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História A base de mentiras - Minha outra vida - Parte dois



Notas do Autor


Oiii pessoal! Como estão?!

Uma coisa que eu não deixei clara no capítulo, a mordida da Nix é tão venenosa quanto a de uma cobra, talvez até mais. E é só isso mesmo ^-^

Boa leitura!

Capítulo 235 - Minha outra vida - Parte dois


Fanfic / Fanfiction A base de mentiras - Minha outra vida - Parte dois

Afrodite

 

- Como isso foi acontecer?

- Conseguiu fugir da Deusa da Morte? – Pergunto, sem virar-me para vê-lo, só pela voz sei que é Hades.

- É você que está fugindo da minha pergunta. – Ele retruca, mas é claro que fugiu, até parece que Nix levaria de boa Hades vir até mim. – Eu conheço... Conhecia você.

- Falou bem, conhecia. – Afirmo, confesso não saber porquê está aqui. – Os Deuses mudam.

- Quando?

- Naquele dia. – Respondo, qualquer um ficaria perdido, porém sei que Hades entendeu, sabe muito bem de que dia falo.

- Quanto tempo depois?

- Alguns minutos. – Falo de forma indiferente, não preciso mais fingir na frente dele, se bem que nunca é bom baixar a guarda e correr o risco de ser exposta. – Talvez menos.

- Como?! – Ele exclama, apesar de não conseguir sentir, eu entendo muito bem de emoções, e ele parece inconformado, com um toque de aflição.

- Eu sei o que está sentindo. – Digo, ainda possuo as lembranças remotas e longínquas do que senti, e o porquê de sentir. – Peso na consciência, isso é algo que corrói até a alma.

- Por que eu teria peso na consciência?

- Porque sabe que errou. – Respondo-lhe, vendo que o mesmo está se recusando a aceitar. – Está arrependido de ter me dado as costas, não está?

- Não. – Ele nega, dando vários passos para trás. – Você era um monstro, você destruiu a vida da Nix.

- Por favor, poupe-me de suas tentativas de amenizar sua culpa. – Peço, revirando os olhos diante de sua fala, não sou a Nix para ele mentir para mim. – Sabe muito bem que, se não fosse por mim, você e a Nix estariam mortos há muito tempo.

 

Flashback on:

 

Cubro minha boca com as mãos, tentando abafar o som do meu choro, mesmo não tendo ninguém aqui para escutar. Sou eu que não quero ouvir, quero engolir novamente minhas lágrimas e sorrir fingindo que está tudo bem, mesmo não estando. Tem alguma coisa errada comigo, não sei dizer o que é, porém existe alguma coisa tremendamente errada.

Pouco a pouco, é como se os sentimentos fossem se apagando. Primeiro a felicidade, não consigo sorrir nem quando estou perto de minha irmãzinha, depois esperança, agora tudo não passa de um tormento que nunca chegará a um fim... Entre tantos outros que, simplesmente, sumiram, prossigo lutando contra algo que nem sei o que é, agarrando-me na única coisa que consigo sentir, tristeza.

Não sei porque ainda me esforço, está claro que, seja o que for, está me consumindo, e não há como parar. Estou sofrendo em vão, resistindo em vão e, de uma forma geral, vivendo em vão. Deveria, simplesmente, ceder.

- Co-Co... – Tento falar, mas os soluços me interrompem. – Co-Coração, me-meu coração.

Com um pouco de espera, uma imagem quase translúcida aparece no ar, mostrando-me o que eu queria ver. Está bem mais trêmula que as outras, deve ser porque não consigo reunir concentração e foco suficiente para isso.

Era vermelho, nunca foi completamente vermelho, mas a maior parte era vermelha quando aprendi esse truque, a estranha capacidade de enxergar um coração e algo mais. Agora, praticamente tudo é escuro, um preto mais escuro que o céu. Até mesmo uma fina cúpula branca, quase transparente, está negra, quase não permitindo que eu enxergue o coração em seu interior.

- Não adianta... – Murmuro, girando a imagem até encontrar um minúsculo pontinho vermelho, brilhando fracamente entre o preto. – Diminui cada vez mais... Desapareça.

A imagem logo some, deixando-me completamente só nessa sala, sempre venho para cá quando quero chorar. Quase ninguém vem aqui, poucas pessoas tem a chave e a permissão para vir aqui, a sala onde todas as chaves estão guardadas.

É por isso que estranho, até me assusto, quando a porta é aberta. Trato de secar meu rosto, mas não é como se fosse adiantar algo, é só olhar para mim que dá para ver, claramente, que eu estava chorando.

- A-Afrodite?! – O menino gagueja, se bem que menino é um termo estranho para se referir ao meu tio, que é muitos anos mais novo que eu.

- Hades? – Repito seu nome, tão confusa quanto ele. Se eu não deveria estar aqui, meu tio muito menos. – O que faz aqui?

- E-Eu me confundi. – Ele fala, eu já tinha certeza que mentiria, sua gagueira só serve para comprovar minha teoria. – E-Era pra e-eu en-entrar em outro lu-lugar.

- Nesse corredor, essa é a única porta que tem. – Afirmo, e esse nem é o maior furo. – Para entrar aqui, precisa de uma chave, você não deveria ter essa chave.

- Te-Tenho uma cha-chave mestra. – Ele diz, sem ter ciência de que não temos uma chave dessas por aqui, seria muito arriscado. – Bo-Bom vou te-tentar achar a sa-sala certa.

- Se continuar mentindo, eu vou contar tudo para papai.

- Não, por favor. – Ele implora, tremendo dos pés a cabeça, é isso que a menção de papai faz com as pessoas. – Não fa-fala nada com e-ele.

Estava blefando, eu não conseguiria fazer isso, principalmente por saber como papai o trata. Além disso, Hades é apenas uma criança, acabara de completar 12 anos. De acordo com os boatos que me contaram depois que retornei, Hades é o irmão mais novo de meu pai e Poseidon, fruto de outro relacionamento da minha vó.

Aparentemente, minha vó nunca foi uma boa mãe, por isso meu pai e meu tio saíram de casa novos e construíram suas vidas, mas se uniram para se vingar da mãe, deparando-se com um irmão mais novo no meio do caminho. Sem mãe, sem casa, sem nada, a única opção de Hades foi vir para cá com os irmãos e fazer qualquer coisa que mandassem para ter onde dormir e o que comer.

- O que queria aqui?

- Uma chave. – Ele murmura, sem se atrever a tentar sair ou mentir.

- Para quê? – Indago, apesar de saber que não veio parar aqui por acidente, também não pensava que viria atrás de uma chave.

- Existe a lenda de uma garota que vive lá embaixo, presa e torturada. – Ele conta, nem precisaria continuar para eu saber de quem se trata. – Eu não acreditava nisso... Até que eu a vi uma vez, então Gaia, a irmã dela, pediu que eu a tirasse daqui.

- Sabe que sair daqui é, praticamente, impossível, não é?

- Não para mim. – Ele responde, mas não é com superioridade, sua voz sai com uma humildade impressionante. – Por isso que Gaia pediu minha ajuda... Ela é a única que sabe o que posso fazer.

- A chave original e as cópias da cela dela não ficam guardadas aqui. – Afirmo, enfiando a minha mão por debaixo do decote da blusa. Agarro a chave e puxo-a, tirando o colar. – Pode levar a minha.

Taco-a no chão, bem aos seus pés. Essa chave vem pesando em meu pescoço há muito tempo, quero passar essa responsabilidade adianta e esquecer que um dia estive envolvida nisso.

- Por que você tem a chave?

- Porque eu conheço-a. – Falo, espantada com sua inocência, quem me dera ter sido assim aos meus 12 anos. – Eu vejo-a... Com muita frequência.

- As histórias são verdadeiras? – Ele interroga, apertando com força a chave na sua mão. – É verdade que vocês... Espancaram, queimaram, afogaram, esfaquearam, fuzilaram, estupraram... Ela? Vocês mataram aquela garota que apareceu na enfermaria? A irmã dela?

- Foi um acidente. – É minha vez de murmurar, não era para aquilo ter acontecido, não era para uma delas morrer. – Não era... Não era para aquilo acontecer. As espadas foram trocadas, e ninguém percebeu a diferença até que fosse tarde demais...

- Ela foi a primeira que eu vi morrer, ninguém machucado morre aqui.

- Ela era diferente. – Desabafo, esse pesadelo vem me assombrando há muito tempo, é um assunto que evito a todo custo. – Tudo... Tudo nela deu errado! Não era para a morte ser capaz de morrer, não era para ser aquela espada, não era para ela se mexer, não era para ser eu ali... Devia ser Artêmis lá, não eu! Se ela não tivesse inventado de mexer com cobras, não estaria se recuperando e eu nunca precisaria assumir o seu lugar... DROGA, EU MATEI UMA CRIANÇA!

Hades me encara com os olhos ainda mais arregalados, só então percebo o surto que tive, é que nunca falei abertamente sobre esse assunto, e eu não estou na minha melhor forma psicológica.

- Eu vou i...

- Não, não vá agora. – Alerto, recobrando meu tom normal. – Ela não está lá, está com Ares, você não vai encontrá-la. Espere umas duas horas, só então vá.

- T-Tá.

- E leve roupas para ela.

- Por que?

- Porque eu conheço meu irmão. – Respondo, não gosto de mencionar o que sei que fazem com ela. – A Nix nunca volta com roupa depois de passar pelas mãos de Ares.

 

Flashback off:

 

- Você nunca contou a ela. – Afirmo, apesar de não ter certeza, acho que, se ele tivesse contado, a Nix não me odiaria tanto. – Não é?

- Isso não mudaria nada, ela continuaria te odiando por tudo que fez.

- Mas você não contou. – Friso, não me importo com a opinião da Nix sobre mim, não me importo com nada. – Está mentindo, há milênios, para ela.

- Quando nos encontramos novamente... Aquela não era mais você, certo?

- Sim. – Respondo, quando nos reencontramos, eu já havia quebrado há muito tempo, o mesmo tempo em que eles estavam desaparecidos. – Quem você acha que percebeu o ponto fraco dela e contou para Ares?

 

Flashback on:

 

Esse lugar virou uma confusão em um estalar de dedos, tudo por causa do reaparecimento da fugitiva. Ela é idiota por voltar, está pedindo para ser trancafiada e torturada novamente, talvez seja bom tentar me distrair com torturas, vai ver consigo sentir alguma coisa novamente.

- Sentiram minha falta? – Ela pergunta de forma cínica, com um sorriso no rosto que, claramente, tira papai do sério. – Tenho certeza que seus dias ficaram bem mais chatos depois que perderam seu brinquedinho de tortura favorito.

- Ainda bem que estamos prestes a recuperar. – Ares dispara, revidando seus comentários provocativos. Não é uma boa mexer com papai, mas ele, quando quer, consegue se controlar, já Ares é completamente explosivo.

- Acho que não. – Ela retruca, mexendo no longo cabelo e o ajeitando em um coque, ao qual ela prende com um objeto prateado meio afiado. – Não vim para brigar, apenas dar um aviso.

- E qual seria?

- Não sou de atacar pelas costas, assim como vocês fazem. – A Nix afirma, sem perder nenhuma oportunidade de ser sarcástica. – Então, se preparem para a guerra.

- Menina tola, você quer lutar contra nós? – Ares questiona, abrindo caminho entre os outros e ficando frente a frente com ela. – Você e mais quem?

- Que tal um exército?

- Que exército? Você sempre estará sozinha.

- Vocês não me conhecem. – Ela rebate, quase como uma ameaça, ou talvez um aviso. – Não preciso de um exército para matá-los.

Em um piscar de olhos, Ares perde a cabeça e saca uma adaga, usando-a para a atacar. Numa velocidade de resposta bastante rápida, Nix defende o ataque dele com uma espada, só não sei de onde tirou aquela espada.

- Covarde. – Ela provoca, rindo mesmo depois da tentativa dele de feri-la. – Sabia que é errado atacar uma pessoa desarmada?

- Vou mostrar-lhe quem é covarde.

Agora, o simples ataque se transformou numa luta entre os dois, e é claro que ninguém esperava que a Nix fosse párea para o melhor lutar daqui. Em certo momento, meu irmão se irrita e saca um revólver, atirando contra ela. Não tenho ideia de onde ela arranjou aquela espada, mas ela consegue cortar a bala em duas partes com a mesma.

- Acabou?

- Ainda tenho muito mais bala.

E os tiros continuam, deixando a luta mais parecida com um show do que qualquer outra coisa, pois Ares atira e ela desvia, apenas isso. Acho que todos ficaram tão concentrados nela que nem ao menos perceberam que Nix não veio sozinho, Hades está aqui também.

Conhecendo-a como conheço, ela deve confiar nele para continuar ao seu lado, mesmo, claramente, não precisando de ajuda. Se ela confia nele, deve se importar com ele. Abro caminho pela multidão, que mal presta atenção em mim, e chego até Ares.

- Não mire nela. – Murmuro em seu ouvido, após puxá-lo para perto. – Atire nele.

Sinceramente, eu não tenho motivos para apoiar ou prejudicar nenhum dos lados, mas eu quero fazer algo acontecer, como também quero ver se estou certa. Enquanto recuo, meu olhar e o dela se cruzam, ali pude ver que seu desejo é me matar.

Novamente, Ares levantou a arma e mirou nela, porém, pouco antes de puxar o gatilho, virou o revólver rapidamente e atirou na direção do outro. A velocidade de reação dela é realmente alta, pois conseguiu cortar a bala em duas antes que alcançasse ele, mas isso deixou-a de guarda baixa.

Antes que ela voltasse a prestar atenção em Ares, ele tacou a adaga em sua direção, finalmente conseguindo atingi-la. A lâmina perfura a lateral de seu corpo, fazendo-a cair no chão, provavelmente, devido a dor. Apesar do local em que pegou, ela não vai morrer, já sobreviveu a coisa muito pior.

- Meu problema não é com você. – Ares afirma para Hades, apontando sua arma para ele enquanto agarra-a pelo cabelo, já que seu coque desmontou no início da luta.

- Acha que me venceu? – Ela pergunta, com uma clara falta de ar, sendo arrastada pelo chão. Hades não faz nada para ajudá-la, meu irmão está fazendo questão de não tirar os olhos, nem a arma, dele. – Esse jogo só está começando.

Ela arranca a adaga de dentro dela, um óbvio erro de Ares foi deixá-la lá, e faz cortes rápidos nas pernas dele, fazendo-o se desequilibrar e ajoelhar por conta da dor. Nix consegue se soltar, mas, ao invés de se afastar, ela puxa meu irmão para perto de si e morde seu pescoço. As pessoas ficam surpresas, porém não deveriam estar, isso é algo que demônios fazem com frequência, e ela foi criada por um deles.

Escorre sangue pelo pescoço de Ares, que nem se move, a força empregada por ela deve estar sendo muita. Quando ela o solta, seus dentes estão extremamente afiados, exatamente iguais ao de um demônio.

Meu irmão vai no chão, se contorcendo muito, parece ser uma convulsão. Por fim, ela, com a própria adaga dele, separa a cabeça do corpo, matando-o.

- Isso foi divertido. – Ela afirma, chutando a cabeça dele para longe. – Mais alguém quer mexer comigo?

- Se é guerra que procura, nós não vamos brigar contra você. – Papai fala com ela, tomando o lugar de Ares, só que de forma pacifica. – Não haverá uma guerra entre nós.

- Vai sim. – Ela garante, limpando o sangue dele, que escorre pela sua boca. – Vocês pensavam que me conheciam melhor do que eu mesma, mas não sabem nada sobre mim... Não sou apenas a morte.

- Então, o que você é?

- Sou a morte e a noite. – Ela responde, apontando para o céu, sempre escuro. – E os demônios que vocês chamam de monstros, os quais vocês queriam destruir usando o meu poder, são meus servos. Eu sou a rainha dos demônios, e eu vou proteger meu povo de vocês.

- Não precisamos de você para destruí-los. – Papai mantem a calma, retribuindo o sorriso superior dela. – Achamos outra alternativa.

- Eu soube. – Ela diz, sem perder a pose, mesmo estando cara a cara com a pessoa mais temida daqui. – Tenho uma surpresa para lhes fazer.

Ela coloca dois dedos na boca e assobia, um barulho que corta a imensidão deserta que nos cerca, até porque ninguém se atreve nem a respirar. Depois de algum tempo, duas cobras aparecem deslizando até aqui, carregando algo sobre elas.

Quando já estão quase nos alcançando, vejo que é um cesto, carregado por elas duas que deslizam em sincronia, sem derrubarem o objeto.

- Vem cá pequeno. – Ela chama, tirando do cesto um bebê.

- Você teve um filho.

- Apesar de tudo que eu passei, eu não tive um filho. – Nix retruca de forma seca, segurando a criança em seus braços. Realmente, está na cara que o filho não é dela, o garoto é loiro enquanto ela tem cabelo escuro. – Essa é a segunda opção de vocês.

- Segunda opção?

- É. – Ela confirma, balançando de leve o bebê, que está bastante calmo para alguém que está no colo da morte. – Essa é a criança que vocês procuram, a que irá iluminar o céu, banindo minha escuridão, e queimará os demônios nessa terra... Quem diria que esse ser poderoso é apenas um bebê?

- Você irá matá-lo.

- Por favor, pare de fazer afirmações como se me conhecesse. – A morena desdenha, meu pai consegue fazer algo que Ares não conseguiu, que é tirá-la do sério. – Felizmente, eu encontrei-o antes de vocês, porque eu sei exatamente o que fariam com ele. Levariam ele ao limite da dor, do medo e do desespero, até que arrancassem dele alguma demonstração de poder. Como eu não sou vocês, vou criá-lo como uma criança normal e com os demônios, assim, mesmo que ele descubra sobre seus poderes, nunca fará mal as pessoas que o criaram.

- Pode ser o bebê errado.

- Chame Gaia, chame minha irmã! – Ela exclama, ostentando a criança. – Ela pode confirmar que ele é quem procuram.

- Se isso for verdade, você não vai ficar com ele. – Meu pai ameaça, mas ele não fará nada contra ela nesse momento, por causa do bebê em seus braços.

- Vocês só irão pegá-lo por cima do meu cadáver e, para que isso aconteça, terá que haver a guerra.

 

Flashback off:

 

- Falando sobre o passado, ela já superou a morte do Hélio?

- Repita. – Hades manda, pressionando uma faca contra meu pescoço, uma faca da Nix. – Repita o nome dele que eu corto sua garganta.

- Que fofo. – Zombo, empurrando a faca para longe de mim. – Vocês ainda sofrem com a morte de um garoto qualquer.

- Não era um garoto qualquer! – Ele quase grita, com a faca trêmula em sua mão. – Nós criamos aquele menino! Era o nosso filho de criação!

- Deveriam ter previsto aquele final. – Retruco, era algo esperado, ainda mais olhando pro passado. – A Nix causa a morte de todos que se aproxima, não sei nem como você continua vivo.

 

Nagisa

 

Passamos o resto do café em silêncio, ninguém se atreve a falar nada. Na verdade, até houve uma confusão, a Akiko queria fazer uma reclamação diretamente com o gerente sobre o ocorrido, mas o Karma conseguiu acalmá-la.

 - Olá, desculpe interromper. – Um menino fala, se aproximando de nossa mesa, não é ninguém da escola. – Sou Arai Naoto, sou o gerente interino ou de meio período, podem me chamar como quiserem.

Sem dúvidas ele é mais novo que eu, ele deve estar apenas substituindo o verdadeiro gerente, ou vai ver o último foi demitido e ele está segurado as pontas enquanto não encontram outro.

- O garçom será punido. – Ele revela, dando justamente o que a Akiko deseja e, no fundo, eu também. - Eu sinto muito pelo incidente.

O garoto se curva, exagerando um pouco no pedido de desculpas, não deveria fazer isso quando foi outra pessoa que cometeu o erro, não ele.

- Está tudo bem. – Minha irmã fala, fazendo-o se levantar. – Foi só um erro, ninguém precisa ser punido por conta disso.

- Era minha obrigação, como gerente, prevenir esses erros antes de acontecerem. – Ele rebate, se ajoelhando no chão, perto dos cacos e das poças de líquidos. – Eu vou limpar essa bagunça.

- Quantos anos você tem? – Pergunto, sem conseguir conter minha curiosidade.

- Eu tenho 14 anos senhor. – Ele responde, exagerando na formalidade, enquanto junta os cacos. Logo em seguida, uma música começa a tocar, não tinha percebido que esse local possuía altos falantes. – Desculpem, é meu celular... Posso atender?

Confirmo, ele leva a frase “o cliente que manda” a sério demais. Como gerente, ele deve possuir autonomia para atender o celular a hora que quiser. A velocidade com que ele aceita a ligação é tremenda, nem sair do chão ele saí, continua ajoelhado ao lado da mesa.

- Oi onii-san. – Escuto-o dizer, até tento não prestar atenção, mas está tão silencioso na mesa que, mesmo não querendo, eu consigo escutar sua conversa. – Onde eu estou? É... Em casa.

A menos que ele more nesse hotel, o que é pouco provável, esse garoto está mentindo para o irmão, só não sei por qual motivo.

- Você ligou lá pra casa e ela disse que eu não estava? – Ele diz com a voz meio trêmula, confirmando a teoria de que está mentindo. – Na verdade, eu estou na casa de um... Colega. Estamos fazendo um trabalho da escola.

Outra mentira, tenho certeza que minha irmã nunca sairia escondido e mentiria para mim, pelo menos é o que eu acho. Agora lembrando, a Naomi já fez isso, só que foi para organizar minha festa surpresa, então não conta.

- Eu não avisei porque... – Ele enrola novamente, apenas essa demora já deveria entregar a mentira. – Porque você já tinha ido trabalhar e ela tinha saído, não quis ligar pra você pois você mesmo disse que não pode atender o celular durante o trabalho...

- Alguém pode me dar o açúcar? – A Nana pede, logo o Karma passa para ela.

- Você ganhou uma folga?! Tá falando sério?! – O tom dele fica animado, sem hesitar. – Quero! Quero! Claro que eu quero ir pra praia!

Estava tão sonolento de manhã que nem me lembrava que estamos em uma ilha, e que tem belas praias aqui por perto. Nunca fui em uma, mas já vi em filmes e o Karma já me contou como é, sempre tive curiosidade de ir.

- É melhor nos encontrarmos na praia. – O garoto afirma, se levantando do chão. -Certo, você vai lá pra casa, pega as coisas e me espera na praia. Eu só vou terminar de fazer umas coisas, aí vou pra casa, troco de roupa e te encontro lá.

Ele balança positivamente a cabeça e olha para nós, só então parece lembrar onde está.

- Eu vou mandar alguém para terminar de limpar essa bagunça. – Ele garante, andando para trás, afastando-se de nós. – É que eu preciso ir embora! Vou encontrar meu irmão na praia!

- O que é uma praia? – Nana pergunta, não sei como explicar algo que não conheço, ainda mais para ela.

- É um lugar que nós vamos hoje. – Meu namorado responde, se levantando. – O que dizem?

- Eu topo! – Minha irmã exclama, sem nem mesmo saber do que se trata. – Gosto de conhecer lugares diferentes!

- Vai ser uma boa oportunidade deu por em prática minhas habilidades de piloto. – Ele comenta, lembrando-me de que tirou carteira de motorista há pouco tempo, confesso que tenho um pouco de medo ao imaginar o Karma no volante.

- Se nós não morrermos no meio do caminho, eu topo.

 

CONTINUA...


Notas Finais


Trechos do próximo capítulo:

- Eu conheço o pessoal que mora ou frequenta esse lugar, e vocês não se encaixam em nenhum dos dois grupos. Querem ajuda?
- Depende. Queríamos ir para a praia, mas nos perdemos no caminho.
- Devem ter ficado desesperados por se verem perdidos em um lugar como esse... Relaxa, sei muito bem o que os outros pensam das pessoas que moram aqui, sempre somos criminosos ou sem-teto.

- Nós nunca temos visitas.
- Não são bem visitas Tomiko, é que eles estavam perdidos por aqui... Estão com sede? Querem um pouco de água?
- Raiden, a água foi cortada.

A palavra de hoje é "Miurtangle"
Kissus


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