História A Aposta - Capítulo um

Amber saltou do elevador e adentrou o saguão do oitavo andar no luxuoso Seletto Empire Building, onde funcionava a sede da marca para a qual trabalhava.

 A jovem Amber Bellini tinha apenas 25 anos, estava concluindo sua graduação no curso de Moda e era a mais nova estagiária do local, que embora fosse relativamente novo, estava em ascensão cada vez maior no mercado. Vinha de uma família classe média do interior de Nova Jersey, e mesmo que nunca tenham passado por grandes dificuldades, ela aprendeu desde muito cedo a batalhar por tudo o que desejasse ter para si e foi o que ela fez, ao se mudar sozinha, “com a cara e a coragem”, para Nova Iorque há quase cinco anos antes. Era a caçula de três irmãs da família Bellini, dentre elas sempre se destacou pela sua personalidade forte, sua determinação, sagacidade e principalmente por sua beleza – o que às vezes gerava certas situações no mínimo embaraçosas para a menina.

Sonhava em se tornar uma estilista renomada, porém por ora se contentava com o emprego de meio período, no qual já estava pelo terceiro mês, mantendo seus estudos durante a noite. Foram vários e vários meses fazendo bicos para se sustentar e enviando currículos às grifes ou lojas de departamento, em busca de aprimorar seus conhecimentos. E mesmo que ainda não fizesse exatamente aquilo que sonhava desde pequena, ela podia se dizer abençoada, feliz e orgulhosa de seu trabalho - até porquê ali era a concorrida Nova Iorque. Nem todos tinham a sorte de encontrar uma oportunidade de aprendizado e crescimento como ela teve.

Cumprimentou rapidamente suas colegas ao se sentar entre o cubículo de madeira que às separava. Largou a bolsa sob sua mesa, ligou o computador - tão moderno que ela mal sabia como utilizar - e estava prestes a entrar na conversa animada das outras meninas, que combinavam o happy hour de sexta-feira, quando a voz austera de sua chefe soou no interfone em sua mesa.

- Bellini, na minha sala. Rápido! – Thereza a intimou.

Amber engoliu em seco e as outras automaticamente cessaram a conversa, lhe fitando tensas. Todas eram boas pessoas, porém cerca de meia dúzia ali era o tipo de gente em quem não se deve confiar, pois não se importariam em derrubar alguém para subir alguns degraus na vida.

- Aconteceu alguma coisa que você não tenha comentado com a gente antes? – uma delas questionou, preocupada.

- Que eu saiba não – respondeu no mesmo tom. – Thereza dorme de calça jeans, ela sempre dá ordens nesse tom. Talvez não seja nada.

Ela tentou se acalentar com as próprias palavras. Pediu licença e foi a passos largos até a sala da diretora.

No caminho, recebia os costumeiros galanteios da ala masculina de colegas de trabalho, que pareciam lhe sorrirem mais do que o comum. Qualquer pessoa inocente pensaria estar indo receber uma promoção, mas já passara por poucas e boas graças àqueles homens, para sentir que deveria ter levado sua carteira de trabalho junto para a mulher dar baixa.

Ela parou diante da porta que levava o nome da morena “tiazona” linha-dura. Thereza, diferente da maioria das pessoas de sangue latino, quase nunca sorria ou demonstrava simpatia – ou mesmo ter sentimentos. Todavia, era indiscutivelmente justa e competente; subiu ao nível em que estava por seu próprio mérito. Por várias vezes abafou alguns problemas em que acabavam envolvendo o nome de Amber, e lhe dava conselhos valorosos para sua carreira. Por certo, era alguém a quem ela admirava.

Respirou fundo, contando mentalmente até dez e bateu na porta;

- Entre!

E assim ela o fez, tentando demonstrar por fora uma firmeza que não sentia por dentro.

- Bellini! Bom dia – ela sorriu, surpreendendo-lhe. – Sente-se. Como vão aqueles croquis que eu te pedi?

- Só falta alguns detalhes, senhora, mas está tudo dentro do prazo! – ela respondeu, sem entender. O trabalho estava bem adiantado, ainda faltavam duas semanas para a data de entrega que a mulher estipulara. – Aconteceu alguma coisa?

- Sim – ela respondeu, entrelaçando os dedos na frente do rosto enquanto assumia uma expressão séria, fazendo com que o coração de Amber acelerasse. – Me pediram pra indicar alguém para acertar o figurino da nossa próxima campanha, e eu indiquei você! Sei que você sempre dá cem por cento do seu melhor, mas agora quero que se esforce e dê cento e quinze por cento de si.

Ela piscava atônita a cada palavra de Thereza. Esperava que se tratasse de algum boato ou outra aposta ridícula dos caras sobre leva-la pra cama, e fora contemplada com uma tarefa ambicionada por todos, e que ela mesma julgava estar longe de receber.

- Você... eu... isso é sério mesmo? – gaguejou, se levantando e voltando a sentar repetidas vezes, esfregando as mãos suadas na saia escura.

- Muito sério. Estou apostando minhas fichas no seu talento e comprometimento, sabe. Você se parece muito comigo quando eu tinha mais ou menos sua idade, então vê se não me decepciona. Os ensaios fotográficos começam na semana que vem, em um estúdio há duas quadras daqui. Você vai direto pra lá até concluírem tudo, mas me mande relatórios e o que puder todos os dias sobre o andamento. Será estrelado por dois atores que eu nunca ouvi falar, um tal que fez filme de herói e uma que tem fama de mimadinha excêntrica. Dúvidas?

Amber ainda piscava sem acreditar, registrando por alto as informações da chefe. Se levantou mais uma vez, pronta para deixar a sala, lhe estendendo a mão.

- Entendi tudo, dona Thereza. Pode ficar tranquila, vou fazer de tudo pra que seja a melhor campanha do mundo. E muito obrigado por confiar em mim.

Thereza apertou firme a mão estendida da garota e miraculosamente exibiu mais uma vez aquele sorriso quase azul de tão branco. “Sério, ela gasta tanto em tratamentos odontológicos, porque não mostra o resultado mais vezes?”, era a piada que com frequência soltavam no refeitório durante o almoço, ao verem alguma foto dela em redes sociais.

- Por nada. Agora vai logo que você tem muito trabalho a fazer.