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História A canção de Jercy - O beijo


Escrita por: MaxPosey

Notas do Autor


Olá meus queridos semideuses!
Primeiramente eu quero super agradecer pelas visualizações, favoritos e comentários. Vocês arrasam!
Hoje o sentimento começa a se tornar mais forte e incontrolável...Mas terá consequências...
Espero que curtam mais este capítulo e boa leitura...

Capítulo 7 - O beijo


Fanfic / Fanfiction A canção de Jercy - O beijo

No verão seguinte, fizemos 13 anos — ele primeiro, depois eu. Nossos corpos começavam a esticar-se, repuxando as juntas até deixá-las frágeis e doloridas. No brilhante espelho de bronze de Grace, eu quase não me reconhecia — magro e desengonçado, pernas de cegonha e queixo pontiagudo. Jason continuava maior que eu, ultrapassando-me muito na estatura. Logo ficamos do mesmo tamanho, mas ele amadureceu primeiro, com uma rapidez impressionante, nutrido talvez pela divindade em seu sangue.

Os outros garotos também cresciam. Agora, quase sempre, ouvíamos gemidos por trás de portas fechadas e víamos sombras se esgueirando para suas camas antes do amanhecer. Em nossas terras, o homem costuma possuir uma mulher antes de ter barba cerrada. Porém, é de se esperar, bem mais cedo procura as servas; poucos chegam ao leito nupcial sem ter feito isso. Só os de pouca sorte não o fazem: fracos demais para concorrer com os outros, feios demais para atrair, pobres demais para pagar.

Era costume, nas cortes, manter todo um batalhão de mulheres de ascendência nobre para servir a dona da casa. Contudo Grace não tinha esposa em seu palácio, de modo que as mulheres, ali, eram, em sua maioria, escravas, compradas ou capturadas nas guerras, quando não eram filhas das que o haviam sido. Durante o dia serviam vinho, esfregavam o chão ou lidavam na cozinha. À noite, pertenciam aos soldados ou aos garotos acolhidos, aos reis visitantes ou ao próprio Grace. Os ventres túmidos que daí resultavam não eram motivo de vergonha, eram lucro: mais escravos. Nem sempre havia violência nessas uniões; frequentemente elas aconteciam por consentimento mútuo ou mesmo afeição.
Pelo menos, era isso que
sustentavam os homens quando se referiam às suas conquistas amorosas. Teria sido fácil, muito fácil para Jason ou eu levar uma daquelas jovens para a cama. Aos 13 anos, já estávamos até atrasados a esse respeito, sobretudo ele, pois os príncipes eram famosos por seus apetites violentos.
Ao contrário, ficávamos só observando os outros garotos divertindo-se com mulheres ao colo ou Grace chamar
a mais bonita a seu quarto após a ceia. Certa vez, ouvi mesmo o rei oferecê-la ao filho. Porém ele respondera, em tom quase de desafio: Esta noite, estou muito cansado. Depois, quando nos dirigíamos para o quarto, ele evitou meu olhar.

E quanto a mim? Eu ficava tímido e calado na presença de todos, à exceção de Jason. Mal conseguia conversar com outros garotos, quanto mais com uma mulher! Como companheiro do príncipe, suponho que nem precisasse falar; um gesto ou um olhar bastariam. Mas semelhante ideia não me ocorreu. Os sentimentos que me agitavam à noite pareciam estranhamente alheios àquelas servas com seus olhos baixos e sua obediência. Quando um garoto remexia na veste de uma mulher, eu notava o enfado nos olhos dela ao servir o vinho. Eu não queria aquilo para mim.

Uma noite, ficamos até tarde na sala de Grace. Jason se deitou no chão, com um braço sob a cabeça à guisa de travesseiro. Eu me sentei mais formalmente numa cadeira. Não por causa de Grace, apenas. É que sentia um pouco de vergonha do comprimento exagerado de meus novos membros.

Os olhos do velho rei estavam semicerrados. Contava-nos uma história.

— Nakamura foi o guerreiro mais hábil de sua época, mas também o mais orgulhoso. Queria o melhor de tudo; e, como o povo o amava, teve sempre o que quis.

Meus olhos se desviaram para Jason. Seus dedos se agitavam no ar. Muitas vezes, fazia isso quando estava compondo uma nova canção. A história de Nakamura — pensei —, tal qual o pai a narrava.

— Mas um dia o rei de Cálidon disse: “Por que precisamos dar tanto a Nakamura?

Há por aqui outros homens igualmente merecedores”.

Jason se mexeu e a túnica colou-se a seu peito. Naquele dia, eu ouvira uma serva sussurrar para uma amiga: “Acha que o príncipe olhou para mim, ao jantar?”. O tom era esperançoso.

— Nakamura soube das palavras do rei e enfureceu-se.

Naquela manhã, ele saltara para minha cama e esfregara o nariz no meu. “Bom dia”, dissera. E eu me lembrava do calor de sua pele contra a minha.

— Disse então: “Não lutarei mais para você”. Recolheu-se à sua casa e buscou conforto nos braços da esposa.

Senti um toque no pé. Era Jason, que sorria para mim do chão.

— Cálidon tinha inimigos ferozes. Quando souberam que Nakamura não mais lutaria...

Pressionei meu pé contra o dele provocativamente. Seus dedos envolveram meu tornozelo.

— Atacaram. E a cidade de Cálidon sofreu baixas terríveis.

Jason me puxou e deslizei por metade do assento da cadeira. Segurei-me firmemente à borda para não cair.

— Então o povo foi pedir a ajuda de Nakamura. E... Jason, está ouvindo?

— Sim, pai.

— Não, não está. Está atormentando nosso pobre Percy.

Tentei parecer aborrecido. Mas tudo o que sentia era o frescor em meu tornozelo, onde pouco antes tinham estado seus dedos.

— Talvez seja melhor assim. Estou cansado. Terminaremos a história numa outra noite.

Levantamo-nos e desejamos boa-noite ao velho. Entretanto, quando nos virávamos para sair, ele disse:

— Jason, vá procurar a garota de cabelos claros na cozinha. Ela está enamorada de você, segundo me contaram.

Seria difícil saber se o rosto de Jason parecia mudado apenas por causa do brilho das chamas da lareira.

— Talvez, pai. Estou cansado esta noite.

Grace riu baixinho, como se aquilo fosse uma pilhéria.

— Creio que ela conseguirá reanimá-lo. — E despediu-se de nós.

Precisei apressar o passo para alcançá-lo, a caminho de nosso quarto. Lavamos o rosto em silêncio, mas alguma coisa doía em mim, como um dente cariado. Nãopodia me calar.

— Aquela garota... Você gosta dela?

Do outro lado do quarto, Jason se virou para mim.

— Por quê? Você gosta?

— Não, não! — exclamei, enrubescendo.

— Não foi isso o que eu quis dizer. — Nunca, desde os primeiros dias, me sentira tão pouco à vontade com ele.

— Eu quis dizer, você quer...

Jason correu em minha direção e jogou-me sobre a cama, debruçando-se sobre mim.

— Estou farto de falar sobre ela — desabafou.

Um calor me subiu pelo pescoço, como se dedos estivessem pressionando meu rosto. Seus cabelos se esparramaram em volta de minha cabeça e eu só conseguia sentir o cheiro daquela pele. Seus lábios estavam quase encostados aos meus.

Então, como naquela manhã, ele se foi. Atravessou o quarto e se serviu de um último copo de água. Seu rosto parecia impassível, calmo.

— Boa noite — ele disse.

Durante a noite, na cama, as imagens vêm. Começam como sonhos, como carícias que deslizam sobre meu corpo durante o sono do qual desperto trêmulo. Fico estendido, acordado, mas ainda assim elas se acercam, uma nesga de pescoço entrevista à luz da chama, a curva de um quadril que se inclina. Mãos macias e fortes se estendem, procurando me tocar. Conheço essas mãos. Porém mesmo agora, por trás da escuridão de minhas pálpebras cerradas, não consigo dar nome àquilo que quero. De dia, sinto-me inquieto, nervoso. Nem andando, cantando ou correndo consigo mantê-las à distância. Elas se aproximam e não podem ser detidas.

Um dos primeiros dias claros de verão. Estamos na praia após o almoço, encostados a um pedaço de madeira lançado pelo mar. O sol já está alto no céu e o ar à nossa volta é tépido. Ao meu lado, Jason se mexe e seu pé roça no meu. Está frio, róseo pelo atrito com a areia, macio depois do inverno passado dentro de casa. Ele murmura alguma coisa, um trecho de canção que tocara outrora. Viro-me para olhá-lo. Sua face é lisa, sem as manchas e espinhas que começam a afligir os outros rapazes. Suas feições foram buriladas por mão segura; nada muito agudo ou torneado, nada grande demais — tudo preciso, recortado com a lâmina mais afiada. No entanto, o efeito geral não conserva vestígios dessa lâmina.

Jason se vira e me surpreende olhando para ele.

— Que foi? — pergunta.

— Nada.

Posso sentir seu cheiro. Os óleos que ele usa nos pés — romã e sândalo; o sal de seu suor puro; os jacintos sobre os quais nós caminhamos — cujo aroma aderiu aos nossos tornozelos. Por baixo de tudo isso, seu cheiro próprio, aquele com o qual vou dormir; aquele com o qual acordo. É doce, mas não só; é forte, mas não muito; lembra a amêndoa, mas não exatamente.
Às vezes, depois de lutarmos, minha
própria pele adquire esse aroma.

Ele abaixa uma das mãos, para lhe servir de apoio. Os músculos de seus braços se encurvam ligeiramente, aparecendo e desaparecendo à medida que o corpo se move. Seus olhos de um azul profundo estão cravados nos meus.

Meu pulso lateja violentamente, sem que eu saiba nomear o motivo. Ele já me fitou milhares e milhares de vezes, mas agora há algo diferente em seu olhar, uma intensidade nova. Minha boca está seca e posso ouvir o som de minha garganta quando engulo.

Ele continua me olhando. Parece esperar alguma coisa. Ensaio um movimento quase imperceptível em sua direção. É como saltar de uma cachoeira. Ainda não sei bem o que fazer. Inclino-me para ele e, desajeitadamente, nossos lábios se tocam.
São como os corpos arredondados das abelhas, macios e semeados de pólen. Sinto o gosto de sua boca — quente e doce como o mel da sobremesa. Meu estômago se agita e uma gota tépida de prazer se espalha sob minha pele. Mais. A força do meu desejo — a velocidade com que desabrocha — me abala; afasto-me dele alarmado. Por um instante, um instante apenas, eu entrevejo seu rosto emoldurado pela luz da tarde, os lábios ligeiramente abertos, ainda esboçando um beijo. Os olhos, escancarados de surpresa.

Estou desnorteado. O que foi que eu fiz? Porém não tenho tempo de me desculpar. Jason se põe de pé e recua. Seu rosto impassível, impenetrável e distante congela as explicações em minha boca. Vira-se e sai correndo pela praia, o garoto mais rápido do mundo, e desaparece.

A ausência dele esfriou meu flanco. Sinto a pele rígida e meu rosto, bem sei, está vermelho e áspero como uma queimadura.

Oh, deuses, penso, não permitam que ele me odeie!

Eu deveria saber que invocar os deuses é inútil.

Quando dei a volta para entrar no jardim, lá estava ela, reta e brilhante como uma lâmina. O vestido azul e úmido colava-se a seu corpo. Os olhos escuros cravaram-se nos meus e os dedos frios, sobrenaturalmente alvos, me agarraram. Meus pés se entrechocaram no ar quando ela me ergueu do chão.

— Eu vi — sibilou ela. O som das ondas quebrando-se nos rochedos.

Eu não conseguia falar. Ela me segurava pela garganta.

— Jason vai embora. — Seus olhos agora eram negros como escarpas umedecidas pelo mar e igualmente aguçados.

— Eu deveria tê-lo mandado para longe há muito tempo. Não tente segui-lo.

Eu já não podia mais respirar. No entanto, não me debati. Pelo menos sabia que não era conveniente fazer isso. Ela se calou, mas pensei que logo iria continuar.

Não o fez. Apenas me soltou e eu caí inerme no chão.

Desejos de mãe. Em nossas terras, não valiam muita coisa. Porém ela era, acima de tudo, uma deusa.

Quando voltei ao quarto, já havia escurecido. Jason estava sentado na cama, olhando os pés. Ergueu a cabeça, quase esperançoso, quando me postei na soleira.

Não falei; os olhos negros de sua mãe ainda cintilavam diante de mim, bem como os tornozelos de meu companheiro voando sobre a areia da praia. Perdoe-me, foi um equívoco. Era o que eu diria na ocasião, se não fosse por sua mãe.

Entrei no quarto e sentei-me em minha cama. Ele se agitou, buscando-me com o olhar. Não se parecia com a mãe do modo como os meninos costumam se parecer com um dos pais — no contorno do queixo, no formato dos olhos. A semelhança estava mais nos movimentos, na pele luminosa. Filho de deusa. Que teria eu podido esperar que acontecesse?

Mesmo de onde estava, podia sentir nele o cheiro do mar.

— Devo partir amanhã — disse Jason. Era quase uma acusação.

— Oh — eu murmurei. Minha boca estava túmida e entorpecida, embotada demais para formar palavras.

— Vou estudar com Quíron. — Fez uma pausa e prosseguiu: — Foi ele quem educou Héracles. E Perseu.

Não ainda, ele me dissera. Porém sua mãe decidira de outra forma. Levantou-se e tirou a túnica. Fazia calor, estávamos no auge do verão e nos acostumáramos a dormir nus. A luz da lua se refletia em seu ventre liso, musculoso, sombreado de finos pelos castanhos que iam escurecendo em direção

ao púbis. Desviei o olhar. Na manhã seguinte, ele saltou da cama e se vestiu.
Eu já estava acordado; não pregara olho a noite toda. Vislumbrei-o por entre as pálpebras semicerradas, fingindo dormir. De vez em quando, ele se virava para mim. Na penumbra, sua pele parecia cinzenta e polida como o mármore. Pôs a mochila ao ombro e estacou, pela última vez, na soleira. Ainda vejo sua silhueta emoldurada pelos umbrais de pedra, os cabelos soltos, desarrumados pelo sono.
Fechei os olhos e um instante se
passou. Quando os abri de novo, estava sozinho.


Notas Finais


Ual!!! Percy deu uma passo nesse romance puro e singelo.
Essa Tétis é uma desgraça mesmo, porque tinha que separar os dois?
Mas espero que Percy não desista...Lute menino dos olhos verdes.
Ai teremos o Quiron nos próximos ebaaaa Quem esta animado????
EUUUUUU
Até o próximo...


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