As portas da guilda foram abertas bruscamente, revelando alguém que não tinha o hábito de abri-las assim: Lucy.
Ela andou, mecânica e rapidamente pelo hall da guilda, indo direto para o reformado salão lateral do bar, que agora contava com alguns sofás e puffs para aqueles que queriam beber confortáveis e bater papo, próximos a uma mesa de sinuca. Para a surpresa de todos ela ignorou os braços abertos de Acnologia, indo direto para um tamborete do bar, sentando-se bruscamente e pedindo:
-Tequila.
Elfman, que era o responsável pelo bar naquele horário, piscou surpreso. Cana tinha o péssimo hábito de beber as 10 da manhã, mas, vendo seu rosto chocado e olhos vazios que pareciam ter visto alguém sair do caixão, resolveu não retrucar, servindo uma doze.
Ela virou o pequeno copo de uma só vez e o ergueu antes de batê-lo no balcão pedindo mais uma enquanto seu rosto se retorcia em uma careta pela bebida forte.
-Ore, ore Lucy! Não sabia que tinha virado uma adepta aos meus costumes. – Cana riu, deitada em um dos puffs gigantes com uma garrafa de cerveja.
A maga a ignorou, voltando ao olhar vazio fixo no balcão enquanto apoiava ambos os cotovelos na madeira e cruzava os dedos em frente ao nariz.
O comportamento atípico de sua maga fez com que se levantasse da cadeira e, pondo uma mão em suas costas, perguntou:
-Você está bem?
Mas ela não respondeu ao dragão.
Isolde, que estava perto ajudando a organizar o espaço, sentou-se no tamborete ao lado.
-O que aconteceu? – Ela questionou, enquanto via Lucy virar mais uma dose.
Batendo o copo na mesa outra vez, a maga olhou para o nada, durante um longo minuto de silêncio, antes de começar a falar.
-Eu fiz uma missão que envolvia ajudar alguns Feéricos de Ossos a instalar algumas pedras rúnicas no terreno da casa nova deles e transportá-las.
Até ai tudo bem. Viram ela pegar a missão dois dias atras. Nada novo além de Acnologia ter ficado extremamente emburrado e arisco durante o tempo em que sua companheira se foi. Todos já estavam acostumados.
-E? – Isolde incentivou a continuar.
-Feéricos tem companheiras destinadas.
Enquanto carimbava alguns documentos de contabilidade e fazia umas checagens, Viego, que estava quase do outro lado do balcão do bar, falou:
-Isso não é novidade. A marca dos Dragões é a mais única por ser o tipo de ligação mais poderosa e misteriosa que tem, já que a espécie em si é rara e fazem muita questão de manter tudo em segredo. Mas eu pesquisei quando vocês trouxeram Isolde de volta. Elfos, Lincantropos, Feéricos e outras espécies tem esse tipo de conexão. Elas funcionam diferente, e tendem a ser bem menos poderosas, mas existem. Não é tanto uma exclusividade dracônica.
Isso não era novidade para ninguém. Até cisnes e lobos só escolhiam uma companheira por toda a vida, embora nenhum deles fizesse uma ligação de alma como os dragões.
-Ela é a companheira destinada de cinco caras.
Elfman deixou um copo cair, Viego ergueu os olhos dos papeis em choque, Cana engasgou com a cerveja e cada um foi tendo sua própria reação com a notícia.
-O que? – Elfman perguntou descrente.
Houve um longo minuto de silêncio.
-Espera, ela tem 5 maridos? – Cana perguntou, de repente parecendo até sóbria.
-É. – Lucy respondeu. – E não dá pra não pensar em um elefante rosa quando alguém fala sobre o elefante rosa.
Isolde apertou os olhos.
-Que elefante... – E então ela entendeu. – Ah.
Seu `ah` desanimado refletia o exato momento em que todos entenderam o que ela quis dizer. Houve um longo momento de silêncio. Viego foi o primeiro a falar.
-Uma doze também Elfman, por favor.
O grandalhão serviu a dose e uma adicional para si mesmo. Ambos viraram o copo.
-Por isso que você ta assim? Qual é mulher. Você vive comigo! – Cana apontou astutamente.
Com os olhos ainda fixos no nada, traumatizados e desejando que algo saísse do chão para leva-la a outra vida, Lucy falou.
-Quando eu fui buscar o meu pagamento hoje de manhã eu os vi, na cozinha. A imagem não sai mais.
-Mais 3 dozes. – Viego falou erguendo o copo.
-Pra mim também. – Disse Isolde.
-Me manda um Whisky. – Cana pediu, finalmente sendo traumatizada e abandonando a cerveja.
Elfman serviu a todos e virou uma garrafa de sake direto na garganta.
-Não entendi. – Acnologia falou sincero, quebrando o silêncio.
Talvez fosse por que ainda estava de manhã e, como sempre, não tinha dormido bem sem Lucy, além do stress que teve ao ajudar Natsu no dia anterior, mas não tinha entendido o motivo de Lucy estar com cara de que viu algo que não deveria e o que isso tinha a ver com elefantes rosas.
-Ela viu a mulher dando pra cinco caras ao mesmo tempo na mesa do café da manhã Acnologia. – Cana mandou na lata enquanto virava o copo. – Sua mente não é inocente, você devia saber.
A possível imagem veio direto no seu cérebro e então o elefante rosa fez sentido. Não conhecia as pessoas envolvidas, não sabia seus nomes e seus rostos, mas podia perfeitamente imaginar cinco indivíduos comendo uma mulher em cima da mesa, embora não conseguisse imaginar como eles fariam isso funcionar.
-Ahrg! – Se arrependeu imediatamente de saber e entendeu o motivo de Lucy estar parecendo esperar um buraco para entrar e ficar para sempre.
Passou o corpo por cima do balcão e agarrou uma garrafa de vinho, virando-a pelo gargalo na goela.
Todos ali precisariam de álcool para esquecer dessa cena.
Alguns longos minutos se passaram enquanto cada um se reconfortava com suas doses alcoólicas e refletiam sobre a informação que acabaram de ouvir.
-Será que ela taca as 5 rola pra dentro? – Cana cortou o silêncio lançando ao ar mais um elefante rosa.
-CANA! – Todos gritaram ao mesmo tempo.
Bêbada e já acostumada a ignorar represálias, ela deu de ombros.
-Vocês podem parar de se fingir de santos. Eu sei que isso passou pela cabeça de todos vocês, seus putos!
A pior parte disso é que ela tinha razão.
E lá se vai mais uma dose de tequila.
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