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História A Cliente - Capítulo Dezoito


Escrita por: hedaa1

Notas do Autor


Tenho nem desculpas além das mesmas de sempre pela demora :)

Agradecer a mana Fê, que deu um boost pra esse capitulo sair;

Esse capitulo foi escrito escutando muito The Police, Led Zeppelin, Bowie, Springsteen, Florence, Lana, Black Keys, The xx e Barão. Mistureba né? Hahahaha (Não sei se alguma música em especial ou mesmo as bandas combinam com capítulo, acho que não).

Capítulo 18 - Capítulo Dezoito


 

CLARKE

Passei a mão em meus cabelos ligeiramente úmidos enquanto checava meu telefone pelo que parecia a décima vez na última hora, soltando um pequeno suspiro preocupado quando vi que não tinha novas mensagens esperando para serem lidas ou atendidas.

Três dias.

Passaram-se três dias daquela tarde, quando Lexa me acompanhou em casa e me beijou tão profundamente que senti meus joelhos ficarem fracos, e o fato de eu não ter ouvido nada dela desde aquele momento, me deixou ainda mais preocupada.

Eu ainda não tinha tentado entrar em contato com ela; Sabia que estava trabalhando, só esperava que estivesse em algum lugar seguro, e mesmo que eu não soubesse onde ela estava, parte dela ia sempre comigo; especialmente naquele momento enquanto eu esperava, sentada no sofá da Agência, esperando Costia me receber.

Soltei outro suspiro, minha perna continuava se movendo nervosamente para cima e para baixo, senti um arrepio frio que se arrastava pela minha espinha enquanto eu tentava secar e aquecer minhas mãos ainda molhadas e congeladas, ouvindo enquanto outro trovão alto ressoava a distância enquanto a chuva continuava a cair.

As gotas frias de água e o vento congelado pareciam ter penetrado profundamente na minha carne e se acomodavam confortavelmente nos meus ossos, mesmo sob as diferentes camadas de roupas que eu estava vestindo por baixo de meu casaco encharcado. E essa sensação combinada com a razão do porque eu estava na Agência junto meus pensamentos constantemente preocupados com uma certa morena, não ajudavam em nada a acalmar meus nervos.

Não esperei para ligar para a amiga de Lexa, a senhorita Forest, ou como ela me pediu para chamá-la, Indra; Me emocionei pelo fato de que ela queria me entrevistar dentro de alguns dias, mas antes que eu pudesse aceitar o trabalho, caso eu fosse considerada adequada para o cargo, claro; eu precisava fazer as coisas da forma correta tendo que acertar algumas coisas Costia primeiro.

Afinal, parte de mim sentia como se eu devesse algo a ela; Fora a única que me ajudou quando eu estava em uma situação financeira muito ruim e preocupante.

Eu ainda estava, na verdade. Não tanto quanto quase sete meses atrás, mas eu ainda precisava pagar as dívidas que eu tinha com a Universidade. Eu poderia sinceramente ter procurado por um novo trabalho de meio período mais honesto, mas sabia que teria demorado mais tempo para conseguir o dinheiro que eu precisava, e mesmo que a situação não tivesse mudado, se não fosse por Lexa ou seu gesto gentil de me recomendar para o emprego no Museu, não acho que levaria tão em consideração a idéia que estava flutuando na minha cabeça quase todos os dias e há tanto tempo; eu queria realmente deixa o emprego de acompanhante.

O som da porta do escritório de Costia sendo aberta me tirou de meus pensamentos. Levantei a cabeça em automático, a tempo de ver ela aparecer na porta me direcionando um de seus sorrisos de marca registrada em minha direção.

"Bem, olha quem está aqui... Ei, doçura."

Como em qualquer outro momento, sua saudação e aquele sorriso particular, quase sedutor, não falharam em me deixar corar um pouco.

"Olá, Costia..." A cumprimentei com um pequeno sorriso enquanto levantava do sofá.

"Olha para você! Está encharcada, querida." Ela disse olhando meus cabelos ainda um pouco molhados e os grandes remendos úmidos no meu casaco antes que gesticulasse para que eu entrasse em seu escritório, fechando a porta atrás de nós com um baque suave.

"Posso pegar um café ou algo para aquecê-la?" Me perguntou com uma pequena cara de preocupação que eu não sabia se era autêntica, mas me parecia bastante sincera naquele momento; ela não tinha razão para fingir, mas parte de mim não podia deixar de se sentir sempre suspeita quando estava em sua presença, mesmo que comigo ela nunca houvesse sido nada além de gentil e muito amigável desde o momento em que me virá naquele restaurante e usou seu encanto em mim. Num todo, Costia era realmente uma pessoa agradável para se ter ao redor.

Balancei a cabeça enquanto apertava meus dedos, tentando recuperar a sensibilidade que ainda faltava especialmente nas pontas, apesar do calor reconfortante que eu havia encontrado assim que entrei na Agencia. "Não, obrigada, estou bem".

Ela me deu um estranho olhar depois de notar a maneira como eu ainda estava massageando minhas mãos, mas, felizmente, não insistiu.

"Tudo bem..." Ela disse enquanto me conduzia mais para dentro de seu escritório; Os cliques de seus saltos altos no chão de madeira dura ecoava na sala e combinavam com o barulho que meu coração estava começando a fazer em meu peito, sentindo-o saltar na garganta com o nervosismo.

"Você sabe", ela começou assim que chegou a sua mesa, gesticulando para que eu me sentasse na cadeira na frente dela antes que fizesse o mesmo a minha frente. "Eu estava pensando em te ligar, Clarke".

Assim que registrei suas palavras minha cabeça levantou e encontrei seu olhar, meu coração começou a bater tão rápido que eu tinha certeza de que poderia ser audível no vasto escritório, mesmo acima do som violento da chuva batendo nas grandes janelas.

Minha garganta ficou de repente seca e o olhar no meu rosto, junto com meu prolongado silêncio, deixou minha chefe confusa e suspeita, se o vinco que apareceu entre suas sobrancelhas era qualquer indicação, mas continuou de qualquer maneira, seu tom suave, mas sempre profissional; direta ao ponto.

Como sempre.

E pensar que eu era quem veio aqui para falar com ela; agora o papel foi revertido e eu sabia que o que ela iria dizer não seria algo que me agradaria dado o que eu precisava dizer a ela; O motivo que me fez chegar a esta decisão após os últimos eventos...

Depois de tudo o que aconteceu com Lexa...

Depois de tudo o que estava acontecendo entre mim e Lexa...

Mas se Costia estivesse pensando em me ligar, isso significava apenas uma coisa.

Ela queria me para uma tarefa.

A idéia foi suficiente para enviar uma onda de angústia e nervosismo dentro de mim que revirou meu estômago de cabeça para baixo, e é claro que minha chefe percebeu imediatamente o olhar que apareceu no meu rosto assim que ela disse que queria me ligar.

Eu não queria mostrar muito na frente dela, mas era uma reação que eu não conseguia controlar ou mascarar, assim como eu não podia controlar a maneira como meu coração começara a bater muito mais rápido quando ela inclinou a cabeça para o lado recostando-se na cadeira e dizendo:

"Mas... Eu acho que talvez seja o caso de eu lhe perguntar primeiro o porquê tenho a honra de sua visita aqui hoje".

Isso deveria me fazer sentir melhor; Pensei que eu tinha todo o discurso memorizado e pronto na minha cabeça, mas as palavras pareciam ter desaparecido de repente, deixando-me na frente dela com uma expressão nervosa e uma garganta seca.

Não havia maneira de contorná-la, e quanto mais eu esperasse, mais difícil seria para mim encontrar a coragem que eu precisava para fazer isso.

Respirei profundamente pelo nariz, fechei meus olhos por um breve segundo e, quando os abri encontrei Costia pacientemente esperando, ainda que ansiosa, tentei ignorar todas as sensações que estavam correndo dentro de mim para colocar para fora o que precisava ser dito.

"Eu-eu..." Tive que limpar minha garganta suavemente, mas depois que fiz, minha voz parecia mais controlada e confiante quando falava. "Eu vim aqui porque queria discutir o nosso... Acordo".

Mantive meus olhos presos com os dela, sentindo que o nervosismo começara a me voltar, mas tentando mantê-lo sob controle com toda a minha força no momento do silêncio que se seguiu.

"Entendo..." Foi o que a morena disse, balançando a cabeça enquanto se recostava na cadeira mais uma vez, passando lentamente uma perna longa e bronzeada sobre a outra. "Então considero que você terminou de pagar seus estudos".

Ela assumiu, dando-me esse pequeno sorriso que eu não sabia como interpretar, mas sentia que não poderia ser completamente sincero; Afinal, eu estava dizendo praticamente que estava deixando ela. E ela sabia disso.

Eu neguei com a cabeça olhando brevemente minhas mãos quando seu olhar penetrante tornou-se difícil de manter. "Não exatamente... Mas eu estou quase lá"

Como eu esperava, ela me interrompeu. "Eu pensei que tivéssemos um acordo Clarke, um que eu fiz com você por causa da situação em que você estava..." Ela se ergueu da cadeira e rodeou a mesa para sentar-se à beira dela, logo na minha frente antes de continuar.

Era uma estratégia, ela não queria me intimidar nem nada assim, mas era uma das maneiras dela me fazer sentir nervoso e derramar tudo. Mas eu não podia permitir a minha falta de nervos levar a melhor dessa vez.

"...Você termina de pagar seus estudos e então nossa colaboração acaba". Ela concluiu, lembrando-me do nosso acordo inicial.

Ela não poderia me forçar a fazer esse trabalho. Eu não assinei um contrato ou algo assim; o acordo que tivemos foi apenas entre ela e eu.

Eu não sabia como sair de tudo isso; Poderia simplesmente ter explicado que não tinha vontade de fazê-lo mais, mentir e dizer que tinha encontrado um novo emprego, que minhas dívidas foram completamente reembolsadas, mas as palavras escorriam dos meus lábios antes que eu pudesse pensar duas vezes sobre isso, e sem revelar nenhum detalhe, eu simplesmente decidi admitir em voz alta o que havia mudado e porque eu não sentia vontade de fazer esse trabalho mais.

"Eu conheci alguém..." Minha voz soou tão pequena e hesitante quando falei que mal estava acima de um sussurro, mas ao mesmo tempo eu quase podia ouvir a forma como ele ressoou em torno de nós antes que um silêncio ensurdecedor caiu.

A tensão estava borbulhando dentro de mim e quando eu não aguentava mais, olhei para encontrar o olhar de Costia, e a última coisa que eu esperava ver em seu rosto, era um sorriso.

Um sorriso autêntico e sincero.

Me pegou tão desprevenida que tive de piscar algumas vezes para ter certeza de que eu não estava apenas imaginando, mas toda vez que meus olhos se abriam novamente, a mesma expressão amável e calorosa estava em seu rosto.

"Agora eu entendo." Ela disse suavemente com um aceno de cabeça. "Bem, eu não posso dizer que estou surpresa doçura, você é jovem, inteligente, loira... Um partidão." Ouvindo sua lista, esses traços sobre mim, combinados com a piscadela que ela me deu, deixou minhas bochechas quentes.

"Não foi nada que eu tenha planejado, acredite em mim... Foi só... Aconteceu." Eu disse, estranhamente sentindo como se fosse uma explicação boa suficiente.

Ela balançou a cabeça e me deu um sorriso paralisado antes de um olhar distante cobrir seus traços, mesmo que fosse por um segundo. "Não é algo que você planeja, Clarke."

A expressão em seu rosto, por mais breve que fosse, me fez questionar se talvez ela não estivesse se referindo a si mesma, mas antes que eu pudesse encontrar uma resposta, essa expressão desapareceu e foi substituída por sua habitual de negócios.

Ela estava certa. Definitivamente não era algo que eu tinha planejado ou mesmo algo que estava procurando. Mas aconteceu.

E aconteceu com uma cliente.

Se Costia soubesse que grande parte teve nisso tudo...

"De qualquer forma, não posso forçá-la a trabalhar contra a sua vontade, ficar aqui e trabalhar para mim foi sua escolha desde o início, Clarke. Eu não sou sua dona, ou de seu corpo... Por mais bonito que ele seja." Ela concluiu com outro sorriso pequeno.

Eu não esperava que ela fosse ser tão... Compreensiva.

Uma grande parte minha estava profundamente preocupada de que ela ficaria com muita raiva.

Ela não era uma cafetona implacável ou uma criminosa sem escrúpulos.

Os que trabalham para a Agência estavam lá porque queriam. A maioria deles permaneceu pelo dinheiro, e não porque eles precisavam desesperadamente como eu fiz, mas porque eles queriam uma vida muito mais confortável, e o preço para isso não parecia ser tão alto para a maioria deles.

Eu só queria me formar.

E agora, eu queria tanto Lexa.

Mas o jeito que meu coração continuava vibrando no meu peito provou-me errada.

Talvez eu desejasse Lexa ainda mais...

Tentar suprimir o sorriso que já estava repuxando meus lábios era difícil, mas consegui esconder isso antes que Sylvia pudesse vê-lo.

"No entanto," continuou enquanto ela se inclinava da borda da mesa para voltar a sentar na cadeira atrás dela, onde ela estava sentada antes. "A razão pela qual eu queria ligar para você era porque queria oferecer uma nova tarefa como provavelmente suspeitava."

Abri a boca com a intenção de interrompê-la e repetir o que acabará de dizer, mas ela me deteve, levantando a mão.

"Eu sei, mas não é uma dessas tarefas, não se preocupe".

Franzi as sobrancelhas, inclinando a cabeça ligeiramente para o lado enquanto ela parou por um momento mais para considerar suas palavras antes que explicasse.

"Vamos fazer um novo acordo, está bem? Há uma grande noite de gala que está sendo planejada enquanto falamos, e alguém me pediu para fornecer alguns garotos e garotas apenas para a noite, apenas escolta, nada mais. E como eles exigem as mais atraentes e inteligentes, o primeiro nome em que pensei para este trabalho foi o seu, já que você certamente tem a mente mais bonita que eu tive o prazer de lidar."

Ela sorriu pra mim, e mesmo que soubesse que ela estava tentando puxar meu saco e assim me fazer aceitar essa nova tarefa, não pude deixar de me sentir lisonjeada com suas palavras.

Ela recostou-se contra a cadeira, olhando-me com nervosismo enquanto massageava o lábio inferior.

Era uma tarefa simples.

Eu não teria que entreter alguém do jeito habitual, só faria o papel de uma convidada em uma festa.

Não era a primeira vez que alguém solicitava apenas um rosto bonito para mostrar aos convidados em alguma festa de alto escalão, mas ainda assim eu podia contar nos dedos de uma mão a quantidade de vezes que esse era o caso.

Eu encontrei-me acenando com a cabeça. No começo, era apenas distraída, mas então fiquei mais convencida até eu lhe dar uma resposta adequada.

"Se é tudo o que eles pedem para a noite, então tudo bem. Quando é?"

Costia sorriu para mim.

"Eu sabia que eu poderia contar com você doçura, e não se preocupe, outros dos meus garotos e garotas também estarão lá. Ligarei para você em alguns dias para lhe dar todos os detalhes."

Acenei com a cabeça, dando-lhe um pequeno sorriso. "OK."

Levantei do meu assento assistindo enquanto ela começava a voltar para o trabalho e naquele momento, senti uma sensação de alivio, um peso tirado das minhas costas, uma leveza que não sentia desde o momento em que concordei em fazer parte da Agencia de Acompanhantes.

Eu sabia que ela não tratava todos os seus funcionários, como ela me tratara, com todos os favores especiais e me dando as tarefas mais simples sempre que podia; Sabia que ela não fazia isso só porque eu era mais jovem ou mais inexperiente, e parte de mim estava curiosa para saber por que ela me aceitou em primeiro lugar quando me vira limpando mesas no pequeno restaurante todos esses meses atrás.

E antes que eu pudesse reconsiderar e pensar duas vezes sobre o que eu estava perguntando, as palavras já estavam escorregando dos meus lábios em uma pergunta gentil e tentativa.

"Por que você me ajudou, mesmo que soubesse desde o início que eu não ficaria por muito tempo?"

Assisti enquanto ela levantava a cabeça de sua agenda, parecendo um pouco surpreendida com o que eu acabava de questionar, mas logo que se recuperou vi um sorriso pequeno e triste aparecer em seus lábios antes de responder em um tom honesto e humano:

"Digamos que eu tinha muito em comum com você, e estava em uma situação muito parecida quando tinha sua idade. E que se alguém me oferecesse a mesma escolha... Talvez hoje eu não estaria aqui."

Decepção, derrota e apenas uma sugestão de tristeza quase imperceptível eram audíveis em sua voz.

Eu não sabia se ela estava se referindo à situação de estudos ou à família que eu mal havia mencionado a ela, ou talvez até os dois. Tudo o que sabia era que eu não estava esperando esse tipo de resposta, que não falhou ao levantar mais perguntas dentro de mim. Mais uma vez eu me perguntei quem era essa mulher.

Mas eu já havia perguntado muito mais do que era da minha conta, e a única coisa que me restava dizer a ela era um sincero:

"Obrigada, Costia."

Ela me deu outro sorriso pequeno em troca.

"Por nada. Boa sorte com seus estudos, Clarke." Sua voz era gentil e seus olhos eram honestos enquanto dizia isso, e nem mesmo um momento depois, ela estava mais uma vez de volta ao trabalho.

Quando saí do escritório e desci as escadas para a entrada no piso térreo da Agencia, deixei-me sentir essa sensação de alívio me preenchendo cada vez mais.

Apesar de tudo ter dado certo, ainda me sentia um pouco preocupada, só podia torcer para que a entrevista marcada para o dia seguinte no Museu corresse bem; mas a sensação de exaltação junto a sensação de alívio que eu sentia naquele momento eram muito mais poderosas.

Eu tinha um sorriso cheio no meu rosto, e meu coração pulava de alegria.

A primeira pessoa em que pensei enquanto saía da Agência era Lexa.

Queria ouvir sua voz macia acariciando meus ouvidos.

Sua risada divertida ressoando em sua garganta.

Mas acima de tudo... Eu queria senti-la, e tê-la perto de mim.

Esperei por um táxi e assim que entrei em um, tirei meu celular do bolso do meu jeans, e naquele momento, quando encontrei novamente uma tela em branco sem mensagens ou chamadas perdidas, a preocupação de mais cedo voltou com força total.

O sorriso no meu rosto foi apagado, e substituído por um olhar de profunda preocupação enquanto olhava pela janela, observando a cidade passar na minha frente e a chuva continuar a descer sem piedade.

Eu não queria ligar e perturbá-la enquanto ela trabalhava... sem saber o quanto ela estava ocupada ou mesmo o que estava exatamente fazendo. Mas queria que ela soubesse que eu estava pensando nela, como em qualquer outro momento do meu dia.

Olhei para o meu celular enquanto considerava o que fazer, e então eu decidi.

- Espero que esteja tudo bem... sinto sua falta. C -

Uma mensagem. Uma frase. Simples. No entanto, expressava minhas preocupações e que eu estava pensando nela.

Li a mensagem outra vez antes de pressionar enviar e desligar meu telefone.

Eu realmente sentia sua falta. Eu sentia falta dela desde o momento em que entrei no meu apartamento três dias atrás.

Meu olhar voltou para fora da janela e um novo arrepio percorreu minha espinha quando percebi as nuvens obscuras que se formavam e o relâmpago distante que acabava de passar pelo céu.

Engoli com força quando envolvi meus braços em volta de mim mesma.

Espero que você esteja em algum lugar quente, Lexa. Espero que você esteja em algum lugar seguro...

 

LEXA

Eu estava congelando.

A temperatura tinha caído drasticamente durante a tarde, e isso certamente não fazia as coisas muito confortáveis ​​para uma emboscada em tal lugar.

Ao meu redor  não havia nada mais que bosques e montanhas.

Eu estava a milhas e milhas de distância de qualquer sinal de civilização, exceto da cabana de troncos do guarda florestal descansando na frente do pequeno lago a cerca de cem metros da minha posição atual.

Raven estava certa.

Aparentemente, esse cara tinha encontrado um emprego muito isolado como um guarda, fingindo outro nome para operar em completo isolamento, onde ninguém o reconheceria, e eu poderia apostar que todas as informações que eu precisava estavam em algum lugar exatamente naquela cabine.

Eu só tinha que esperar.

Eu poderia ter contornado o lago, entrado furtivamente na casa e procurado as informações que a Agência estava procurando.

Mas eu precisava respeitar os pedidos da missão.

Matar o alvo.

Obter as informações.

Volte para o ponto de encontro.

Verifiquei a qualidade do sinal do rádio no caso de eu precisar entrar em contato com o suporte de emergência, e não fiquei surpresa ao ver que era incrivelmente fraco; provavelmente porque eu estava bem no meio da floresta.

O sol estava se pondo e as estrelas começavam a aparecer em um céu ainda azul claro.

Tomei um segundo a mais para aproveitar esse momento antes de decidir usar os óculos de visão noturna, sentindo um sorriso puxando meus lábios quando me lembrei da última vez que eu testemunhei uma visão tão linda; não era muito sobre o próprio pôr-do-sol, mas mais sobre uma certa jovem loira, que ultimamente ocupava a maioria dos meus pensamentos.

Eu me movi, franzindo a testa enquanto tentava ajeitar o colete que Raven insistiu para que eu usasse sob o uniforme, não importava qual a posição ele permanecia sempre pressionado meu peito esquerdo.

Estava ficando tão desconfortável que eu estava pensando em simplesmente tira-lo, já enviando uma desculpa silenciosa para Rae, mas então, acima dos ruídos da floresta, acima dos sons dos pequenos animais que se moveram ao meu redor e do assobio do vento frio através das árvores, um som distante e inquebrável chamou minha atenção.

Minha cabeça ergueu-se e, através dos óculos de visão noturna, vi um velho jipe ​​aparecendo na estrada de terra no lado leste e estacionando ao lado da cabine.

Senti meu coração começando a bater mais rápido, mais alto, e minhas mãos tremiam um pouco mais enquanto gotas de suor, apesar da temperatura muito fria, se juntaram na minha testa.

Não era a primeira vez nos últimos dois dias que sinto todas essas sensações misturando-se, fazendo-me perder minha concentração e testando meu controle legendário.

Era algo que eu não estava acostumada a sentir; o nervosismo. Essa sensação de antecipação que não coincidiu nem um pouco com o que eu sempre experimentava durante todas as minhas missões anteriores.

A adrenalina me deixava alerta, animada, mas cautelosa, fazia minhas mãos coçarem e minhas garras e presas aparecerem, prontas para cavar na carne da minha presa, prontas para encher meu nariz com o aroma metálico do sangue.

Eu era um fantasma.

O anjo da morte.

Silenciosa.

E invisível.

Coloquei o zoom nos binóculos e esperei  o tempo suficiente para ver meu alvo sair do jipe, vestindo o uniforme do guarda e carregando uma espingarda sobre o ombro e o que parecia ser um notebook debaixo do braço antes de entrar na cabine, apenas para sair, nem um minuto depois, tendo guardado a arma e o notebook, e indo para a parte de trás da casa onde havia um dossel de madeira e uma pilha de registro apoiada sob uma capa impermeável.

Aquilo foi o suficiente para mim.

Ele estava sozinho.

E ao lado da espingarda que ele tinha guardado e que eu suspeitava que atirasse apenas tranqüilizantes para os animais que viviam nesta área, ele não parecia levar outras armas com ele, e mesmo que ele fizesse, não teria a ocasião para usá-los.

Eu sabia que ele era perigoso, e que ele certamente não precisava de armas; Raven estava certa quando me avisou sobre esse cara, seu dossiê e listas de missões como ex-agente da CIA eram tão grossos quanto uma lista telefônica.

Mas o meu também era.

Não cheguei a estudar cada folha de seu arquivo.

Eu sabia o que eu precisava saber, as partes relevantes. E eu não precisava saber todas as coisas horríveis que ele havia feito para merecer esse fim.

A situação seria diferente se em seu arquivo eu tivesse encontrado algum crime cometido em seu passado que faria o sangue ferver nas minhas veias, permeando minha mente com raiva, fazendo com que eu perdesse o foco e me desviasse do objetivo.

Quando as coisas se tornam pessoais, é mais fácil cometer erros; sendo liderada por raiva, sensação de vingança, dor...

Eu sabia bem sobre isso, o suficiente.

Porque experimentei essas emoções. Senti elas crescerem dentro de mim, fui possuída por elas, encarnavam o mais profundo e mais sombrio senso de vingança que um ser humano poderia ter.

Só para perceber que, se eu quisesse ter sucesso em concluir meu objetivo, teria que enterrar essas emoções no fundo.

Aquelas eram emoções perigosas para sentir e lidar enquanto você precisa se preparar para algo que exigi precisão, uma mente clara e rios de gelo que substituíam todas as veias em seu corpo, de modo que isso a torne entorpecida para qualquer outra coisa.

Mas naquela noite, ao contornar o pequeno lago quieto que permanecia nas sombras, movendo-me silenciosamente, como se eu fosse parte dessa mesma floresta, as sensações que eu sentia crescer dentro de mim, estavam entrando no caminho do meu dever.

Dúvidas.

Havia muitas que me faziam pensar demais quando tudo o que eu deveria fazer era agir.

Os pensamentos me deixavam fraca.

Eu não tinha motivos para me sentir tão nervosa, ansiosa, e... incerta.

Havia feito missões como essa inúmeras vezes, e sempre saí vitoriosa, com objetivo cumprido.

Desacelerei o passo até parar e me esconder em uma sombra, não distante do meu alvo, enquanto ele continuava juntando troncos de madeira. Olhei para baixo e respirei fundo enquanto pensava no que poderia ter mudado.

A resposta foi sussurrada no meu ouvido pelo vento. Suave, uma delicada carícia. Liso, parecido com uma voz muito familiar que começou a me chamar de minhas memórias.

Meu peito estreitou e eu tive que me forçar a respirar.

Eu conhecia essa voz.

Uma memória recente piscou na minha frente sob o fundo preto e verde da viseira noturna que eu estava usando.

 E então eu sabia.

Por fim, entendi por que me sentia assim.

Meus pensamentos me levaram para o motivo de eu ultimamente sentir todas aquelas sensações antigas que eu pensei terem caído em um abismo escuro e frio.

Um sorriso puxou meus lábios por um segundo enquanto minha garganta apertava para conter as lágrimas.

Eu sabia o por que desta vez a missão ser diferente. Pois desta vez, se alguma coisa desse errado, eu teria algo a perder.

Esse pensamento escuro era suficiente para me fazer reconsiderar tudo isso.

Mas não pude...

Sob meus medos e minhas inesperadas incertezas, eu sabia que não podia deixar esta presa viver um minuto mais.

Apertei meu maxilar.

Observei enquanto continuava pegando madeira em seus braços, possivelmente para a lareira, e tomei uma respiração profunda, silenciosa, tremendo, fechando minhas mãos em punhos para não senti-las tremendo, antes de afastar a viseira noturna, amarrando silenciosamente as tiras no loop de minhas calças antes de eu finalmente sair das sombras.

Levei um momento para me acostumar com a nova luz fraca oferecida pelo início da noite e pela grande lua que estava começando a brilhar no céu, fornecendo apenas iluminação suficiente, e um segundo depois eu estava pronta. Tirei o fio especial do meu bolso enquanto eu dava alguns passos mais perto.

Estava logo atrás dele e ainda não tinha notado nada.

Posso virar e sair...

O pensamento cruzou minha mente no momento que eu levantei minhas mãos e cheguei ao ponto de passar o fio afiado ao redor de seu pescoço...

Eu hesitei.

Sem querer, desci um pequeno passo para trás e um galho seco quebrou alto sob minha bota.

Foi tudo que demorou.

E pela primeira vez, minha presa ouviu minha presença.

Eu ouvi o som dos troncos caindo no chão, mas todo o resto aconteceu tão rápido que eu não registrei quando ele tirou algo de suas calças cargo e não o vi virando um pouco para o lado.

Mas senti cada segundo do momento em que a faca de caça serrilhada cortou o material do meu uniforme, quebrou minha pele e cada centímetro da lâmina longa, fria e gelada mergulhando profundamente na carne da minha perna.

O grito que deixou minha garganta não atingiu meus ouvidos, mas queimou meus pulmões quando a intensidade da dor mergulhou profundamente no meu crânio e perfurou todos os nervos do meu corpo, fazendo-me tropeçar nos meus pés antes que a dor me forçasse no chão.

Ele estava em cima de mim antes que eu pudesse tentar respirar, envolvendo sua mão firmemente em torno de minha garganta.

Seu rosto bem na minha frente.

Suas características afiadas e seus olhos frios e perversos, mesmo no escuro.

"Quem te mandou?" Ele exigiu com raiva, antes de segurar o punho da faca que ainda estava embutida na minha perna.

"Vai se fuder." Sibilei; Tentar lutar contra ele nesta posição era impossível em minha condição, mas fiquei impressionada que mesmo com a dor que me destroçava por dentro, ainda consegui não apenas falar, mas fazer com que parecesse intimidante.

Exceto que essa não era a resposta que ele estava procurando, e eu tinha que pagar por isso.


Notas Finais


Eita!

Fé no pai que o próximo não demora a sair :)

Bjs


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