Para conseguir entrar em casa, Clarke precisa desviar de um copo estilhaçado no hall. Descobre uma Raven aos gritos com Bell.
O irmão está vermelho de raiva e completamente descontrolado. A garota sabe que está ferrada. Raven tenta aplacar a fúria, dizendo que Clarke não é mais criança e pode assumir a responsabilidade por seus atos. Nenhum dos dois percebe que ela está por ali.
— Parem de brigar por minha causa. – o tom de Clarke recai como um raio.
— Ah, você está aí. – Bell se inflama. – Em que você estava pensando, porra? Por que ajudou ela?
— Pare com isso, Bell! – Raven, ainda aos gritos, agarra o braço dele.
— Você viu isso aqui? Assistiu esse vídeo? – Bell chacoalha o DVD nas fuças de Clarke.
— Não, eu ainda não assisti. – Clarke abaixa a cabeça, envergonhada.
— Eu vou matar aquela vagabunda! – Bell está espumando.
— Eu já disse que a Lexa não teve nada a ver com isso, Bell. Que saco, me escute! – Raven se enfeza.
— Não é bem assim. – Clarke finca os dentes no lábio, arrasada. – Algo aconteceu no colégio. – ela sente as forças se esvaindo e despenca, pesadamente, sobre o degrau que separa o hall de entrada da sala de estar. – Nós ouvimos a gravação de uma conversa entre a Costia e Lexa. O diálogo foi transmitido para o colégio inteiro, pelo sistema de som.
— Como é? – Raven ajoelha-se em frente à Clarke. – Que gravação é essa?
— A Costia chantageou a Lexa para que ela me levasse até o Centro de Arborismo. A Kibi pediu para que ela deixasse eu fazer o que quisesse, sem me impedir. Se cumprisse as ordens, Lexa estaria livre da chantagem.
— A filha da mãe sabia? Porra, eu tô falando! Vou matar essa desgraçada! – Bell pega as chaves do carro, mas Raven bloqueia o caminho, tirando as chaves da mão do cara.
— Você não vai matar ninguém! – Raven ruge. – Clarke, você tem certeza sobre isso?
— Eu escutei a gravação. Aliás, o colégio inteiro ouviu. – Clarke afunda o rosto nas mãos. – Eu estava enganada sobre a Lexa, ela estava jogando o tempo todo.
— Pode ser uma montagem, Clarke. – Octavia pondera.
— Para mim acabou. – Clarke lamenta, aos soluços. – Eu preciso sumir daqui, quero esquecer o que aconteceu naquela ilha.
— Vai aceitar fazer a viagem? – Raven se sobressalta. – Vai fugir, Clarke?
— Não é uma fuga. – Bell finalmente para de gritar. – É uma decisão inteligente, um recuo estratégico.
— Eu nem sei o que dizer. – Raven toma assento ao lado de Clarke. – Eu concordo que a viagem será incrível para você, mas não acho que esteja tomando essa decisão pelos motivos certos.
— Eu preciso me distanciar disso tudo, tenho que esquecer a Lexa. – Clarke tomba a cabeça no ombro da amiga.
— Me deixe matar a garota? Só um pouquinho? – Bell cerra os punhos.
— Cale a boca, Bell! – Raven bufa e abraça Clarke.
Depois de um tempo longo demais, as coisas se acalmam na residência dos
Griffin. Bell está jogado no sofá, girando o DVD entre os dedos, pensativo.
Raven e Clarke ainda estão sentadas sobre o degrau de mármore, pensando em tudo e em nada ao mesmo tempo.
— Vou para o meu quarto separar as roupas da viagem. – Clarke se levanta, enxugando o rosto na camiseta. – Não há mais o que esperar.
— Você deu alguma chance para a Lexa se explicar? – Raven pergunta, levantando-se também.
— Não e nem darei. Não fará a menor diferença.
~~***~~
Subindo as escadas, Clarke viu Raven se jogar no sofá ao lado de Bell. Ele a abraçou, acariciando seus cabelos. Clarke sorriu quando se beijaram. Pelo visto, esses dois se entenderam. E apesar de destroçada por dentro, a garota se sente muito feliz por eles.
Raven queria ajudar Clarke com as roupas, mas ela prefere fazer isso sozinha. Precisa muito de um tempo a sós consigo mesma, com seus próprios pensamentos e sentimentos. Quer confrontá-los e senti-los em toda a sua intensidade. O que não nos mata, nos torna mais fortes. E Clarke está buscando forças para encarar o que a vida lhe reserva.
Tira o DVD da bolsa, jogando-o sobre a bancada. Não assistirá agora, talvez mais tarde. Abre a porta do guarda-roupas e fica olhando lá para dentro, por tempo indeterminado. Só então se toca de que não tem uma mala grande o suficiente para fazer uma viagem tão longa.
Puxa o celular do bolso da calça e, através do comando de voz, pede que o aparelho ligue para sua mãe.
— Clarke? Está tudo bem? – pelo barulho ao fundo, Clarke imagina que a mãe esteja no trânsito.
— Oi, mãe. Pode falar?
— Posso sim. O que houve? – Abby aguarda numa pausa tensa. – Não está no
colégio?
— Não. Aconteceram algumas coisas por lá e eu resolvi voltar para casa. Mas não foi por isso que liguei. – Clarke respira fundo, convencendo-se de que está tomando a decisão mais acertada.
— Estou ouvindo.
— Vou para Paris. Seis meses. E depois volto para fazer o cursinho pré-vestibular.
— Tem certeza sobre isso?
— Tenho, mãe. – Clarke fuça nos cabides enquanto conversa.
— Está bem, pedirei para o seu pai agilizar as coisas.
~~***~~
As amigas acabam de assistir ao DVD. Do lado de fora, a noite já caiu faz algum tempo. Uma brisa suave entra pela janela entreaberta do quarto de Clarke e as cortinas flutuam, numa dança esvoaçante.
O filme protagonizado por Lexa e Clarke engloba diversas situações. O passeio na praia quando Clarke se deparou com o vazio existencial pela primeira vez. O pagamento da aposta após o jogo de tênis. Várias cenas da Caça ao Tesouro. E a mais humilhante das gravações: o Centro de Arborismo.
As imagens do que aconteceu por lá eram apenas flashes na memória fragmentada de Clarke. Após assistir ao DVD, as lacunas mentais foram preenchidas.
— Não acredito que protagonizei isso aí. – Clarke tira o DVD de dentro do aparelho, um tanto envergonhada.
— Você estava drogada. – Raven tranquiliza.
— Eu agi como uma vagabunda, me equiparei a Kibi. – Clarke atira o DVD dentro de uma gaveta. – Meu pai vai acionar o Youtube e ver o que é possível fazer.
— A Kibi e o Bola mereciam se ferrar. – o tom de Octavia é agressivo.
— Vamos mudar de assunto? – Clarke assume outra expressão, jogando os problemas para o fundo de sua mente. – Contem-me tudo sobre o Lincoln e o Bell.
— Tem certeza? – Octavia não quer deixar a amiga mais infeliz ainda.
— Ei, eu estou muito feliz por vocês duas, de verdade.
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