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História A Cor Púrpura De Teus Cabelos - Doce Como Chá


Escrita por: thecolorpurple

Capítulo 66 - Doce Como Chá


Fanfic / Fanfiction A Cor Púrpura De Teus Cabelos - Doce Como Chá

 Antes de bater na porta do apartamento de Miranda, Lola tomou fôlego pois a presença da professora sempre lhe tirava o ar e a deixava aflita. Cada célula do corpo da aluna ansiava pela presença de Miranda, pois não havia mais ninguém que a deixasse tão feliz.
 Ao terceiro toque na porta, a professora; ainda abalada devido à briga que teve com Henrique, abriu a porta e ao ver que era Lola, exibiu um grande sorriso nos lábios enquanto a mirava com seus belos olhos verdes.
 - Olá, professora... – cumprimentou a menina, enquanto colocava uma das mechas de cabelo atrás da orelha.
- Olá. Entre, por favor. – convidou gentilmente a professora.
 Lola entrou no apartamento e esperou que Miranda trancasse a porta. Ao ver o rosto da bela mulher, ela percebeu um ar de tristeza e resolveu perguntar se tudo estava bem com ela.
- Estou bem... – mentiu a loira.
- Tem certeza? Pois não é o que parece. – disse Lola com toda a sua sinceridade. Isto pegou a professora de surpresa.
 - Porquê diz isto? Não acredita em minhas palavras?
- Acredito, mas não consegues mentir com seu olhar. Sei que no fundo não está bem. Vamos, confie em mim e me conte o que lhe aflita.
 Ela recostou uma das mãos no ombro da professora, fazendo com que a mesma relaxasse e após dar um suspiro bem longo, tomou coragem e disse que realmente não estava nada bem.
 - Brigou com Henrique? – Lola perguntou preocupada.
- Não sei se devo lhe encher de preocupações... Você não precisa saber dessas coisas.
- Já disse que pode contar comigo para tudo. Você é a única que me ouve e acho injusto que eu não possa fazer o mesmo com você.
- Sei disto, mas no meu caso é diferente. São assuntos de adultos Você sabe...
- Há! – ela soltou uma risada rouca- Então, está dizendo que sou muito nova para ouvir os seus problemas? Acho que para uma garota que nem completou os seus 18 anos ainda e já perdeu a mãe e vive com um pai que está prestes a formar uma nova família, tenho vivência suficiente para ouvir seus ‘’assuntos de adulto’’.
 Miranda sorriu devido ao que ouviu sair da boca da menina.
- Ande. Vamos, me conte o que houve.
 Com Lola a encorajando, a professora resolveu contar que havia brigado com Henrique e que ele havia partido para um hotel. A menina ouviu tudo com bastante atenção e ficou perplexa com o que ouviu.
- Como ele pôde lhe abandonar em uma hora como esta?
- Eu me pergunto o mesmo... mas o pior de tudo não é ser desprezada por ele e sim vivenciar e lembrar do meu filho que não pude conceber ao mundo. – ela engoliu em seco enquanto continha uma lágrima.- Isso é o que mais me afeta por dentro. Saber que jamais poderei gerar um bebê em meu ventre e imaginar como estaria meu filho nos tempos de hoje. Imagino como seria sua voz, seu rosto, sua personalidade ou o que gostaria de comer, ouvir, ler e fazer. Pensar que não tive o prazer em ao menos conhecê-lo ou ver seu rostinho me destrói completamente. Ter escondido por todos esses anos tudo isso me fazia muito mal, e quando enfim resolvi contar a verdade ao meu marido, ele me abandonou por completo me desapontando. Saber que nunca serei chamada, carinhosamente, de ‘’mãe’’ acaba comigo. Eu... – ela não se conteve e deixou que o choro invadisse o seu ser e no mesmo momento, a menina ao seu lado se comoveu e estendeu seus braços para apará-la, enquanto dava leves batidinhas em suas costas.

****

 A pobre mulher e dona de belos olhos verdes,chorou nos braços da jovem de cabelos cor de púrpura. As duas ficaram abraçadas por minutos enquanto estavam sentadas no sofá. Mais uma vez, a tarde que estava designada a ser preenchida por aulas de reforço da língua portuguesa, foi preenchida por momentos como estes, que deixavam as duas ainda mais próximas.
 Lola não era muito boa com as palavras, então ao invés de reconfortar Miranda e preencher o vazio e silêncio do local com palavras de conforto, ela simplesmente, resolveu dar apoio e carinho. Recostou Miranda em seu colo enquanto ela se debulhava em lágrimas.
 Ver a professora tão frágil daquele jeito, fazia com que Lola lhe enxergasse de um modo diferente. De costume ao ver a mulher no posto de professora com seu perfil recomposto, sério e profissional no trabalho, ela se surpreendeu ao ver o quanto Miranda era ‘’humana’’. Quem a visse de fora no seu posto de mestra e deparasse com seu outro lado se surpreenderia. E naquele momento os papéis estavam trocados, a mais nova é que tomava o posto de aluna, era a que consolava e dava apoio a mais velha e experiente professora, mas naquele instante elas não eram mais aprendiz e mestre e sim duas mulheres: uma frágil e desolada e a outra, com toda a sua juventude e de certo modo com sua experiência, conseguia ser o alicerce para a outra naquele momento tão delicado. No ápice da tristeza e desilusão, por ter sido deixada pelo marido, naquela noite, Miranda deixou toda a sua apreensão de estar próxima à Lola e se entregou naquele momento para ela. Naquele instante ela percebeu, enquanto sentia os dedos dela alisarem sua cabeça, que a relação entre elas não era apenas uma atração carnal e sim algo a mais. Algo solene em que duas almas estavam ligadas à outra e sua diferença de idade não tinha importância. O que ambas sentiam, uma pela outra, era algo que ia além das aparências físicas, as duas se sentiam atraídas pelo interior da outra e isso era o que importava.

****
 Os dedos pequenos e juvenis ainda roçavam, levemente, o couro cabeludo e entrelaçavam entre os fios loiros do cabelo da esposa de Henrique. Quando a menina se deu conta de que ela havia adormecido em seu colo, resolveu levantar do lugar onde estava sentada, bem devagar para não acordá-la, mas não conseguiu este feito. Os olhos verdes e penetrantes da mulher a fitou, enquanto suas pálpebras abriam e fechavam em busca do foco da visão.
- Eu não quis lhe acordar. – sussurrou a garota.
- Não foi sua culpa... Eu tenho sono leve. – declarou, enquanto tentava se levantar do sofá.
 Lola sorriu sem graça e viro-se em busca de sua mochila para ir embora, afinal, estava claro que a professora não tinha condições para dar aula naquela tarde. Miranda percebendo a movimentação dela para ir embora, resolveu perguntar:
- Onde você vai?
- Vou embora. Te deixarei descansar...
- Não vá! – Miranda a surpreendeu ao pegar em sua mão.
 Lola arregalou os olhos e se arrepiou ao sentir o toque de Miranda em sua pele.
- Preciso ir e vejo que você não está bem para dar aula. Não tem problema, podemos deixar para a semana que vem...
- Não estou pedindo para que fique para a aula e sim para... – ela não conseguiu completar a frase.
- Para...? – indagou Lola.
- Para me fazer companhia.
 Esta frase pegou a menina de surpresa e fez seu coração bater mais rápido.
- Eu não quero ficar sozinha...
 Ao ver o rosto de Miranda exibir um ar tristonho, Lola desistiu de ir embora e largou a mochila no chão onde estava antes.
- Mas se você tem algum compromisso eu lhe entendo.
- Na verdade eu não tenho. Bom, eu tinha, mas posso faltar.
- Tem certeza? – perguntou a professora.
- Sim. – respondeu sorrindo.
- Que bom. Então vou preparar um chá para nós na cozinha.
- Se não se incomoda, poderia eu fazer? Claro, isso se você não se incomodar com a minha presença em sua cozinha.
- Claro que não me importo, pelo contrário.
 As duas seguiram para a cozinha e enquanto tomavam chá de camomila bem quentinho, Lola a surpreendeu ao tocar no nome de sua mãe falecida.
- Sabe, eu consigo entender o que você sente com a perda de seu filho. Quando perdi minha mãe, ainda muito criança, senti um buraco enorme dentro do meu peito. Lembro de que ela costumava me colocar para dormir enquanto cantarolava músicas ou lia algum livro. Todas as noites ela me cobria e dava um beijo em minha testa e antes de me desejar boa noite, ela murmurava o quanto me amava e tentava me convencer de que não havia monstro embaixo da minha cama, mas eu só me tranquilizava quando ela olhava embaixo da cama e dizia que mal algum aconteceria comigo e eu questionava que se ela não dormisse comigo os monstros voltariam, mas então ela dizia: ‘’Não importa onde estou, saiba que sempre estarei lhe protegendo e nunca se esqueça que te amo muito. Você é a pessoa mais importante da minha vida.’’ E eu com a minha ingenuidade de criança, não sabia o peso e importância de suas palavras mas hoje sei exatamente o que aquilo significava. Depois que ela morreu, a frase ficou mais marcada ainda em minha mente e meu pai, por mais que tentasse fazer seu papel não conseguia fazer o mesmo que ela. Então fui crescendo e compreendi que o monstro de verdade não era aquele imaginário que me assombrava no escuro, mas sim a morte que havua tirado minha mãe de minha vida para sempre.
 Miranda quase se engasgou com o chá que tomava e sentiu arder em sua garganta a bebida que descia com gosto doce.
- Eu sinto muito pela sua perda. Imagino como deve ter sido difícil ter crescido sem uma figura materna ao lado.
- Obrigada por suas palavras, mas contei esta história para lhe dizer que eu, mais do que ninguém, sei o que você sente. Sei o quanto é ruim perder alguém que se ama.
 A mão de Miranda encontrou a de Lola em cima da mesa e repousou sob ela por uns instantes. O ato deixou Lola surpresa e um sorriso de compaixão surgiu em seu rosto.
- Apesar de ter sido incompreendida a minha adolescência inteira, graças ao destino, pude conhecer você. E você é a pessoa que mais me compreende no mundo ou talvez seja a única. De algum modo eu me espelho em você e vejo o quanto você ama o que faz, o brilho nos seus olhos ao dar aula e toda a sua dedicação e ainda mais na sua profissão que, infelizmente, não é bem reconhecida como deveria ser. Te admiro não só por ser quem tu és e me acolher sempre, mas por ser essa pessoa incrível que és e fazer tudo com amor. Se eu conseguir ser a metade da pessoa que você é, serei muito feliz no futuro.
 Aquelas palavras surpreenderam Miranda pois Lola, apesar de ser uma pessoa bastante sincera e franca com suas palavras, poucas vezes conseguiu passar tanto carinho e amor por alguém assim.
 - Eu... Olha... – gaguejou a professora- Você realmente me deixou sem palavras, Lola. Obrigada de coração e eu queria ser a metade da pessoa que você me descreveu.
- Mas você é. Você é isso e muito mais.
 Por mais triste que Miranda poderia estar, toda a sinceridade súbita de Dolores a fez sentir-se como nunca antes. Claro que já havia sido elogiada pelo seu trabalho, mas não associado  ao seu jeito de ser e muito menos tinha escutado coisas tão lindas de alguém mais próximo, como seu marido, por exemplo.
 Seu coração encheu-se de alegria e então deixou-se levar, talvez, pela atmosfera do momento, e fez um convite que Lola sequer pensou em recusar.
- Quer dormir aqui está noite?



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