1. Spirit Fanfics >
  2. A Arte do Caos >
  3. Aquilo que não pode ver, nem tocar...

História A Arte do Caos - Aquilo que não pode ver, nem tocar...


Escrita por: ShinukyNaLu

Notas do Autor


Depois de 3 milênios eu estou de volta. Leiam la em baixo por gentileza.

Capítulo 31 - Aquilo que não pode ver, nem tocar...


-Se afaste! - O garoto gritou.  

Lucy suspirou. O menino tinha acordado e entrado em pânico, acordando também a garotinha que dormia a seu lado.  

 -Não vamos machucar vocês. Eu prometo. Fique calmo. - Falou se agachando ao lado da cama e erguendo as mãos em sinal de rendição.  

Viu que os olhos dele foram para Acnologia por um momento. Não precisava se virar para saber que ele estava escorado na parede atrás de si, de braços cruzados e, apesar da posição relaxada, estava pronto para agir. Apesar da raiva que sentia pela crueldade feita com as crianças, ele era extremamente desconfiado. Sua segurança vinha acima de tudo, até mesmo de duas crianças fragilizadas.  

Ele estava cumprindo com suas instruções então não reclamou.  

-Não acredito em você! - O garoto gritou.  

A pequena menina puxou sua blusa com cuidado, esticando a cabeça de trás do garoto.  

-Ela nos ajudou ontem. - Murmurou tímida.  

Mesmo assim ele não mudou sua posição ofensiva.  

-Meu nome é Lucy. Encontramos você ardendo em febre ontem enquanto sua amiga estava desesperada. Não quero te fazer nenhum mau. Quero que se alimentem e descansem. - E empurrou a bandeja de café da manhã roubado da cozinha na direção dos dois. -Estão seguros aqui. Não vamos permitir que machuquem vocês.  

A menina olhou para a comida e seu estômago roncou de novo. Em um súbito voto de confiança misturado com coragem ela saiu de trás do garoto e se ajoelhou do lado da badeja. 

-Eu confio nela. - Declarou ao garoto com determinação.  

Ele pareceu incrédulo por um instante e a olhou com raiva. Após vários minutos em silêncio e observando a colega comer, ele cedeu um pouco.  

-E ele? - Perguntou apontando para o dragão atrás de si.   

Seus olhos eram enraivecidos com ira. Lucy tentou passar a maior confiança possível quando falou. 

-Não fará nenhum mau. Tem minha palavra.  

O garoto virou a cara e começou a comer. Seu coração se apertou pela forma indiferente que o garoto a olhou antes de comer. Sua palavra não valia nada para crianças que não tinham ninguém para confiar, mesmo assim queria tentar conquistá-los.  

-Onde estão os seus pais? - Perguntou após alguns minutos.  

Sabia que a maior parte dos estupradores eram ninguém menos do que a própria família, mas queria pensar que não seria este o caso. O menino respondeu sem olhá-la com a boca lotada de comida.  

-Não sei e nem me importo. - Comentou com indiferença. - Eles nos venderam há muito tempo.  

O gosto amargo veio a sua boca lá do fundo do estômago. Sabia o que era ter um pai negligente, mas só podia imaginar como era ter pais que não tratavam os filhos como gente. Isso era a maior parte escrota da humanidade. 

-Pergunta logo o que quer, estranha. - O garoto ralhou ainda sem encará-la.  

Lucy vincou as sobrancelhas com o desaforo, e viu de canto a garotinha repreendê-lo com medo. O garoto parecia alternar entre medo e o total foda-se. Já a menina era sempre retraída e submissa, com medo das consequências. Talvez o garoto sofresse com os abusos a mais tempo, visto que não pareciam ter a mesma idade, e chega uma hora que não se dá mais valor a própria vida. 

Sendo assim resolveu ser direta e fria.  

-Quem fez isso com vocês?  

Sendo obrigados a amadurecer mais cedo do que deveriam, era obvio que eles sabiam que não se referia só as contusões. Eles pararam de comer por um instante e o garoto apertou os lábios, encarando o que restava na bandeja. A menina se encolheu, desviando o olhar para o garoto.  

-Não te interessa. - Ralhou.  

Só que Lucy queria muito comprar essa briga.  

-Se estou perguntando é por que me interessa.  

O garoto bufou antes de encará-la furioso.  

-Não finja que se importa! - Ele quase gritou. - E mesmo que se importasse... - Ele parou ai e se virou de volta para a bandeja.  

Os sentidos de alerta da maga se acenderam. 

-Se eu me importasse o que? - E se inclinou para frente, em desafio.  

-Não queremos que acabe como a Baah- san. - A menininha sussurrou, quase inaudível.  

Piscou e perguntou mansa outra vez. 

-Quem é Baah-san? 

Observou os olhos do garoto lacrimarem, mas nenhuma lágrima caiu.  

-Era uma assistente da cozinheira. Ela dava os restos da comida do castelo para a gente. Nós contamos para ela e ela morreu. - O garoto soltou. - Então vê se fica na sua. A gente sabe se cuidar.  

O ímpeto de ralhar com o garoto foi bem grande, queria ensiná-lo o respeito que sua mãe devia ter lhe dado, mas viu que não seria correto e nem a melhor alternativa. Tinha conseguido mais do que esperava com o garoto e eles não falariam muito mais.  

Suspirou e os deixou terminar de comer. Aproximou-se de Acnologia e falou aos sussurros, ciente de que ele ouviria perfeitamente.  

-Vou para o café da manhã para que ninguém desconfie e vou tentar descobrir mais. Fique e tome conta dos meninos até que a maga que Lahar mandou chegue para pegá-los. Não quero que eles fiquem sozinhos.  

Os olhos azuis avermelhados passaram para os pequenos e ele acenou positivo. Lucy não queria deixá-los com Acnologia por que sabiam que eles tinham mais medo de homens, mas o tempo era curto e não tinham escolha. 

Se preparou e os informou antes de sair.  

~*#*~ 

Acnologia viu o garoto congelar e encará-lo assim que a porta se fechou e Lucy saiu. Era notória a desconfiança das crianças de que pudesse fazer algo com ambos, já analisando as possíveis rotas de fuga. O cheiro de seu medo incomodava bastante. Estalou a língua e foi para outra extremidade do quarto, sentando-se no chão ao lado do armário de madeira cara. Impor distância talvez os deixassem menos incomodados.  

Bom, o incômodo era recíproco. Entendia a situação e tudo mais, mas odiava ter que deixar Lucy sozinha, ter que cuidar de crianças, deixar Lucy andar no meio de estupradores de crianças... 

Odiava deixar Lucy.  

Isso o deixava inquieto e sua outra parte já dava o ar de sua presença, pairando em sua mente, incomodado com a ausência da maga. Isso era irritante e o cheiro deles o deixava ainda mais arisco. Medo misturado com resto do sexo proveniente de um estupro. Nessas horas amaldiçoava seu faro por ser tão bom. Estava louco para mandá-los para o chuveiro, mas não queria deixá-los intimidados ou com medo de que fosse apenas uma forma de fazê-los tirar a roupa. Roupa que precisaria ser queimada, aliás.  

Coçou a cabeça tentando acalmar a si mesmo e a seus instintos selvagens. Não deitaria na cama tão cedo. O cheiro deles e dos homens estaria nela e isso o deixaria possesso e muito mais violento. 

-Você não vai mesmo nos machucar...? - A pergunta foi um sussurro que o garoto provavelmente pensou que não iria ouvir.  

Olhou para ele, sentindo ainda mais medo exalar de seu corpo quando o pequeno percebeu que tinha escutado. Ah, como isso incomodava. Será que não dava pra parar? Sua outra parte estava ficando mais chata de conter. 

Era estranho pensar como as coisas mudam dependendo do ponto de vista. Se os dois soubessem o que realmente era provavelmente temeriam outra coisa. 

-Não. -Respondeu direto.  

Sua outra parte grunhiu em sua mente. “Humanos são podres. Como pode pensar que nos interessaríamos por uma prole? Isso me dá nojo.” 

Nisso tinha que concordar, mesmo que uma parte sua fosse humana. A ideia de molestar uma criança indefesa lhe dava enjoo. Dragões não eram lá uns santos, mas isso não fazia parte do repertório.  

Ignorando-o, completou.  

-Não tenho nenhum interesse em vocês.  

E virou-se para o lado. O cheiro diminuiu, mas a desconfiança do garoto continuava. Suspirou, fechando os olhos e encostando a cabeça na parede.  

-O que você e a estranha são? 

Isso fez um calafrio atravessar a sua espinha. O interesse em Lucy chamava a atenção de sua outra parte. Não de um jeito bom. Olhou para a garotinha, tentando conter-se para que seus olhos não mudassem de cor.  

-Lucy é minha companheira. - Respondeu sem ressalvas.  

Ela abaixou o olhar e suas bochechas ficaram vermelhas. Viu que ela estava curiosa, porém acanhada.  

-Vocês... tipo... se amam? - Outra pergunta quase sussurrada. 

“Tola!” Seu lado selvagem rosnou.  

Amor era uma expressão muito vaga para definir o que sentia por ela, entretanto era a única que o vocabulário possuía de mais próximo. O que sentia era devastador demais, excitante demais, mortal demais. A presença dela o contaminava com um elixir vigoroso e potente, sua curiosidade sobre dragões, seu corpo e sua mente eram intoxicantes e o deixavam orgulhoso, sentir o que ela sentia quando estava feliz, embebida em prazer, e animada, era algo que poderia fazê-lo se curvar de joelhos. E de fato tinha se curvado. Rendia-se de corpo e alma a qualquer ordem que ela lhe desse com prazer.  

O sentimento era tão vasto e profundo que não conseguia ser descrito e a forma como percorria seu corpo com um calor elétrico de apertar a barriga deixando-o sem fôlego, era algo descomunal.  

Ignorando mais uma vez a outra parte e usando-se da única descrição que podia, respondeu. 

-Amo.  

O garoto fez uma careta quando falou.  

-Devia pedir para a estranha parar de procurar então. Todo mundo que se mete com eles morre. - A forma afrontosa no tom dele quase fez sua outra parte sair.  

Ouviu-o grunhir em sua cabeça, inconformado com a criança julgar sua companheira como fraca e por ser desrespeitoso. Mordeu a bochecha, irritado, e sentiu seus caninos mais proeminentes do que o normal. 

-Ela sabe se cuidar. - De onde tirava tanta calma não sabia.  

-Vocês não podem fazer nada. O que acha que vai acontecer quando encontrá-los? Hum? - O garoto retrucou sem medo das consequências.  

Era o tom de voz de quem não tinha nada a perder e já estava rendido ao destino que lhe foi dado. Reconhecia isso de longe, e se tinha uma coisa que odiava mais do que esse tom era a idéia de destino imutável.  

Dessa vez não foi capaz de conter a mudança em seus olhos.  

-Vou matá-los. - Respondeu simplesmente, milagrosamente conseguindo manter a voz humana.  

Sua outra parte rosnou em acordo, sempre disposta a matar alguém, principalmente os que mereciam.  

Os dois encolheram-se de medo diante dos olhos carmesins. Foi difícil voltar ao normal com o cheiro pairando no ar. Fechou os olhos, apertou a ponte do nariz e encostou a cabeça na parede. Controlou o impulso que lhe apertava o estômago e decidiu que duas crianças traumatizadas que nem sabiam como o estavam afetando não mereciam ficar ainda mais acuadas.  

-Desculpe. Estou tendo uns probleminhas com meu alter ego hoje... 

Houve um momento de silêncio antes do garoto falar outra vez.  

-Seu olhos mudam de cor. - Afirmou. - Você não parece ser um mago. - Outra afirmação. 

Apertou um pouco mais o nariz quando sua outra parte começou a querer ir atrás de Lucy. Estava um saco aturá-lo depois da presença de Levy. Mesmo não sendo uma pergunta respondeu. 

-É por que não sou um.  

O garoto o analisou com curiosidade e pode sentir perfeitamente quando este sentimento ultrapassou seu medo.  

-O que você é?  

Abriu os olhos e o encarou por um instante. Lucy ficaria muito brava se os dois ficassem com ainda mais medo e decidissem tentar fugir. Poderia encontrá-los em um instante, mas ainda assim seria problemático. Entretanto de que adiantaria omitir? Mentiras eram contadas para crianças que foram abusadas assim o tempo inteiro. Falsas promessas, falsas esperanças e uma falsa idéia de que um dia poderiam ter um futuro, onde fugir era pior do que ficar.  

Não queria ser mais um a mentir ou omitir para duas crianças, mesmo que não gostasse de crianças. Por um momento admitiu para si mesmo que gostou da coragem do garoto por tentar se fazer de forte e proteger a garotinha mais jovem. Ele sabia que não tinha a menor chance de vencer contra homens adultos, quanto mais magos, mas mesmo assim engoliu o medo e o encarou de queixo erguido, ciente de que isso poderia levar a mais punições de seus captores.  

-Dragão. - A palavra saiu de sua boca com naturalidade. - Eu sou um Dragão.  

O garoto piscou parecendo um pouco desacreditado.  

-Impossível. - Exclamou, mas a conversa estava fazendo o cheiro do medo diminuir, embora o do estupro continuasse provocando seus instintos. - Dragões são lagartos gigantes que cospem fogo. Você é humano. Pra começar um dragão nem caberia neste quarto! - Disse convencido.  

Era comum que humanos tivessem a ilusão de que dragões permaneciam apenas na forma de dragões. Não se lembravam que também possuíam magia comum de metamorfose, tal como Mirajane conseguia copiar qualquer pessoa com suas transformações, embora possuísse formas demoníacas.  

“Lagartos gigantes que cospem fogo?” - Seu álter ego rosnou furioso com a classificação. Desde que Lucy revelou seu interesse por sua forma draconiana sua parte selvagem tinha desenvolvido um certo orgulho próprio em ser o que era. Admitia que também se sentiu um pouco ofendido pela classificação simplória.  

Foi difícil conter a compulsão dessa vez, em sua determinação para mostrar ao garoto sua dominância. Se contraiu apertando os olhos e abaixando a cabeça entre os braços apoiados nas pernas dobradas. Tornou-se impossível conter as transformações menores de seus olhos e as tatuagens que ganharam um tom de azul mais vívido. Seus músculos doeram com o esforço da contração e seu faro só deixou o cheiro no quarto mais irritante. Não podia entrar uma brisa pela janela? 

-Você parece com dor, tio. Está tudo bem? - A menininha perguntou preocupada com uma das únicas pessoas que os tinham ajudado. 

Tio? Precisava se apresentar. Aliás só agora lembrou-se de que não sabia o nome do garoto. Suspirou e levantou a cabeça para olhá-la.  

-Como eu disse, tenho problemas com meu alter ego.  

Os dois recuaram um pouco e o garoto enrijeceu. Sabia que o motivo eram seus olhos escarlates contrastando com as tatuagens. Não ligou, nem tentou reprimir outra vez.  

-Pense o que quiser. - E encostou a cabaça na parede, encarando o teto.  

Passaram-se mais alguns minutos de silêncio.  

-Por que está tendo problemas? - A menina era engraçada. Perguntava, mas continuava se escondendo atrás do corpo do garoto. 

Fechou os olhos.  

-Por que vocês dois estão fedendo. 

Nem precisou olhar para saber que os dois estavam vermelhos de vergonha. O cheiro os denunciava muito facilmente.  

-O que podemos fazer? Estamos nos escondendo e tentando fugir a dias! - Ralhou o garoto petulante. 

Ele pensava que a imundice dos dias de fuga era a razão. Quem dera fosse apenas isso.  

-Tem um banheiro ali. - Apontou para a suíte. Levantou-se e abriu uma das gavetas da cômoda do pequeno armário, pegando algumas roupas suas e de Lucy. Ficariam largas, mas serviriam por enquanto até que Virgo trouxesse novas. Jogou-as encima dos garotos. - Isso deve servir.  

E foi em direção ao sofá, onde se jogou e abraçou o travesseiro que usaram para dormir. O cheiro da maga ainda estava lá. Conteve o ronronar.     

Demorou alguns minutos, mas ouviu os dois indo ao banheiro e ligando o chuveiro. Os dois entraram sozinhos, com medo de se separarem, provavelmente. Bom, eram crianças e não era da sua conta, moralmente falando. Seu trabalho era deixá-las seguras. 

~*#*~ 

Lucy andou pelo castelo após o enfadonho café da manhã. Sabia onde deveria ir. Em um lugar como aquele as únicas pessoas que sabiam de tudo o que acontecia, era a criadagem. E a única pessoa que sabia tudo de todos os âmbitos da casa e que se tornava o cerne central de toda a informação trazida pelos criados era a cozinheira.  Todos os criados iam para a cozinha.  

Essa área era o lugar mais seguro para os funcionários, onde nenhum nobre iria nunca. O lugar acabou se tornando o local de despejo de todas as frustrações e fofocas da casa, e, naturalmente a cozinheira de confiança, que manda na cozinha, sabe de tudo.  

Era assustador como a nobreza se esquecia fácil desse detalhe. A mão que o alimenta é a mão que pode destruí-lo.  

E não era um blefe. A cozinheira é sempre a última a ser demitida.  

Entrou pelas portas simples de madeira chegando a cozinha enorme, feita para produzir comida diariamente a mais de cento e cinquenta pessoas. Em épocas de eventos este número poderia subir para mais de três mil, levando em conta os convidados, os seguranças e servos dos convidados e um monte de outros detalhes técnicos. Este ensinamento de servir com hospitalidade foi lhe dado desde criança.  

Os funcionários a olharam de uma forma surpresa e esquisita, provavelmente se perguntando o que uma convidada supostamente nobre estava fazendo na cozinha no meio dos preparativos para o almoço. Ignorou todos eles e passou os olhos pelo local encontrando a chef. Uma mulher branca e um pouco rechonchuda, com os cabelos castanhos presos em um toque firme. Um tapa-olho firme e negro no olho direito lhe indicava que já havia passado por maus bocados e a sobrancelha arqueada lhe indicava o quanto estava descontente em ver alguém invadindo seu território. Era fácil identificar que ela mandava ali. 

Cozinheiras, principalmente chefs mulheres chegavam onde chegavam aprendendo a ser duras e firmes em um mundo prioritariamente machista. Entendia bem isso, visto que o mundo dos negócios raramente pertencia as mulheres também. Seu pai só queria que se casasse com quem ordenasse. Até parece.    

-Gostaria de falar com você, por favor. - Foi direta e firme, indicando que mesmo que ela fosse a alfa dali, não sairia sem respostas.  

Óbvio que ela enxergaria como uma afronta de uma dama mimada, só que não tinha tempo para provar que não era, muito menos paciência. Sua fúria contra os molestadores ardia quente em suas veias.  

-Se tem alguma reclamação sobre a comida, fale com o Meitress. - Respondeu, Ignorando-a e voltando a pegar a faca afiada que usava para cortar meticulosamente a carne vermelha preparada  para o almoço.  

Só que Lucy tinha experiência e tato.  

-Longe de mim reclamar de uma comida tão boa. - Isso a fez ficar surpresa como sabia que faria. Apesar dos chefs fazerem as melhores combinações, quem recebia os elogios era o senhor da casa, não aquele que era invisível na cozinha. Outro erro muito comum. Se quer ser bem servido elogie a cozinha, não o restaurante. - Vim aqui por que preciso da sua ajuda. Então poderia falar comigo, por favor?  

A chef a encarou por um momento, indecisa, mas por fim limpou a faca no avental e a depositou sobre a mesa, pegando um pano para limpar as mãos.  

-Pelos fundos. - Ela disse, e mandou um olhar que dizia que não queria ouvidos extras e nem que a fofoca espalhasse. 

Os criados sempre obedecem a cozinheira.  

Atravessou para o quintal onde a horta bem cuidada se destoava com o Sol brando da manhã. Ela parou, varando-se de frente e limpando as mãos no pano úmido. 

-E então? A que devo a honra? - Falou sarcástica com a certeza de que não seria castigada por isso. 

Ignorou.  

-Duas crianças apareceram molestadas, espancadas e doentes para mim ontem. - A pose forte se perdeu com sua forma seca e direta. Manteve o olhar firme sob a fraqueza da outra. -  Duvido muito que tenha algo a ver com isso, mas tenho plena certeza de que sabe a respeito. Quero nomes, o silêncio dos criados e um prato farto para os dois.  

Não era do seu feitio ameaçar, mas não tinha como saber quem estava envolvido nisso. Expor os fatos com frieza cirúrgica lhe daria o poder necessário para isso.   

Só que não saiu como pensou que seria.  

-Você os encontrou? Achou Amy e Haru? Eles estão bem? - E agarrou suas mãos em uma súplica de apoio, a deixando surpresa. - Pelos Deuses! Eu estava tão preocupada. Eles sumiram. Pensei que tinham matado eles ou pior.... 

Ela percebeu que agarrou suas mãos e as soltou bruscamente da mesma forma que tinha agarrado antes.  

-Desculpe. - Ela pediu abaixando a cabeça.  

Piscou se recuperando do choque.  

-Não se preocupe. - Respondeu. - Eles estão bem, na medida do possível. Os escondi e tratei seus ferimentos.  

O pânico atravessou os olhos da mulher.  

-Você tem que tirá-los deste castelo o mais rápido possível. Devem estar procurando por eles e se os encontrarem vão punir você e os dois. Suma daqui. Acho que consigo uma brecha no... 

Agarrou seus ombros para acalmá-la.  

-Não se preocupe. Eles estão seguros. Mesmo se forem encontrados não será eles a se darem mau.  

-Você não sabe do poder que essa gente tem.... 

Sorriu.  

-E você não sabe do meu. - Disse firme.  

A mulher de meia idade piscou atordoada.  

-Nomes e comida. - Lucy repetiu. Viu a mulher apertar os lábios indecisa. Sabia que sua hesitação vinha da preocupação com os garotos. - Se não me der eles serão perseguidos o resto da vida e outras crianças virão.  

Ela murchou, cedendo.  

-Vou mandar os pratos com a desculpa que você está indisposta. – Ela respondeu. 

Suspirou, passou ambas as mãos pelo rosto de repente cansado.  

-É o bispo. Tem uma igreja dentro dos muros do castelo. O bispo se usa da confiança do rei para realizar comércio humano. – A repulsa pelo homem estava presente em cada palavra. – Não acreditariam em nós, então apenas tentamos proteger e alimentar as crianças da forma que pudermos.    

Lucy travou a mandíbula em dizer que aquilo não era o bastante. O correto era o correto, independente do quanto doesse ou das consequências que viriam. Fazer a coisa certa dói e é absolutamente desconfortável, mas é o que deve ser feito. O preço de ir para o que é cômodo vem a longo prazo, e costuma cobrar bem caro.  

Entretanto reconhecia o medo nos olhos de alguém que já passou por maus bocados, então se deteve.  

-Obrigada. Mantenha isso em segredo. As crianças ficaram bem.  

E foi embora. Não tinha a intenção de fazer amigos ali e estava furiosa demais para ser empática. As crianças iriam para a proteção dos magos de Lahar e depois o Bispo bateria um papinho consigo.  

~*#*~ 

-Cuidarei deles muito bem. - Respondeu Lala. 

Ela era a maga enviada por Lahar para tomar conta das crianças e levá-la para um lugar que fosse mais seguro do que aquele castelo. Não sabiam a extensão de quem estava envolvido no esquema de exploração e tráfico humano, então era melhor que eles fossem para um lugar melhor que pudesse mantê-los bem e fornecer tudo o que precisariam para superar seus traumas e tratar suas feridas.  

Lucy suspirou enquanto a pequena baixinha fazia força para não chorar. O pequeno Haru também estava emburrado em um canto, olhando para baixo, tentando parecer forte. Infelizmente para a maga, não tinha estrutura nem sabedoria para lidar com essas crianças, sem falar que já possuía alguém mentalmente instável para cuidar.  

Mas ao que parece os pequenos se apegaram bem mais rápido do que pensou a sua proteção.  

-Não chore, pequena. Essa é minha amiga. Ela vai tirá-los deste castelo infernal onde ninguém vai machucá-los. - E sorriu. - Pode ter certeza que irei visitá-los em breve.  

-É mentira! - Falou o menino petulante novamente. - Você iria com a gente se fosse assim. Você só quer se livrar da gente! 

Sorriu se aproximando do garoto e acariciando seus cabelos. Ele relutou no inicio, mas parou, permanecendo apenas emburrado.  

-Isso não é verdade. Tenho que ficar aqui para punir as pessoas que os machucaram. Isso não vai demorar, eu prometo. Vou visitá-los sempre que puder. É uma promessa, e magos celestiais não quebram promessas.   

As lagrimas do menino desceram finalmente e, impulsivo, ele a agarrou em um abraço.  

-Por favor não vai! Eles matam todo mundo. Vamos embora! 

Acariciou sua cabeça procurando as palavras certas, porém surpreendentemente Koji, o outro mago enviado, foi quem falou em seu lugar.  

-É impossível que uma maga da Fairy Tail seja derrotada. - O menino tirou os olhos de seu peito e o encarou, as lágrimas parando por alguns instantes. O mago sorriu. - Os magos da guilda mais forte de Fiori são monstros. - Ele se inclinou para frente com um sorriso vingativo nos lábios. - E sabe o que acontece com quem desafia monstros? - Perguntou deixando o suspense no ar. 

O garoto chacoalhou a cabeça em negativa, esperando a resposta.  

-Eles são devorados. - O sorriso macabro fez um pouco de medo nos dois, mas logo o mago mudou o rosto para uma feição pacifica. - Então não se preocupe com ela. Vai ficar tudo bem.  

O menino abaixou a cabeça e seus ombros caíram, deixando a tenção. Ele não parecia ter certeza, mas aparentava tentar acreditar.  

-Tá... - murmurou baixinho.  

E assim os dois foram levados por um portal juntamente com Lala. Kouji ficou por um instante, fazendo uma feição séria.  

-Arranque tudo do bispo. Nós lhe daremos o que precisar. - E se foi.  

Lucy se levantou, ajeitando a blusa.  

Não precisava nem pedir.  

~*#*~ 

 Os gritos de pavor ecoaram por toda a catedral. Ela era bonita, espaçosa, cheia da beleza arquitetônica de toda igreja construída em solo real. Ficava ao fundo do castelo, em meio ao jardim pomposo e privado do rei, um lugar onde apenas os nobres e – ocasionalmente – os plebeus eram autorizados a ir em determinadas horas do dia.  

Algumas pinturas eram até mesmo foleadas a ouro, assim como as estatuas. Uma pena que parte daquilo tivesse sido destruído com a força e as chamas de Acnologia. Não poderia ter se importado menos, sabendo de onde vinham os fundos daquele lugar.  

Parou em frente ao bispo que, segundos antes, pensava que Deus o protegeria. Como se Deus estivesse ligando para o que acontecia naquele mundo.  

Não... ele já tinha abandonado a muito tempo este mundo.  

O traje branco de túnica, marcado com uma espécie de echarpe vermelho e dourado pendurado sob os ombros só lhe fazia ter mais raiva. Um falso profeta. Havia tantos deles por ai, que nem se quer conseguia contar.  

-Vou perguntar apenas mais uma vez: De onde vieram as crianças e quem mais está envolvido nisso? Pense bem no que vai responder por que se eu não gostar da resposta... 

O rosnado de Acnologia ecoou pela capela com uma sinfonia sinistra. Sua forma negra formava um semblante as suas costas como um animal sombrio só esperando o comando para sair das trevas e atacar. O idiota estremeceu, parecendo finalmente perceber que contaria de uma forma ou de outra, com dor ou não.  

-A casa da família Alvarenga. Eles são os únicos no castelo a fazer parte do esquema. As crianças vem do Reino de Jefir, a ilha. Eles comercializam as crianças no mundo todo.  

Lucy apertou os olhos. Conhecia Jefir por auto. Um reino inteiro em um pequeno arquipélago de ilhas. Era conhecido e famoso por suas minas de pedras preciosas, vendidas no mundo inteiro. Um reino rico e próspero que era cotado como um paraíso pacífico por sua população diminuta, agraciada com recursos e, principalmente, pela ausência de criminalidade.  O lugar era almejado, muitas pessoas queriam se mudar para lá, tanto pela renda quanto pelo estilo de vida comunitário, mas o rei tinha uma forte política anti- estrangeiros.  

Turistas tudo bem, mas ninguém conseguia um visto permanente, e, como o reino era pequeno, era fácil controlar as fronteiras e impedir irregulares. Ninguém entendia isso muito bem e o rei não falava muito a respeito. Tudo o que sabia e que essa política foi implementada após a crise de recursos minerais vivida no país anos atrás. 

-Quem do reino está envolvido? 

O padre comprimiu os lábios e desviou o olhar. O rosnado de Acnologia, vindo das sombras atrás dele o fez pular com um grito esganiçado, relembrando o medo e o pavor. 

-O reino inteiro! - Ele gritou desesperado e amuado.  

Lucy quase engasgou.  

-Como assim o reino inteiro? 

Ele não tirou os olhos da sombra de Acnologia se movendo pelas sombras e chamas enquanto falava. 

-O reino todo! - Ele engoliu o seco e finalmente a olhou. - Olha, Jefir não encontrou nenhum novo veio de mina de pedras preciosas ta legal? Depois que o país entrou em crise quando as minas se esgotaram o rei começou a vender coisas no mercado negro. As crianças foram o melhor achado. Ele as leiloa sobre o pretexto de leiloar joias raras assim ninguém desconfia.  

-Que? - Lucy apenas deixou sair, em choque.  

-O povo tem filhos selecionados por genes. - Falou o padre. - Você pode até encomendar. Eles doam seus filhos para o rei para serem vendidos. É só isso que eu sei. Por favor, não tenho mais nada a dizer! 

A maga permaneceu olhando para o nada por alguns instantes. Seu rosto tomou uma expressão cruel. Se virou e saiu andando pela igreja.  

-Queime tudo. - Murmurou 

Ouviu o ronronar cruel em concordância.  

-MAS EU LHE DISSE TUDO! - O padre gritou as suas costas, exasperado e suando.  

-Eu não gostei da resposta. - Lucy respondeu, ouvindo tudo ser queimado as suas costas.  

Os gritos do falso profeta foram silenciados rapidamente. Deveria estar sentindo algum pesar ou alguma culpa, sempre foi a favor da vida... 

Só que não sentiu. Absolutamente nada. Era como se aquele homem não fizesse a menor falta no mundo.  

~*#*~ 

Nunca viu Lahar tão puto antes. Eles não tinham jurisdição para interferir em outro país tão bruscamente, mesmo sendo membros do conselho, então uma ordem foi dada, uma por baixo dos panos a qual o soldado não hesitou em lhe passar e que não hesitaria em cumprir, mesmo vindo dos velhos conselheiros decrépitos.  

Elimine o reino.  

Olhou para baixo por cima das nuvens o conjunto pequeno de ilhas cheio de pessoas nojentas e corruptas. Os espiões tinham confirmado a versão do padre, o conselheiro conseguiu uma restrição para impedir os navios de levarem os turistas no arquipélago por um dia, tirando os inocentes da linha de fogo. Tudo já estava perfeitamente arquitetado e pronto para a execução.  

No dia seguinte os jornais apenas diriam sobre a explosão misteriosa das ilhas que foram dizimadas por completo.  

Não que se importasse com isso.  

Acnologia rugiu, dando um rasante no reino, deixando todos apavorados e em pânico com a visão do enorme dragão negro pairando pelo céu. Tinha deixado a critério dele, dar a esse povo um pouco do desespero que causaram. Eles gritaram, os guardas não sabiam o que fazer, e não conseguiam parar de olhar para o Rei.  

Em sua mente, Lucy pensava que deveria estar sentindo repulsa, algo que lhe impedisse de cometer o que iria fazer agora, mas não encontrou nada. Era pró vida e nunca tinha concordado com a violência, sempre pensando que as pessoas deveriam pagar por seus pecados de uma outra forma, mas aquelas pessoas pareciam ser capazes de anular isso. Um ponto fora da curva. Algo tão escroto e imperdoável que a existência delas se tornou um pecado.  

Uma vez Shinuky tinha lhe dito que a vida era um dom, mas que nem todo mundo merece. Não tinha entendido direito na época mais agora fez sentido. Algumas coisas eram tão podres que não precisariam continuar existindo.  

As palavras saíram de sua boca com uma facilidade medonha, que a assustou.  

-Acnologia, destrua o reino inteiro e não deixe ninguém vivo.  

A marca pulsou quente por toda sua extensão. As escamas de Acnologia se tornaram completamente negras e ele se transformou no mesmo dragão daquela noite, com a energia pulsando e correndo por suas veias de uma forma brutal.  

Ele rugiu outra vez, o som estrondoso declarando seu Apocalipse, enviando a Jefir seu atestado de óbito.  

E então as chamas negras saíram, levando tudo em um clarão.  

~*#*~ 

Admitiu que foi bem engraçado ver a cara das crianças quando um dragão enorme pousou pleno no quintal do orfanato escoteiro nas montanhas, conhecido como “Orfanato da Vovó Dulce”.  

-Impossível! - O menino gritou ao lado dos companheiros enviados por Lahar e de uma senhora que obviamente cuidava do lugar, assim que Acnologia se tornou humano. 

Aparentemente a velinha ou era muito cega ou já tinha visto muitas outras bizarrices vindas do concelho mágico, por que ela não ficou nenhum pouco surpresa.  

O dragão, já na forma humana, baixou os olhos encarando-o com desdém.  

-Eu disse que era um dragão, idiota. Foi você que não quis acreditar.  

Normalmente reprenderia ele por chamar o garoto de idiota, mas só de pensar no desgaste soltou um suspiro. Abaixou-se em frente a garotinha e passou a mão em meio a seus cabelos marrons lisos. 

-Vocês estão bem? Gostaram daqui? - Disse com um sorriso.  

-Sim! Fizemos muitos amigos. Obrigada por salvar a gente irmãzona! - Ela disse mais alegre que tudo na vida.  

Ficou tocada com sua consideração. Durante a conversa por lacrima na volta com Lahar, soube que estavam providenciando uma boa adoção para as crianças, e rastreando as outras que foram comercializadas. Sendo sugestiva, a soldado que trabalhava com ele perguntou se conhecia alguém que as adotasse. Negou sem hesitar.  

Não é que não queria adotá-las ou algo assim, mas simplesmente não podia. Primeiro, ainda não tinha pensado muito na ideia de ser mãe e de ter a responsabilidade para com outro ser vido. O segundo era mais egoísta; queria curtir mais Acnologia, suas viagens loucas e a idéia de companheira antes de se comprometer com qualquer outra coisa. E terceiro, ao contrário do segundo motivo era bem altruísta, que tipo de vida poderia oferecer a elas? O dragão era procurado, e só não eram presos em Magnólia por um contrato meia boca que fizeram com Lahar, que sabe-se lá até quando ia durar. O estilo de vida arriscado da guilda também não corroborava com crianças, sem falar nos problemas que já estava tendo com o territorialíssimo de Gajeel e Acnologia, mesmo sabendo que precisava ajudar Levy.  

Não, não queria ser mãe, principalmente neste momento. Adorava crianças, mas existia uma diferença bem grande entre apreciá-las e tê-las como sua responsabilidade.  

Ah, e olha que nem tinha falado dos problemas bipolares de seu companheiro.  

-Eh... - O menino acanhou-se, olhando para o chão e retorcendo os dedos com um bico nos lábios. - Voar é legal? - Perguntou baixinho.  

Sorriu, entendendo suas intenções. Podia não ficar com eles, mas isso não significava que não pudesse visitá-los e ajudá-los sempre que necessário.  

-Por que você mesmo não descobre? Vamos voar! - Exclamou.  

Após um segundo de delay mental Acnologia exclamou. 

-QUE?! 

  ~*#*~ 

-É ele sabe. - E foi só isso que a baixinha disse.  

Mais nada. Nenhuma explicação maior. A única coisa que podia constatar e que era verdade e que os dois ainda estavam brigados e não se falando. Isso era preocupante. Segundo ela os dois concordaram em dar uma trégua para que ele partilhasse sua magia com ela, evitando complicações momentâneas, mas só isso.  

-Não será o bastante. - Disse Acnologia quando deu a notícia.  

As vezes queria matar seus amigos. De verdade.  

Agora cá estava, ajudando Levy a cumprir uma missão de elaborar poções dentro de uma das alas da biblioteca da guilda. O assunto Gajeel e filhos estava proibido no momento. Bom, isso era o que ela pensava. Ficaria la, sondando, até que ela deixasse escapar uma brecha. Seus olhos e ouvidos estavam afiados para captar este deslize.  

-Poção de que? - Perguntou, ainda um pouco confusa com o folheto da missão.  

-Poção da beleza eterna. - A baixinha explicou, levemente impaciente pela ansiedade enquanto organizava os frascos e decantadores na mesa. - Um velho dono de uma fábrica de cosméticos mágicos encontrou uma receita antiga e perdida de uma suposta poção que ajuda a rejuvenescer a pele por um longo prazo. Ele vai pagar uma grana alta para quem conseguir reproduzir, já que o papel e velho e alguns procedimentos sumiram. E também tem o fato dela ser escrita em Ziguano. Uma língua bem difícil e pouco falada do norte. Quase extinta.  

Outra coisa que tinha forçado Levy a concordar: Nada de missões de risco. O mestre também a apoiou nisso.  

Vincou as sobrancelhas.  

-Por onde vamos começar? Não tem quase nada aqui.  

Foi nesse momento que a baixinha sorriu entusiasmada e com os olhos brilhando.  

-Vamos aos experimentos! 

Piscou. A pequena sempre tinha prazer em descobrir coisas. Olhou para a mesa cheia de aparatos científicos e ingredientes mágicos, não podendo deixar de sentir um frio animado na barriga. Bom, também era bem faminta por descobertas.  

~*#*~ 

Deu mais um gole de cerveja. Não sabia bem o por que estava bebendo cerveja. Não gostava de cerveja. Mas cá estava, no bar da guilda, bebendo, entediado e tentando ignorar sua outra parte que pelo visto não iria sumir nunca mais. Não que isso fosse um problema, mas no seu atual humor tudo irritava. Muito.  

Não era um mau humor específico, simplesmente tinha acordado assim. A missão tinha ocorrido bem – se é que podia chamar aquilo de bem- e agora Lucy ia ajudar a maluca de sua amiga a fazer um trabalho. Seu alter ego rosnou impaciente com a lembrança, piorando seu humor. Lucy tinha conseguido dobra-lo o bastante para não fazer nada com a tampinha, embora também não fossem ajudar.  

Situação irritante. 

-Seu humor está péssimo. - Cana comentou entre uma rodada alcoólica com o mestre. 

Apertou os olhos em sua direção.  

-Deve ser falta de sexo. - Comentou risonha já claramente bêbada para falar isso em auto e bom som consigo.  

Nem se deu ao trabalho de responder. Mas sim, queria estar transando agora. Melhorava seu humor, matava seu tempo, era ótimo lamber Lucy todinha e, principalmente, não estaria ficando cada vez mais irritado com o bunda mole de ferro o encarando das sombras do segundo andar.  

Arg!  

Se ele continuasse assim pelos próximos 5 minutos infelizmente teria que dizer a Levy que seu filho não conheceria o pai.  

-Explodiu um reino?- Comentou Laxus a uma cadeira de distância, também escorado no bar e mandando alguns copos para dentro.  

Embora no caso dele não era por tédio e sim pela pessoa que servia. Eles estavam juntos – finalmente – embora não tivessem dito a ninguém. Entretanto a inquietação do mago do trovão revelava aquilo que já tinha passado a algum tempo: a necessidade. O pobre coitado não fazia ideia de como a marca o afetaria, ou de como sua companheira o influenciaria. Não conseguiriam esconder ou se evitar por muito tempo.  

Já podia sentir o cheiro, o que o deixava ainda mais arisco. Obviamente Laxus só sentia uma parte da realidade, visto que comeu uma lacrima e não possui o sangue de um Dragão.    

-Pois é. - Respondeu olhando para dentro do copão de madeira.  

A ordem e o desejo de Lucy foram claros. Quase podia senti-los ainda fluindo sob sua pele. Foi prazeroso fazer aquilo, tanto por questões pessoais quanto pela simples satisfação em realizar o que sua companheira queria. Comércio de crianças. Isso era uma aberração.  

Laxus riu.  

-Eu teria feito a mesma coisa. - Murmurou.  

Todos na Fairy Tail teriam feito. Existia um limite para o perdão.  

-Acnologia, você e Lucy vão ficar por aqui? - O mestre, e único a sentar no balcão, perguntou.  

Gajeel ainda o encarava. Podia sentir em sua nuca. Ele não cuida da garota e agora queria caçar uma briga por acaso? Se não fosse Lucy por muito menos já teria arrancado a cabeça dele.  

-Ela disse que... 

O instinto de proteção lhe subiu a espinha como um raio quente, embrulhando seu estômago com uma sensação de emergência. Em um segundo já tinha se levantado da cadeira e entrado na biblioteca. Viu tudo em câmera lenta, com os sentidos amplificados ao extremo. Seus olhos potentes conseguiram ver o liquido dentro do funil químico começando a mudar. Seu nariz captou o cheiro inflamável lhe dizendo que aquilo iria explodir.  

Suas asas rasgaram sua pele e sua camisa, ao mesmo tempo em que seu corpo se movia, lançando-se na direção das duas magas e as embrulhando com elas. A explosão foi pequena, deixando uma mesa chamuscada e atirando alguns estilhaços de vidro pelo chão. A fumaça era fedorenta e o vidro foi parado por suas asas, deixando as duas intactas no chão embaixo dele.  

Suspirou ao ver que tudo estava bem e se levantou, ajudando as duas a se levantar também.  

-Ai. - Resmungou Levy. - Deixei cair muita erva. 

Apertou os olhos para ela antes de olhar para Lucy, conferindo milimétricamente seu corpo.  

-Vocês estão bem? - O barulho e sua saída repentina tinham atraído atenção.  

Tinha um monte de cabeças aglomeradas na porta.  

-Sim. Erramos na dosagem. - Respondeu a maga celeste arrumando os cabelos e a roupa.  

Explosões no laboratório não eram assim tão incomuns na Fairy Tail, então todos acenaram e voltaram ao restaurante. Suspirou, voltando a guardar as asas embaixo da pele e fez o mesmo. No caminho arrancou o resto dos farrapos de sua blusa e a jogou no lixo mais próximo, antes de se sentar no tamborete do bar.    

Suas marcas agora abrangiam um pouco mais o abdômen e os braços musculosos, parecendo marcas de garras de tigre azuis em sua pele. Culpa do uso de sua forma recém adquirida de dragão negro. Lucy achava sexy então não ligava. Era prazeroso quando ela delineava os padrões ou o lambia seguindo as linhas.  

Deu mais um gole.  

-Essa foi rápida. - Comentou Mirajane com um sorriso, antes de deixar uma porção de petiscos na bancada e sair.  

Tinha que ser. Já tinha visto Lucy morrer na sua frente sem poder fazer nada. Desde então seu instinto de proteção se tornou insanamente alto e, combinado com seus treinamentos, o deixava afiado.  

-Você dizia... - murmurou o mestre  

Suspirou outra vez resolveu continuar.  

-Nós vamos voltar para as montanhas. - Murmurou, voltando a encarar a caneca. - O inverno chega lá primeiro. Temos que ajeitar algumas coisas para voltarmos pra Magnólia.  

O velho manejou a cabeça em concordância. Suas bochechas estavam vermelhas como maçãs por causa da bebida. Era impressionante ele manter saúde com a quantidade de álcool que ingeria. 

-Vocês passam bastante tempo sozinhos lá né. - Cana falou arrastada, já debruçando no balcão agarrada em um copo. Uma risada meio fanha foi acompanhada de mais uma de suas falas bêbadas quando estava sem ninguém pra pegar.  - Que tipo de joguinhos sujos vocês dois fazem lá?   

Como todos da guilda sabiamente aprendiam com o tempo, a ignorou novamente, dando apenas um olhar ríspido de canto antes de beber mais um gole. Mirajane prontamente encheu seu copo outra vez, mesmo que não estivesse muito afim. O problema da cerveja junto com o tédio e que você começa a beber sem notar, só pra passar o tempo. Então não reclamou.   

-Aposto que ela se diverte com seu corpo saradão. - Ronronou grogue. - O que será que a marca de vocês faz? -Ela se perguntou em voz alta.  

Acnologia revirou os olhos com impaciência. Nenhum dragão em sã consciência revelava os detalhes de sua ligação. Principalmente para uma louca tarada e bêbada. 

Sua nuca queimou sentindo os olhos de Gajeel em suas costas outra vez. Bufou enfiando a cara na cerveja e pegando a comida que estivesse ao alcance. Nem se deu ao trabalho de encará-lo.  

Um barulho chamou sua atenção para o centro do salão. Natsu mandou Gray em direção a uma das mesas. O mago do gelo prontamente se levantou e avançou para revidar. A briga dos dois não era nenhuma novidade para ninguém, então as coisas continuaram com a normalidade costumeira. A medida em que outros magos eram atingidos iam aumentando o bolo da pancada. 

Em breve algum trouxa ia acertar Erza e a briga acabaria.    

Comeu alguns bolinhos de arroz recheados por reflexo. Viu com o canto do olho Gray arremessar uma magia na direção de Natsu, mas ele errou a mira e parou em Erza. Esse era o trouxa. 

-Estamos querendo reunir uma galera par caçar um javali da montanha pra festa de inverno. - Laxus comentou outra vez, puxando papo, provavelmente por que Mira tinha ido para a cozinha e por que não queria ouvir seu avô semi-bebado. - Quer nos ajudar? 

A festa não era uma novidade. A Fairy Tail fazia isso todos os anos no início do inverno, quando a neve caia. A enorme fogueira também chamava bastante atenção, fora a enorme quantidade de bebida envolvida.   

Por outro lado o javali da montanha era uma meta bem ambiciosa para este ano. Era uma criatura sorrateira e enorme, indescritivelmente forte e perigosa. Difícil de se achar, difícil de se matar. Sua pele e pelos neutralizavam grande parte das magias e armas comuns eram inúteis. Por isso magos interessados em ganhar dinheiro juntavam-se em grupos para caçá-lo. Cada quilo saia por milhares de Joell, e a carne era divina. A Fairy recebia muitos pedidos de missão para caçá-lo, mas não era muito do estilo da guilda aventureira. Caçar um para uma comemoração própria era outra história.   

Franziu o cenho. Lucy nunca tinha comido um javali da montanha. Caçar um seria algo interessante, ainda mais para vê-la com os olhos brilhando na hora que experimentasse. É, talvez entrasse na empreitada... 

Bateu a caneca na mesa com força e se empurrou do balcão quando sentiu o arrepio. Suas asas embrulharam as duas outra vez antes da explosão. Essa tinha sido um pouco mais forte que as outras, rachando parte da mesa da biblioteca. Ainda no chão, após checar o bem estar da loura, mandou um olhar repreendedor.  

A maga sorriu amarelo.  

-Desculpe... 

~*#*~ 

Sentou-se brusco no tamborete. Já era a sexta explosão e as duas não desistiam, pelo contrário, pareciam mais animadas pela descoberta de resultados. Grunhiu mexendo o ombro dolorido antes de atacar a porção de batatinhas mais por raiva do que por fome.  

As explosões estavam ficando mais fortes. Daqui a pouco as duas malucas explodiriam a guilda inteira! 

Mas, não seria a primeira vez, então ninguém estava nem ai e o mestre estava bêbado demais para notar o prejuízo a caminho. Na última vez mal teve tempo de se sentar antes de correr para o laboratório outra vez. Isso já estava dando nos nervos! 

-Eu devia ter apostado mais alto. – Murmurou Cana, limpando os bolsos de Freed. 

Os dois estavam fazendo isso a um tempo, apostando em quem iria iniciar a nova briga no saguão ou, como agora, quanto tempo demoraria para que saísse ao resgate das duas malucas.  

Deixou o rosnado grave sair, estremecendo seu peito com a vibração forte. Alguns próximos pularam do banco e se afastaram um pouco, mas Cana era louca e bêbada demais para ligar pro seu blefe.  

-Neee Acnologia...! 

Bufou. Era só o que faltava: um Natsu bêbado se pendurando em seu ombro como se fossem melhores amigos desde sempre. Sem um pingo de paciência deixou suas chamas brotarem em seus ombros, afastando o caçador. Ele abanou o braço se livrando delas como se fossem nada. Obviamente como filho de Igneel sua resistência a magia era louvável e podia até mesmo superar a do pai um dia. Não era nenhuma surpresa para si que ele pudesse conter um pouco da sua magia em comparação aos outros.  

-Me ensina a virar um dragão! Sting e Rogue conseguem usar a Dragon Force.... – Resmungou continuando como se nada tivesse acontecido.  

Revirou os olhos. Natsu, mesmo sem acesso consciente de seu poder interno, conseguia dar um pau nos dragões gêmeos. Mesmo os dois conseguindo por causa das lacrimas... bom, Natsu tinha uma natureza adaptativa formidável então não é nenhuma surpresa.  

-Não. – Respondeu seco para que ele fosse embora.  

Esqueceu que ele era O Natsu.  

O caçador arrancou Worren do banco ao seu lado e se sentou nele, debruçando-se no balcão.  

-Mas eu quero aprender a virar um dragão! – Reclamou birrento, ainda com o copo na mão. – Eu podia ir com vocês pras montanhas. Vaaaiiii! 

Trincou os dentes.  

“Mate-o” 

Estava muito tentado a dar ouvidos a sua outra parte.  

-Natsu está mesmo precisando de um treinamento. – Murmurou o mestre pondo lenha na fogueira. 

Apertou os olhos para ele, a raiva aumentando mais alguns níveis. Capaz que ia deixar Natsu invadir seu refúgio sagrado tal como fazia com o apartamento em Magnólia. Ou melhor, tal como a guilda INTEIRA fazia com o apartamento em Magnólia. Rosnou outra vez antes de beber mais um gole da cerveja.  

A presença de Mirajane só foi relembrada quando ela deixou gloriosos espetinhos de carne deliciosa e muito bem temperada a sua frente. Ela lhe deu um sorriso apaziguador antes de dizer: 

-Por conta da casa.  

Suspirou agradecido e entendendo a mensagem. “Não exploda a guilda por favor e obrigado por cuidar das malucas de pedra”.  

Aceitando a oferta saboreou os cubos bem temperados e macios. Murchou os ombros quando sentiu o olhar de Gajeel na sua nuca pela bilionésima vez. É claro que ele estava puto por ter ajudado Lucy e, consequentemente, Levy. O cansaço lhe pesou, não por estar cansado, mas por estar mentalmente esgotado para lidar com essas picuinhas.  

Não gostava de se envolver com problemas dos outros até por que ninguém se envolvia com os seus. Só que a Fairy Tail era a guilda mais unida do país e levava esse conceito muito a sério, o que fazia Lucy leva-lo muito a sério.  

Urgh! 

Talvez estivesse sendo um pouco implicante e insensível por ter sido solitário a vida inteira, mas qual é! As pessoas tem que caminhar com as próprias pernas de vez em quando.  

Sua outra parte rosnou concordando.  

Uma vozinha chata dos resquícios de sua consciência o lembrou de como mimava Lucy a ponto de virar um leal soldado, daqueles bem cachorrinho adestrado, a mercê de suas vontades por escolha própria, apreciando quando ela lhe pedia para esfolar a cara de alguém.  

As duas partes estremeceram com a consciênciazinha maldita.  

Foda-se. Hipocrisia é mato.  

-Vaaaaaiii!- Natsu resmungou novamente e ainda tentou pegar um pouco da sua porção grátis.  

Transformou apenas sua mão direita em uma armadura negra com garras posicionando-a ao lado da porção, inibindo o furto ao mesmo tempo em que disse: 

-Não.  

Tamboriou as garras no balcão, fazendo o barulho afiado e arrepiante, para enviar o recado do que aconteceria caso ele tentasse comer novamente, antes de transformar-se de volta. Ele entendeu o recado, mas sua transformação o deixou ainda mais animado.  

-Por que não? Eu quero fazer isso. Vaiiii. Macao me ensinou como não queimar tudo. Eu tento fazer sozinho, mas não dá! 

Já imaginava até o porquê. Conhecendo o cérebro de minhoca que era Natsu, ele provavelmente treinou apenas a parte física achando que isso milagrosamente conseguiria leva-lo a forma dracônica. É por isso que até agora sua forma intermediária só veio quando ele estava em risco ou precisava muito, quando o instinto se sobrepunha a razão.  

Suspirou forte e, quando estava prestes a falar mais um não... 

-Eu te falo o que a Lucy quer de aniversário! – Tentou barganhar.  

Arqueou uma sobrancelha para ele em desdém. O aniversário da lourinha seria em alguns meses ainda e sabia que ela não tinha nada em mente. Estava ocupada demais escrevendo ou ajudando na guilda.  

O arrepio percorreu seu corpo outra vez, só que com mais urgência, reverberando um frio na espinha de embrulhar o estômago. O banco que sentava caiu tamanha a velocidade que saiu de la, entrando na biblioteca mais uma vez.  

Algo na urgência do instinto lhe dizia para não pegar leve. Nunca duvidou dele.  

Se transformou em sua forma humanoide, a pele sendo substituída rapidamente por uma armadura negra e impenetrável de escamas poderosas e avançou nas duas como um leão. O impacto veio alguns instantes depois, junto com o barulho. Sentiu a pressão em suas costas antes de ser arremessado contra a parede de madeira que dividia a biblioteca com o salão da guilda.  

Atravessou-a como se fosse feita de papel manteiga, batendo bruscamente contra algumas mesas vazias antes de se arrebentar no chão, relando mais alguns metros até quase chegar a área central do Hall. Se não fosse a dor talvez teria notado o silêncio momentâneo e incomum que se fez presente quando todos pararam para ver o que era. 

Gemeu ao sentir as omoplatas se mexerem. A base de suas asas também reclamou bastante junto com sua coluna. As pontadas desagradáveis pareciam piorar com o passar dos segundos, quando seu corpo começava a assimilar o choque. Não sofreu nenhum dano por causa de sua armadura natural, mas isso não impedia de sentir o impacto. Era como um colete a prova de balas. O deixa invulnerável, não insensível.  

Abriu o embrulho das asas enormes lentamente, tentando evitar a dor. 

As duas bonitas, com nenhum arranhão – apenas com fuligem em alguns pontos do rosto – deram uma tossida e dispararam o falatório.  

-Conseguimos! – Brandou Levy animada. – Só colocamos muito Zinco e Fenir, mas conseguimos! 

Respirou sentindo um cheiro forte de algo doce mesclado com uma flor que lembrava lavanda. Espirrou forte, só aumentando a dor nas costelas e fazendo-o gemer outra vez.  

-Sim! – A maga celeste devolveu animada. – Com um pouco menos e vamos entregar a formula prontinha! – A empolgação revelava o quão prontas as duas estavam para retornar as pesquisas.  

Não que Acnologia fosse deixar, é claro.  

A raiva o percorreu por inteiro, neutralizando toda a dor que sentia, como um entorpecente potente e virulento. Puxou as duas malucas de volta para o chão, ficando por cima delas e usando seu corpo enorme em conjunto com as asas enormes para mantê-las no lugar que queria e se fazer intimidador. Expôs os caninos afiados. O rosto das duas murchou, a animação sendo substituída por uma palidez mortuária ao finalmente se darem conta que estavam abusando.  

-Desculpe, não pude deixar de ouvir, vocês querem explodir o laboratório de novo? Que legal! – O desdém em suas palavras debochadas com sua voz sinistra e draconiana eram de gelar a espinha.  

Uma ameaça efetiva e velada aos dois traseiros indefesos que poderiam ser chutados muito facilmente.  

-Não. – Lucy prontamente respondeu baixinho, quase em um miado.  

Levy, por outro lado, já acostumada a ir contra a tudo que o dragão dizia, mesmo sabendo que nesta hora não deveria, tanto pelo medo, quanto pelo fato dele estar certo, respondeu automática:  

-Sim.  

Os olhos de Acnologia ganharam um novo tom de vermelho, sendo ainda mais destacado pela esclera negra. Um que dava muito medo.  

Oh! Ops.  

Lucy conhecia muito bem estes olhos e não seria nada bom que eles dessem as caras no momento.  

-Levy! – Repreendeu com uma cotovelada em suas costelas.  

Ser teimosa com um Acnologia bravo, com razão e ainda por cima estando debaixo dele grávida de outro dragão que o estava irritando a tempos não era nenhum pouco saldável. Mas aparentemente quando se tratava do seu companheiro a língua de Levy vinha antes do pensamento. 

- O que? Não temos que obedecer ordens dele.  

Seu estômago embrulhou e sua espinha gelou. Pensou seriamente que o dragão a degolaria ali e agora. Alguns passos foram ouvidos e, quando levantou os olhos para trás e ver quem era, encontrou Gajeel. Ficou ainda mais pálida e o enjoo bateu forte.  

-Oe. – O DragonSlayer do ferro falou, para sua desgraça. Sentiu o impulso de roer as unhas. – Deixe ela em paz.  

Acnologia levantou a cabeça o encarando sombrio. Quase podia sentir o seu peito tremendo para conter o rugido. Sinceramente já estava esperando uma briga feia ali e agora, tamanha a raiva que emanava do rei em direção ao outro. Ele a surpreendeu quando disse:  

 -Tudo bem. – E se empurrou para cima ficando de pé em um instante e voltando a forma humana. – Podem se matar. Eu não vou mais ajudar. Vocês que se virem. – E saiu, marchando para os fundos.  

Lucy engoliu um bolo desconfortável na garganta. Ele estava muito bravo e chateado, e isso fazia seu coração apertar aflito.  

-Você viu que...  

Interrompeu Levy no meio da fala, se levantando.  

-Ele tem razão, nós exageramos. Pare de ser tão implicante quando sabe que está errada. Deu por hoje.  

Levy ficou muda e espremeu os lábios, amuada com sua crítica. Bom, a amizade das duas já estava estremecida mesmo. Não estava a fim de ser amável agora então meteu o foda-se. Deixou as duas picuinhas para trás, foi procurar Acnologia. 

~*#*~ 

A raiva o comia por dentro como louco. Foi por pouco que não partiu o ferro velho ao meio. Se ele achava que estava implicando por que ele não moveu a sua bunda soldada no segundo andar e salvou a tampinha de ter ido para o hospital? 

Sua parte selvagem rosnou. Ele queria matar a cria e o pai, mas não o fez pela promessa que Lucy – sabe-se lá como – conseguiu dobra-lo para cumprir.  

Com as mãos enfiadas dos bolsos da única peça que lhe sobrou após sua transformação veloz, andou em direção a floresta aos fundos, querendo ficar longe para desestressar. Tinha que se lembrar de andar com o presentinho de Shinuky e evitar esse tipo de coisa. Resmungou algumas palavras sem nexo ao vento. Óbvio que sua ameaça anterior era um blefe. Não importa o quão chateado estivesse com Lucy, sempre correria para salvá-la, por que a amava mais do que tudo na vida. A raiva era momentânea, mas sua maguinha celestial? Era seu maior tesouro.  

Talvez dessa vez deixasse Levy de lado. É. Era uma boa idéa. Quem sabe o bunda mole tomava alguma atitude e parasse de lhe cozinhar com os olhos.  

Queria que Lucy os deixassem se ferrar e se virar sozinhos, sem que ela estivesse no meio tentando carregar um fardo que não lhe pertencia. Só que ela era bondosa demais e aquela guilda maluca era sua família.  

Os braços finos contornaram sua cintura e enterraram o rosto em suas costas. O frio gostoso espalhou por sua barriga e por todo o seu corpo fazendo-o suspirar. Tentou ignorar o fato de que um gesto tão simples tinha conseguido praticamente evaporar com sua raiva tão facilmente. O sentimento era forte o bastante para acalmá-lo e fazê-lo esquecer de tudo, sempre.  

-Não abrace as pessoas de surpresa. Poderia te atacar por acidente. – Era um blefe para tentar se fazer de bravo. 

Tinha ouvido e sentido a presença dela já a alguns minutos. Lucy era como um planeta e como seu satélite, sempre a mantinha em seu campo. 

-Desculpa. – Ela murmurou abafada contra suas omoplatas.  

A voz arrependida terminou de matar sua fúria. Suspirou segurando os braços dela para desatá-los de sua cintura e virou-se para ela, abraçando-a e enterrando o queixo em seus cabelos.  

-Já está perdoada. – Revelou, desistindo de seu breve plano de vingança de enrola-la um pouco mais.  

Fazer o que, seu coração amolecia como manteiga com ela. Amor as vezes era um saco quando precisava-se criar punições. Ela apertou os dedos em suas costas.  

-Eu exagerei demais. Obrigada por cuidar de mim. Desculpe por ter abusado disso. – Ela continuou murmurando com a cabeça cada vez mais afundada em seu peito, parecendo querer entrar dentro dele para se certificar de que não poderia afastá-la.  

-Eu já disse que está tudo bem. – Murmurou a afastando para tentar ver seu rosto.  

Ela não gostou de seu afastamento. Se surpreendeu quando a maga pulou em cima de si, abraçando seus quadris com as pernas e agarrando seus ombros em uma abraço firme. Reequilibrou o corpo agarrando suas pernas e dando um paço para trás. Ela gemeu e chacoalhou a cabeça em negativa contra seu pescoço.  

Ela o conhecia melhor do que a si mesmo. Suspirou, abraçando-a pelas costas e enterrando a cabeça em seu ombro antes de dizer.  

-Já está na hora de você deixar Levy resolver seus próprios problemas. – Murmurou.  

Ela suspirou, aliviada.  

-Eu sei. – E puxou sua cabeça contra seu peito, enterrando o queixo em meio aos fios negros e acariciando-os. Aparentemente foi um gesto involuntário por que ela não percebeu que enfiou sua cara em seus peitos lindos e macios. – Vamos voltar pra casa. Quero paz. Ela vai ter que se virar.  

Mordeu um de seus seios por cima da blusa. Ela deu um grito assustado e se empurrou para trás.  

-Acnologia! – Gritou indignada.  

Riu, contrabalanceando seu movimento brusco. Reposicionou os quadris para dar mais estabilidade a macaquinha e impedi-la de cair.  

-O que esperava? Foi você que enfiou minha cara ai. – As bochechas dela ficaram vermelhas cereja, só o deixando ainda mais descontraído.  

Um humor completamente oposto ao que estava antes. 

-Seu tarado. Estamos falando de coisas importantes aqui! – E deu um tapa em seu peito nu.  

Sorriu para ela, respirando seu cheiro embriagante.  

-Podemos manter o plano. Vamos ajeitar as coisas na outra casa e voltar a tempo para a festa da guilda. Laxus disse que estão planejando caçar um javali da montanha para o churrasco.  

Ela franziu o cenho e o encarou.  

-Mira tinha me dito algo assim. Ela me pediu ajuda para preparar o tempero e o molho, Erza ajudaria nos acompanhamentos. Mas um javali da montanha? Os meninos estão bem ambiciosos este ano.  

Lucy sabia o quanto era difícil caçar um. Além de absurdamente astuto e escorregadio, se conseguisse encontrar um teria uma batalha pela frente. Não duvidava que a Fairy Tail teria poder de fogo o bastante para apanhar um – embora com bastante trabalho – mas encontra-lo era a parte que duvidava bem. Tem uma razão para ser uma das carnes mais cobiçadas e caras do mercado. Os quilos eram leiloados a preço de ouro.  

Riu.  

-Se você quiser comer um javali da montanha, então teremos um javali da montanha no festival.  

Acnologia não fez nenhum pouco de esforço para esconder a soberba. Caçar era um talento natural para si. Não seria a primeira vez que caçaria um e, movido pelo desejo de agradar Lucy, essa caçada estaria garantida antes mesmo de começar. Bastava ela querer.  

Ser um exímio caçador era a obrigação mínima de qualquer dragão, e como rei deles, bem, não existia criatura viva que não pudesse rastrear e abater. Lucy sorriu não duvidando das capacidades dele, mas ainda levemente encucada sobre encontrar o bicho sorrateiro.  

-Então você pega um e eu cozinho. 

O Rei dragão sorriu, empolgado com o desafio que viria. Não caçaria qualquer um, caçaria o da capa vermelha, apenas para se exibir ainda mais.  

Seria um festa bem interessante... 

~*#*~ 

As unhas dela rasgaram suas costas quando ela gozou. Gemeu sendo massacrado pelo prazer, quase não podendo conter sua transformação. Suas asas estavam inquietas tentando sair. Grunhiu, ronronando contra seu ouvido e a puxando para mais perto.  

O clima lá fora estava gélido com a neve invernal chagando nas montanhas, mas o quarto estava quente, aquecido por suas chamas e sua paixão brutal por ela.  

O cheiro de morango lhe invadia, chagando a ser tóxico e perigoso; sua ligação aumentava a cada dia, deixando-os mais conectados e gerando momentos cada vez mais brutais. Seus sentimentos estavam sempre a flor da pele e seu foco era cem por cento ela. Não conseguia se concentrar em outra coisa que não fosse suas mãos, passando de suas costas para sua barriga, lhe provocando choques de prazer. Seus músculos se contraíram, fazendo seu interior pulsar. O interior dela o apertou outra vez.  

Estremeceu fechando os olhos. Se não estivesse sentado na cama teria desabado no chão de joelhos. O desejo o corroía impulsionado pela luxuria.  

Sua pequena maga caiu mole em seu peito. A abraçou para que ambos continuassem eretos e suas cochas se apertaram em volta de seus quadris. Gostava dessa posição. Podia enfiar o rosto em seus seios enquanto ela rebolava em seu colo. Extasiante. 

Ronronou mordiscando seu pescoço e acariciando sua nuca enquanto esperava que se recuperassem. Não tinha nada mais satisfatório do que voltar para casa, terminar o trabalho em poucos dias e comemorar com uma maratona sexual gloriosa. Como conseguiu viver sem Lucy mesmo?  

Fuçou mais seus cabelos com o nariz pegando seu cheiro e fechando os olhos só para aproveitar ainda mais a sensação.         

Devia ter algum carma naquele lugar e suas brisas pela janela. Rosnou, só que dessa vez foi um de raiva. Empata foda do caralho! 

Lucy piscou e se afastou de seu peito, saindo um pouco do atordoamento prazeroso que estavam.  

-O que foi? – Perguntou ela. A voz grogue, porém receosa.  

Antes que ela pensasse que foi por causa dela, falou.  

-Sua amiguinha problemática está vindo pra cá. Agora. – Cuspiu irado.  

Sua outra parte já estava acesa pelo simples fato de estar com Lucy na cama, mas por motivos prazerosos. Agora ela saiu fula, pareando consigo por Levy estar aqui, grávida, em seu território particular e interrompendo um momento íntimo e glorioso entre os dois. Iria refreá-la? Não.   

Isso definitivamente fez Lucy sair da névoa embriagante.  

-Que? – Exclamou.  

Após alguns segundos ela gemeu e bateu a testa contra seu tórax.  

-Mas que merda! – Ralhou com raiva.  

Concordava plenamente. Deveria ter continuado a transar, impedindo que seu foco fosse para qualquer outro lugar que não fosse Lucy. Dessa forma nem notaria que a tampinha estava vindo, ou que tinha uma nevasca para cair daqui a algum tempo. Como sua prioridade tinha passado de sexo para modo proteção, seus sentidos sondaram a área rapidamente. 

-Natsu está com ela. – Bufou. – E parece que Gajeel a está seguindo.  

Ela ergueu a cabeça e o encarou.  

-É sério? – Disse irônica. – Por favor me diz que está mentindo pra gente voltar pro que estávamos fazendo.  

Como ela tinha encontrado este lugar? Que porra. Não era para ninguém saber das montanhas. E o que infernos ela fazia aqui? 

O dragão rosnou, apertando sua cintura em concordância com seu pensamento, antes de suspirar.  

-Infelizmente não é uma brincadeira. – Virou o rosto encarando a janela com uma camada de neve, onde um pouco mais para frente via-se apenas uma floresta de pinheiros altos e gordos, mesclados entre marrom e branco. Os encarou com fúria. – Eles vão chegar aqui em alguns minutos. Gajeel vai demorar mais.  

A maga bateu a cabeça em seu peito outra vez.  

-Puta que pariu! – Ralhou.  

Ela se levantou de seu colo e seu pênis saiu do abrigo quente. Gemeu consternado. Ela também soltou um suspiro em desagrado e o encarou.   

-Vamos. – Ela chamou, descendo se seu colo com pesar e pegando algumas roupas pelo chão. – Quanto mais rápido chutarmos eles daqui mais rápido voltamos.  

Ergueu uma sobrancelha, encarando-a enquanto cobria aquela bunda linda e nua com uma calça sem vestir calcinha. Gostou da sua maneira de pensar.  

Não foi difícil encontra-los. Lucy saiu marchando furiosa de casa, nem ligando para o vento gélido que assolava a floresta. Não tinha neve, apenas vento, mas ainda assim era frio, só não notou isso por sua fúria. Acnologia foi atrás, como era mais adaptável ao frio, usava apenas uma calça e botas. Se o objetivo era chutar a bunda deles e voltar, não demorariam muito, então pra que se agasalhar todo?  

Poucos metros à frente se encontraram e pararam, encarando uns aos outros. Natsu, sendo tão adaptável quanto, estava apenas com suas roupas costumeiras, já Levy estava empacotada com alguns casacos.  

-É sério? – Lucy ralhou quebrando o silêncio.  

-Podemos entrar? – Perguntou a baixinha apesar de não ver a casa. – Eu precisava sumir. Ele está insuportável.  

-Eu só vim por segurança. – Se defendeu Natsu prontamente, bem ciente de que estava em território de Acnologia e não queria mesmo caçar confusão com ele.  

Podia ser considerado meio burro mais sabia muito bem sobre sua própria natureza. No lugar dele não ia gostar nadinha de intrusos, prova disso que não era qualquer um que entrava em sua casinha humilde, mas também não podia deixar Levy subir uma montanha invernal grávida. Rezava para que o dragão fosse complacente.  

Lucy apertou os olhos e comprimiu os lábios.  

-Como encontrou este lugar? 

Levy ergueu um pouco os ombros e baixou a cabeça.  

-Não foi muito difícil. Umas informações aqui e outras ali, uns cálculos sobre voo e umas coisinhas que você deixou escapar. No fim delimitei algumas áreas e cheguei a esse resultado.  

Maldita seja a inteligência dela. Bufou, fechando os olhos e apertando a ponte do nariz. 

-Nós conversamos. Eu não vou mais interferir e salvar a sua pele, vocês dois tem que se acertar sozinhos! 

Levy ergueu o rosto meio exasperada.  

-Eu quero tempo! 

-Você não tem tempo! – Gritou Lucy de volta. – Pare de fugir dos seus problemas.  

Os olhos da azulada ficaram molhados e seu corpo tremeu.  

-Só quero mais alguns dias. – Murmurou amuada. – Ele não vai saber que vim pra cá, então só... 

Acnologia riu, interrompendo-a.  

-Você subestima nossa capacidade de rastrear nossas companheiras. Natsu não te contou? Gajeel está vindo para cá agora. Vai chegar aqui em alguns minutos. – A voz do rei já começava a dar sinais de mudança, e seus olhos estavam completamente vermelhos. 

Indícios claros de que já estava pronto para cair para a briga. Bastava mais um movimento em falso. Ninguém invadia seu território de graça, interrompia seu momento sexual monstruosamente prazeroso com sua companheira e saia impune, lhe bastava apenas um motivosinho e não se seguraria mais.  

A maga das runas olhou para Natsu, chocada.  

-O que?  

Ele encolheu os ombros, se desculpando.  

-Não pensei que ele iria tão longe. Para mim ele tinha ficado na estação. – E olhou para Acnologia de forma receosa.  

Seus próprios instintos já estavam aflorando em direção a uma saída rápida dali. O mar não estava pra peixe, ou seja, o burro do Gajeel estava vindo atrás de sua companheira e seu filho para protege-los – muito nobre – mas também era uma briga que não poderia vencer por A) Acnologia era muito mais poderoso, B) ele já estava bem fulo por estarem ali sem permissão, sem falar que podia sentir pelo cheiro uma outra razão para que quisesse matá-los e C) qualquer coisinha que configurasse uma ameaça a Lucy, seja ela real ou não, resultaria em morte.    

Estremeceu nervoso com as possibilidades de morte que estavam por vir, por isso fez questão de mostrar que não queria representar uma ameaça também.  

-Levy talvez seja melhor irmos embora. Não é uma boa idéia.  

Ela virou-se em quase desespero.  

-Não! – Ela respirou fundo tentando se recompor. – Olha ele não vai chegar até aqui. Eu só quero um tempo, por favor. Ele nunca chega perto quando você ou ele estão. – Apontou para a loura e o dragão.  

Lucy franziu o cenho entendendo de imediato – finalmente – por que ela estava ali.  

-Está tentando usar Acnologia para afastar Gajeel?  

A pergunta era retórica. Isso era óbvio. O dragão do ferro tinha mantido distância de seu companheiro por que sabia que seria muita encrenca para encarar sem ter um motivo razoável, e seu querido dragão negro estava cumprindo muito bem seu desejo de não machucar Levy, então estavam em uma guerra fria da qual a baixinha quis se aproveitar.  

Ela apertou os lábios meio roxos de frio.  

-Ele me deve. – Titubeou.  

Dessa vez foi Acnologia que ficou descrente, quase rindo de verdade.  

-Como é? – Devolveu.  

Só que antes que pudesse falar mais alguma coisa, uma outra voz rouca e firme entrou na conversa.  

-Eu também gostaria de saber. 

Como sempre quando se pensa que não pode ficar pior piora. O Dragão do ferro saiu da penumbra nevada da floresta e entrando no círculo. Ele encarou a baixinha com raiva e decepção antes de levar os olhos furiosos para Acnologia. O rei respondeu ao olhar com outro irado. Ele realmente achava que era o único puto ali?  

Após alguns minutos de silêncio a baixinha tomou fronte.  

-O que está fazendo aqui? – Chiou raivosa. 

Gajeel riu seco. Ele se aproximou dela como um predador, algo que reconhecia muito bem. Acnologia agia exatamente assim quando estava puto consigo. Continuou imóvel. Não iria interferir.  

-O que você acha? – Rosnou raivoso. – Você é inteligente Levy, sabe muito bem por que estou aqui.  

Natsu e Lucy estremeceram. O caçador nunca chamava Levy pelo nome. Ele estava bem bravo.  

Se sentindo meio deslocado e não querendo ser alvo de nenhum dos lados, o DragonSlayer do fogo se aproximou de Lucy, sendo rapidamente captado no primeiro passo pelos olhos afiados do rei, que lhe gelaram a alma e a espinha. Bom, não queria estar no meio do casal, mas também não estava afim de ficar contra Acnologia. Ergueu as mãos um pouco para cima em um gesto de defesa.  

-Só não quero me envolver. – Murmurou baixinho sabendo que ele ouviria.  

Dirigiu-se para o lado da maga celestial, deixando-a entre ele e o dragão negro. Bom, no estado em que ele estava não era nenhum pouco sensato ficar perto de sua companheira, mas na moral, pelo menos com Lucy entre eles teria alguma chance de tentar reagir caso ele tentasse arrancar seu pescoço. Talvez. Esperava que sim.  

-Eu quero tempo! – A pequena tentou exigir.  

Gajeel apertou os olhos vermelhos para ela.  

-Eu já te dei tempo. – Ralhou de volta. – Toda maldita vez você tenta escapar de mim de alguma forma. É sério que tentou conseguir a proteção de Acnologia? Só para ficar livre de mim? – Ele parecia possesso, os dentes rangendo com um ruído metálico.  

Ela ergueu o queixo, não se deixando intimidar pela fúria ou pela enorme diferença de altura entre os dois.  

-Se você não me deixa em paz sim!  

Lucy gemeu e falou baixinho: 

-É sério que eles vieram até aqui para me incomodar com uma discussão?  

Natsu, que também perdeu a paciência com a picuinha, respondeu.  

-Nem me fala. Tive que ouvir montes de reclamações a viagem inteira.  

Gajeel riu. Nenhum dos dois pareceu notar a conversa paralela.  

-Você está grávida! Do meu filho! Não vou te deixar “em paz” – fez aspas com as mãos. – se você toda hora some no mapa recorrendo a ajuda de outros quando tem a mim! – As veias saltavam por seu pescoço, era visível. – Vocês dois são minha responsabilidade. E ser responsável é algo que você parece ter se esquecido de uns tempos para cá. 

Sem saída ou argumentos, a McGarden jogou uma arma que já tinha usado antes. 

-Não quero que fique comigo como se fosse obrigado a isso. Posso me virar sozinha.  

Gajeel a olhou com descrença. Após uma pausa ele falou outra vez, a voz carregada de mágoa.  

-Pensei que já tinha deixado claro que te amo. Isso não é uma obrigação para mim. É um sonho, mas parece que você não vê o mesmo.  

Levy estremeceu como se tivesse sido atingida por um jogador de futebol americano a 300 por hora. E estava prestes a chorar. Foi nesse momento que Lucy percebeu uma coisa, e fez algo que tinha jurado não fazer, interferir.  

-Levy, do que diabos você tem tanto medo? – Falou mansa, mas depois ralhou. – Já ta escrito na testa de vocês dois que gostam um do outro. Por que dificultar?  

Ela se encolheu ainda mais e as lagrimas correram por sua bochecha, deixando um rastro branco por causa do frio. A nevasca começou a cair com alguns poucos flocos de neve.  

-Eu não sei! – Exasperou. – Eu não sei se vou ser uma boa mãe, eu não sei o que você espera de mim e não sei nada sobre essa ligação! – Agora as lágrimas desciam incessantes. Ela parecia aflita com o futuro. – Marcas de dragões são diferentes para todos, mas uma coisa não muda: a dependência. Eu não quero ser dependente de você só para quebrar a cara de novo! – Ela gritou todas as suas inseguranças de uma vez só, apontando para Gajeel ao fim antes de soluçar.  

O dragão do ferro ficou mudo, chocado demais para falar.  

-Da pra ver o quanto explicou bem pra ela. – Acnologia murmurou, já com dó e zero sensibilidade. 

Tinha chegado fulo, mas aquela cena lamentável acabou por findar sua vontade de explodi-los de primeira. Levy obviamente gostava de Gajeel, só tinha perdido um pouco da confiança nele naquela mancada. Pobre coitada. A dependência não era e nunca foi das companheiras. O único a ficar dependente era o dragão, de uma forma tão profunda que até mesmo a ausência de seu cheiro os afetava. Obviamente ele não tinha dito nada a ela.  

-Por isso vá embora e me deixe em paz! – Finalizou, indo na direção de Acnologia e da casa como se tivesse permissão para tal.  

A esclera do rei tornou-se negra e seus olhos ainda mais vermelhos. Sua outra parte não gostou da invasão brusca. O Dragão negro não iria fazer nada, continha muito bem seu outro lado, mas Gajeel, sendo possuído por seu instinto primitivo de proteção e sem ter a mesma experiência para refreá-lo, encarou aquilo como uma ameaça, e estimulado pela raiva da pequena recorrer a Acnologia e não a ele, as coisas ficaram complicadas.  

-Ei, eu disse para vocês se resolve...  

Lucy foi interrompida quando garras de aço apareceram em seu pescoço. Arregalou os olhos, congelando e sentindo um frio na espinha. Em um instante previu o que aconteceria. A parte selvagem de Gajeel não possuía uma segunda consciência por que não tinha o mesmo poder que o dragão negro, mas seu instinto ainda era o mesmo, deixando a irracionalidade assumir comando. Só que ele deveria ter tentado não ceder.  

-Não ouse! – O caçador falou atrás de si.  

Porém não obteve resposta.  

Foi rápido demais para qualquer um acompanhar. Acnologia saiu da forma humana para a intermediária, mas não a costumeira. A negra. Em um único instante sua pele foi coberta pela armadura mortal, seu corpo foi preenchido com aquela magia sinistra, seus olhos tornaram-se puro vermelho sangue. Aquela era a forma humanoide do dragão negro que apareceu durante a batalha, quando sua outra consciência colocava tudo pra fora. 

Gajeel simplesmente desapareceu de suas costas instantes depois de ter aparecido lá. Acnologia o pegou pelo pescoço e o jogou contra o chão a metros de distância. Engoliu em seco.  

Agradeceu que Levy não tinha sido marcada ainda. Gajeel foi em si por que era a única forma de neutralizar Acnologia. Era instintivo saber disso. Se a baixinha estivesse marcada o rei a mataria, neutralizando o caçador em um instante.  

Bom, não era como se ele estivesse melhor agora. Era rápido demais para que seus olhos castanhos conseguissem acompanhar tudo, mas viu os fleches.  

O Dragon Slayer tentou se defender com sua armadura de metal e contra atacar, mas nessa forma seu companheiro era praticamente possuído por um demônio. Ele agarrou Gajeel pelo pescoço novamente, o puxou contra si e lhe deu uma joelhada na boca do estomago. Ele gemeu e cuspiu sangue com a dor antes de colidir com um pinheiro.  

Acnologia não lhe deu tempo para respirar, socando-o contra o chão, provocando um estrondo que levantou camadas de neve para todo lado. Ergueu os braços para se proteger.  

-Gajeel! – Levy gritou em desespero indo em sua direção.  

Natsu a segurou, agarrando-a firme enquanto ela se debatia desesperada.  

-Não seja burra! – Gritou com ela. – Acnologia vai te explodir! 

Se as escamas de aço não resistiam, ela não duraria um segundo.  

-Eu tenho que fazer alguma coisa! – Gritou resistindo, as lágrimas caindo desenfreadamente por seu rosto.  

O rei aterrissou em suas costas, enterrando-o ainda mais no chão. Gajeel tentou revidar, girando o corpo e socando-o. Acnologia interceptou o soco com facilidade, pegando seu pulso e o torcendo na junção do ombro. Ele berrou de dor. Mas o rei não tinha acabado. Pisou em sua traqueia, neutralizando seu rugido e jogou o peso para o lado esquerdo de seu corpo, deixando-o incapaz de se mover. Ergueu a mão direita livre, as garras negras tinindo e se alongando no ar, cheias de chamas negras, antes de mergulhar contra o peito dele.  

-Pare! – Lucy berrou. 

Suas garras pararam a milímetros do coração dele, na junção quebrada entre as escamas. A pequena onda de choque da parada inesperada levantou ainda mais neve. Acnologia rosnou, mostrando os dentes afiados. Sua mão tremia ainda parada no mesmo lugar, tentando resistir a ordem e eliminar a ameaça.  

-Acnologia, é uma ordem! – Reafirmou com peso nas palavras.  

Ele xiou, sentindo a dor das correntes por tentar resistir. Por fim rugiu, um som assustador de dar calafrios, e abandonou sua presa no chão.  

-Gajeel! – Levy se soltou de Natsu e correu em sua direção, pegando sua cabeça no colo e avaliando o estrago. O cachecol em seu pescoço se levantava com o vento que piorava a cada segundo. – Você pode comandá-lo? – Ergueu o rosto para Lucy raivosa. – Por que você... 

-Cala a boca! – Lucy jogou de volta, interrompendo-a. – Sabe o quanto odeio fazer isso? Tudo por que você não consegue ser sincera ou ter uma conversa civilizada com ele? 

Mesmo que em sua cabeça estivesse bem claro que foi ela quem fez merda, o amor por Gajeel e sua raiva por ele ter sido ferido pelo dragão rei falou mais auto.  

-Não importa! Olha como ele está! – Exclamou.  

Haviam várias feridas que transpassaram a armadura de escamas do caçador, seu ombro provavelmente estava lesionado, e pelo fato de ele ser um DragonSlayer e não ter se levantado até agora, dizia que ele estava sentindo muita dor.  

Dessa vez foi Natsu que interviu, ficando de frente para os dois.  

-Não seja dramática. Ele está vivo e é mais do que sorte por ter ameaçado a companheira de outro dragão. Ele sabia a merda que estava se metendo quando tentou te defender.  

Mais lagrimas caíram.  

-Mas... 

Gajeel tossiu, voltando a forma humana, e deixando mais claro os danos com os hematomas em sua pele.  

-Ele está certo baixinha. – Falou com a voz arranhada e dolorida. Virou o pescoço com dificuldade encarando a maga celestial. – Me desculpe por isso Bony-girl. Eu não sei o que deu em mim.  

Lucy encarou seus olhos magoados e arrependidos. Gajeel já tinha feito algo assim antes, quando era daquela guilda nojenta. Suspirou, empurrando os fios do cabelo para trás. Infelizmente compreendia o por que dele ter feito isso. Seu companheiro faria o mesmo se estivesse em risco.  

-Não esquenta. Você não me machucou. Tá tudo bem. 

Ele deu um mini sorriso em agradecimento a sua compreensão, mas o perdão não alcançou seus olhos. Ele carregaria esse peso por um tempo.  

Ele se virou para Acnologia na intensão de fazer o mesmo pedido. Antes que pronunciasse uma palavra sequer, a forma negra sinistra rosnou para sí, os dentes brancos e os olhos vermelhos sendo o único destaque da presença mortuária.     

Aquele era um claro “sem chance”. Estremeceu entendendo o recado.  

A nevasca finalmente decidiu desabar. A neve caiu, diminuindo a visibilidade em vários metros. Lucy estremeceu e levantou a mão, colocando-a em frente ao rosto para tentar se proteger. Passada a fúria e a adrenalina, voltou a sentir os efeitos do frio, encolhendo-se e apertando o braço contra o peito.  

Uma asa negra enorme a envolveu por trás e a cercou de calor junto com o corpo quente que se aproximou. As garras afiadas envolveram suas mãos por trás com carinho, abraçando-a e esquentando-a com as chamas negras. Se empurrou contra ele e apertou suas mãos em sinal de agradecimento.  

Seus companheiros – com exceção de Natsu – também estavam apertados com o frio.  

Resmungou pronunciando uma coisa que sabia que Acnologia não ia gostar. 

-Vamos entrar! – Gritou e virou-se para o dragão. Seus olhos vermelhos se apertaram para si, magoados e irritados. – É apenas até a tempestade passar. Eu prometo. Por favor. – Amuou.  

Estremeceu com a corrente fria e se apertou contra seu peito, olhando de novo em seus olhos.  

-Estou tão chateada quanto você nisso. Mas não temos como resolver isso aqui. Você acredita em mim? – perguntou, o vento soprando forte e assobiando em seus ouvidos.  

Ele suspirou, permitindo. Natsu ajudou a levar Gajeel e Levy. Puxou-a até a entrada da casa, onde retornou a forma humana, deixando que seu outro lado tomasse outra vez o lugar, mantendo-se na rabeira. Entraram dentro de casa e Lucy prontamente pegou a maleta de primeiros socorros e entregou a baixinha. Um pouco mais calma agora, ela abaixou a cabeça e falou: 

-Desculpe.  

Lucy a encarou, vendo-a cabisbaixa e encarando o chão. Suspirou.  

-Apenas se resolvam logo.  

Acnologia sumiu para dentro do quarto.  Sabia que ele estava puto e iria evitar os dois na sala. Coçou a cabeça pensando nos problemas. Já estava anoitecendo e se sentia cansada.  

-Tem futôns no armário. – Disse pegando-os e atirando no meio da sala. 

Levy desviou os olhos por um instante de seus cuidados com Gajeel para ver o que tinha colocado lá.  

-A cozinha é pra lá caso vocês sintam fome. Pelo amor dos Deuses se resolvam. – E abriu a gaveta pegando um dos selos mágicos que silenciam o ambiente por algumas horas. Pregou um na parede e levou o outro consigo. – Discutam se precisarem, mas se virem civilizadamente.  

E foi caminhando para o quarto. O correto seria deixar os feridos em um lugar mais confortável como a cama, mas Acnologia ficaria muito mais fulo e também queria que os dois sofressem um pouco para aprenderem logo.  

Natsu, que não era nenhum pouco bobo e com zero paciência para mais discussões, pegou algumas coisas e levou para a cozinha, na intenção de dormir lá. Normalmente invadiria o quarto de Lucy como sempre, mas com o rei tão puto era melhor nem chegar perto da porta. Pegou um selo também.  

-Se virem. – Murmurou e, em um raro lampejo de sabedoria natsuniana, orientou: - E lembrem-se que estão na casa de Acnologia e deram sorte de estarem vivos. Território dele regras dele. Não façam nada que o deixe ainda mais furioso ou eu mesmo chuto vocês. – E entrou na cozinha, trancando a porta com o selo.  

Ambos entenderam o recado, corando. Encararam-se. Tinham que se acertar até de manhã, e nada de estripulias. 

-Me desculpe. – Levy falou encarando as mãos.  

Segurava firme uma bandagem e o remédio que passaria nele. Gajeel suspirou e fechou os olhos com a dor.  

-Tudo bem. Eu que fiz besteira. Nem consegui explicar direito o que queria. – Entreabriu os olhos. – Podemos começar de novo baixinha? 

Levy ergueu os olhos lentamente e deu um meio sorriso tímido.  

-É uma boa idéia. 

~*#*~ 

Mal entrou no quarto escuro que já foi prensada contra a porta que tinha acabado de fechar. Soltou o ar pela boca com o susto, pondo as mãos em seus ombros.  

-Não me assuste assim! – Resmungou. 

Ele a encarou, os olhos mais vermelhos do que azuis, e rosnou para si.  

-Você quer testar minha sanidade por acaso? Por que eu não tenho uma! – É, ele estava puto.  

Ele enfiou as mãos por baixo do seu blusão de moletom e empurrou os quadris contra os seus. Arfou sentindo sua ereção a caminho, e seu ventre pulsou. Ele ronronou ao pé de seu ouvido, subindo e mordendo seu pescoço. Parecia estar a beira de se transformar de novo.  

-Você é impossível. Sabe o quanto é difícil não matar os dois agora? Gajeel tentou te matar. – Ele rosnou.  

Seu corpo estremeceu quando o peito dele vibrou com o rosnado furioso. Fechou os olhos quando ele a mordeu em repreensão.  

-Ele não me machucou. – Murmurou em voz baixa.  

Outro rosnado. Ele puxou seus cabelos para baixo com força, forçando-a a encarar seus olhos tenebrosos. Qualquer outra pessoa teria chorado de pavor ao vê-los, mas Lucy sabia que nem mesmo a fera lhe machucaria, por que o amava acima de qualquer coisa.  

-Ele estava com as garras em eu pescoço! – Bradou irritado.  

Não tinha como argumentar contra isso. Não se sentiu ameaçada em nenhum momento, apenas levou um susto, mas não era bem assim na visão de quem estava de fora, especialmente a dele. As palavras saíram de seus lábios com mais honestidade do que pretendia.  

-Eu sei. Não tem nada que eu possa fazer para eximir o fato. Pelo pouco que entendo sobre dragões ainda, sei que quer matá-lo pelo que fez e que de certa forma isso não seria errado. Por isso posso apenas pedir e desejar que por favor tente esquecer isso.  

Os olhos vermelhos a encararam enegrecidos. Viu os músculos de sua mandíbula tencionarem com força. Ele estava tentando conter seu impulso, algo muito mais selvagem e primitivo do que poderia suportar. Ele rosnou, fechando os olhos e enfiando a cabeça em seu pescoço, prensando-a ainda mais forte contra a porta.  

-Fique quieta. - Murmurou, a voz modificada pela besta.   

Sabia o que ele estava fazendo. Ele queria realizar seu desejo e estava tentando manter-se sob controle para não ceder ao impulso. Seu corpo inteiro tensionou repentinamente e ele a apertou mais forte. A compulsão era sempre forte e dolorosa, principalmente quando refreada. Não queria que ele sentisse dor.  

Havia duas formas de fazê-la ir, uma era a violência e a outra era uma boa distração. Lambeu os lábios pregando o selo na porta e ativando-o com um pouco de magia.  

Com a mão livre desceu pelo seu corpo, passando a mão por seu abdômen e, sem hesitar, enfiando-a em sua calça e agarrando seu pênis. Seu corpo retesou e ele arfou por ter sido pego desprevenido. Ele tirou a cabeça de seu pescoço para repreendê-la. 

-Lucy... 

Como se fosse deixar. Com a outra mão agarrou seus cabelos e o puxou para um beijo ardente. Sentiu as presas roçando em sua língua a medida em que tornara o toque ainda mais profundo e avassalador. Seu pau cresceu em sua mão. Apertou o cume de leve, esfregando a cabeça com o polegar gentilmente. Seu corpo tremeu e o ronronar bruto e selvagem começou.  

Ele a agarrou mais firme, forçando-a mais forte contra a porta, tomando seu folego e obrigando-os a quebrar o contato. As mãos dele subiram e apertaram seus seios por baixo da blusa. De repente as barreiras de tecido tinham se tornado incômodas. Puxou seus cabelos mais uma vez ao sentir o tesão crescer em seu interior, principalmente com o que pediria.  

-Queime-as. - Lambeu os lábios olhando em seus olhos bicolores. - Quero você. Agora.  

As chamas saíram de seu corpo como uma corrente quente e incandescente, destruindo tudo que os separava. A sensação do calor lambendo sua pele era revigorante, o fato de poder brincar com fogo sem se queimar lhe dava uma sensação de prazer e poder. Sentia-se livre.  

Ele a pegou pelas cochas e a ergueu, brusco. Não teve outra escolha a não ser guia-lo para dentro, jogando a cabeça para trás e arqueando as costas quando ele entrou por completo. Nessas horas seu corpo parecia agir sozinho, atendendo aos comandos do dragão, querendo sempre mais dele.  

Gemeu e isso pareceu destruir todo seu controle. Ele explodiu, gemendo e arremetendo contra seu corpo; forte e rápido. Não que se importasse com isso. Perdeu o folego com o impacto contra a parede mas não se queixou. Por um instante temeu que derrubassem a porta e dessem de cara com seus amigos, a força de Acnologia era mais que o bastante para isso, mas quando ele esfregou a pelve contra seu clitóris tudo sumiu.  

Se agarrou a ele puxando seus cabelos enquanto ele sugava seus seios, fechando os olhos incapaz de aguentar o prazer com eles abertos.  

Queria que ele soubesse o quanto lhe fazia bem e o quanto o desejava. Estava tão perto.  

-Isso. - murmurou pela milésima vez.  

Foi quando uma idéia lhe apareceu a mente em meio a todo o prazer que sentia. Sua ligação com ele era forte o bastante para senti-la quando queria. Então o mostraria.  

Jogou a cabeça para trás se concentrando na marca e no prazer. Apenas no prazer. Soube que funcionou quando ele tirou uma das mãos que a segurava e socou a parede ao seu lado, sua mão transformada em garras, formando veios fundos no cimento.  

-Lucy, pare!  - A voz da besta e a humana ressoaram, parecendo incapazes de lidar com a amplificação dos sentimentos.  

Mas não ia parar. Estava perto e queria mais, muito mais. Deixou o prazer o amor e todos os seus sentimentos transbordarem, vazando para ele. Apertou-o outra vez dentro de si. Queria mais, estava perto.  

-Rápido. - murmurou em súplica com os olhos fechados.  

Ele atendeu. O cume cresceu dentro de si a cada investida de seu pau. Seu interior ficou mais molhado, mais quente. Queria gozar, precisava gozar. Rebolou apertando os quadris e então explodiu, o prazer tomando conta de cada uma de suas células enquanto gemia seu nome.  

Tomou um susto sentindo um breve frio na barriga quando despencou. As garras de Acnologia rangeram contra a parede quando ele aparentemente tentou usá-las para se firmar. Ele caiu de joelhos no chão, levando-a consigo.  

Quando a nevoa do prazer e do susto passou foi capaz de analisá-lo. Ele arfava contra seu pescoço, tremendo, mas continuava a segurá-la junto a ele, firme. Suas tatuagens brilhavam no escuro de tão fortes, porém dessa vez o azul estava quase roxo. Ele a abraçou como pode. Sorriu e o abraçou de volta, dando-lhe um beijo em meio a seus cabelos.  

-Nunca mais faça isso! - Ele brandou, tanto o homem quanto a fera. 

Sorriu em meio aos fios macios e aspirando seu cheiro amadeirado com fogo.  

-Mas eu quero. - Murmurou quanto retomou um pouco do fôlego.  

Ele estremeceu. 

~*#*~ 

 Continuou a subir e descer a mão com carinho por sua coluna enquanto a observava dormir. Não conseguia tirar os olhos dela, nem parar de tocá-la. Ela tinha forçado a transmissão dos sentimentos dela para si, de todos eles. Pode sentir cada grama de seu prazer, sua felicidade e seu amor. Seu estômago se apertou só de lembrar e seu corpo enrijeceu. Estaria mentindo se dissesse que não amou cada segundo, mas... 

“É demais.” 

A fera falou em sua mente. Suspirou concordando.  

Não estava preparado pra isso. Foi pego totalmente desprevenido. Sentiu como se um lutador de MMA de 200kg tivesse lhe dado um soco certeiro na boca do estomago e um cruzado direto no cérebro. Saber e principalmente sentir tudo aquilo que ela sentia por si lhe deixava sem chão. Por isso, neste exato momento, não conseguia sair de seu lado, parar de tocá-la e sentir seu cheiro, como um viciado em drogas que não conseguia largar a heroína.   

O bombardeio foi tão grande que nem ele ou a besta conseguiram manter a consciência. Foi por pouco, mas muito pouco mesmo, que Lucy não tinha se estatelado no chão. Que ironia. Tinha uma força descomunal, tanto que o peso da maga não era nada para si, mas naquele momento se sentiu um garotinho franzino de 16 anos que não conseguia levantar um saco de arroz. A prova disso e que caiu de joelhos, totalmente acabado. Nem ele nem sua outra parte tinham conseguido reagir a tempo, mas por sorte conseguiram impedir que ela caísse de seus braços.  

Ela tinha cumprido seu objetivo de neutralizá-lo com perfeição. Agora não tinha um pingo de energia para brigar. Gozou tanto que pensou que iria morrer. Gajeel tinha salvado sua bunda enferrujada por hora. Não conseguia nem mesmo manter a fúria acessa de tão mole que se sentia.  

De qualquer forma, se Lucy fizesse aquilo de novo... 

“Vamos morrer.”    

Sua outra parte tinha razão. Se até mesmo seu inconsciente tinha sido afetado a esse ponto não conseguiria sobreviver. Aquele prazer era demais para seu cérebro processar, seu corpo não aguentaria também.  

E ela já tinha deixado claro que pretendia fazer de novo... 

Gemeu, estremecendo e se encolhendo enquanto a embrulhava nos braços. Não conseguia definir se estava ansioso ou com medo.  

Sentir tudo aquilo de novo era um oásis, um mel dotado do melhor elixir do mundo, mas temia ser demais para sua mente suportar e seu corpo. Além disso, a forma como foi nocauteado o deixava com os cabelos em pé. Se Gajeel tentasse alguma coisa agora não sabia se conseguiria reagir a tempo.  

Sabia que ele estava incapacitado no momento pela surra que tinha lhe dado, e quase o tinha matado. Só que a situação se aplicava no geral. Não gostava da sensação de impotência. O deixava arisco e raivoso. Passou a língua nos dentes pontiagudos. Não deixaria sua loirinha brincar mais a não ser que tivesse certeza de que ficariam seguros pelas próximas horas.   

~*#*~ 

Dizer que estava tenso era subestimar a situação. Estava tremendo nas bases, embora ninguém tivesse percebido graças a sua perspicácia e anos trabalhando em missões de espionagem. 

Acnologia enfiou o espeto na carne de carneiro em cubos na boca – um dos pratos que Lucy tinha feito para o café da manhã, que estava muito bom aliás - e o pegou entre os dentes mais afiados do que de costume, sem tirar os olhos de si. Engoliu o seco.  

Estar no território do Rei com sua companheira linda, gravida de seu filho, deixava seus instintos a flor da pele. Ah, claro, não podia esquecer que tinha colocado as garras no pescoço da companheira dele – que era sua amiga – poucas horas atrás. Estremeceu por dentro.  

Estava tentando não pensar muito naquilo ou na compulsão que o levou a fazer isso, por insistência da própria Lucy, já que assim que levantou foi pedir desculpas para ela de novo. Ela já tinha o perdoado até fácil demais.  Só que não tinha se perdoado ainda e levaria este fardo por um tempo. Estava em débito com a lourinha.  

O dragão estava até muito contido para o que deveria. Sem dúvida Lucy tinha feito alguma barganha por isso. Não via outra explicação. Ele devia estar muito mais puto e querendo matar todo mundo ali, não só pelas razões óbvias, mas por ter invadido seu território e interrompido o sexo dos dois.  

É, tinha sentido assim que chegou - Natsu provavelmente também - só que estava tão puto com a baixinha que se lascou para isso. Tinha certeza que antes de chegarem os dois estavam transando. Teria ficado puto se fosse interrompido da forma que ele foi. Então com certeza ele estava puto.   

Bom, isso não importava agora. A sensação dos olhos dele em seu flanco que eram relevantes no momento. Sentia um gelo na espinha, quase matando seu apetite. Como se não bastasse seus ossos e machucados feitos por ele na noite anterior arderam como um lembrete cruel. Tinha sido completamente massacrado e, se não fosse por Lucy, seu coração estaria nas garras dele.  

Passou a língua nos dentes, mais pontudos do que de costume, e olhou para a baixinha que riu de alguma coisa que a maga falou. Tinham se acertado finalmente. 

Foi custoso. Teve que engolir cada grama de orgulho que tinha para pedir desculpas pela forma que a tinha tratado. Ao contrário do que ela imaginava, lembrava-se perfeitamente bem do que tinha acontecido aquela noite. Como poderia esquecer? 

Foi um covarde quando decidiu fugir e evitá-la. Não conseguia entender o que estava acontecendo consigo. A paixão que ardia em seu peito, a dependência de seu cheiro que quase o matou quando esteve longe – chegou até mesmo a roubar algumas coisas dela para tentar suportar – e, por fim, um desejo massivo, uma compulsão terrível que lhe esmagava os ossos querendo marcá-la. Isso o assustou.  

Era mais forte do que pensou que seria, tanto a dependência quanto a compulsão. Não queria assustá-la e queria mais domínio de si mesmo.  

Neste exato momento a compulsão era forte, lhe corroía os ossos para marcá-la e assim protegê-la e a sua criança. Mas sabiamente seguiria o conselho de Natsu. Primeiro por que não se sentia nenhum pouco seguro em fazer isso aqui, uma vez que a marca demandaria todo o seu poder, deixando-o letárgico por um tempo e segundo por respeito a Acnologia. Ele já os estava aturando ali depois de todo o problema que tinha causado, incitá-lo não seria uma boa idéia.  

Estremeceu outra vez olhando para as tatuagens vividas e a cicatriz no centro de seu peito. O Rei não era alguém que queria ter como inimigo.  

-O que vocês vão fazer hoje? - Levy perguntou.  

-Acnologia vai me ensinar a me transformar! - Exclamou Natsu, todo alegre com seu sorriso típico na boca.  

Não sabia se o xingava por provocar o rei ou agradecia pelos olhos dele saírem se si.  

-Não. - Respondeu seco, fuzilando-o com o olhar. 

Ele encarava bem mais tranquilamente a presença do dragão de fogo do que a sua. Ignorando a picuinha dos dois, Lucy respondeu.  

-Vamos a cidade. Planejei comprar uns temperos e ingredientes pra caça ao javali que a guilda vai fazer.  

Levy arregalou os olhos. Visivelmente ambos esqueceram da caça, dado os problemas. 

-É mesmo! - Exclamou Levy. - Tinha me esquecido por completo .  

-Acnologiaaaa! - resmungou Natsu. - Me ensina. - Seus olhos brilharam. - Assim vou poder pegar um javali bem grande! 

Ele ergueu uma sobrancelha.  

-Você não pegaria um nem mesmo se ele caísse na sua frente. - Contrapôs, colocando mais um pedaço de carne na boca.      

-Como é maldito? - rosnou erguendo-se na mesa e fuzilando-o com os olhos.  

Sabia que a sabedoria de Natsu não duraria muito tempo. Foi um lapso momentâneo.  

O rei sorriu sádico já se preparando para cair para a briga e descontar toda sua raiva no filho de Igneel.  

Bom, isso até Lucy jogar os braços por cima dos ombros dos dois e puxa-los para perto, dizendo: 

-Vocês não estão pensando em brigar na minha cozinha linda, né? - E sorriu. Um bem tenebroso e vingativo, daqueles que faria o diabo chorar. 

Os dois suaram frio e viraram a cara.  

-N-não. - responderam ao mesmo tempo.  

-Que bom! - Exclamou alegre como se nada tivesse acontecido. - Vou arrumar as coisas para irmos então.  

Engoliu o seco. De todos ali, talvez fosse Lucy quem nunca deveria irritar. Mesmo.  

~*#*~ 

Chegou a conclusão de que era impossível se esconder da Fairy Tail. Eles o perseguiriam até os confins dos infernos. Teve a certeza disso quando viu Erza, Gray e os dragões gêmeos no mercado. 

-Eles estavam no mesmo vagão que a gente e vieram ver Natsu e Gajeel. - A titânia respondeu.  

Todos se animaram e começaram a conversar como se nada tivesse acontecido após a líder de seu grupo dar um belo sermão em Levy e uns cascudos em Natsu. Enquanto isso tentava decidir quais ervas e temperos levaria visto que nunca tinha comido carne de Javali da montanha. Apertou os olhos esperando que pudesse usar o mesmo tempero que usava para porco. Uma bebida para amaciar a carne talvez caia bem também.  

-Você tem ideia do que se meteu? A guilda inteira ficou preocupada! - Ouviu Erza falando com a baixinha.  

Aparentemente tanto ela quanto Gray seguiram Gajeel. Privacidade? Problemas particulares? Eles não sabem o que é isso. Tal coisa não existe na Fairy Tail.  

-Talvez uns acompanhamentos... - Murmurou para si mesma ajeitando o casaco.  

O tempo estava frio e a cidade montanhosa já estava coberta de neve. Alguns turistas apareceram para ver a beleza dos alpes brancos. De fato uma paisagem muito linda... para ver, tirar uma foto e ir embora. O frio era insuportável nessa época. Nem queria sair de casa, apenas o fez para comprar os condimentos e retornar para Magnólia.  

Pelo menos com Erza ali teria mais alguma ajuda tanto para escolher quanto para transportar. Era muito útil quando ela colocava tudo em seu carro gigante ou em espaços dimensionais. Pagou pelos temperos e frutas e foi em direção a loja de bebidas. Tudo cozinhava bem melhor com um pouco de álcool. A questão era qual.  

Cachaça talvez? Mas era caro. Talvez devesse ficar no bom e velho sakê. Mas era um ocasião especial.... Mas os meninos poderiam não conseguir pegar o javali e comeram algo comum. Eram tantas variáveis.  

Sentiu um calafrio na espinha quando Acnologia - também conhecido como sua sombra – surgiu as suas costas.  

-Você está encarando a garrafa de um jeito esquisito. - Murmurou com uma sobrancelha erguida. 

Ele tinha ignorado todos e ficou observando-a. Provavelmente viu todas as caras e bocas que fez para todos os ingredientes que comprou. Suspirou, corando um pouco pelo constrangimento.  

-Não sei o que usar. Nunca comi um e nem sei se vamos ter um. - Ele lhe deu um peteleco na nuca. - Ai! 

-Eu já lhe disse que você vai comer um.  

Massageou a área dolorida e o encarou.  

-Tá bem, tá bem. - Resmungou pegando a cachaça da prateleira. Ou melhor, um engradado cheio delas por que seria um javali enorme. - Acho que e tudo... 

-NEM FUDENDO! - A voz de Gajeel chamou sua atenção junto com a barulhada.  

Pagou o vendedor e saiu da loja às pressas para ver o que os idiotas tinham arrumado. Por algum motivo Dragon Slayers e magos da Fairy Tail não podiam passar algumas horas juntos sem que isso resultasse em uma disputa física.  

-PAREM COM ISSO! - Berrou para os idiotas quando viu o bolo de corpos, escamas e magia.  

Natsu arremessou uma bola de fogo em Gray, que defendeu-se com um escudo de gelo junto com o ataque de Gajeel. Ele revidou, mas ambos desviaram e o ataque foi recebido em cheio pelo goleiro mais conhecido como Sting. Ele levantou-se puto e sujo de neve e terra antes de rugir contra todos eles. O ataque foi esquivado por todos, e atingiria uma vendinha em cheio se Erza não tivesse entrado na frente com sua armadura de Adamântion.  

O ataque refletiu e foi em direção as cordilheiras das montanhas.  

-CHEGA! - A ruiva gritou puta, parecendo finalmente pôr ordem na casa. -Não briguem no meio da cidade idiotas! Eu vou puni-los quando voltarmos! - Eles estremeceram.  

Antes que pudessem colocar a culpa em alguém um barulho estalado chamou a atenção da cidade inteira. Parecia o som de um castelo em ruínas se chocando e desmoronando contra um penhasco duro e ecoou por toda a vila.  

Olhando para as montanhas descobriu o motivo. A neve das cordilheiras das montanhas tinha perdido sustentação e gerou uma avalanche enorme, se aproximando com o som retumbante e sinistro de uma manada inteira de elefantes em debandada. Seus olhos se arregalaram com força. A cidade inteira seria massacrada e sepultada pela neve.  

-Seus imbecis! - Levy buliçou, mas ainda incapaz de tirar os olhos da avalanche.  

Sairiam vivos, obvio, mas e a cidade? Precisavam dar um jeito de... 

Um círculo mágico negro como a noite decorado com chamas vermelho sangue apareceu no chão, cobrindo toda a vila. A energia muito familiar lhe garantiu que aquela obra vinha de ninguém menos do que seu dragãozinho.... 

Mas espere, desde quando Acnologia usava círculos mágicos?  

A cidade entrou em chamas. Apesar do pânico, elas não queimaram nada além das toneladas de neve que se chocaram contra os prédios, evaporando tudo antes mesmo de causar um estrago se quer. O tempo frio foi cortado por uma brisa quente de calor e todo o serviço que viria com a neve acumulada foi solucionado em poucos segundos. A cidade estava salva e sem prejuízos a caminho. 

Bom, quase sem prejuízos, uma vez que um certo dragão negro olhava de forma bem assassina para certos magos. Só foi capaz de expressar: 

-Merda. 

~*#*~ 

Acnologia não estava blefando.  

Os meninos tinham partido para caçar o tão famoso javali antes mesmo do Sol nascer, na esperança de voltar com ele a noite – ou, como Cana fielmente estava apostando, no ano de São Nunca – e a caçada teria se transformado em uma competição de homens vs mulheres caso não precisassem de muita gente e muitas mãos para fazerem os acompanhamentos e tira gostos. E isso, meus caros, não e algo que poderia ser deixado nas mãos de um Natsu, Laxus, ou em nenhum exemplar da espécie masculina da guilda. A não ser que o prato principal fosse carvão. 

Por essa razão os ‘machões’ foram a caça com a promessa velada da realização da competição no ano seguinte.  Seria muito engraçado visto que o Rei já tinha declarado previamente que seria um traidor do sexo e auxiliaria o time feminino.  

Elfman o acusou de ter sido agarrado pelas bolas e que teria que se livrar dessa maldição ‘Lucyliana’. Não que pudesse negar. E não que quisesse sair da maldição.  

Enfim, eles partiram, após toda a confusão e apostas para saber quem pegaria o javali. O que todos pensaram que levaria no mínimo um dia inteiro foi realizado logo após o virar do Sol ao meio dia. Acnologia se separou do grupo barulhento em meio as montanhas gélidas e penhascos ariscos. Ele já tinha caçado javalis da montanha antes, mas como tinha dito a sua loirinha gostosa, ela iria experimentar um javali ainda mais delicioso, o da capa vermelha.  

Era chamado assim pela pelagem rubra que lhe cobria o dorso. O Alfa macho de todo o território; duplamente mais difícil de achar e de pegar. Obviamente a carne valia preço de ouro. Não que estivesse pensando nisso. 

Não... sua razão era igualmente fútil e reforçava a frase do Sr Bombado Elfman. Queria se exibir para sua maga celestial, além de ver seus olhos castanhos grandes brilharem de prazer quando experimentasse a carne suculenta – e se lembrava muito bem do gosto dela da última vez que comeu. Não era atoa o preço. 

Tinha plena noção de que isso lhe fazia parecer um homem das cavernas querendo provar que era mais capaz que os outros, mas fazer o que. Caçar fazia parte de sua natureza selvagem, e poder usar isso para agradar Lucy de alguma forma fazia seu amago inflar.  

Mesmo com a neve alta e o vento quase fazendo uma nevasca foi fácil encontrar a toca e o rastro do javali. Demorou um pouco mais que o previsto por que queria matá-lo rápido e sem danificar a carne, deixando-o mais suculento. O problema era que mesmo sendo um dragão, um javali desses era casca grossa pra morrer.  

Foi inevitável a luta alfa vs alfa, mas quando chegou à conclusão que sua forma completa seria eficiente no serviço, a luta se tornou rápida e trouxe o resultado que esperava. Não sabia que os seus ‘companheiros’ tinham retornado da caçada ao fim da tarde, preparados para recomeçá-la no dia seguinte. O que obviamente não foi necessário já que aterrissou na forma diacrônica no quintal da guilda com o imenso javali vermelho.  

Os elogios e comemorações foram estridentes, até parecia que era Jesus trazendo a salvação - menos para Cana e alguns outros infelizes que perderam dinheiro na aposta; Mirajane apostou em sí ao invés do Laxus junto com Lucy, mulher esperta. Mas nenhum dos elogios lhe importava, apenas um. 

Não conseguiu conter o sorriso presunçoso que apareceu em seus lábios a medida em que se aproximava de Lucy com as mãos nos bolsos. Ela estava parada, escorada na lateral da porta dos fundos da guilda, vestindo um avental e segurando uma colher de pau com os braços cruzados. Seu sorriso aumentava a cada paço que dava em sua direção. Quando parou em sua frente seu sorriso passou a mostrar os dentes e ela piscou antes de falar: 

-Nunca duvidei, exibido. - Sua voz cantarolava divertida.  

Obviamente ninguém esperava que pegasse um sozinho. 

Foi sua vez de sorrir e mostrar os dentes afiados.  

-Eu te disse que comeria um javali da montanha. - Murmurou e se inclinou para perto dela, os rostos quase colados. - Só bastava você querer um. - Aquela também era uma forma de dizer que o que ela quisesse ter ela teria. 

Não lhe importou nenhum pouco que alguém pudesse estar olhando – poucos por que a maioria estava medindo o javali – puxou a cintura de Lucy contra seu corpo de forma brusca e colou os lábios nos dela. Tomou um beijo profundo e instigante, ronronando quando ela passou as unhas por seu cabelo.  

Ela o afastou.  

-Nem pensar! - Disse brincalhona. -Sei muito bem o que esse barulho significa e temos um javali para cozinhar. - Ela foi ágil, escapando de seus braços, mesmo quando tentou capturá-la. Ela riu. - Vá ajudar a acender a fogueira e pegar as bebidas! 

E entrou para dentro da cozinha, sumindo de suas vistas.  

Não pode evitar de sorrir maroto. Ela o conhecia muito bem. Não sabia bem por que, talvez fosse pela caçada muito bem realizada, a ansiedade pelas festividades que viriam, ou pelo fato dela estar linda naquele aventalzinho, mas estava excitado. Tudo bem, não precisava de motivo, apenas a presença de Lucy já era o bastante para isso, mas ela sabiamente o afastou antes que o sangue fosse para a cabeça de baixo.  

Balançou a cabeça antes de olhar para a multidão de magos coordenados por Erza para picar e limpar o javali, preparando-o para o legitimo churrasco “fogo de chão”. Já tinha gente demais ali, e Natsu era mais do que o suficiente para acender a enorme fogueira. Não era necessário ali.  

Foi em direção a dispensa, no deposito dos fundos, para pegar as bebidas e as caixas de copos para levá-los para dentro. Os barris estavam cheios com vinhos, saquê e cerveja. Foi mais ou menos na quinta viagem, quando estava no corredor dentro da guilda após deixar tudo com Mirajane no salão que topou com quem menos esperava. A tampinha.         

-Ai! - Ela murmurou ao esbarrar em si na virada do corredor.  

Foi imediato a virulência se espalhar. A compulsão de fúria ferveu em suas veias, a fera rosnando e aranhando para sair, deixando seus olhos vermelhos e seus dentes pontudos. Suas mãos se apertaram nos bolsos da calça para refrear qualquer atitude instintiva. Em qualquer outra ocasião teria perdido o controle há muito tempo e a matado neste momento, mas não era jovem como os DragonSlayers da guilda. Apesar dos músculos tencionados, se conteve.  

-Acnologia! - ela exclamou surpresa.  

Os dois se encararam por um momento, os choques de raiva se passando entre si. A ignorou e começou a se mover para ir embora. 

-Espere! - Ela chamou no mesmo instante.  

Seu corpo parou por impulso e ela veio correndo saltitante até a sua frente. Ela olhou para as próprias mãos, apertando a alça da bolsa de pano que levava consigo. Ela estava claramente indecisa. Não tinha paciência para isso.  

-O que é? - ralhou, seu bom humor já indo pro espaço.  

Ela o olhou um pouco raivosa.  

-Podia ser mais educado sabia? 

Apertou os olhos para ela, já se perguntando por que tinha parado. Sua boca se encheu de veneno, lembrando-o novamente da besta. Ela arregalou os olhos e pigarreou.  

-Me desculpe...- outro pigarro. - Eu, ham...Bom, não queria ter começado assim. - Apertou ainda mais os olhos para ela. - Eu queria pedir desculpas, por aquela confusão toda e tal.  

Dizer que estava desconfiado era pouco. Ela pareceu captar isso por que conteve a raiva e explicou.  

-Eu to grávida, meus hormônios estão bem loucos e eu queria distância. Na hora me pareceu uma boa idéia e eu relevei completamente o fato de que dragões são territorialistas e coisa e tal. - Rangeu os dentes. É claro que relevou. Ela não tinha idéia do quanto chegou perto de matá-los, a sede de sangue que o possuiu. A ordem de Lucy ainda fervia com o puxar das cordas e com a dor em sua alma. - Em fim, nós temos muitas coisas em comum e já que a Lu-chan te escolheu... 

Teve que rir e a interrompeu.  

-Desculpe. - Falou após a rizada irônica e seca, adicionando um sorriso de desdém no rosto. - Como podemos ter algo em comum? Me perdi nessa parte...   

Ela inflou as bochechas e foi notório seu esforço para controlar a raiva.     

-Nós dois, - ela gesticulou no espaço entre ambos, impaciente. - queremos protegê-la e que ela tenha o melhor. É isso que temos em comum. Somos superprotetores com a Lucy. Me desculpe, mas não. Absolutamente não acho que um dragão assassino, de quatrocentos anos, que usa até magias proibidas e não tem o menor senso de moral ou respeito à lei, seja um bom partido para ela. Só que ela te escolheu, então eu vou ter que te aturar. 

Ergueu uma sobrancelha. A baixinha tinha um ponto. Ela estava bem certa em tudo aquilo que disse sobre si. Bom, quase.  

-Tuché! - Respondeu, controlando a voz para que não saísse a dracônica. - Você só errou na moral. Eu defendo aquilo que Lucy defende, não importa o que tenho que fazer.  

Dessa vez foi ela quem apertou os olhos.  

-Um maldito cachorro... - Ela murmurou, por um momento se esquecendo de sua audição apurada. 

Não se importava com isso. Obedecer às ordens de Lucy e ajudá-la a defender seus conceitos era algo que enchia seu amago com orgulho. Era uma criatura vazia antes de conhecê-la, apenas buscando poder e mais poder, mortes e sexo. A imortalidade fazia isso com as pessoas sem propósito. Ser um cão de alguém como sua companheira não lhe parecia desagradável, e com certeza era melhor do que sua antiga vida.  

-Em fim! - Ela chacoalhou a cabeça. - Como prova de um acordo de paz deixei um livro raríssimo da primeira edição do romance de Edward Garden na biblioteca central com o seu nome. E só pegar. Lucy e vidrada nele e sempre quis ler “Os mistérios de Ekko”. Embora eu ache outros melhores até admito que é um bom romance. - Ela chacoalhou a cabeça ao perceber que fugiu do assunto. - Será um ótimo presente para dar para ela de aniversário. Essa é minha oferta de paz. Vai aceitá-la? - Ela finalizou, erguendo a mão para um fechamento de acordo e o encarando com os olhos firmes.  

Olhou para a mão estendida em sua direção por alguns segundos. Não era muito simples pensar com a besta forçando compulsões em seu corpo, gritando para matá-la. Não foi difícil sentir o cheiro, Gajeel a tinha marcado, o que significa que suas vidas estavam ligadas. Ele deveria tê-la ensinado a não ficar na frente de um rival cuja a companheira foi ameaçada. Bastava enfiar as garras em seu pescocinho fino e já era. Apesar da sede, manteve-se firme.  

Teria que conviver com a baixinha pelos próximos milênios já que Lucy a amava, então por que não tornar as coisas mais fáceis.  

-Aceito o acordo tampinha. - Ela sorriu leve e estendeu ainda mais a mão. - Só que eu não vou apertar sua mão ou coisa assim. 

Sua cara mudou rapidamente para algo raivoso e irritado. Ela abaixou a mão, mas apontou o dedo para seu peito.  

-Tá vendo? Mais um motivo para eu não te suportar. Seu grosso! Pelo menos finja um pouco de educação.   

Para a sorte dela não se sentiu ofendido com sua petulância. Seu companheiro desleixado o fazia ter pena dela.  

-Primeiro não nos aturamos o bastante para qualquer contato físico. Segundo, caso não tenha percebido eu estou me comportando muito bem para não avançar em você com esse cheiro de filhote e essa marca recém feita. - Ela empalideceu, finalmente parecendo perceber seu estado.  

Ela o analisou, finalmente notando seus olhos assassinos, os músculos tencionados e as tatuagens mais vividas que o normal.  

-Como a espertinha sabe-tudo que é, - continuou. - já deve saber que dragões não são apenas humanos e que nossa besta não gosta de crias, ou companheiras de outros que nos ameaçaram antes. Além disso se eu lhe tocasse agora sua querida marca se ativaria para protegê-la e seu companheiro viria para defendê-la, o que ia me deixar muito puto e provavelmente perderia meu pequeno controle, sendo que, dessa vez, talvez Lucy não consiga me parar a tempo, então que tal deixarmos isso só no verbal?  

Ela piscou, finalmente parecendo levar um choque de realidade. 

-Ah, sim. Tinha me esquecido. - Murmurou. Respirou fundo e suspirou antes de terminar. - Então temos um acordo. - E sorriu, um pouco fraco, mas sorriu.  

Sorriu rápido de volta, tentando não mostrar os dentes.  

-Se me der licença, temos um festival lá embaixo. - E andou na direção do galpão.  

-Ah!- Ela exclamou. - Aproveita e pega a caixa de mariscos! - Quase gritou embora não precisasse.  

Já no fim do corredor, riu e gritou de volta.  

-Eu sou o cão da Lucy tampinha. O seu está comendo em algum ferro velho! 

-Praga! Você vai ver quando sua dona ficar chapada hoje! - Ouviu-a retalhar, mas pode perceber o tom brincalhão e aliviado nela.  

Talvez agora pudesse ficar um pouco menos tenso quando os assuntos Levy MecGarden entrassem na mesa.  

Parou um momento para pensar. Nunca tinha visto sua companheira chapada.  

~*#*~ 

Os olhos dela brilharam como imaginou, só que ainda mais vividos.  

-Wahhhhhhhhh! Que delícia! - Ela exclamou quase em lágrimas quando comeu um pedaço macio e bem temperado de costela.  

A carne era divina por si só, mas a reação de Lucy foi ainda melhor. Não conseguiu evitar o sorriso largo que cobriu seu rosto enquanto ela brigava por mais alguns pedaços.  

A reação de todos foi praticamente a mesma. A única que se destacava um pouco era o Mestre da Guilda, que chorava de alegria e tristeza enquanto comia a carne acompanhada de grandes goles de cerveja. A notícia do Javali vermelho se espalhou rápido por Magnólia, e muitos magnatas ricos e negociadores da casa de leilões vieram para persuadir a guilda a vendê-lo por um preço bastante recheado. O velhote queria aceitar o monte de zeros, mas um olhar seu acompanhado da decisão unanime da guilda encerrou qualquer negociação.  

Algo lhe dizia que muito em breve as missões de caça a javali seriam corriqueiras de agora em diante, principalmente as ordenadas pelo mestre.  

Os convidados da guilda, também conhecido como penetras da festa, vulgo Sting e seu grupinho, estavam na maior farra dançando e comendo em cima de uma das mesas junto com Natsu. Sua maguinha ria enquanto bebia e conversava ao lado de Cana. Talvez, se tivesse prestado atenção antes, devesse ter tirado ela de perto da maga das cartas e dado mais atenção as palavras de Levy Mecgarden.  

Só que estava muito ocupado em uma competição.  

-Quem é Homem não foge a luta! - Helfman gritou, erguendo seu copo enorme de chope.  

-Eh!! - Os outros gritaram em coro.  

-Será uma queda de braço então. Façam suas apostas! - Freed intercedeu como juiz e administrador da competição.  

Não sabia como a discussão e a idéia da competição tinha começado, ou de como tinha se envolvido. Só sabia que as palavras do irmão de Mirajane eram meras formalidades. O que mais poderia resultar de um bando de homens bêbados, cheios de testosterona e ainda por cima magos da Fairy Tail? Absolutamente nada de bom.  

E assim se formou o montinho ao redor da pedra de granito bruto. Já tinha bebido algumas e, cá entre nós, era o rei dos dragões. Querer provar que era o alfa superior estava em seu sangue. A excitação de uma competição de força bruta corria em suas veias. Escroto? Com certeza. Necessário? Absolutamente não. Faria? Claro que sim.  

Por que não dar as mulheres ali presentes mais um motivo para chamarem os homens de babacas infantis, sempre competindo pra ver quem mija mais longe.  

-Quem perder vai ter que tirar uma peça de roupa! - Evergreen claramente bêbada já sugeria as penalidades.  

Se estivessem sãos jamais concordariam com isso, mas o álcool tinha um poder incrível. Por que não? Streep poker de força bruta.  

E assim a merda começou. Torcidas formadas, bolinhos montados, e mais bebida para os espectadores o primeiro round começou. Ruffus Lore vs Bickslow, nada muito emocionante, o mago das marionetes venceu e Ruffus retirou o casaco enorme.  

O segundo por outro lado foi interessante. Sting vs Laxus. Apesar de levar uma vida, Laxus venceu. Peças de roupa para um lado, pessoas seminuas para o outro, vitorias e derrotas. A roda de sorteios foi seguindo até que sua bunda foi parar na cadeira da mesa. Os finalistas agora ocupavam um lugar permanente, o desafio era tirá-los de lá e permanecer o máximo de tempo possível. Ainda não tinha perdido mas já estava sem camisa por causa do calor do montinho enorme de corpos e suor acumulados.  

A bunda que sentou a sua frente não foi ninguém menos do que a muralha humana de Ogra. Como hábito, ambos tomaram um copo de cerveja antes de darem as mãos para o embate. Estava sendo muito divertido para si, deixar a força da fera fluir por seus músculos, dispersando energia. Deixava que eles pensassem que podiam vencê-lo, apenas para alimentar sua própria arrogância.  

O mago dos tigres abaixou sua mão um quarto, mas só permitiu que chegasse até ai. Sorriu expondo os dentes pontudos antes de esmagar sua mão na pedra de madeira.  

-Parece que temos um colosso imbatível! - Evee exclamou, bêbada no colo de Freed, sendo a segunda narradora e juíza da competição. 

Provavelmente seria outra pessoa, mas não teve tempo de ver quem antes de Erza chutá-lo e tomar o lugar a sua frente com um sorriso competidor. Normalmente a competição seria entre Homens, mas neste ponto ninguém ligava mais para as regras iniciais. Além disso, a Scarlet podia facilmente comer mais da metade das pessoas ali na porrada facilmente.  

Aceitou o desafio da mulher semibêbada.  

-Vai! - Freed chancelou.  

E ela colocou pressão. A força da Titânia era claramente estúpida e maior do que a dos outros magos. Deixou sua besta assumir um pouco mais, contrapondo-se a ela em uma disputa acirrada. O granito trincou abaixo de seu cotovelo, e após longos minutos de tenção e apostas, finalmente a mão da rainha das fadas foi posta na mesa.  

Ela sorriu e gargalhou.  

-Vamos tentar de novo quando eu estiver sóbria! - Ela gritou erguendo outra garrafa de saquê.  

Tinha suado para derrubar a titânia. Ela chegou bem perto de ganhar. É, quem sabe uma disputa de verdade na próxima.  

Riu junto com animação.  

-Seria ótimo! - E assim firmaram para outra oportunidade.  

E seu humor teria continuado muito bom e coisa e tal caso a cadeira a sua frente dá última leva dessa rodada não tivesse sido ocupada por ninguém menos que Gajeel. Seu sorriso morreu no mesmo instante, enquanto ele abriu um meio torto.  

Viu de canto de olho Natsu ficar mais tenso e começar a girar a cabeça pela guilda. Sabia bem que ele estava procurando por Lucy para que ela o parasse se necessário. O que talvez fosse.  

A virulência se espalhou por seu corpo e a fera veio, deixando seus olhos vermelhos.  

-Acho que essa é uma boa forma de resolvermos nossos problemas. - Ele murmurou, colocando a mão posicionada pedra.  

Olhou para ela estendida em sua direção. Provavelmente ele queria se redimir, mas sabia que seu instinto assumiria o controle. Os dois eram dragões e, tal como aconteceu na disputa entre Sting e Natsu antes, a ânsia da rivalidade tomaria conta. Dragões gostavam de lutar, eram competitivos e territoriais.  

Não tinha como recusar.  

-Vai!  

Sua força fluiu em um rompante, contaminado seu corpo com um fluido quente e vivido. Não tinha intenção de brincar com Gajeel, tinha a intenção de mostrar a ele o que aconteceria se ele colocasse as mãos na garganta de Lucy outra vez. Não pode conter a gana. O instinto e sua intenção territorial vazaram e se espalharam para todos sentirem.  

A mão de Gajeel foi esmagada contra o granito, arrancando uma lapa significativa. Ele ficou pálido e um arrepio percorreu a coluna dos espectadores que ficaram mudos. A fera queria mais, mas o recuo do Dragão de ferro foi o bastante para contê-lo. O recado estava dado com um ar sombrio de morte. O clima estava tenso e ninguém falou nada por um tempo até que o juíz se pronunciou.  

-Muito bem, vamos rotacionar um pouquinho em... hehe! - Freed falou quase como se sugerisse, com medo de algo dar errado.   

O pálido Gajeel foi pego desprevenido quando foi chutado do lugar a sua frente por ninguém menos que Lucy.  

-Isso parece divertido! - Ela gritou.  

O clima tenso se tornou um estranho, por que ninguém sabia como agir e ao mesmo tempo sua fúria com Gajeel passou a ser um: Que merda é essa? 

A sua frente estava uma Lucy completamente bêbada - nem precisava de super nariz para sentir o cheiro do saquê -, descalça, com a blusa amarrada na frente de forma que parecesse apenas um top e exibindo ainda mais seus seios, os cabelos soltos, e a meia calça também já tinha sumido, o que era notório com a minissaia. 

-Lucy? - Freed exclamou.    

Ela o ignorou prontamente e o encarou. A maga sorriu antes de passar por cima da mesa e pular em seus ombros.  

-Acnologiaaaa! - Ela falou arrastada no processo. Quando o agarrou ela aproximou a boca de seu ouvido e murmurou baixinho. - Eu quero transar...  

Seus olhos viraram pratos e seu sangue ferveu. Como se nada tivesse acontecido ela sorriu e pulou, sentando em seu colo e voltando ao modo bêbada animada.  

-Isso é divertido? Eu quero tentar! Quem é o próximo? - Exclamou animada, saltitante em seu colo.  

Laxus - também chapado – riu.  

-Você teria que ter competido antes loirinha. Já estamos nas finais.  

Ela sorriu macabra e desafiadora contra o mago do trovão.  

-Está com medo de perder pra mim, loirinho? - Provocou. 

Isso era algo inédito o bastante pra todos engasgarem com a cerveja. Nunca, mas nunca mesmo, que esperavam ver Lucy Heartphilia provocando alguém pra uma briga. Laxus ficou vermelho, mas antes que fizesse algo outra pessoa aceitou o desafio.  

-Neste caso eu vou! - Exclamou ninguém menos que Jura, o mago santo que bebia com o mestre.  

Seu corpo enorme ocupou o acento a frente e ele sorriu.  

-Alguma objeção?  

SIM! Queria dizer, mas a Lucy bêbada e sem noção respondeu:  

-Nenhuma, grandão! Bora! - E o chutou de seu lugar, empurrando-o para a mesa dos espectadores assim como fez com Gajeel.  

Ao fundo pode ver Levy – a única não bêbada por causa da gravidez – apontar para si e depois bater a mão aberta em um punho fechado, murmurando com uma fala muda um clássico: Se fudeu! 

Se não estivesse tão chocado com a situação teria ficado com raiva.  

-Vai! - E a queda de braço começou.  

Todos imaginavam que o braço da maga celestial seria esmagado, afinal o físico de Lucy não era grande coisa, obviamente, mas não aconteceu. E soube o porquê.  

Sentiu a energia ser drenada de seu corpo. Sua maguinha estava usando sua marca a bel prazer novamente, pegando seus atributos, sua força bruta para si, tomando todo seu poder para usá-lo como seu.  

A pressão mágica foi absurda. Jura tentou contrapor com seu próprio poder e magia, mas sua força de imperador rei era muito superior a do mago santo. Lucy esmagou a mão enorme no granito, estraçalhando e esfarelando a mesa em pedaços com um barulho ensurdecedor. A guilda inteira ficou muda e de boca aberta com o poder que sentiram e com o que viram.  

-WOW! - Lucy gritou animada e erguendo os braços para cima, quebrando o choque. - Isso foi divertido pra caralho! Valeu Jura!  

E saiu do lugar saltitando em sua direção, com um olhar sapeca, pulando em seu colo e pagando uma caneca na mesa. Canna riu alto antes de levantar o seu copo de cerveja.  

-Ao poder feminino! Kampai!  

E como se toda a situação e tensão tivessem ocorrido há 2 anos e não a dois minutos, todos os magos absurdamente bêbados ergueram suas canecas e gritaram em conjunto.  

-KANPAI!  

E a velha queda de braço foi esquecida, dando lugar a outras discussões e apostas. Não teve a oportunidade de ser convidado para nenhuma delas, pois, saindo a francesa, Lucy o puxou pelos flancos da guilda, passando por fora, na área da piscina e ofurô, chegando nas cabanas de toalha e spa de massagem.  

-Lucy, o que diabos... - Estava prestes a jogar sua irritação de por que estava quase seminua, bêbada e etc, mas foi interrompido quando ela o agarrou pelo cos da calça e puxou para junto de si.  

-Shii..- Ela ordenou.  

O lugar estava deserto e escuro com a noite fria, mas isso não era nada para seus olhos potentes que não conseguiram parar de reparar nos olhos castanhos, bochechas rosadas pela bebida, e no cabelo solto desgrenhado que estavam absurdamente sexys.  

-Eu não gostei nadinha do seu exibicionismo. - Ela passou a mão por seu peito nu, devagar, secando-o com os olhos e mordendo o lábio no processo. O sangue desceu direto para seu pau. - As novatas da Saber ficaram te olhando. E eu pensei ter falado para não tentar matar Gajeell e esquecer aquilo de vez. Será que vou ter que ordenar...  

A lembrança de Gajeel retomou sua raiva. 

-O que ele fez... - Começou irado. 

Foi interrompido. 

-Não quero saber! - Ela exclamou e enfiou a mão em suas calças agarrando seu pênis.  

Arfou com o movimento repentino. Ela o acariciou, apertando a cabeça inchada e masturbando-o lentamente. O que ela estava fazendo? Sua mente começou a nublar e ficar confusa, incapaz de se focar na discussão. 

-Esqueça. - Ela se aproximou de seu peito, beijando e levantando os olhos para si. - Você é meu Acnologia, até o fim da sua vida e o passado não importa.  

A fera veio, rosnando em seu interior, ao mesmo tempo que algo mudava. Sentiu as correntes, sentiu a segurança em estar com ela e algo mais. Só que não teve tempo para pensar.  

Ela o empurrou contra a parede de uma das cabanas antes de se abaixar, abrindo sua calça, e puxando seu pau para fora, abocanhando-o sem hesitar. Pego outra vez de surpresa, não conseguiu fazer outra coisa além de fechar os olhos, jogar a cabeça para trás e gemer. Suas mãos foram automaticamente se embrenhar nos cabelos loiros, pedindo por uma sucção mais forte, e ela atendeu.  

A maga o engoliu o máximo que pode, antes de voltar, parando na cabeça e esfregando sua língua contra ela, como se estivesse chupando um pirulito. Suas bolas apertaram e sua barriga se contraiu. Mordeu o próprio lábio para se infligir dor, impedindo a si mesmo de gozar tão rápido, e percebeu seus dentes mais afiados do que deveriam.  

Aquilo estava bom demais e sexy demais... Sua maguinha nunca tinha feito isso antes, não ao ar livre, perto da guilda, onde qualquer um poderia pegá-los por que seria incapaz de sentir a presença de qualquer um chegando.  

“Mais...Ela é nossa” A fera rosnou em sua mente e corpo, tentando sair. 

Não! - Berrou de volta. 

Foi quando começou outra vez. Ela gemeu contra seu pênis, enviando um choque que foi até sua espinha. Começou a sentir... 

A marca tinha se ativado, o prazer, o amor, o sentimento dela, o desejo dela, tudo estava indo e fluindo em si também. Sua mente nublou e seus olhos reviraram. Era demais, tudo era demais pra suportar.  

“Nossa” A fera exclamou de novo, rasgando seu peito pra sair. 

NÃO! - A barrou outra vez. 

Não podia deixá-la sair. Ela não estava pensando, estava mais selvagem que o normal. Não podia. Não conseguiria evitar se transformar, e puta que pariu, podia morrer, mas não ia deixar um momento como aquele ser arruinado assim. 

Uma outra onda de prazer veio e lhe atingiu como um soco, junto com um desejo. Ela queria vê-lo gozar. Ela queria que gozasse. A expectativa lhe atingiu como um trem.  

Ela o masturbou com uma mão, tirando a boca de seu pau, e erguendo-o um pouco para lamber e chupar suas bolas. Seus testículos se apertaram ainda mais com a boca quente contra a pele sensível. Ela abandonou-as com um sopro gelado antes de voltar a boca a seu pênis. Uma de suas mãos permaneceu em suas bolas e a outra auxiliou na masturbação.  

Ela o sugou, forte, começando a chupar a cabeça com precisão, a língua esquia se esfregando na parte sensível da glande. O desejo lhe atingiu outra vez como um soco. Uma das mãos dela subiu para arranhar sua barriga. Ela queria que gozasse.  

Cometeu o erro de olhar para baixo, vendo a sena sexy entre as suas pernas, e os olhos castanhos fixos na sua reação.  

Oh, merda! 

Jogou a cabeça para traz e gozou. Gemeu, sentindo a corrente quente de prazer o sacudir, as pernas ficando bambas, o fogo se espalhando por seu ventre e sacolejando sua alma.  

Enquanto arfava como um afogado precisando desesperadamente de ar, ela engoliu toda sua porra. Após alguns segundos ela se levantou, beijando seu abdômen no caminho – e já tinha percebido que essa era uma das partes favoritas dela em seu corpo, só não sabia o porquê.  

Uma vez de pé, ela sorriu sapeca, passando o indicador nos lábios.  

-Vamos lá dragãozinho. Espero que meu recado tenha sido bem dado! - Murmurou, ficando na ponta dos pés para ficar mais próxima de seu rosto.  

A agarrou pela cintura, curvando-se um pouco e beijando-a com uma fome que nunca tinha sentido antes. Como amava aquela mulher! 

Os desejos dela ainda lhe eram latentes, o cheiro de sua excitação era ridiculamente forte e sua cabeça já estava no foda-se. Enfiou a mão por dentro da saia, encontrando a vagina molhada e enfiando dois dedos nela, checando se já estava pronta o bastante para levá-lo. Ela gemeu, derretendo-se em seus braços e seu prazer passou para si, deixando-o tonto. Ela não desfez o fluxo.  

Precisava entrar nela, e precisava com urgência. Seu pau, já duro, nem parecia ter gozado a minutos atrás. O desespero começou a percorre-lo com a pressa. Beijou-a de novo e remexeu os dedos dentro dela, esfregando o clítoris com a palma. Ela gemeu contra seus lábios e ficou mais molhada. Seu gemido desceu por seu corpo fazendo seu pau pulsar de dor.  

A puxou para mais perto de seu corpo.  

“Não é seguro” A besta o lembrou, rosnando, tão entorpecido quanto.  

Interrompeu o beijo com um rosnado bruto, removendo a mão da saia dela. Ela miou em protesto o que quase o fez tomá-la ali mesmo. Só que não correria o risco de fazer isso ali com caçadores tão próximos, muito menos de ser interrompido. Ah... se fosse interrompido... 

Agarrou sua bunda e a puxou para cima; suas pernas automaticamente se engancharam ao seu redor. Abriu a porta do chalé spa em um rompante com a pressa. Mal entrou trancando a porta, e já a prensou na parede, voltando a beijá-la de forma feroz.  

Precisava de mais. Mesmo com a dificuldade da posição, retirou a blusa e a saia, abrindo o botão lateral que a prendia, algo bem útil. Talvez se não fosse o afobamento teria notado a mesa de massagem confortável mais atrás que facilitaria as coisas, mas não se importou.  

O sutiã foi removido com a mesma pressa, e mau esperou ela removê-lo para abocanhar um deles, fechando os olhos e gemendo em deleite com a maciez.  

Ela gemeu, jogando a cabeça para trás e agarrando seus cabelos, puxando-os com fervor. O prazer dela o abateu de um jeito arrebatador, sua mente nublou outra vez e seu pênis pulsou, quase gozando. Não teria dúvidas que se o olhasse estaria roxo.  

A besta rosnou frenética em seu âmago. “Não. Mais! Dê a ela mais!” Começou a falar de forma desconexa em sua mente, tentando sair ainda mais.  

Largou o seio, respirando de forma entrecortada, dando a si mesmo uma breve pausa. Essa era a parte complicada de receber o fluxo. Não apenas tinha que lidar com a besta tentando vir a tona em sua irracionalidade, correndo o risco de estragar tudo e até mesmo de machucá-la no processo, mas também tinha que lidar com o prazer dela, o seu, e, por mais que seja uma tarefa bem simples em condições normais, manter-se de pé com Lucy em seus braços. Ela não pesava absolutamente nada perante sua força, mas tendo que dividir sua mente em tantas coisas tarefas simples pareciam enormes.  

Fique quieto! - Rosnou para a besta.  

-Acno! - ela gemeu, puxando seu cabelo para olhar em seus olhos antes de lhe mandar outro desejo.  

Estremeceu. Ela o queria. E ele também.  

Rasgou a calcinha sem medo, livrando-se de suas calças e se enterrando nela de uma vez. Seus olhos rolaram para cima quando sentiu o recando quente e apertado que seria apenas seu. Para sempre.  

Ela gemeu e rebolou para que começasse. Quase gozou. A apertou contra a parede, se enfiando o mais fundo possível, movendo os quadris de uma forma incessante. As mãos dela passaram por suas costas, as unhas arranhando suas omoplatas. Suas asas protestaram por estarem recolhidas, querendo sair a todo custo. Cerrou os dentes, fechando os olhos e enterrando o rosto em seus seios; grande erro.  

Seu controle estava se esvaindo e seu cheiro de morangos com o sexo não ajudava. Ela arqueou quando começou a mover os quadris, batendo em sua parte mais sensível ao mesmo tempo em que esfregava no clítoris. Outra onda veio, mostrando a ele todo o prazer que lhe dava, acompanhada do seu amor incondicional.  

Sua mente colapsou por um segundo; seu controle para não se transformar se esvaiu um pouco e uma de suas mãos se transformaram em garras. Não conseguiu evitar de fincá-las na parede de pedras para tentar se firmar quando seu corpo tremeu.  

“Me deixe sair” A besta rosnou.  

Apertou os olhos o ignorando, mas deixando que a força dela fluísse por si. Ela estava perto de gozar, e precisava disso. Não aguentaria mais muito tempo.  

Foi quando sentiu aquela necessidade outra vez. Era a mesma que o possuiu quando a marcou. Seus dentes ficaram mais pontudos, sua boca se encheu de veneno e um bolor de instintos veio a tona. Sentia que precisava marcá-la de novo, mais uma vez.  

Incapaz de lidar com mais uma sensação, deixou-se levar pelo instinto primário, fincando os dentes em seu ombro.  

“Sim!” Ouviu a besta rosnar.  

Sua magia foi drenada, sentiu sua alma sendo puxada como um puta soco de dentro de seu corpo, as correntes que o prendiam a ela ficaram mais fortes; Sentiu sua conexão mais forte, mais profunda...evoluindo! 

E nesse momento, perdeu-se em tudo.  

Lucy gozou, e todo seu prazer foi jogado pra dentro de seu corpo, suas mãos puxando seu cabelo, e o seu sentimento implacável. Rosnou e gemeu ao mesmo tempo, suas bolas explodindo e gozando tanto que pensou que fosse desmaiar. Se apertou junto a ela incapaz de permitir qualquer mínima distância e sua mente apagou. Seus joelhos dobraram, e teria caído no chão se não fosse pelo armário ao seu lado, onde se escorou, agarrando Lucy com as últimas forças que tinha para que ela não caísse.  

Escorregou com o apoio do móvel até chegar ao chão, arfando com a maga em seu colo, e mudando um pouco a posição, ficando com as costas apoiadas na madeira.  

Ela permaneceu junto a si, também absorvendo a sensação do orgasmo avassalador, com o rosto escondido em seu pescoço.  

-Eu te amo Acnologia. Nunca se esqueça disso... - ela murmurou sonolenta antes de praticamente desmaiar em cima de si, por causa do pôs sexo e a bebida que tinha tomado.  

Seu coração inflou dentro de seu peito arfante, recebendo o sentimento através da marca latejante. Fechou os olhos, encostando a cabeça no armário, e recebendo tudo aquilo de bom grado enquanto acariciava sua cabeça, incapaz de deixar de toca-la, esperando seu corpo se acalmar.  

Não sabia muito bem o que tinha sido isso, mas ignorou todo o perigo de ficar sem magia no meio de Magnólia, ter transado nos fundos da Fairy Tail, estar sonolento e cansado demais para levar ambos a um local mais seguro, e tudo mais. Só uma coisa veio a sua mente no momento, e foi incapaz de não verbalizar. 

-Eu também te amo Lucy... E nunca deixe alguém saber que deixo você me chamar de dragãozinho. 

“Há mais coisas entre o céu e a terra, do que pode imaginar nossa vã filosofia” 

  

 


Notas Finais


Então galera, bem vindos ao capítulo final dessa fanfic.
Obviamente ficaram algumas pontas soltas pq como prometi irei lançar alguns capítulos extras. Se tiverem sugestões de um cap cross com outros universos manda ai.
Eu demorei pq, como podem ver ta gordo essa joça, minha beta tinha sumido e minha avo faleceu e coisa e tals, mas chegou o cap. O próximo extra virá em breve.
Me digam o que acharam ai, estou curiosa pra saber.
O da minha outra fanfic vai sair tb, mas to meio com bloqueio então ta meio sem prazo.
Estou planejando uma próxima historia ou Nalu ou Acnolu. Espero que me acompanhem nela tb.
Sei que muita gente esperava que Lucy adotasse as crianças, mas tenho meus motivos para não fazê-lo, principalmente pelos caps extras, alem disso nunca foi minha intenção por um final 100% disney com um casal 2 filhos e um cachorro, ja que eles são um casal incomum e tem problemas. Detesto a ideia de casal perfeito e que todo mundo quer ter filhos, então sinto muito se esperavam isso.
Até a próxima, vou responder os comentários aqui XD


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...