito e toda a dor que sentia tivera voltado, alterando sua respiração.

O rosto de Naruto estava a poucos centímetros do seu. Bastava se colocar na ponta dos pés e seus lábios seriam unidos. Seu corpo entrou em alerta quando sentiu a mão masculina acariciar seu rosto. Ficou completamente sem reação. Seus olhos fitavam os lábios do homem, queria puder sentir seu sabor novamente. Mordeu os lábios vermelhos, tentou se pronunciar, mas não tinha forças. Seu contacto físico apenas foi quebrado após escutarem uma voz chamando por Sakura. Julian apareceu, com seu sorriso.

O loiro rapidamente se afastou e entrou no carro, pregando fundo no acelerador. Sakura se manteve estática no lugar, ainda embriagada nas sensações que Naruto lhe trazia com um mero toque. Seus olhos verdes ficaram marejados.

- Sempre aceita minha carona? – O francês falou.

- S-Sim. Vamos. – A rosada acordou de seu transe e seguiu o moreno até o carro.

Entraram no veículo e a Haruno colocou sua morada no celular de Julian. Apesar de estar concentrado com as indicações da aplicação, Julian não conseguiu ignorar a aura depressiva que rodeava Sakura. Lamentou mentalmente ao ver uma lágrima escorrer pelo rosto feminino. Assim que chegaram ao destino, a rosada permaneceu quieta, ainda perdida em sua mente. O francês saiu do carro e o contornou, abrindo a porta para a mulher. Atrapalhadamente, saiu do veículo e se desculpou.

- Se precisar de algo, não hesite em pedir Sakura. – Sorriu, melancolicamente.

A rosada deixou mais algumas lágrimas escaparem e depois sorriu, sincera. Agradeceu a carona e se retirou, deixando Julian ainda mais encantado com sua alma.

***

Na mansão Uzumaki, um loiro enraivecido socava o saco de pancadas, tentando aliviar suas emoções. Queria desligar todos esses pensamentos, ele amava Hinata, porque estava constantemente pensando em Sakura? Eles iam começar uma família, finalmente tinha terminado seu caso extraconjugal, tudo estava como deveria ser.

Porque me sinto vazio?

Gritou, frustrado. Socou o saco, novamente. Continuou socando até seu corpo ceder e cair no chão, tentando recuperar seu ritmo respiratório.

- Naruto? – A voz doce de Hinata perturbou o silêncio. O loiro se ergueu, com dificuldade. Atirou suas luvas para longe e caminhou até a esposa. Puxou sua cintura e selou seus lábios, agressivamente. Hinata tinha dificuldade em acompanhar o ritmo exigente do esposo. Reunindo suas forças, o Uzumaki carregou a morena até o quarto principal e se amaram, lentamente.

Enquanto Hinata massajava seu peito pelado, Naruto esfregou o rosto, praguejando por ter imaginado que estava fazendo amor com Sakura.