—P.O.V – 414.—
P.O.V – Tzuyu.
— Tzuyu.
— O que?
— Eu acho que o meu nome é Tzuyu. – Jungkook se afastou um pouco e me encarou, sério.
— Isso é bom, não é? Quero dizer, você está lembrando, suas memórias estão voltando. E isso é... Bom.
— É, mas eu não sei se quero lembrar. Acredito que exista um motivo para eu ter perdido a memória, entende? Como se fosse ruim demais para ser lembrado, como se eu quisesse esquecer. – ele não parecia saber o que me dizer, então apenas me abraçou.
— Eu... Eu sinto muito.
— O que quer dizer com isso?
— Entendi o seu pesadelo. E me sinto honrado em saber que você confia o suficiente em mim para permitir que eu te beije. – preferi não responder.
As luzes da cúpula voltaram ao normal e parecia dia novamente.
— Acho melhor voltarmos, a Sana deve estar nos procurando e nós precisamos retornar a base. – balancei a cabeça positivamente e ele me soltou aos poucos, segurando minha mão e seguindo em frente.
Quando chegamos lá em baixo o clima estava estranho. Não havia mais música, as pessoas não dançavam mais. Elas conversavam entre si e algumas até gritavam. A atenção foi voltada para nós e todos se calaram.
— É ela. – uma mulher afirmou.
— Tem certeza? Ela parece mais alta. – o homem ao lado dela retrucou.
— Não. Eu tenho certeza. É ela. Ela é a garota da foto. É ela que veio de fora.
— Do que vocês estão falando? – Jungkook perguntou, me colocando atrás dele.
— Nun postou uma foto dela!
— É ela que está adoecendo as pessoas!
— Vamos matá-la!
— Nós precisamos ir embora. – ele sussurrou para mim.
— Mas e a Sana?
— Ela provavelmente já deve ter ido.
Eles avançaram em nossa direção e Jungkook deu alguns passos para trás, tirando uma arma de dentro do casaco.
— O que você está fazendo? – indaguei.
— Não se aproximem. Eu tenho permissão para utilizar da dor se não obedecerem.
A multidão parou de avançar, começando a discutir uns com os outros. Era quase impossível entender o que estavam falando.
Ouvi disparos e fechei os olhos com força. Quando tornei a abri-los, havia se aberto uma passagem entre as pessoas. Era Yoongi. Ele atirou para cima.
— Larga a arma Jungkook. – Yoongi ordenou, mirando na cabeça dele. — Larga a arma.
Jungkook respirou fundo e colocou a arma no chão. Yoongi olhou para mim e passou a mirar em minha direção, colocando o dedo no gatilho.
[...]
Sala de exames.
Narrador.
Ji-yong se deitou para fazer a ressonância magnética*.
— Evite se mover, isso atrapalha o processo. – Rintarou falou pelo microfone, do outro lado da cabine. — Você também vai ouvir um barulho bem alto, mas não se preocupe. É apenas a máquina funcionando.
— Está bem. — o Coronel fechou os olhos e o Médico Okabe deu início ao processo.
Corredor.
— Acham que devemos contar? – perguntou o Primeiro Ten.
— Ah, claro. Vamos cumprimentá-lo e dizer: “Coronel, gostaríamos de informar que a sua irmã não está na base. E por incrível que pareça, nenhuma das câmeras registrou ela saindo.” – ironizou o Segundo Ten., aflito.
— Mas se deixarmos que ele descubra sozinho, vai acabar nos matando. – Kim Namjoon leva a mão a cabeça, retirando a boina preta. — Parem para imaginar, se não a encontrarmos e ele tocar no assunto, o que vamos dizer? “O senhor não pode vê-la agora, ainda estamos a procurando.”?!
Seok-jin descruzou os braços e se desencostou da parede.
— Não digam nada a ele. Isso o faria ficar nervoso e atrapalharia os exames. Não se preocupem, eu vou resolver. – ele afirma e segue pelo corredor, abandonando os outros militares.
[...]
Campo de treinamento.
— Nós treinamos vocês para serem resistentes! Eu não quero ver ninguém parado! O primeiro a cair vai limpar os banheiros durante uma semana! – grita o Cabo.
— Sim senhor, senhor. – os soldados respondem enquanto marcham na chuva artificial do domo.
— Isso é uma piada? – Jackson começa a rir. — A minha namorada consegue gritar mais alto que vocês. Eu vou tentar de novo. Nós treinamos vocês para serem o que?!
— Resistentes, senhor.
— O que eu não quero ver?
— Ninguém parado, senhor.
— Ótimo, ótimo. Estão começando a melhorar. – ele balança a cabeça e dá meia volta, andando agora para o lado oposto, no intuito de observar a todos.— No chão! Eu quero quinhentas flexões!
— Sim, senhor.
— Andem logo, é para hoje, mocinhas. Vamos começar! Quem não conseguir acompanhar, pede pra sair! Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito. Quem não conseguir acompanhar.
— Volta pra casa, senhor.
Jackson para no meio do caminho, levantando a cabeça. Ele umedece os lábios e ri da situação, olhando para o mais novo Cabo.
— Eles me surpreenderam desta vez. Você disse pra eles que eu faria algo assim? – ele sorri, simpático.
— É, talvez. Talvez eu tenha dito. – o garoto devolve o sorriso, ajeitando a postura.
Jackson se aproxima e dá uma joelhada no estômago dele, o fazendo cair na lama.
— De dois em dois meses, eu recebo novos soldados para treinar. E desta vez, você acabou com a minha diversão. Se fosse para eles me responderem certo da primeira vez, eu falava o que eles precisavam me responder! – ele se agachou, colocando a mão na cabeça do garoto. — Se ponha no seu lugar. – afundou a cabeça dele na lama. — Mostra pra eles como se faz, eu quero quinhentas flexões.
— Você não pode fazer isso. Eu também sou um Cabo agora.
— Você pode ter sido promovido, mas eu continuo sendo mais importante. — ele abre um sorriso e se levanta.
— Cento e seis, cento e sete, cento e oito, cento e nove.
— Por causa da brincadeira do nosso amiguinho aqui, vocês vão começar de novo! — os soldados fazem barulhos de raiva e frustração. — Um, dois, três, quatro, cinco.
[...]
O Cabo Jackson caminha pelo corredor, tendo como destino o seu quarto. Assim que ele abre a porta, se depara com Seok-jin encostado em sua cômoda, enquanto joga uma bola de borracha na parede e a pega em seguida.
— Oi, Jackson.
— O que você está fazendo aqui? – ele fecha a porta.
— Treinando os novatos? – Jin observa as botas sujas de lama. Joga a bola mais uma vez e a pega antes que atinja o chão.
— Sim. O você quer? – tenta mais uma vez.
— Você pode estar enganando o Coronel porque ele é ocupado e não presta atenção nisso, mas... Eu sei o que está acontecendo. Sei que você conhece a irmã dele.
Jackson fica paralisado por um tempo, refletindo em que ponto a conversa chegaria.
— Está bem. Eu conheço ela. E o que tem isso?
— Além de a existência dela ser um segredo? – ele leva a bola para mais perto do rosto, procurando os detalhes. — Ela não está na base. E como é amigo dela eu pensei que talvez você soubesse onde ela foi.
— Não tem câmeras por todo esse lugar? Procure nas gravações, tenho certeza que vai encontrar algo.
Jin ajeita sua estatura e anda em sua direção.
— Ela não aparece nas filmagens. Mas você já sabia disso. Estava tentando ganhar tempo. – ele bate a mão contra o peito dele, devolvendo a bola. — Eu quero a Sana aqui antes de anoitecer. Se acontecer algo e ela se machucar, eu já sei quem culpar. – se retira do quarto e bate a porta.
— Droga! – Jackson joga a bola pelo quarto e ela derruba algumas coisas. — Se eles soubessem de tudo Sana, eu já estaria morto.
[...]
Sala de exames.
— Como ele está?
— Cresceu dois milímetros.
— E o que você acha? – o Coronel suspira.
— De agora em diante só vai piorar. As dores de cabeça, os enjoos, a perda de equilíbrio, as alterações de personalidade e comportamento. Ji-yong, se você quiser operar, o momento é agora. Quando ele estiver com mais de dois centímetros, as coisas vão ficar um pouco complicadas.
— E tem riscos?
— Toda cirurgia tem riscos. Você pode não acordar mais, perder a memória, ter dificuldade para falar, andar.
— Então eu não posso fazer. – ele se levanta e começa a calçar as botas.
— Pense bem! É um tumor. Não há nenhuma chance de você sobreviver sem essa cirurgia. Se vai morrer de todo jeito, porque não se arisca tentando salvar sua vida? – ele impede que o Coronel saia da sala.
— Você consegue fazer? – pergunta angustiado.
— Tenho certeza.
— Eu não posso demonstrar fraqueza agora. Ninguém pode saber disso. Você entende?
— Claro, senhor.
— Ótimo. A propósito, como estão os exames da garota?
— Bom, eles ficaram prontos. Mas ninguém olhou, com tudo que acabou acontecendo naquele dia.
— Tudo bem. Você já olhou?
— Eu não sabia se tinha permissão.
— Vá pega-los. – ele ordena e Rintarou se apressa.
— Aqui estão eles. – Okabe gesticula e começa a abrir o envelope. Seus olhos correm pelo papel e sua expressão muda.
— O que houve?
— Por mais inacreditável que possa parecer, ela tem o vírus.
— Como assim ela tem vírus? Nenhum de nós ficou infectado! – grita.
— Eu sei, isso é incrível. Ela tem o vírus mas é como se ele estivesse adormecido. Está no organismo dela, mas ele não está agindo.
— Isso quer dizer que ela é a cura? – o Coronel se enche de esperança.
— Não. Mas parece que alguém descobriu.
[...]
Em algum lugar da base.
Um soldado estava amarrado em uma cadeira no centro do cômodo, com um o pano escuro na cabeça. Alguém atrás dele puxa o pano e o soldado tenta virar o rosto para ver quem é. A pessoa atrás dele o força a olhar para frente.
— Então você é o líder da resistência. – o homem escondido pelas sombras dá um passo a frente.
— E você faz parte do conselho*. – Tae observa cada detalhe da sala, tentando descobrir onde ele estava. — O que vai fazer? Me matar?
O homem ri e puxa uma cadeira, para se sentar de frente para ele.
— Não. Nós temos coisas em comum. Inimigos em comum. E o inimigo do meu inimigo é o meu amigo.
— Jeito interessante de demonstrar isso. – Taehyung se refere as cordas em volta de seu corpo.
— Oh, me desculpe. Mas se eu te contar o meu plano e você recusar, ai sim terei que te matar. Infelizmente eu não poderei te soltar, não agora. – apesar de ter praticamente feito uma ameaça de morte, a voz do homem estava completamente calma.
— Por que acha que eu ajudaria vocês? Vocês bateram no meu amigo! – ele se exalta*.
O homem respira fundo e perde o ar de complacente*.
— Tem sorte de não termos matado ele! – grita.
— Claro, um assassinato dentro da cúpula chamaria muita atenção. — satiriza* Tae.
— Quer saber, vamos logo ao que interessa antes que eu mate você. – ele ergue uma sobrancelha e continua. — Boatos por aí dizem que você quer tirar o Coronel do poder.
— Você não deveria acreditar em boatos.
— Não, não. Isso é uma coisa boa. Porque eu também quero tira-lo do poder.
Taehyung fica abismado com o que acabou de ouvir. Por que um membro do conselho tiraria o Coronel do poder?
— E o você quer de mim?
— Sua ajuda. Seu apoio. Chame do que quiser. Uma mão lava a outra. Vamos concordar que nenhum de nós está em posição de negar isso. O que você me diz?
Apesar desses não serem exatamente os planos de Tae, se ele não concordasse, não sairia daquela sala vivo.
— Feito.
[...]
P.O.V – Tzuyu.
Prendo a respiração, esperando que Yoongi atire em mim. Ele puxa o gatilho e posso jurar que vi a bala passar ao lado do meu rosto, atingindo algo atrás de mim. Puxo o ar para dentro de meus pulmões, sentindo um pouco de alívio.
— Não tem porque eu matar ela. Se ela estivesse infectada, todos nós já teríamos morrido. Ela teria morrido. – ele guarda a sua arma e pega a de Jungkook no chão. — Não ousem a se aproximarem dela novamente ou a ameaçá-la de morte. Jungkook, volta pra base. Seu lugar não é aqui. E você, vem comigo. – olhei para Jungkook antes de ir em direção a Yoongi sem ter muito o que fazer. Ele pegou no meu braço e começou a me puxar para longe da multidão.
Yoongi não disse nada para mim, o que foi bem diferente do que eu esperava. Pensei que ele fosse gritar, ficar bravo e me dar uma grande lição de moral.
— Você não está bravo?
— Estou. Estou muito bravo. – disse ríspido.
— Me desculpe. – ele parou de andar e se virou para mim.
— Me desculpe? Tá falando sério? Aquele babaca do Nun* postou uma foto sua na rede. Se você corria perigo antes, agora só está pior. Você não pensa nas consequências?!
— Como eu ia saber que ele iria postar uma foto minha justo hoje?! – gritei de volta.
— Se você tivesse ficado na minha casa, nada disso teria acontecido! Além do mais, o que você estava fazendo com ele?
— Com “ele”? Está falando do Jungkook?! Ele é meu amigo!
Yoongi soltou o ar pelo nariz e voltou a andar.
— Amigo. – repetiu.
Soltei meu braço de sua mão e apressei meus passos, passando na sua frente.
— A onde você vai?
— Tomar banho! Por que?! Quer vir comigo? Acha que eu vou fugir pela janela?
— Pra falar a verdade, tomar banho com você é uma ótima ideia. – ele sorriu e eu revirei os olhos, entrando na casa.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.