História A Dança - Capítulo XXIII

Nico

Nico mordeu o lábio, pensativo.

Ele estava deitado em sua cama decidindo se levantava ou não, afinal era sábado e ele não tinha nenhum compromisso. Pensou em ligar pra Will, mas logo se lembrou que o namorado estava em seu estágio no hospital e que por isso eles apenas se veriam no dia seguinte.

O moreno se virou na cama e escondeu o rosto no travesseiro, soltando um suspiro misturado com um resmungo. Ele já estava se sentindo entediado, já que Nico odiava não ter o que fazer. Era uma coisa que, simplesmente, o enlouquecia.

Repassou em sua mente tudo o que ele tinha pra fazer do colégio e percebeu que já tinha terminado tudo, uma vez que fazia apenas duas semanas que as aulas tinham começado. Ele suspirou audivelmente.

Depois de uns dez minutos se revirando, Nico decidiu se levantar. Ele se dirigiu ao banheiro preguiçosamente, fez sua higiene e desceu as escadas, decidindo tomar um café antes de resolver o que fazer.

Quando chegou à cozinha, encontrou suas irmãs rindo.

- Posso saber o que é tão engraçado? – pergunta Nico parando no batente da porta.

Suas irmãs se viram pra ele com um sorriso, ainda parecendo divertidas.

- Estávamos conversando sobre nossos namorados – explica Bianca.

Nico ergue uma sobrancelha, interessado.

- Então quer dizer que a Haz e o Frank estão realmente juntos? – pergunta para o nada.

O moreno finge seriedade, fazendo a mesma expressão de seu pai quando ele levou Will pra jantar, ou seja, ele parecia meio bravo. Bianca bate o guardanapo de pratos nele.

- Não seja chato – repreende ao ver Hazel morder o lábio nervosamente.

Nico ri daquilo e, em um momento inesperado, ele abraça sua irmã mais nova. Estava feliz por ela, embora um pouco preocupado. No entanto, sabia que Hazel sabia se cuidar, por isso apenas depositou um beijo em sua testa em sinal de confiança.

- Parabéns, Haz. – diz com sinceridade.

Hazel retribui o abraço carinhosamente, parecendo levemente surpresa com o ato.

- Obrigada, Nico.

Nico solta a irmã com um sorriso, pega uma xícara no armário e se senta no banco em frente à bancada. Ele se serve com um pouco de café e começa a beber tranquilamente, de forma que apenas percebe os olhares sobre si momentos depois.

- O que foi? – pergunta confuso.

Bianca e Hazel estavam o olhando com um sorriso genuíno, fazendo Nico se perguntar o porquê daquilo.

 tinha feito algo errado?

- Pelo visto Will realmente te mudou – comenta fazendo Nico corar.

O moreno revira os olhos com aquilo, entendendo no que elas pensavam. É claro que ele admitia que tinha mudado desde que começara a namorar o louro, mas isso não quer que Bianca precisava o ficar lembrando disso a todo momento.

- Sei, sei – diz vagamente, parecendo indiferente, mesmo sem estar.

Era verdade que Nico estava mais carinhoso agora que estava com Will, mas ele não se incomodava com essa mudança. O moreno sempre achou que era indiferente demais e agora ele conseguia demonstrar afeto com as pessoas que gostava, então ele, na verdade, ficava satisfeito por aquilo ter acontecido.

Nico ficou brincando com seu anel de compromisso, seus pensamentos viajando até o namorado. Ele devia estar fazendo algo de interessante no hospital naquele momento, como atender às pessoas e auxiliar seu pai em alguma coisa. O moreno imaginou o lindo sorriso que ele devia estar no rosto e em como isso devia cativar as pessoas. Nico sorriu. Ele tinha certeza que o namorado estava bem.

- Você está sorrindo, Nics – diz Hazel.

Nico pisca duas vezes os olhos e desmancha um pouco do sorriso bobo de instantes atrás. Ele encara a irmã com uma sobrancelha erguida.

- Hey, Nico – chama Bianca o fazendo desviar o rosto pra ela. – O Will tem tatuagem?

O moreno franze a testa, confuso com a pergunta repentina.

- Tatuagem?

- É, as pessoas dizem que ele tem uma na coxa e eu acabei ficando curiosa – explica como quem não quer nada.

Will não tinha tatuagem nenhuma na coxa, Nico tinha certeza disso.

- Ele não tem – afirma.

O moreno franze as sobrancelhas pensando ainda no assunto. Ele estava tão pensativo que demorou pra entender o que sua irmã tinha feito.

- Bianca! – repreende quando as suas irmãs começam a rir.

- Então quer dizer que vocês já...

- Não termine essa frase – interrompe Nico em tom de aviso.

Sua irmã ri mais um pouco.

- Você tinha razão, Haz. É ótimo provocá-lo assim – diz sorrindo.

Nico revira os olhos e faz um biquinho quase que inconscientemente. Por que ele tinha duas irmãs tão enxeridas? Não era da conta de ninguém aquilo, mas a risada delas acabou o contagiando. Logo, sem perceber, Nico tinha se juntado às irmãs.

- Vocês não prestam – diz sorrindo pequeno.

- Aham, a gente – brinca Hazel.

Nico pega o guardanapo de pratos e joga na irmã, sorrindo de forma sapeca. Sua irmã joga o pano de volta, uma expressão de falsa indignação no rosto. Ele sorri. Era bom estar ali com as irmãs, porque, de certa forma, ele sentia falta de quando eles eram pequenos e viviam fazendo guerra de comida. Antes o moreno era uma criança muito agitada e alegre, contudo, apenas com a família.

Ele ficou imaginando quando que ele começou a perder essa alegria que tinha. Nico sempre sorria quando criança, brincava e parecia cafeinado a todo momento. De repente, isso tinha mudado.

Talvez fosse bom voltar a ser criança de vez em quando, como naquele momento. Nico prometeu a si mesmo fazer aquilo mais vezes.

***

Na manhã seguinte, Nico saiu com Will.

O louro o levou para fazer um piquenique no Píer, o mesmo Píer onde ele o tinha levado pouco depois que se conheceram.

Aquele lugar era especial pra Will e tinha feito Nico ver o quanto os dois estavam ligados, por isso ele também tinha se tornado um lugar importante para o menor. Ele sorriu. Talvez ele pudesse dizer até que foi ali que começou a perceber que amava o louro.

Os dois escolheram um lugar, estenderam uma toalha listrada no chão e se sentaram um ao lado do outro, aproveitando a brisa de verão que batia em seus rostos. Nico fechou os olhos, sentindo o sol esquentar sua pele. Ele podia não gostar muito da luz do dia, mas apenas daquela vez a sensação era extremamente gostosa.

- Anjo, você se lembra de quando eu te trouxe aqui? – pergunta Will subitamente.

Nico abre os olhos e acena com a cabeça distraidamente. É claro que ele se lembrava. Aquele lugar tinha se tornado um dos lugares favoritos do moreno.

Ele vê o namorado morder o lábio, uma expressão duvidosa no rosto. Aquilo apenas serviu para o deixar curioso, assim o menor passa a ter um olhar atento no que o louro tem a dizer.

- Aquele dia era o aniversário de morte da minha mãe. – começa com um suspiro, parecendo ainda ponderar se contava mais. – E eu sempre vinha aqui sozinho e ficava vendo o sol se pôr, imaginando onde ela estaria e se estava feliz. A cada um ano, eu vinha. Era o pior dia do ano pra mim – o olhar de Will fica longe –, mas foi diferente esse ano. Eu sempre passava o dia todo aqui, guardando o luto apenas pra mim, só que eu percebi que estar com outra pessoa fazia com que essa dor diminuísse. Estar com você fazia isso. Então obrigado por passar aquele dia comigo, anjo. – diz com um sorriso sincero.

Nico olha para o namorado, de repente, sem palavras. Ele tinha ouvido tudo calado, absorvendo cada informação. Não podia dizer que entendia, porque ele nunca tinha perdido alguém tão próximo a si como Will tinha. E o moreno não queria soar falso dizendo que sentia muito, embora sentisse de verdade. Por alguns momentos que pareceram muito longos, Nico não soube o que dizer.

O menor suspira, decidindo confessar algo sobre aquele lugar também.

- Aquele dia foi muito bom pra mim também, Will. Eu estava tão confuso com todos aqueles sentimentos dentro de mim que achei que ia enlouquecer. Porque, ao mesmo tempo que me odiava pelo que sentia, não podia negar que estar perto de você me fazia bem – confessa. – No entanto, aquele dia você foi tão gentil e doce comigo... E tinha o crepúsculo e a gente... Não sei o que aconteceu, Will, mas foi naquele dia que eu admiti pra mim mesmo que queria ficar com você. – diz olhando para o namorado.

Will abre um belo sorriso com aquilo. Ele o beija suavemente nos lábios, de forma carinhosa e rápida, mas não menos especial. Então coloca a mão por cima da sua e o encara com aquele olhar que somente o louro tinha.

Nico sorri timidamente. Ele adorava o jeito como o namorado o olhava sempre que se beijavam, era um olhar misturado de admiração e amor que simplesmente quebrava todas as barreiras do moreno. E ele, internamente, adorava isso.

O louro passa um braço ao redor da sua cintura e o puxa pra encostar a cabeça em seu ombro, fazendo o menor fechar os olhos ainda sorrindo.

- Acho que um dia preciso agradecer Afrodite pelo baile – comenta Will fazendo o moreno rir.

- Acho que muitos alunos precisam agradecer Afrodite pelo baile – diz com um sorriso, pensando em Percy e Jason.

- É, acho que sim.

Os dois ficam em um silêncio confortável durante um tempo, até que Will abre a cesta de piquenique e começa a tirar algumas coisas de lá de dentro, como alguns sanduíches e sucos naturais. Nico acaba aumentando seu sorriso ao ver aquilo. Seu namorado era extremamente saudável e provavelmente, muito provavelmente, o faria ser também.

Isso que dá se apaixonar por um futuro médico, pensa negando com a cabeça.

- Era aqui, Will? – pergunta de repente.

O louro vira o rosto pra olhá-lo, a expressão confusa.

- Aqui o quê?

- Aqui você ia me trazer pra me pedir em namoro? – indaga.

Will sorri e cora um pouquinho, assentindo de leve com a cabeça.

- Aquele engarrafamento acabou com meus planos – brinca.

Nico ri suavemente, concordando.

- Pensa pelo lado bom, Will. Aqui não daria pra fazer o que fizemos aquele dia – diz em tom divertido.

É a vez de Will rir.

- Tem razão.

O louro lhe dá mais um selinho antes de começarem a comer.

- Então, como anda o estágio? – pergunta Nico mudando de assunto.

Will abre outro sorriso brilhante. Seus olhos parecem começar a brilhar antes dele responder.

- É incrível, Nico. Estar lá, aprendendo tantas coisas, é como estar realizando um sonho. O que, na verdade, realmente é – diz com sinceridade.

Nico acaba sorrindo também. Ele podia não entender nada de medicina, nem de hospitais, mas ver Will empolgado daquele jeito era o suficiente. Gostava de ver aquele sorriso estampado no rosto do namorado.

- Você está adorando, não está?

O louro balança a cabeça com entusiasmo, mordendo o lábio com um sorriso. Will rouba um beijo rápido do moreno, fazendo o mesmo rir. Nico beija o namorado novamente, dessa vez de forma mais demorada. Ele morde o lábio inferior do louro antes de se separarem.

- Fico feliz por você, Will – diz de forma doce.

O maior suspira alegremente.

- Sei que sim. Estou muito animado com o hospital, mas você ainda é mais importante pra mim do que qualquer outra coisa, anjo. Eu amo você, Nico – diz baixinho.

Nico acena com a cabeça, sentindo o peito se aquecer com a declaração.

- Eu também amo você, Will.