História A Aposta - Trying to heal

POV Lia

- então quer dizer que o senhor é o dono deste festão...? - pergunto a Matheus sem conseguir conter o sorriso nos lábios.

- ah, de vez em quando dou algumas destas festas maiores. Mas na maioria das vezes, são só encontros casuais com amigos mais próximos. - ele responde com o sorriso costumeiro, que por sinal não saia de seu rosto. Depois de me recuperar do desmaio, Matheus insistiu que eu ficasse um pouco mais repousando, mas os minutos tornaram-se horas sem que percebessemos... Conversamos muito e parece que tínhamos atmosferas parecidas pois o assunto não faltava.

- bom, acho que está na hora de eu descer e procurar a Bianca - digo me levantando.

- certo, eu te acompanho. Também preciso achar o Daniel. - ele diz e eu dou uma risada porque simplesmente não me conformo com o tamanho da coincidência.

Mas, para nossa enorme supresa, quando descemos já não havia mais ninguém no "salão" onde estava ocorrendo a festa. Várias governantas e funcionárias da casa de Matheus faziam a limpeza do local, que por sinal estava um lixo. Haviam copos jogados por todo o local, muita sujeira. As competentes funcionárias faziam a limpeza e recolhiam o lixo, enquanto alguns outros funcionários levavam os móveis de volta para seus lugares.

Olho interrogativamente para a cara de Matheus e ele diz simplesmente:

- aparentemente, passamos mais tempo que imaginamos no meu quarto. - ele diz com um sorriso de desculpas.

Começo a vasculhar o espaço onde ocorria a festa que agora volta aos poucos a tomar a forma de uma casa, procurando por Bianca.

- venha, eles devem estar aqui fora.- Matheus diz me tomando pela mão e me conduzindo pelo local. Acho estranho seu toque repentino mas não me oponho.

Pelo jeito Matheus conhecia bem seu amigo, já que exatamente como ele disse, encontramos Daniel na parte externa da casa, perigosamente perto das piscinas, em uma namoradeira. Bianca está ao lado, com a cabeça recostada em seu ombro. Ele brinca com mechas do cabelo dela e ela parece massagear as mãos dele. A cena é incrivelmente tranquilizante, e pela expressão dos dois, aquilo parece ser um pedacinho do paraíso pertencente só a eles dois.

- ah deixa eles lá... - digo a Matheus. Mas ele parece nem ter me ouvido, parece estar extremamente distraído com a cena também. Aproveito sua distração para soltar minha mão da sua, o que parece desperta-lo do transe.

Um barulho na rua desperta a atenção de Daniel e Bianca, e finalmente ela me vê. É impossível não rir do rubor que se espalha por todo o seu rosto.

- Lia... Eu não vi você aí - ela diz bem sem graça.

- é eu percebi...- digo lançando um olhar para Matheus que cai na gargalhada junto comigo.

Eu e Bianca fomos embora logo depois e ela se despediu de Daniel com um beijo carinhoso. Eram 5:00 horas quando fomos pra casa, mortas de cansaço e loucas pra dormir. Eu cansada pelo desmaio e pelo estresse da briga, Bianca por ter passado a noite em claro aparentemente. Nem conversamos no carro e quando chegamos em minha casa ela ligou para sua mãe para informar que passaria o dia comigo. Capotamos e acordamos às 15 e pouco.

- ... E então o tal Matheus foi lá e tirou o bruto de cima de mim. Me levou pra um quarto pra me recuperar do desmaio, etc... - termino enfim de explicar a Bianca onde passamos a maior parte da festa.

- meu Deus, você desmaiou? - ela pergunta não conseguindo conter o choque.

- sim desmaiei. Mas aí eu acabei conversando muito com o Matheus e passamos basicamente a noite toda no quartinho lá. - digo por fim.-e você, senhorita, o que fez a noite toda? - pergunto não conseguindo conter a expressão de malícia que toma meu rosto.

- apenas conversamos e nós beijamos - ela diz suspirando, olhando ao longe, como se de repente tivesse sido trasportada pra outra dimensão.

- AAAAAAAAAH QUE GRACINHAAAAAA - grito, assustando-a.

- larga de ser boba Lia - ela me bate rindo e eu rio junto. Nesse momento, o celular dela toca e ela sorri abobadamente ao olhar o identificador de chamadas. Saio do quarto para lhe dar privacidade e para pedir que a governanta a qual o nome não me recordo prepare nosso "café da manhã". Quando volto ao quarto ouço o fim da conversa de Bianca:

-... Às 20:00? Certo, estaremos aí! Leve o Matheus - ela da uma risadinha - tchau - ela desliga suspirando.

- Ai meu Deus, ela está apaixonada! - digo para provocar Bianca.

- ahh eu estou mesmo - ela responde com aquele ar aéreo e eu fico com ânsia de vômito.

- argh, eu vou vomitar - digo a ela.

- ah, para de ser ranzinza Lia! Você não sabe como é bom amar! - ela diz.

Aquilo me atingiu. Eu sabia. Sabia muito bem como era amar. Sabia melhor ainda como era ser apunhalada pelas costas como eu fui.

Mas, pelo cuidado com minha amiga, me resguardei em dizer, com a expressão indicando a seriedade do que eu queria dizer.

- você não tem medo Bianca? De se machucar...? De... Sei lá, de partirem seu coração...?

- não, não tenho. Ele vai ser partido de qualquer maneira. Quero que pelo menos valha a pena. Que seja partido por alguém incrível como o Daniel.- ela responde solenemente, inabalável.

- entendo. Apenas... Tenha cuidado certo? E saiba que... Vou estar aqui pra juntar os caquinhos caso algo ocorra. - digo por fim.

- claro que você vai estar - ela diz e se levanta pra me abraçar. - agora vamos nos arrumar porque nós duas temos encontros marcados pra hoje senorita!

- ué, mas como assim??- pergunto a ela ataranrada pra se dizer o mínimo .

- o Daniel vai me levar pra jantar e ele disse que o Matheus estava louco pra te ver de novo, então pedi pra ele levá-lo - ela se explica - e você vai se arrumar e ficar bem delícia pra sair comigo! - ela diz batendo em meu bumbum.

* * *

Depois de 10 minutos de discussão sobre as minhas roupas, foi decidido que eu usaria o que eu desse na telha, ou seja,moletom.

Bianca se arrumou, e eu simplesmente vesti a roupa que queria . Entramos no carro e o trajeito foi ao som de Ed Sheeran simplesmente porque Bianca está na vibe.

Chegamos ao tal restaurante, e os meninos já estavam lá, rindo e jogando bolinhas de guardanapo uns nos outros como crianças. Eles não nos vêem de início, portanto Bianca diz:

- Boa noite RAPAZES - ela destaca a palavra com irônia. Matheus fica constrangido o que é Ilário.

Conversamos muito durante a noite e eu acabo descobrindo que Matheus é mais do que eu imaginava. Além de uma companhia agradável, de nunca deixar o assunto morrer, ser engraçado mas nunca as custas de ninguém, o garoto também tem uma opinião muito crítica de tudo(por trás da constante gentileza). Eu acabo ficando ainda mais encantada com ele.

Por volta das 23 horas, Bianca decide dar uma volta com Daniel na pracinha ali perto e eu fico tentada a ir também para fora com Matheus.

- você gosta das estrelas Lia? - ele pergunta quando estamos sozinhos ainda no restaurante.

- amo. Aliás, tenho mania de amar o que está longe. - digo deixando a frase pender no ar e me censurando mentalmente por estar me expondo tanto. Mas Matheus parece ter percebido o peso emocional do que acabei de dizer, de modo que decide me dar uma trégua.

- então vem comigo - ele me puxa em direção ao lado de fora do restaurante. Para ver as estrelas.

Sinto o ar frio da noite tocar meu rosto e deixo minhas preocupações irem com a fresca brisa noturna. Matheus toma uma de minhas mãos e enlaça seus dedos nos meus. Sua mão é muito quente no toque com a minha, que está ligeiramente fria. Ele olha pra mim como se dissesse "tem problema eu fazer isso?"

Como não me oponho, ele não solta minha mão. Continua me guiando para um banco bem localizado na linda pracinha, embaixo de uma árvore. O lugar e no mínimo romântico .

Nós nos sentamos sem dizer nada, como se uma única palavra pudesse estragar todo o momento. Eu olho pra cima, finalmente admirando as estrelas, que estão particularmente lindas hoje, como várias lanternas acesas no céu. Mas mesmo imersa na visão arrebatadora do céu estrelado posso sentir o olhar de Matheus em meu rosto. Quando viro pra o lado para olhar pra ele encontro seu olhar. Os lindos olhos verdes com as pupilas ligeiramente dilatadas. E então é como se o olhar dele me prendesse, me sugasse. Ficamos assim por longos segundos, e então ele se aproxima. Bem devagar, como se fosse tratar de um bicho machucado, ele coloca uma das mãos em meus pescoço, me puxa pra mais perto. Meu corpo não oferece resistência, na verdade parece ansiar pelo toque dele. Nossos lábios se encontram com o mais cálido dos toques e eu fecho os olhos.

Matheus me beija com cuidado, como se estivesse com medo de que eu pudesse me quebrar em suas mãos, como se eu fosse a mais delicada das rosas. E por um segundo, me sinto assim,como algo frágil. Seus lábios são gentis em contato com os meus, e quando nossas bocas se separam eu me encaixo eu seu abraço e me deixo ali. Ele me acolhe e parece simplesmente certo que eu permaneça ali, mesmo que não coração esteja em outro lugar.

* * *

Na volta pra casa de carro com Bianca, conto a ela sobre o beijo e ela parece estar feliz porque talvez eu esteja superando seu irmão. Decido não contar a ela que meu coração ainda reside no antigo endereço.

* * * 1 MÊS DEPOIS

Bianca e eu decidimos morar juntas já que ela passava praticamente todos os dias na minha casa e fazemos praticamente tudo juntas. Nossos pais reagiram melhor que o esperado e nos ajudaram com a mudança inclusive. Nos mudamos há uma semana pra uma casa extremamente charmosa perto da casa de Daniel e Matheus, que por ironia também moram juntos. Falando neles, faz duas semanas desde que Bianca está oficialmente namorando Daniel. Ele a pediu em namoro com flores e tudo o mais. Foi lindo, e agora eles são o típico casal Tumblr e, pra variar, apaixonados. O meu caso com Matheus segue indefinido. Eu gosto dele, gosto de tê-lo por perto. Ele me trata como se eu fosse uma princesa ou algo assim. Mas não consigo sentir por ele o que sentia/ainda sinto por Christian. Meus momentos com Matheus me deixam cada vez mais confusa com relação a meus sentimentos. Mas eu resolvo abafar essa confusão. Bianca disse que deve fazer parte do meu processo de cura. Resolvo acreditar nela.

Hoje, estamos indo acampar num rio ou seja lá o que for chamado Lakeland. Pelas fotos que vimos na internet parece ser lindo. Fica a apenas alguns km de carro e iremos no Jeep de Matheus. Estou fechando minha pequena mochila na qual estou colocando minhas coisas quando Bianca entra em meu quarto gritando sobre não conseguir encontrar seu biquíni favorito.

- você já olhou no lavanderia? A Janete costuma esquecer de guardar a roupa limpa, deve estar lá. - respondo a ela calmamente.

- certo. - ela responde se acalmando.

- o que houve que você está mais nervosa a cada dia que essa

viagem se aproxima? - pergunto a ela desconfiando do motivo.

- até parece que você não sabe Lia. - ela responde ceticamente. - Vamos ficar em apenas duas barracas. Eu com Daniel e você com Matheus. E eu acho que Daniel irá querer dar aqueeeele passo lá. E eu estou extremamente nervosa. Acho que não estou pronta. - ela diz suspirando como alguém que está cansada.

- COMO ASSIM EU VOU DORMIR COM MATHEUS? - grito sem conseguir me conter. - CLARO QUE NÃO! AGORA SERÃO 3 BARRACAS, PORQUE EU NÃO VOU DORMIR COM MATHEUS!

- meu Deus, que nervosinha! Tá bom, a gente compra uma barraca pea você. - Bianca responde.

- mas sobre você e o Daniel, você devia conversar com ele. Ele sabe que você é virgem? - pergunto. Ela fica imediatamente vermelha.

- acho que sabe, ele é meu primeiro namorado. Dá pra deduzir né? - ela pergunta dando de ombros.

- até dá Bianca, mas ainda é válido você conversar com ele e dizer que não está pronta ainda. Do jeito que ele é apaixonado por você, ele espera até o casamento se você quiser. - digo rindo de minha própria piada.

- certo, vou falar com ele e já volto com nossas 4 barracas. - ela me avisa pegando a chave do Porsche.

- mas não eram 3? - pergunto para implicá-la.

-AGORA SÃO 4 LIA - ela grita da garagem e eu rio.

* * *

Saímos da casa de Matheus exatamente às 14:00. Seguindo os cálculos de Daniel, ao chegarmos la, dará tempo de arrumarmos as barracas e ainda vermos o lindo pôr do sol no lago/rio.

Bianca vai na frente com Daniel e Matheus vem comigo atrás. É infinitamente melhor porque posso imediatamente me encaixar no peito largo e rijo de Matheus e nós até dividimos o fone de ouvido. Por sorte, até nosso gosto musical se parece. Depois de um tempo nos reorganizamos para que ele deite no meu colo, e eu fico acariciando seus cabelos levemente castanhos, encarando aqueles olhos muito verdes que estão meio vermelhos de sono. Logo ele pega no sono e eu fico admirando ele dormindo . Como é que eu podia não estar apaixonada por alguém tão lindo?

* * *

Chegamos ao lago exatamente às 17:00, e como Daniel disse, há tempo para montarmos as barracas e vermos o pôr do sol. Os meninos a princípio ficam confusos por verem duas barracas a mais, mas logo entendem e, graças ao bom Deus não fazem muitas perguntas sobre a nova divisão. Logo que terminamos de arrumar tudo, Daniel arrasta Bianca para "buscar algo" na floresta ali próxima. Matheus me arrasta pra ver o lindo pôr do sol no lago, um uma varandinha que existe ali,e que tecnicamente é para pesca.

- ei - Matheus diz para chamar minha atenção e me olha nos olhos. - Sei que estamos adiando ao máximo esta conversa, mas eu queria falar contigo sobre algo - ele brinca com os meus dedos enquanto fala e eu sinto meu coração engasgar em minha garganta.

- então fale - me obrigo a dizer para que o silêncio não fique muito constrangedor.

- creio que já tenha percebido Lia. Mas... eu estou... irremediavelmente apaixonado por você. E eu só quero deixar isso claro simplesmente porque eu não aguento mais segurar. Quero gritar pra o mundo todo o que eu sinto - ele abre um sorriso e faz uma pausa - mas eu também imagino como você se sente.

- Matheus, você é... Uma pessoa incrível. Desde o dia em que nos conhecemos eu sabia que tínhamos uma conexão. Mas eu... eu simplesmente não sei o que sinto, estou muito confusa, e no meio dessa confusão de sentimentos tenho medo de...de partir o seu coração. - digo tudo a ele num jorro de palavras para evitar que eu perca a coragem no meio.

- Lia - ele diz com a expressão torturada - não é uma questão de se vou ter um coração partido. É inevitável. É uma questão de quem irá parti-lo. E seria uma honra que o meu fosse partido por você. - ele diz com aquele olhar que me dá vontade de beijá-lo aqui mesmo.

- essa é a questão Matheus... O meu coração também está partido. E eu não sei nem o que fazer para curá-lo, nem se um dia ele vai se curar - digo me rendendo por fim às lágrimas, cansada de segurá-las.

- pois bem - ele fala e toma uma de minhas mãos, delicadamente levando ela aos lábios e depositando o mais delicado dos beijos ali. - deixe-me ajudá-la a se curar Lia. Não se preocupe em me magoar. Iremos apenas tentar.

- tudo bem - eu digo ainda suspirando por causa das lágrimas. Ele me abraça e nos beijamos, um beijo molhado pelas minhas lágrimas salgadas e doce pelo sorriso que insistia em curvar os lábios dele. Por fim, me encaixo em seus braços e me deixo ali. Parece que eu estou me acostumando a pertencer àquele lugar.