Poin't Of View - Hermione Granger
Pego minha mala e levo para o andar debaixo, Malfoy e o ministro da magia me encaram quando descia as escadas, e eu apenas ignoro o olhar deles. No fundo eu sei que o que me fez querer ajudar o Malfoy foi a culpa. Culpa por ter acusado ele de um crime que não cometeu, culpa por mantê-lo aprisionado em um porão por dias à fio como se ele fosse um criminoso, culpa por não pensar em nenhum momento que ele podia ser inocente. Culpa, admito por fim, por ter sido preconceituosa.
- Já podemos ir. - digo, assim que chego ao hall. Malfoy se levanta do meu sofá e Kingsley o segue, coloco minhas mãos dentro das minhas vestes e puxo a varinha de lá. - Podemos ir para sua casa com minha varinha.
- Não quero uso de magia. Aceitei vir do Ministério para sua casa porque não tive escolha, mas a partir de agora é sob minhas condições. - ele me diz, sério. - Abneguei o uso da magia á anos, e não vai ser agora que vou voltar a usa-la.
- Não podemos ir para sua casa sem a magia, como trouxas demoraríamos horas. - respondo, estarrecida.
- Não tem nenhum compromisso marcado, tem Granger? - ele me pergunta. Encaro o homem a minha frente, a barba por fazer, os ombros arriados para baixo como quem carrega o mundo nas costas. Nem me imagino passando por tudo o que ele passou, e só posso me penalizar pelo garotinho que sofreu tanto na vida, que se tornou esse homem parado a minha frente.
- Não. - murmuro enfim, quando o silêncio se prolonga o bastante a ponto de tornar-se constrangedor.
- Ótimo, então é melhor irmos. - pego minha mala e levanto-a novamente, enquanto Malfoy apenas me da as costas e caminha até a porta de saída.
- Nos vemos logo, ministro. - eu digo a Kingsley, que me encara preocupado. -Continuarei a procurar, e te prometo que custe o que custar eu vou encontrar os culpados.
- Acredito em você, minha querida. - ele murmura. Sorrio terna, entendo mais do que ninguém os motivos que movem Kingsley, ele não é só um político como vemos por aí, não é só um diplomata, ele é um líder e líderes se preocupam com seu povo. - Quer que eu tente convencer o Malfoy?
- Não ministro, ele aceitou os nossos termos, e temos que aceitar o dele se quisermos que isso dê certo. - Kingsley sorri para mim, e então eu me afasto dele, somente minha mala em mãos e a varinha escondida dentro das vestes.
(...)
Olho mais uma vez para o relógio em meu pulso. Três horas já se passaram, e eu não tenho idéia se já estamos perto da Mansão Malfoy.
"Estamos mais perto do que quando começamos" - digo para mim mesma, mas nem isso me conforta.
Malfoy continua sua caminhada em silêncio, as mãos nos bolsos e os olhos distantes. Parece concentrado em seus pensamento e eu encaro seu olhar perdido. Como se soubesse que eu estava o encarando, Malfoy desvia seus olhos da noite e fixam-os em meus olhos.
- Algum problema? - ele me pergunta. Balanço a cabeça em negação, sem coragem de perguntar se estamos chegando. Ele me encara um último momento, e então diz: - Ótimo.
Caminho mais um pouco, o suor brota em minha testa pelo esforço de carregar a mala e caminhar por todo esse tempo.
- Falta muito? - pergunto, quando sinto meu corpo protestar de cansaço.
- Tá vendo aquela rodoviária? - ele pergunta, a voz mais fria que a própria noite. Aceno para ele, que prossegue. - Vamos pegar um ônibus até o vilarejo mais próximo a minha casa.
"Vamos lá Hermione, você consegue" - repito e repito, até que a frase fique costurada em meu cérebro, e meu corpo quem sabe, se convença.
(...)
Dois dias depois
Prendo meus cabelos em um coque e aliso a saia em frente ao pequeno espelho do quarto. Fazem dois que eu estou na mansão Malfoy. Dois dias que eu não uso magia e dois dias que praticamente não tenho nenhuma notícias do mundo mágico.
Se por um lado isso me é ruim e me faz sentir- me solitária, por outro foi bom não ter nenhuma distração e poder mergulhar nos relatórios.
Ao que tudo indica uma das pessoas mais proximas a mim ou ao ministro nos traiu. A lista de aurores e inomináveis que ajudaram na fortificação da prisão não bate com a lista de pessoas que estavam escaladas para a supervisão de Azkaban no dia da fuga dos comensais.
E apenas um terço das pessoas que estavam em um dos dois dias sabem do segredo que é necessário para liberar não só um, mas vários comensais em um só mesmo dia de Azkaban.
Me sento na pequena escrivaninha no quarto, onde todos os relatórios e pergaminhos que tratem sobre a fuga dos comensais estão empilhados.
-Pensa Hermione. - murmuro. O dia mal amanheceu e eu já estou aqui, perdida em meio a esse monte de papéis. Mais de cinquenta pessoas envolvidas em tudo isso, e entre elas um traidor. Ou vários. Ou nenhum.
São muitas dúvidas e eu simplesmente não consigo pensar com clareza, quando acho que finalmente estou chegando a algo as coisas param de fazer sentido e eu volto a estaca zero. Tem alguma coisa faltando em todos esses papéis que faz com que nada faça sentido.
Suspiro. Eu preciso sair daqui e espairecer um pouco. Preciso relaxar e não vou conseguir fazer isso presa nesse quarto e tendo como única companhia a frustração e a culpa, que aliás me acompanham a dias.
Me levanto da cama e saio do quarto. Nesses últimos dias só fiz isso quando precisei me alimentar e mesmo assim eu procurei voltar rapidamente para o meu quarto. Não quero perturbar o Malfoy, mas também não posso continuar trancada naquele quarto a beira de um colapso nervoso.
Desço as escadas e sinto minha pele se arrepiar quando chego a sala. Foi aqui, nesse mesmo chão e deitada sobre o mesmo tapete que Bellatrix Lestrange me torturou, tortura essa que carrego até hoje em meu corpo e que já me assombrou em sonhos algumas vezes nos ultimos anos.
Suspiro fundo, buscando todo o meu auto controle quando lembranças daquele dia fatídico preenchem minha retina. Não foi bem esse tipo de distração que pensei em ter quando sai do quarto.
Volto a caminhar e dessa vez vou para o lado oeste da mansão, lado contrário do quarto do Malfoy e a intenção é a de não esbarrar com ele por aí quando eu estiver distraída procurando a biblioteca que pelo que Agatha me contou, é esplêndida.
Abro algumas portas e tudo o que encontro são quartos, banheiros e comodos vazios. Nada que seja interessante o suficiente para me distrair. Estava prestes a desistir da busca quando em uma última tentativa giro uma maçaneta e não consigo abrir a porta. Movida pela curiosidade e implorando para que aquela porta esconda uma biblioteca magnífica o suficiente para me distrair pelas próximas horas, saco a varinha no bolso das minhas vestes e aponto para a maçaneta.
- Aloho... - antes porém que eu pudesse concluir o feitiço, ouço uma voz zangada dizer atrás de mim:
- O que você pensa que está fazendo?
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