História A Chama de Sangue - ANEL DE ESMERALDA E RUBI

Capítulo 4

Os conselhos de Kamo não foram em vão. Claire conseguiu resgatar sua mãe, mas seu pai morreu em uma tentativa de fugir. A soberana deveria ser a sua mãe, mas esta ficou tão abalada com os maus tratos e com a perda do marido, que não se julgava capaz de governar. Claire, então, como estava no poder há mais de um ano, foi coroada e proclamada como rainha do reino de Ebut.

O povo não gostou da ideia de uma mulher sozinha os governar. Mesmo entendendo que a nova rainha tido sido extremamente capaz de controlar o governo durante o ano em que seus pais estiveram presos, ainda julgavam necessário uma figura masculina.

Claire achava isso um absurdo e, por isso, tentava abrir os olhos do povo. As medidas que ela tomou, no entanto, não funcionaram:

— Como assim não existe nenhuma outra saída?— praticamente gritou, com os olhos correndo pelo cômodo, encarando os assessores. —  É impossível que nada tenha funcionado— gritou, aproximando-se de um dos homens.

—  Majestade, somente as mulheres a apoiam, os homens não aceitam e estão se organizando a fim de depô-la. É urgente que uma medida seja tomada, nem que não seja de seu gosto. — argumentou Daok, enquanto procurava sanidade nos olhos da nova rainha.

— Eu não posso me submeter a isso, não é possível. Recuso-me, não é possível, deve ter outra saída. — ponderou, enquanto os assessores se entreolhavam, preocupados.

— Minha rainha,é conhecido que os governantes devem fazer sacrifícios pelo seu povo. — Ela encarou-o com os olhos perfurantes — talvez esteja na hora de você fazer o seu.

— Basta! — gritou, batendo as duas mãos na mesa, assustando todos os presentes. — Daok, ordeno que retire-se junto com toda a sua equipe, preciso pensar. — ordenou, com a voz alta e impositora.

A rainha estava sem palavras, seus pensamentos estavam confusos assim como seu coração. Ninguém podia saber, mas tinha se encontrado com o rei Kamo diversas vezes e estava tendo fortes sentimentos por ele. Depois de um ano de sua primeira visita, ele tornou-se um visitante quase que permanente do castelo, sempre sob a desculpa de negociar tratados. Eles, no entanto, faziam muito mais do que isso.

Encontros nas salas de reunião deram lugar para conversas extremamente íntimas e contato que ultrapassava o âmbito da negociação. Claire sentia que estava pensando demais nele, seu coração pulava uma batida, suas pupilas dilatavam e sentia-se entorpecida quando era anunciada a sua entrada ou quando recebia uma carta ou uma lembrança mascarada do rei.

Tudo era feito sob debaixo dos panos, ninguém poderia nem sequer pensar no que estavam fazendo. A questão era que no ano que se passou, o rei foi prometido à princesa do reino de Haer, Adna Secal Wouyd, o que tornava os encontros proibidos, mas não impedia a paixão dos dois.

Kamo ficara dois meses sem ir ao castelo, devido às suspeitas de sua noiva, que não via com bons olhos as negociações dos dois. Isso, no entanto, não era somente devido à Claire ser famosa por sua simpatia beleza e poder, mas também, pelo reino de Haer ser inimigo do reino de Ebut. A princesa Claire estava, então angustiada, sem saber o que o relacionamento dos dois era. O coração dela estava despedaçado, assim como imaginava como o dele estaria.

Sentara-se num dos sofás da sala de reuniões, do onde havia expulsado todos os assessores. Estes, haviam proposto que se cassasse com o rei Menom, do reino Acid. O rei era um carrasco, não a respeitava e acreditava que estaria fazendo um favor à ela ao se casarem. Claire entendia que casar-se com ele significava uma aliança, mas não era capaz de se submeter à tais fatos. Seus apoiadores estavam, então pressionando-a a tomar uma decisão.

A porta abre-se, e Kamo entra no cômodo, de maneira que a rainha nem perceba. O sofá em que estava era de costas para a porta e ele não havia sido anunciado, o que a deixava desinformada de sua presença. O rei para perto do móvel e observa o contorno da cabeça da rainha, seus cabelos perfeitamente dispostos, de forma que formassem ondas castanhas e loiras caindo sob veludo do móvel.

O rei sente seu coração encher-se, preenchendo um vazio que sentia havia meses. Sua respiração estava calma, seus olhos azuis completos de amor e admiração. Chega mais perto do móvel e beija o topo da cabeça de Claire, num gesto que ela já conhecia muito bem.

O sorriso de Claire é espelhado na grande janela que fica a frente do sofá, seus olhos brilham praticamente na mesma intensidade dos dele.

Ela vira-se e encara seus olhos, alcançando a sua mão. O rei sorri e faz a volta no sofá para chegar ao lado dela. Senta-se no veludo vermelho e segura as mãos dela:

— Claire, não consigo expressar o quanto senti sua falta. — falou, com a voz irrigada de paixão, saudade e sinceridade — Não queria admitir isso, mas você deixou-me sem sono. — sussurrou, chegando perto de seu pescoço.

—  Kamo, eu li e reli suas cartas e presentes. — sussurrou, enquanto ele apreciava a melodia de sua voz que saíra falhada devido ao toque que seus lábios faziam em sua pele macia.

A rainha se derreteu quando os lábios deles chegaram em seu pescoço, seu coração estava acelerado seus lábios contraídos. A distância que o rei havia estabelecido entre os dois só evidenciava o estado de envolvimento dos dois.

Aproximou-se mais ainda dele, passando suas mãos em volta de seu pescoço, depois movendo-as pelos seus cabelos, enquanto ele explorava sua cintura. Os minutos passaram em segundos, até que se desvencilharam, com as roupas amassadas e cabelos desarrumados.

O rei levantou-se do móvel, ficando de frente para Claire, apreciando os traços dela. O tempo parou.

— Claire — ela olhou em seus olhos — Não posso ignorar o que estou sentindo por você. — Hesitou, medindo as palavras — Acho que sente o mesmo por mim, senão isso aqui não teria acontecido. — ela riu com a referência ao que acabara de acontecer. — O que acabamos de fazer foi extremamente perigoso, pois alguém poderia entrar, na medida que nenhum guarda nem criado estava na porta quando entrei. Acho que a segurança deveria ser revista. — brincou, direcionando uma piscadela à ela — A questão é — falou enquanto se ajoelhava — Estou disposto a renunciar meu cargo na Brútsia para viver como seu companheiro, subordinado a você, minha rainha — os olhos de Claire arregalaram-se, sua boca se abriu — Desmanchei o noivado com a princesa de Haer e, apesar dela ter ficado extremamente estarrecida, meu amor por você não permitiria casar-me com outra.— É por isso que trouxe isso.  — balbuciou enquanto tirava uma pequena caixa de seu paletó.

Claire saiu do móvel e ajoelhou-se de frente para ele.

— Bem, não consigo me ajoelhar mais do que isso — brincou, fazendo-a rir — Claire, sei que já deve ter percebido a intenção disso então — hesitou, enquanto uma lágrima passava por sua bochecha, abriu a caixa e direcionou— a a ela. —Rainha Claire Medna, soberana do reino de Ebut, daria-me a honra de casar-se comigo?

Claire estava radiante. Jogou-se nos braços de Kamo, abraçando-o e rindo, junto com ele.

— Não vai pegar o anel? — indagou, ainda durante o abraço.

— Claro, mas preciso apreciar o momento um pouco mais. — falou, enquanto apertava-o ainda mais forte.

— Pensei que toda e qualquer mulher amasse anéis. — ponderou, num tom de brincadeira, fazendo ela se afastar, com uma expressão falsa de irritação.

— Não sou qualquer mulher. — afirmou, enquanto os narizes se tocavam.

— Veja a joia, pelo menos, fui eu quem fiz, juntando as pedras dos nossos reinos, esmeralda e rubi. — Você sabe que amo cravejar joias, mas nunca vi nem consegui lapidar nenhuma pedra que chegue perto da beleza e cor de seus olhos.

Claire ofereceu a mão, Kamo retirou o anel e colocou-o no dedo da rainha.

— Kamo, um dia você terá que me ensinar como fazer joias tão lindas. — Ele sorriu e retrucou:

— Você já sabe demais, tenho que manter essa técnica e segredo comigo — riu e aproximou-se para um beijo.

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— Pelo poder investido em mim, declaro os dois Rainha e Rei do reino de Ebut com aliança ao reino da Brútsia. —  Falou o padre da família real, terminando a cerimônia oficial.

Os dois se beijaram, enquanto a banda tocava o hino de Ebut misturado com o da Brútsia.