História A Cabana (AonuNete) - De nada...

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Capítulo 06

[Dia da cerimônia, de manhã cedo]

Lo'ak andava pela praia, catando folhas de bananeiras e palmeiras do chão a fim de ajudar a arrumar o espaço. Haviam vários na'vi arrumando e decorando a praia para a cerimônia matinal, e provavelmente a arrumação continuaria durante a tarde até a festa, que só teria início à noite, depois que o sol se escondesse. 

Definitivamente catar folhas não era uma tarefa divertida, e Lo'ak parecia ainda mais emburrado com sua tarefa pelo fato de estar limpando a praia apenas para o aniversário de Ao'nung. Reclamava sozinho em seus próprios pensamentos, até que uma voz feminina e doce lhe atraiu a atenção. 

- Lo'ak! - a garota chamou, alguns metros ao longe. O Omaticaya imediatamente ergueu a cabeça, se voltando na direção do som. Não pôde evitar sorrir ao se deparar com Tsireya correndo pela praia em seu encontro. Quando finalmente estavam próximos, a garota parou diante dele e começou a fazer perguntas: - E aí, como foi?? Você perguntou 'pra ele? Conseguiu descobrir? - ela parecia meio agitada. 

- Eu ainda não entendi porquê você está tão curiosa assim 'pra saber do meu irmão... - Lo'ak cruzou os braços e desviou os olhos. Tsireya riu sozinha. 

- Não precisa ter ciúmes, meu amor... Eu te prometo que vai entender melhor depois. - ela tentou tranquilizá-lo, levando suas mãos até o rosto alheio e fazendo um pequeno carinho na bochecha do mais alto. Viu Lo'ak baixar a guarda quase de imediato, e colocou um sorriso satisfeito no rosto antes de se aproximar e retomar a conversa: - Mas, então... O que o Neteyam disse? 

- Ele disse que ainda não fez a primeira ligação. - Lo'ak respondeu, tentando parecer indiferente. Tsireya não conseguiu disfarçar seu entusiasmo. 

- Sério?! - ela perguntou, toda sorridente. Lo'ak não gostou muito daquela alegria, ainda estava com ciúmes de tudo aquilo, mas Tsireya apenas continuou falando: - Perfeito! 'Tá tudo saindo de acordo com o plano. Obrigada, meu amor. - a esverdeada agradeceu antes de fazer menção de ir embora. Entretanto, antes que pudesse lhe dar as costas, Lo'ak capturou sua atenção novamente. 

- Não 'tá esquecendo de nada não, minha princesinha? - ele perguntou, se referindo a segunda parte do acordo que fizeram. Tsireya arregalou sutilmente os olhos, estava tão ocupada com os planejamentos do dia que havia se esquecido do combinado. 

Voltando-se ao azulado, Tsireya mordeu o lábio inferior enquanto olhava Lo'ak nos olhos, pouco antes de olhar ao redor. Não haviam muitos na'vi próximos de onde os dois estavam, então aquilo não seria um problema. 

Terminando de conferir os arredores, Tsireya voltou os olhos ao Omaticaya em sua frente e levou ambas suas mãos até o rosto alheio. Lo'ak sentiu seu coração errar uma batida, mas não teve muito tempo de lidar com aquele sentimento porque, antes que estivesse devidamente pronto, Tsireya o puxou para perto, tomando seus lábios em um beijo forte e dramático, daqueles que te fazem arregalar os olhos no começo e te deixam sem ar. Lo'ak tentou acompanhar, mas sempre se via completamente perdido quando se tratava dos beijos dela. Sua cauda se mexia sozinha em função daquelas sensações que percorriam seu corpo... Amava os beijos dela, principalmente aqueles que finalizavam com um pequeno encontro entre suas línguas, mas que não durava mais que poucos segundos e sempre o deixava louco por mais. 

Ao fim do beijo, Tsireya se desvencilhou e olhou brevemente em seus olhos antes de dizer: 

- Obrigada de novo, Lo'ak! - ela disse antes de se separar do azulado e sair correndo pela praia. Ainda tinha trabalhos importantes para finalizar, não tinha tempo a perder. 

Lo'ak permaneceu parado no mesmo lugar, com um sorriso abobalhado no rosto e tendo suas pupilas um pouco mais dilatadas do que o normal. 

- De nada... - ele falou em tom baixo, parecendo um pouco anestesiado. Tsireya não ouviu, já estava longe, mas ele não se importou tanto assim.

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E naquele mesmo dia, Neteyam estava catando algumas flores no topo de árvores para serem usadas durante a cerimônia. Uma tarefa relativamente simples, já que sempre subira em árvores desde criança, mas, aparentemente, aquele processo parecia ser um pouco complicado para os Metkayina. Seus olhos se mantinham no alto, enquanto seus braços e pernas se encarregavam de sustentá-lo naquele tronco de árvore. Estava tão entretido em colher flores que nem ao menos baixara os olhos para conferir quem quer que estivesse correndo entre as árvores; só olhou em direção ao chão quando ouviu chamarem seu nome. 

- Neteyam!! - Tsireya chamou alegremente, feliz de tê-lo encontrado sem precisar despender muito tempo para procurar. As orelhas do azulado se ergueram e Neteyam baixou os olhos, vendo Tsireya há alguns metros abaixo, lhe encarando no topo daquela árvore. 

- Tsireya? - ele pareceu surpreso em vê-la. Todas as vezes em que a esverdeada procurava por alguém, geralmente esse alguém era Lo'ak. - Oi, o que te traz aqui? 

- Neteyam, eu queria que você me ajudasse a preparar algumas coisas 'pra festa... Teria como você fazer uma pausa na colheita de flores e voltar 'pro chão? - ela pediu, tentando segurar seu entusiasmo e não falar muito além do que devia. Não queria que outros na'vi ouvissem. 

- Claro... - Neteyam falou antes de soltar uma última flor, que caiu delicadamente, pairando no ar até o chão da floresta. Logo em seguida, envolveu o tronco da árvore que havia escalado e começou a se movimentar de modo a descer da mesma. Tsireya o acompanhou com os olhos, até que passassem a partilhar o mesmo chão. Neteyam voltou seus olhos à ela e abanou as próprias mãos. - O que precisa que eu faça? - ele perguntou, se mostrando prestativo. 

- Vem comigo! - foi tudo o que a esverdeada falou antes de agarrar Neteyam pelo braço e sair levando o garoto pela mata adentro até finalmente chegarem em n'A pequena Cabana afastada da aldeia, feita em sua maioria com varas de bambu e tiras elásticas. 

Neteyam nunca havia visitado Aquela Cabana antes, sequer sabia de sua existência, mas parecia que estava ali há bastante tempo. Havia também um pequeno lago próximo de lá, na parte dos fundos. Provavelmente não era muito fundo, mas a água continuava bastante limpa. 

Tsireya foi na frente, mostrando o caminho. Ela subiu os poucos degraus de madeira que davam acesso à porta principal d'A Cabana. Neteyam a acompanhava logo atrás, olhando curiosamente para o lugar onde estavam entrando. Porque nunca havia ouvido falar d'Aquela Cabana? 

Tsireya colocou a mão na maçaneta e abriu a porta que, por sua vez, fez alguns rangidos nas dobradiças. Neteyam espiou o interior com os olhos, se surpreendendo ao ver que o ambiente era um cômodo único, bastante grande, e com nada em seu interior além de cobertores e uma quantidade um pouco grande de almofadas reunidas no centro do ambiente. Estranhou o porquê de não haver mais nada naquele cômodo, mas, antes que pudesse fazer qualquer pergunta, Tsireya lhe entregara uma pilha de coisas, contendo uma toalha, alguns pedaços de tecido e produtos que, apesar de Neteyam não ter ideia do que eram ou para quê serviam, cheiravam bastante bem. 

- Tem um lago aqui nos fundos. - Tsireya explicou, apontando para uma pequena porta na parede oposta à principal. - Preciso que vá até lá, tome um bom banho e vista essas roupas. - ela pediu, já conduzindo o Omaticaya em direção à porta dos fundos. 

Neteyam olhou para a pilha de coisas que segurava nos próprios braços, e parecia estranhar mais aquela história a cada segundo que passava. Quando Tsiya disse que queria sua ajuda, Neteyam imaginou que fosse colher algumas frutas, arrumar decorações ou coisas do gênero... Mas definitivamente não esperava que o pedido de ajuda envolvesse tomar um banho. 

- Como eu tomar banho vai te ajudar a preparar alguma coisa 'pra festa? - ele perguntou, olhando para a Metkayina com uma certa confusão estampada em seu rosto. 

- Ah, é sempre bom estar limpinho, não é? - Tsireya respondeu vagamente, fazendo com que a dúvida de Neteyam não parecesse nem um pouco mais perto de ser sanada. - Quando terminar o banho, se seca bem e tenta vestir essas roupas que eu coloquei aí. Se não couberem, você me avisa e eu tento arrumar outra coisa 'pra você vestir. 

- Mas... - o azulado tentou dizer, sendo imediatamente cortado pela mais nova.

- Não temos tempo a perder, Neteyam! Vai, vai! - ela disse apressadamente, segurando um sorriso antes de colocar Neteyam para fora d'A Cabana. Agora só teria de esperar alguns minutos até que ele terminasse o banho. Estava tudo correndo bem. Se as coisas continuassem nesse ritmo, estariam cada vez mais perto de fazer com que cada um e todos os mínimos, mesmo microscópios, detalhes funcionassem.

[continua...]