Nagisa
Voltamos para o apartamento, que também está sem luz, e olha que ele é bem distante da boate. Eu e a Gina entramos num dos quartos, todos os armários estão cheios de roupas, de diversos tamanhos, cores e modelos. Pego uma camisola que eu acredito que servirá nela, já está de noite e todos nós vamos dormir.
- Eu jurava que a sua cobra de estimação era branca. – Falo, entregando a camisola para ela, meu olhar está fixo na cobra ao seu lado, que é da cor preta.
- E é, essa é outra cobra. – Ela conta, deixando o lençol cair no chão. Fico vermelho e desvio o olhar, mesmo que sejamos primos, essa situação é muito desconfortável. – Você está vermelho! Nunca viu uma garota nua?
- Não, eu nunca vi. – Respondo, tenho certeza que minha coloração intensificou. – Como você enxerga meu rosto nessa escuridão?
- Não sei, só enxergo. – Ela diz, dando de ombros. – Provavelmente, é pelo mesmo jeito que você enxerga meu corpo, mesmo estando tudo escuro.
- Se essa cobra não é sua, porque ela está te seguindo? – Questiono, tentando mudar de assunto, antes que eu pareça um pimentão.
- Você só sabe fazer perguntas? – Ela retruca, dando uma leve risada no final. – Pode virar o rosto, já estou vestida.
Encaro minha prima, sem saber o que falar. Minhas memórias sobre ela ainda não voltaram, a Gina é quase uma estranha para mim. Ficamos encarando um ao outro em silêncio, sinto que tem algo para ser dito, mas não sou eu que quero falar.
- O que você quer falar? – Indago, sentando-me na cama de casal atrás de mim.
- Meu irmão, eu preciso encontrá-lo. – Afirma a Gina, imaginei que ela iria querer ir atrás do irmão, mas não pensei que seria tão cedo.
- Prometo que eu vou te ajudar a achá-lo, mas primeiro preciso achar a Kayano. – Explico, não colocando o nome dos outros nessa promessa, não sei se eles estariam dispostos a ajudar a resgatar meu primo, vendo a dificuldade que foi convencê-los a ajudar-me a resgatar a Gina.
- Que bom que você tocou no nome dela! – Exclama a Gina, sentando-se ao meu lado. – Te devo desculpas, não deveria ter feito o que fiz.
- Do que você está falando? Você fez algo com a Kayano? – Interrogo, ficando um pouco desconfiado. Ela me olha incrédula, como se eu tivesse falado alguma loucura.
- Acho que você está com problema de memória, parece não se lembrar de nada do nosso passado. – Minha prima diz, não deixo transparecer que ela está certa. – Você ouviu, há alguns anos, uma conversa de telefone minha. Você presumiu que eu fosse uma criminosa, ameaçou contar para minha mãe e para a sua mãe o que você ouviu, e eu não podia deixar isso acontecer. Eu fiquei apavorada, então ameacei matar a Kayano se você contasse para alguém algo sobre a minha conversa com o meu irmão.
- Quanto anos nós tínhamos? – Interrogo, sei que essa é uma pergunta estranha, mas a resposta dela é crucial para o meu quadro de suspeitos.
- Doze. – Ela responde, isso quer dizer que, nessa época, ela devia estar na minha casa.
- Você só ameaçou a vida da Kay? – Questiono, querendo saber os mínimos detalhes dessa antiga conversa.
- Não, também ameacei te matar. – A Gina conta, pelo menos ela está sendo honesta. Ela conseguiu confundir a minha cabeça, não sei se ainda devo considerá-la uma suspeita.
- Achamos lanternas! – Exclama o Hibiki, entrando no quarto e apontado sua lanterna, cubro meus olhos por conta da luminosidade. – Se vocês não quiserem dormir, o pessoal tá reunido lá na sala.
Minha prima boceja, ela trata de pôr a mão sobre a boca aberta e deita na cama.
- Estou muito cansada. – Ela afirma, se ajeitando na cama. – Vou dormir.
- Vou ficar com você. – Fala o Hibiki, tacando sua lanterna para mim. Pego-a e levanto da cama, dando espaço para ele se deitar ao lado dela. Fecho a porta depois que saio do quarto, o Akira e a cobra da Gina saem do quarto pouco antes deu fechá-la. Vou para a sala, onde estão as meninas, sinto-me confortável pelo Karma não estar aqui.
- Aceita uma taça? – Pergunta a Rio, estendendo uma taça de cristal com um líquido arroxeado. Deixo a lanterna ligada e coloco-a ao lado das outras, que estão iluminando toda a casa. Pego o copo e viro tudo de uma vez, duvido que eu vá dormir essa noite.
# Quebra de tempo #
Não tenho noção do quanto eu bebi, mas tenho noção de que horas são. De acordo com o relógio da Okuda, são 5:00 da manhã. Rio de tudo que falam, mesmo que eu não entenda.
- Aí, bem nessa hora, uma das freiras entrou na cozinha! – Conta a Yuna, narrando as peripécias que ela aprontou no convento. – Fiquei trancada no meu quarto durante duas semanas, mas valeu a pena.
Termino de beber outra garrafa de alguma coisa, deve ser vinho ou algo do tipo.
- Também teve aquela fez q... – A Yuna diz, mas é interrompida por um grito masculino, estou bêbado demais para distinguir de quem foi o berro. A primeira a levantar é a Rio, que é a que parece estar mais sóbria.
- Acho que foi o Karma, vou ver se ele quer alguma coisa. – Fala a loira, mas ela é segurada pela Okuda, que a puxa para baixo.
- Ele deve estar bem, não precisa ir. – Afirma a Okuda, enrolando as palavras. A Rio concorda e se senta novamente. Volto a olhar para a Yuna, esperando que ela continue a contar suas histórias hilárias. Minha amiga abre a boca, para contar sua história, mas, antes que ela diga algo, o barulho de algo se quebrando ecoa por todo o apartamento. Levanto-me em pernas bambas, nós vamos até o quarto do Karma. A Rio abre a porta do seu quarto, revelando um vaso destruído no meio do quarto, claramente tacado pelo Karma, o único no quarto. Os olhos dele encontram o meu, na mesma hora desvio o olhar.
- Por que você quebrou o vaso? – Indaga a Rio, com a cabeça baixa, olhando os cacos. O Karma olha para o lado, o lado oposto ao que ele está. Também olho para lá, tentando ver o que ele vê, mas não tem nada ali.
- Chega! – Ele exclama, olhando para o nada. O Karma anda até lá e agarra o ar, como se estivesse segurando o braço de alguém. Ele passa por nós, sem pronunciar uma palavra sequer. Seguimos o Karma, que até parece estar bêbado. Ele pega uma de nossas lanternas e sai do apartamento, nós paramos de segui-lo assim que o Karma passa pela porta do apartamento.
Karma
- CHEGA! – Grito, largando-a e puxando os fios do meu cabelo. A Kimi se endireita, com um sorriso convencido no rosto. – Não quero ouvir mais nenhuma ameaça sua! Principalmente se o alvo das ameaças for a Nagisa!
- Ah Karma, você costumava falar que eu era inocente, mas você é bem mais que eu! – Ela conta, seu rosto está extremamente sereno, a Kimi não demonstra sentir medo. – Só quero te proteger dela.
- Me proteger dela? – Questiono, sem acreditar no que ela fala. – Que eu saiba, a única pessoa perigosa aqui é você.
Faço sinal para um táxi que passa, a cidade está deserta por causa do apagão.
- Não estou falando de proteger fisicamente. – Retruca a Kimi, entrando no táxi junto comigo. – Estou tentando proteger o seu coração.
- Quero que me leve para o mais longe possível daqui. – Peço ao motorista, que olha para mim pelo espelho retrovisor.
- Serve a usina de energia elétrica? – Ele interroga, concordo, já que não conheço nada daqui.
- A Nagisa nunca machucaria meu coração. – Afirmo, não importo-me que o motorista pense que eu sou maluco, vou continuar essa conversa até que a Kimi suma.
- Ela vai machucar seu coração. – Ela fala, com tanta convicção que fico com dúvidas, dúvidas que logo afasto.
- Você não tem como prever isso.
- Sou um espírito, Karma. – Ela conta, recostando-se no banco. – Eu tenho acesso ao que já aconteceu, ao que está acontecendo e ao que vai acontecer. Basta eu tocar numa pessoa, que consigo ver seu nascimento até a sua morte.
Fico arrepiado com sua fala, ela já me tocou diversas vezes, o que significa que a Kimi sabe tudo sobre a minha vida.
- O futuro não é certo. – Digo, agarrando-me à essas palavras para não acreditar nela. Não quero crer que a Nagisa vá me machucar.
- Você tem razão, o futuro vive em constante mudança. – A Kimi confirma minha frase, seus olhos estão grudados no teto do táxi. – Mas o passado é certo, ele não pode mudar. Eu vi o passado dela, descobri coisas que você nem sequer imagina.
- O que você sabe sobre a Nagisa? – Indago, preciso saber se suas palavras são verdadeiras, preciso saber o que é isso que a Kimi diz que irá machucar-me tanto.
- Eu quero falar, você não tem noção do quanto eu quero te contar. – Ela fala, encarando-me nos olhos. – Mas eu não posso, não tenho permissão.
- Então conte sobre o meu passado, quero saber se você diz a verdade. – Desafio-a, nada deve impedi-la de contar coisas que eu já sei. Se a Kimi não contar, é porque ela está mentindo.
- Também não posso falar sobre isso. – Ela afirma, com voz de lamento. – Eu chorei muito quando vi seu passado, ele é muito mais triste do que você pensa.
- Por que você não pode contar-me sobre meu próprio passado? Sobre as coisas que eu vivi e me lembro? – Questiono, desacreditando na sua palavra, a Kimi está mentindo para me botar medo.
- Porque eu sei tudo sobre o seu passado, desde que você saiu da barriga da sua mãe. Algumas coisas você era muito jovem para se lembrar, e essas coisas devem ser mantidas em segredo. – Explica a Kimi, com a cabeça apoiada na janela.
- Como eu posso acreditar na sua palavra, se você não me conta nada? – Pergunto, para ela entender meu ponto de vista. Sua cabeça vira subitamente na minha direção, assim como sua mão vai para o meu braço. Ela o aperta por alguns segundos, a Kimi solta meu braço, com um sorriso imenso no rosto.
- Tem uma coisa do seu futuro que eu posso contar. – Ela fala, sentando mais perto de mim. – Toda vez que toco em você, consigo ver seu futuro. Cada vez que o toco, seu futuro está mudado, mas uma parte sempre aparece, em todos os seus futuros.
- E o que seria? – Interrogo, escondendo meu extremo interesse, não é todo mundo que consegue expiar seu próprio futuro.
- Você irá se casar comigo.
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