Nagisa
- GINA! – Chamo por ela, que saiu correndo no momento em que saímos do prédio. Eu e o Hibiki a perseguimos, minha prima está transtornada.
# Quebra de tempo #
Ela se cansa de correr, permitindo que eu e o Hibiki a alcancemos.
- NÃO É JUSTO! – Minha prima grita, recostando-se num portão de ferro. As lágrimas não param de cair de seus olhos. O Hibiki a abraça, ela logo esconde seu rosto na curvatura do pescoço dele.
- Pensei que a Aya não fosse sua cobra de estimação. – Falo, ela mesma contou que sua cobra de estimação é branca, o que não condiz com a cor da cobra morta.
- Eu tinha três cobras de estimação. – Ela começa a explicar, afastando-se um pouco do Hibiki. – Você conheceu a Arisu, minha cobra branca de olhos vermelhos, que eu crio desde que eu tinha quatro anos. Depois veio a Akane, minha cobra vermelha de olhos verdes, crio ela desde que eu tinha sete anos. E, depois delas, eu encontrei o ovo da Aya aos dez anos.
- Gina, eu sinto muito pela Aya. – Digo, mas minhas palavras soam vazias, não imaginei que sentiria tanto com a morte do Akira.
- A Aya não era só o meu bichinho, ela fazia parte da minha família. – A Gina afirma, com seus olhos mudados, de que um jeito assustador. – Aqueles dois vão pagar por ter tirado ela de mim.
Vou calmamente para o lado dela, é possível sentir uma áurea assassina ao redor da minha prima. Sem mais nem menos dou um tapa na sua cara, o que faz seus olhos voltarem ao normal.
- Não perca a cabeça. – Alerto-a, estava claro que, daqui a pouco, ela tomaria uma atitude precipitada.
- Eu preciso comer alguma coisa. – Ela desabafa, não imaginava que a Gina fosse falar isso. – Na verdade, preciso de sorvete de creme com calda de chocolate, granulado, biscoito e morango.
- Simplificando, você quer ir numa sorveteria. – Afirma o Hibiki, minha prima concorda com ele. – Então vamos atrás de uma.
Gina
Não consigo aceitar a morte da Aya, ela só tinha cinco anos, tinha tanto tempo de vida.
Flashback on:
- Gina, vamos entrar. – Meu irmão pede, pela décima vez.
- Espera Shiro! Daqui a pouco minha nova cobrinha vai nascer! – Exclamo, tentando manter a calma, ele tem o péssimo hábito de me irritar.
- Está frio. – Ele afirma, cruzando os braços para tentar esquentá-los. – E está tarde. Temos que ir trabalhar amanhã cedo.
- Pare de ficar me lembrando! – Peço, sem tirar os olhos do ovinho. – Esse é um dos poucos momentos que eu esqueço a realidade e sou apenas uma criança, não estrague isso para mim!
- Tudo bem. – O Shiro suspira e cede, se ajoelhando ao lado do ovo.
- Qual nome você dará? – Questiona o Takeshi, surgindo do nada.
- Se for menina, vai se chamar Aya. Se for menino... Vai se chamar... – Paro a frase, não tenho a mínima ideia de qual nome daria.
- Se for menino vai ser meu. – Diz meu irmão, nesse momento faltou pouco para eu não enfiar a minha mão na sua cara.
- Pode tirando o olho da minha cobra! Você já tem três, e eu só tenho duas! – Exclamo, dando um empurrão nele. O Shiro perde o equilíbrio e cai na terra, logo ele e o Takeshi começam a rir.
- Relaxa maninha, não sou louco o suficiente para tentar tirar as suas cobras de você. – Ele afirma, voltando a ficar ajoelhado ao meu lado. Meu irmão me abraça, sua pele está um pouco mais quente que a minha. – Você está gelada.
- Takeshi, diga para meu irmão o que vai acontecer com ele se ele continuar insistindo para eu ir para dentro. – Peço, o Takeshi conhece meu irmão melhor, mas ele também é meu amigo.
- Acho melhor você parar de incomodá-la, senão vai acabar levando um tapa. – Ele fala, acertando em cheio o meu pensamento.
- Olha! Está quebrando! – Meu irmão avisa, apontando para o pequeno ovo na nossa frente. Nós três nos aproximamos, quase colamos nossos rostos no ovinho. Uma pequena cobra preta de olhos verdes sai lá de dentro. Pego ela na mão e vejo qual é o sexo.
- É uma menina! – Exclamo, dando um pulo que me põe de pé. – É a Aya!
- Ela é de uma cor muito bonita. – Meu irmão elogia, fico corada, como se o elogio tivesse sido dirigido a mim.
- Sim, o preto e o verde combinam perfeitamente. – Concordo, hipnotizada pela beleza daquele pequeno ser.
- Gina, se você soubesse o quão fofa fica perto de cobras bebês... – O Shiro deixa a frase no ar, não gosto que me chamem de fofa.
- EU NÃO SOU FOFA. – Grito, tomando bastante cuidado com a Aya na minha mão.
- É sim. – Ele insiste, melhor não discutir com meu irmão, o Shiro sempre teve essa mania irritante de me chamar de fofa. – Você parece ter dupla personalidade. Com cobras você age de um jeito e com humanos você é completamente diferente.
- É que as cobras nunca me magoaram ou me machucaram, diferente dos homens. – Respondo a sua pergunta não feita, meu irmão me abraça novamente. – Você sabe que, apesar do meu jeito grosso, eu te amo, né?
- Claro que sei. – Ele conta, passando a mão no meu cabelo. – Só queria que você derrubasse essa sua parede quando está comigo.
- Que parede?
- Você criou uma proteção para que ninguém te machuque ou te magoe, e isso bloqueia seus sentimentos. – Meu irmão explica melhor, foco meus olhos onde me sinto mais confortável, que é na Aya. – Mas eu sou seu irmão, nunca vou te machucar ou te magoar. Você não precisa usar essa armadura perto de mim.
Flashback off:
O Nagisa e o HIbik voltam com os sorvetes, eles fizeram o meu exatamente do modo que eu pedi. Como o sorvete rapidamente, nunca senti tanta fome na minha vida.
- Gelado. Gelado. Gelado. – Falo, percebendo que comi rápido demais o sorvete, que deixou minha boca mais fria que uma pedra de gelo.
- Quer beber alguma coisa quente? – Pergunta o Nagisa, na mesma hora sinto uma enorme vontade de tomar um cappuccino de chocolate e creme, com chantilly, canela e biscoito.
Nagisa
Eu e o Hibiki já estamos esperando ela voltar a um século dos exames. Do nada ele se levanta, passo a encará-lo.
- A Gina me pediu para comprar jujuba e, como está demorando, vou começar a procurar a jujuba. – Ele explica, o Hibiki sai correndo do hospital, deixando-me sem ter ninguém para conversar.
- Jujuba? – Indago para mim mesmo, é cada pedido mais doido que ela tá fazendo.
# Quebra de tempo #
A Gina finalmente chega, mas o Hibiki ainda não voltou.
- O que deu os exames? – Interrogo, minha prima olha em todas as direções, e não responde a minha pergunta.
- Cadê o Hibiki? – Ela questiona, percebo que na sua mão tem um grande envelope, provavelmente com o resultado dos exames.
- Ele saiu para comprar a sua jujuba. – Respondo, tentando pegar seu exame, mas ela desvia a mão antes. – O que deu nos exames?
- Os exames estão ótimos, os machucados são apenas superficiais. – Ela afirma rapidamente, com um sorriso pouco convincente no rosto.
- Por que demorou tanto?
- O médico quis fazer vários exames, só para se certificar de que está tudo bem. – Ela logo explica, ainda mantendo seu exame longe do meu alcance.
- Está tudo bem mesmo? – Questiono, deixando transparecer minhas dúvidas, a Gina não parece muito bem.
- Por que mentiria sobre minha saúde? – Minha prima interroga, não tenho argumentos para rebatê-la. Caminhamos até a saída do hospital e, no meio do caminho, passamos por uma lixeira, onde ela joga o seu exame.
Karma
- Onde você encontrou esses dois? – A loira pergunta, sem tirar os olhos das duas crianças.
- Na usina de energia. – Respondo, lembrando do acampamento que encontrei lá.
- E você traz eles para cá? Sem nem consultar a gente? – A Okuda interroga, até parece que eu trouxe essas crianças por benefício próprio, fiz isso pensando no bem da Kay.
- Nós precisamos deles! – Exclamo, para relembrá-los da carta da Miko.
- Como assim, precisam de nós? – A Mayumi indaga, sem se mover. Olho para todos os lados, na esperança de arranjar alguma mentira, não quero contar a verdade para eles, não agora.
- É que... – Começo a falar, sem ter a mínima ideia de qual rumo essa frase vai pegar. Ninguém nota a minha demora em responder, todos estão olhando para um mesmo ponto. Encaro a mesma coisa que todos, perplexo é pouco comparado ao meu estado.
- Essa cobra não estava morta?! – A Yuna quase grita, escondendo-se atrás das irmãs, ela aparenta ter muito medo de cobra.
- Não é possível! Nós matamos as duas! – Afirma o menino, chegando mais perto da cobra preta, que se mexe no chão. A cobra levanta a cabeça, revelando olhos de uma cor diferente. Os olhos deveriam ser verdes, mas, ao invés disso, são roxos.
- Não... – Sussurro, reconhecendo os olhos na mesma hora. A possibilidade da Kimi conseguir possuir corpos mortos me deixa apavorado, isso a torna ainda mais poderosa.
- Vocês todos vão morrer. – A cobra fala, com uma versão assustadora da voz da Kimi. As crianças e a Yuna ficam, literalmente, de cabelo em pé.
- E-Essa cobra falou! – Exclama a Okuda, dando alguns passos para trás. A Rio pega e atira na cobra, seus três tiros acertam a cobra em cheio.
- Acho que você errou. – Diz a Kimi gargalhando, com certeza ela possuiu a cobra. Sai muito sangue dos buracos de bala, mesmo assim a cobra se movimenta, com os olhos lilasés brilhando de maneira sobrenatural.
- Vai pegar a faca. – Ordena a May ao garoto, que fica imóvel perante seu comando. – VAI LOGO!
O Kazuki parece voltar a realidade e sai correndo, provavelmente indo fazer o que a amiga mandou. A Mayumi anda até ficar cara a cara com a cobra, ela é completamente maluca para se arriscar desse jeito.
- Vêm me pegar. – Desafia a Mayumi, encarando dentro dos olhos da cobra. A Kimi não hesita em atacá-la, mas o ataque não sai bem sucedido. A menina pega a cobra em pleno ar e a segura, usando suas duas mãos. A cobra negra se contorce e tenta morder a garota, que consegue evitar as mordidas.
- Pronto Mayumi. – Diz o menino, entrando na sala com uma faca. Nesse momento ela relaxa o aperto, o que permite que a cobra a morda.
- PARTA ELA AO MEIO! – Berra a garota, provavelmente um reflexo da dor que ela deve estar sentindo, já que a cobra mordeu e não soltou seu braço. O Kazuki obedece ao pedido da menina e corta a cobra ao meio, matando-a de vez.
- Você está bem? – O menino indaga, indo para o lado dela. O moletom da May tem duas enormes marcas de mordidas, que devem ter perfurado profundamente a pele, mas nenhuma gota de sangue sai de sua ferida.
- Está doendo muito. – Responde a Mayumi, colocando sua mão sobre a ferida.
- Aquela cobra era venenosa? – Questiona a Rio, sem dúvidas a pergunta foi dirigida à Okuda.
- Venenosa?! – Fala a Okuda, ajeitando seus óculos. – Aquela é uma cobra-rei!
- Uma cobra-rei?! – Todos nós exclamamos ao mesmo tempo, claro que conhecemos essa cobra.
- Sim, a cobra-rei é a serpente mais venenosa do mundo. Seu veneno pode matar em questão de minutos. – Informa à de óculos, encarando a menina com preocupação.
- Temos que levá-la para o hospital. – Afirmo, não vou ficar esperando a Mayumi morrer, talvez ela tenha salvado a vida das minhas amigas ao segurar a cobra.
- Não vai dar temp...
- Será que vocês podem calar a boca? Minha irmã está com dor! – O Kazuki nos reprende, ficando na frente da irmã, que está sentada no sofá.
- Agora a dor já está suportável. – Conta a menina, se levantando sem a mínima dificuldade do sofá. – Pegue as nossas mochilas, nós ainda vamos sair.
- Você acabou de ser mordida por uma cobra muito venenosa! Você não pode ir a lugar nenhum porque vai morrer. – Aviso, acho que sou muito direto.
- Não tente entender. – Diz o garoto, aparecendo com duas mochilas, ele não parece estar nem um pouco preocupado com a irmã.
- Não garanto que voltaremos hoje. – Explica a May, pegando uma das mochilas, acho que eles ainda não entenderam a gravidade da situação. – Nem tente nos impedir, nós estamos indo trabalhar.
- Trabalhar com o que? – Pergunta a Rio, também estranho a frase deles, ninguém emprega duas crianças de nove anos.
- Nós somos caçadores de recompensa. – Conta o Kazuki, eu não esperava por isso. Acabo tendo uma ideia, algo que, se der certo, me permitirá mantê-los na linha.
- Vocês trabalham como mercenários?
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