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História A droga do amor - Meu coração foi parar na Sibéria


Escrita por: lanahblack

Capítulo 16 - Meu coração foi parar na Sibéria


Fanfic / Fanfiction A droga do amor - Meu coração foi parar na Sibéria

 

 

— A droga do amor é entender que — 

Quando um homem fica um pouco distante, está observando para ver qual será o tamanho da sua persistência.

 

 

Eu estava me sentindo péssimo, essa era a primeira sensação que eu sentia depois de ter deixado a Belly no corredor praticamente falando sozinha e com uma cara de quem iria chorar em segundos; a segunda sensação que eu senti foi confusão, mas isso era a causa de tudo aquilo, aquilo era o motivo de eu não estar falando com a Belly e não conseguir sequer ficar perto dela hoje, eu estava confuso, eu estava apavorado, acho que essa também era uma definição para o que eu estava sentindo, e tudo isso começou na noite anterior, quando ela me perguntara o que eu sentia; era estranho porque eu mesmo tinha dito a ela, na cabana, que estava apaixonado, e confesso, eu estava realmente me sentindo assim, mas ontem parece que as coisas ficaram confusas, bem confusas.

Não vou dizer que eu não esteja sentindo nada por ela ou que eu tenha mentido quando disse que estava apaixonado porque não, eu não menti, e sim, ainda sinto algo, da mesma maneira que sentia antes, mas depois que vi o Thomas a beijando e ela me perguntou se eu a amava, as coisas fizeram um nó dentro da minha cabeça e eu comecei a pensar: se eu a amasse mesmo, se eu estava apaixonado, se começássemos a ficar juntos, aquilo acabaria como? A palavra ‘namorada’ que o James usara ao se referir a Lilian, quando estávamos apostando sobre o game de basquete, e que eu mesmo dissera a Belly, começou a ecoar em minha mente, e com ela a pergunta que não queria calar: Será que eu estava mesmo preparado para me tornar um namorado de alguém, e não mais o Luan solteiro que tinha todas as garotas que queria aos seus pés?

Então esse era todo o problema, eu estava confuso, eu não sabia mais o que sentia pela Belly, se eu queria namorar, ou se eu queria só curtir, e o Meyer entrava nessa parada toda, porque se eu queria só curtir, eu devia ter deixado ela ficar mesmo com o Meyer, e não devia estar fazendo o que eu acabara de fazer, magoar ela sem ela nem saber porque.

Que filho da puta que eu era.

Segui em direção a biblioteca, a cabeça pipocando, no caminho as meninas, como sempre, ficavam dando risadinhas e jogando charminho para mim, eu sabia que era só eu estalar os dedos e qualquer uma se derreteria por mim, se eu parasse, sorrisse galã e dissesse “oi” do jeito certo, pronto, a menina já estava no papo, daí era só chavecar um pouquinho,  nada demais e correr para o abraço.

Eu estava tão acostumado com isso, era algo tão natural de mim que eu quase fiz isso, quase passei a mão pelos cabelos e dei o meu sorriso mais charmoso possível, mas eu não estava com cabeça para aquilo no momento, eu estava pensando na Belly, no que eu realmente sentia e no que eu realmente queria. Será que eu conseguiria largar essa vida de solteiro para sempre? Parecia tão fácil para o James, por que para mim estava sendo tão complicado?

Okay, não vou ser cafajeste o suficiente e dizer que não sinto nada pela Belly, ou que foi empolgação demais na cabana, ou que eu menti e enganei ela, não, eu realmente me sinto diferente ao lado dela, apesar de agora não saber ao certo o que eu sinto de fato, mas, caramba, ela é tão incrível, e uma parte de mim quer loucamente ficar com ela de vez, ter ela de vez, poder ter aquele sorriso, aqueles lábios, aquele corpo só para mim, mas tem uma voz dentro de mim desesperada pensando “putaquepariu, você vai perder tudo isso?”, acho que é a tal das vozinhas de anjo e demônio que ficam sobre o seu ombro, um de cada lado, pois então, eles estavam aqui me infernizando enquanto eu adentrava a biblioteca distraído demais para notar qualquer coisa, ou qualquer pessoa, inclusive a Katherine, uma mina que eu sempre pegava, que vinha toda sorridente falar comigo. Só me toquei que ela estava na minha frente quando ela colocou uma das mãos sobre o meu peitoral e me parou no caminho.

— Hey, bonitão, você está mesmo aqui ou está nas nuvens? – Foquei os olhos e finalmente a vi parada a minha frente, os cabelos louros caídos em cachos pelos ombros, os olhos verdes brilhando, os lábios arroxeados pelo batom, ela era linda, gostosa e boa demais na cama, mas ela sempre dizia que não era garota só para curtição, por isso eu sempre vivia dizendo para ela que era uma pena então que eu não sentisse nada por ela além de tesão, mas ainda assim, a gente vivia se pegando só para se curtir, ela dizia que eu era um caso à parte, acho que eu era um caso a parte de todas as garotas, né.

Convencido nem, né hehe

— Cabeça cheia. – Eu disse e ela me deu um sorriso imenso, grudando no meu braço como uma noiva grudando no braço do noivo no altar e passou a caminhar comigo em direção a biblioteca, ela sabia que eu gostava de bancos mais ao fundo, onde podíamos ficar mais à vontade. 

Seguimos pelo caminho passando por vários alunos que andavam para lá e para cá, a biblioteca era imensa, haviam estantes e mais estantes de livros enfileirados dos dois lados e no meio um corredor com várias mesas de quatro lugares e algumas maiores para grandes grupos estudarem. Depois que a parte dos livros acabavam vinham as áreas de computadores, mas a grande maioria dos computadores que tinham ali não eram muito usados, todo mundo levava seus notebooks e sentavam nas áreas para notes, com tomada e wi-fi livre.

— Caraminholas na cabeça? – Ela disse, eu ri e dei de ombros. Ela ergueu uma das sobrancelhas me olhando e ficou me olhando por mais um tempo enquanto andávamos entre os alunos apressados e falantes demais, como aquele povo falava alto para uma biblioteca, será que ninguém respeitava a porra da placa escrito “Silencio”, desviei o olhar do caminho e a encarei por segundos, erguendo as sobrancelhas, confuso pelo olhar ala Professor Xavier, como se quisesse ler meus pensamentos, e ela riu, dando de ombros, antes de dizer.

— Você tá com cara de quem está com problema com menina. – Eu soltei uma gargalhada.

— Você estava lendo minha mente? – Ela riu e deu uma piscadinha, charmosa.

Seguimos até uma área reservada e mais vazia do outro lado, ao contrário da área dos computadores, lá vivia lotado, o outro lado era mais vazio. Ela me guiou até uma mesa de quatro lugares no cantinho, ela largou o meu braço e sentou-se de um lado do banco, deixando eu me sentar no outro lado do banco, ficando de frente para ela.

— Então acertei? – Eu dei de ombros, e desviei os olhos dos dela, aquele verde penetrante me olhando profundamente estava me deixando nervoso, me lembrava os olhos da Belly, e ela sentada na beira da cama dela, no dormitório, me perguntando se eu a amava. Confesso, essa é uma das perguntas mais assustadores que um menino pode ouvir, eu não devo ser o único a morrer de medo dela, ela nos fazer pensar demais e não gostamos de pensar demais, enquanto as meninas pensam, pensam, pensam, pensam no que sentem, pensam no que sentimos, pensam no que querem, no que desejam, como vai ser tudo do início do namoro até o casamento, a casa, os filhos, os nomes dos filhos, do gato, cachorro e papagaio, nós homens não pensamos em nada, nós simplesmente deixamos rolar, e vamos vendo onde isso vai dar até que chega um momento onde somos obrigados a tomar alguma atitude, seja casar ou separar, por isso, essa pergunta da Belly causou um terremoto em mim e me fez começar a pensar em tudo que poderia acontecer se eu a amasse, se começasse a namorar de verdade com ela, e se eu estava mesmo preparado para aquilo, se era mesmo aquilo que eu queria. 

Perguntas demais que eu tinha respostas de menos.

— Luan? – Ela indagou, me fazendo voltar os olhos para ela, estava compenetrada em mim e eu dei de ombros novamente, mas dessa vez respondendo.

— Eu não tenho problema com meninas. – Dei uma piscadinha sexy e ela riu, alto demais e pareceu meio forçado, antes de dizer.

— É claro que não, você tem quem você quiser, né? – Ela deu uma piscadinha e eu senti o convite ali, eu tinha quem eu queria, inclusive ela se eu quisesse, dei uma risada para ela não ficar sem graça, e emendei.

— Tenho, é? – Ela sorriu, com charminho, virando o rosto de lado e olhando para um garoto que passava, então voltou os olhos para mim, brilhando, o sorriso tímido, mas sapeca, eu já conhecia tudo aquilo, as vezes que ela tinha feito aquilo para mim eram incontáveis.

— O que você acha? – Eu acho que eu não preciso nem estalar os dedos para te levar para a cama de novo. 

Dei de ombros, novamente, respondendo outra coisa, é claro.

— Acho que você tá exagerando. – Dei uma risadinha, ela sorriu, charmosamente de novo, piscando os cílios para mim no momento em que eu sentia o pé dela deslizando por minha canela debaixo da mesa, ergui as sobrancelhas para ela que deu um risinho.

— Você sabe que não é exagero. – Aquele era o grande problema para mim no momento, eu realmente sabia que não era exagero, Okay, não vou dizer que todas as mulheres do mundo morriam por mim, mas as que não morriam, era só eu jogar um charme, um olhar sedutor, uma lábia e pronto, eu conseguia qualquer mulher, e era por isso que eu estava ali na biblioteca naquele momento, porque eu não sabia se queria continuar tendo todas ou se eu queria uma só. Mas que droga.

— E você? – Eu queria só ter absoluta certeza do que eu sabia. Ela me olhou interrogativa.

— Eu o que?

— Você disse que eu tenho quem eu quiser, e você? Eu tenho você se eu quiser? – Direto e reto, já que ela queria tanto, o que estava bem estampado na cara dela, queria ver o que ela iria responder. Ela deu uma risadinha, como se estivesse sem graça, roçou o pé novamente na minha canela e disse o meu nome com a voz charmosa, dengosa e manhosa, tudo ao mesmo tempo.

Luan...! – Dei uma risadinha e fiquei olhando para ela, observando-a, passei a mão pelos cabelos, estavam rebeldes, espetados para todos os lados e estavam me incomodando, puxei a mochila das costas e a abri, eu sabia que tinha esquecido ali uma touca e a achei entre os livros e cadernos, pegando-a e deixando sobre a mesa, enquanto colocava a mochila no banco ao meu lado, entreaberta. 

— Vai colocar a touca? – Ela me perguntou, acho que tentando sair do assunto e eu assenti com a cabeça antes de dizer:

— Essa porra de cabelo tá me enchendo o saco, acho que vou passar máquina zero. – Ela deu uma risadinha, eu tinha percebido pela pergunta que ela não queria que eu colocasse a touca, mas quando a ajeitei na cabeça, sobre os cabelos, amassando-os e deixando-os escondidos debaixo da touca vinho, ela sorriu, radiante, antes de dizer:

— Você fica lindo de touca, prefiro você assim! – Eu sorri, por que ela não tinha sido honesta e sincera e dito que preferia eu sem a touca? Se fosse a Belly diria que gostava de mim sem a touca, ela seria sincera, ela me diria o que pensa de fato e não o que eu gostaria de ouvir, era por isso que eu tinha me apaixonado por ela... epa, eu disse apaixonado? Mas que porra, nem eu sabia mais o que sentia.

Mas o fato era que, era por isso que eu gostava dela, era por isso que eu tinha me interessado por ela, por isso que eu tinha começado a ver ela com outros olhos, diferente do que eu vira durante aqueles anos todos, pelo jeito dela de dizer o que pensava, de ser ela mesma, de não ter medo de me decepcionar ao dizer o que estava pensando, de até me xingar ou me encarar se fosse preciso, e isso era uma coisa que eu não via nas outras garotas, as outras se desdobravam para me agradar, se eu pedisse para irem até o Japão buscar alguma coisa para mim, elas iriam, sem pensar, mas não a Belly, ela me chamaria de folgado e diria para eu mesmo ir, ela não se desdobrava para me agradar, ela não se desdobrava para ninguém.

E tudo isso só me deixava mais confuso ainda, e agora, o que eu ia fazer? Aceitar o que eu sentia pela Belly e me acostumar em ser de apenas uma, ou escolher a vida de solteiro e perder a garota mais incrível que eu já tinha ficado?

O que eu ia fazer?

 

 

 

Parecia que uma eternidade tinha se passado, mas haviam sido apenas segundos, segundos depois que ele saiu andando e me deixou ali, parada no meio do corredor, estática, com o coração, os pulmões, os rins, o fígado e todos os órgãos do meu corpo nas minhas mãos, e por isso eu não conseguia respirar, e não sentia mais nada porque não tinha como sentir nem dor pelo meu coração partido quando nem coração eu tinha mais. O corredor ficou embaçado a minha vista enquanto eu sentia as lagrimas quentes e molhadas descendo por meu rosto silenciosas e incontroláveis, escorrendo por meu queixo e pingando no meu colo, mas eu mal conseguia senti-las, eu estava em choque demais para sentir qualquer coisa. O que tinha acontecido, afinal de contas?

Sai andando quase correndo pelo corredor, as lagrimas rolando por meu rosto, a vista embaçada, o choro entalado na minha garganta, eu estava me segurando para não desabar no meio do corredor e o colégio inteiro ficar sabendo depois, inclusive ele, por isso, eu corri até o banheiro feminino mais próximo, entrei dentro de uma cabine de sanitário, tranquei a porta, abaixei a tampa do vaso sanitário e me sentei sobre ela, jogando a cabeça para baixo, em direção aos meus joelhos e deixando o rosto sobre as palmas das mãos abertas e me afundando lá, caindo num choro profundo, desesperado, daqueles de doer o coração como se você não conseguisse nem respirar, como se o mundo estivesse desabando e você tivesse perdido todo mundo que você ama e se sentisse sozinho e solitário, era um exagero, mas era exatamente como eu me sentia enquanto chorava e soluçava, sem controle algum, porque era exatamente isso que acontecia, meu mundo estava desabando, eu fizera de tudo para conquista-lo, pensara ter finalmente conseguido, ele tinha dito que estava apaixonado, estava carinhoso, amoroso, meio tarado até, mas ainda era o Luan perfeito que eu amava e agora amava ainda mais porque antes eu nunca tivera tanto dele como tinha tido nos últimos dias, e daí, de repente, sem mais nem menos, sem aviso prévio, sem motivo aparente, ele e todo aquele amor desapareceu, como não sentir o mundo desabar depois disso?

Fiquei uns dez minutos dentro do banheiro chorando até que eu não tinha mais lágrimas para chorar, meu nariz estava escorrendo, completamente entupido, eu nem conseguia respirar e meus olhos estavam um mar de água salgada, quase o próprio mar ali; me virei de lado e puxei o papel higiênico, assoando o nariz e secando o rosto com outro pedaço de papel. Eu não podia continuar ali chorando o resto do dia, era patético, até mesmo para mim, e eu não podia deixar isso tão transparente para ele, quer dizer, eu já tinha feito a pergunta idiota que não deveria ter feito, já tinha passado o dia que nem idiota tentando mostrar para ele que estava bem quando não estava, e tinha ido atrás dele, visivelmente abalada, quase chorando na frente dele, enquanto ele se ia como um saco de gelo, frio e distante, eu não podia dar mais o gostinho dele me ver acabada por ele, se ele me visse triste, ele não ficaria com pena, não, homens não sentem pena, eles sentem medo, ciúmes, medo de perder o que acham que está garantido, ah sim, ele ia ter ciúmes e medo de eu não querer mais ele, mas pena ele não ia sentir e daí não ia me querer mais, então eu não ia ficar chorando pelos cantos, triste por ai, eu ia fazer merda, que seja, mas eu ia fazer alguma coisa.

Sai da cabine sanitária e fui até a pia, parando em frente ao espelho e vendo o meu rosto vermelho, o nariz parecendo um nariz de palhaço, os olhos fundos, uma morta viva com nariz de palhaço era a definição perfeita. Abri a torneira e deixei as mãos esfriarem debaixo da agua fria, então me inclinei sobre a pia e lavei o rosto, na intenção de parecer um pouco mais normal, deixei com que a agua gelada me acalmasse também, depois fechei a torneira e sequei o rosto com o papel para secar as mãos; voltei a me olhar no espelho, não tinha melhorado muita coisa, eu ia precisar de uma ajuda extra para parecer normal de novo, por isso, ajeitei a mochila nas costas, sai do banheiro e segui em direção ao dormitório feminino.

 

Depois de ter me recomposto no meu dormitório, passei uma maquiagem para disfarçar aquela cara típica de quem tinha chorado, tentei parecer normal, e então desci para o refeitório, era hora do almoço e provavelmente todo mundo já estava aproveitando para matar a fome, eu nem estava com fome mais depois de tudo aquilo, sofrer por amor tira toda a fome de qualquer criatura, isso é um fato comprovado, mas para não parecer que eu passei o horário do almoço inteirinho chorando no meu quarto, voltei tentando parecer normal, como se minha vida estivesse perfeita ainda como estava nos dias em que o Luan parecia apaixonado.

O refeitório estava repleto de alunos falantes, risonhos e descontraídos que nem repararam na minha entrada atrasada, segui em direção a mesa da North e em direção a risada escandalosa da Emme, acho que eu podia ouvir a risada dela lá dos dormitórios no quinto andar. 

Quando me sentei ao lado da Lilly, ela me olhou de lado por alguns segundos, provavelmente me avaliando, e então voltou a atenção a mesa sem dizer nada, a Emme estava ao lado dela, de frente a Emme estava o Castiel, ao lado direito dele o Luan, do lado esquerdo o James que ficava de frente com a Lilly, a minha frente estava o Frank e ao lado dele a Alice, a prova concreta de que as coisas continuavam ruins entre eu e o Luan era aquilo, ele normalmente sentava ao meu lado ou a minha frente, bom, normalmente desde que nossa amizade se tornou mais intensa e eu e as meninas passamos a fazer parte do clubinho dele e dos amigos, por isso, o fato dele não estar ali perto de mim, a minha frente ou até mesmo mais próximo de nós, deixava claro que alguma coisa estava errada. Tentei não pensar nisso, e peguei um prato começando a me servir para o almoço.

A conversa rolava solta na mesa.

— Meu Deus, eu nunca ri tanto na minha vida. – A Emme ainda estava rindo escandalosamente, eu só não fazia ideia do que.

— O que aconteceu? – Eu perguntei, vendo a Emme com o rosto vermelho de tanto rir e todo mundo rindo dela ou de sei lá o que que tinha acontecido. A Lilly virou para me olhar.

— Lembra da Pansy? – A menina que tinha me feito passar vergonha no segundo ano inventando que o Luan tinha me dado um beijo desentupidor de pia? Como esquecer dela, né. Atualmente ela não estudava na nossa turma, ela tinha reprovado um ano. Só assenti com a cabeça e a Lilly continuou. – Ela levou um tombo colossal na entrada do refeitório, todo mundo viu.

— Colossal? – A Emme guinchou entre o riso escandaloso e gargalhou mais escandalosamente ainda. – Aquilo foi uma corrida na horizontal. – E gargalhou.

Tinha um garoto sentado ao meu lado, eu só notei ele quando ouvi a voz dele ecoando no meu ouvido direito, me virei e vi um garoto, de cabelos negros, meio curtos, espetados com gel, tinha os olhos verdes, o queixo era furadinho e ele tinha uma covinha na bochecha, meio visível até quando não sorria, ele estudava com a gente, mas eu mal falava com ele.

— Eu estava bem atrás dela. – Franzi o cenho, eu ainda não estava entendendo nada, como ela caiu numa corrida horizontal? Eu estava boiando.

— Não estou entendendo, o que aconteceu de fato? – Ele riu, o nome dele era Denis, e ele era bonito, mas como sempre fui loucamente apaixonada pelo Luan, sabe como é, a gente fica meio cega para outros garotos, até mesmo se forem bonitos.

— Ela estava correndo atrás de alguém, quando entrou no refeitório correndo, eu acho que ela escorregou em alguma coisa que estava no chão, e saiu deslizando de bunda pelo chão até bater no meio das pernas de uma amiga dela que estava lá na frente.

A Emme ao ouvir o relato caiu na gargalhada novamente, eu desviei os olhos do garoto e olhei na direção da Emme, ela devia ter visto para esta rindo tanto, afinal de contas,  para mim, ouvindo assim, não tinha tanta graça; meus olhos se desviaram da Emme e focaram na Lilly, que deu de ombros, ela também não estava achando tão engraçado assim.

— A Emme estava no meio do refeitório, ela viu tudo. 

— Ah! – Eu disse, em entendimento, estava explicado.

— Eu achei bem feito. – O Denis voltou a dizer e meu virei na direção dele para ver que ele estava falando comigo.

Assenti com a cabeça.

Eu lembrava do quanto ela era cruel quando eu era mais novinha, mas depois que ela reprovou eu não reparara mais nela, ela sentava sempre longe, eu quase nunca via ela pelos corredores ou pelo colégio, então não tinha mais tanto a dizer sobre ela.

— O irmão de uma amiga da minha irmã estuda na mesma sala que ela e disse que ela é megera, que ela inferniza todo mundo, é arrogante, fica fazendo piadinha do defeito dos outros, rindo dos outros, sabe. Agora todo mundo está rindo da cara dela, agora ela vai aprender.

Eu ri, não do tombo dela, claro que ela merecia, pelo jeito não tinha mudado nada, mas eu ri por ele dizer que agora ela iria aprender, eu duvidava muito que ela realmente fosse mudar, cogumelos venenosos não mudam sua natureza, ela iria ficar ainda pior depois disso, eu tinha certeza.

— Duvido muito que ela vá mudar, cogumelos venenosos não mudam sua natureza. – Recitei meu pensamento e ele inclinou a cabeça, pensativo, concordando de leve.

— É, talvez você tenha razão, seria mesmo um milagre se ela mudasse, mas devia aprender que não é nada legal o que ela faz.

— Ah, ela faz isso desde a primeira série, ela já fez isso comigo na segunda série, eu era CDF e ela inventou uma mentirinha que fez todo mundo ficar rindo de mim.

— Você CDF? – Ele me olhou, franzindo o cenho e eu ri, concordando, oras, ele não tinha estudado comigo a vida toda? – Eu nunca te vi como CDF, muitas vezes te via rindo nas aulas e achava que você nem prestava muita atenção.

Soltei uma risada e meneei a cabeça.

— Bom, eu era CDF, depois de um tempo parei de ser mesmo, mas ainda assim, não sou tão má aluna assim, viu. – Ele riu e me olhou duvidoso.

— Não sei não, você matou aula ontem, o que é uma coisa quase improvável de se fazer nesse colégio. – Ele disse isso rindo, e eu gargalhei, Deus, todo mundo tinha mesmo prestado atenção que tínhamos matado a aula, ou alguém notou e espalhou? 

Tentei me defender.

— Estava doente. – Ele riu, debochadamente.

— Você e o seu grupinho todo? É contagioso isso? – Eu continuei rindo, pelo jeito tinham notado a ausência de nós todos e espalhado, não tinha outra explicação.

— Aham, nós somos muito próximas, né, dormimos no mesmo dormitório, acabou todas pegando esse vírus. 

— Hmmm, e os caras também dormem no mesmo quarto que vocês? – Ele sorriu, sacanamente e eu o olhei, censurando-o.

Denis.  – Eu disse e ele riu alto, fazendo a Lilly, o James e alguns amigos nossos olharam para nós, eu vi o olhar do Luan em nós quando olhei a mesa, distraída, mas não dei moral para ele e tentei não pensar nele, na pedra de gelo que ele tinha virado, ou se ele iria ficar com ciúmes, ou pensar alguma coisa, o melhor era parar de pensar nele pelas próximas duzentas horas e quem sabe eu podia voltar a ficar melhor?

Voltei os olhos para o Denis, e conclui em minha defesa.

— Eles faltaram porque são mal alunos e baderneiros mesmo, mas eu juro, nós estávamos na enfermaria. Não é mesmo, Lilly? – Me virei e olhei para a Lilly sentada do meu outro lado, e ela assentiu com a cabeça, mesmo sem saber sobre o que estávamos falando. Amigas mesmo são outro nível, né, estão do seu lado mesmo sem saber do que se trata.

— E não é perigoso eu pegar isso? Estou do seu lado agora. – Para zoar, eu espirrei fingidamente e levei a mão até o rosto dele, tocando meus dedos no rosto dele, ele arregalou os olhos para mim e eu gargalhei, rindo da cara dele.

— Iihh, se ferrou! – Eu disse, zoando ainda, e ele negou com a cabeça, fazendo uma careta e rindo, enquanto dizia.

— Você não tá doente nada, tava é matando aula, sua sacana. – Continuei rindo, agora dele mesmo, poxa, eu não era mais vista como CDF, que triste isso, eu agora era taxada de baderneira, que horror, meus pais sentiriam vergonha de mim.

Ri mais ainda com meus pensamentos, e voltei a atenção ao meu almoço, o Denis ficou por ali, continuando o papo comigo enquanto almoçávamos, agora eu menos focada na conversa das meninas com os respectivos namorados, já que eu não tinha mais sequer um quase futuro namorado, e fiquei na minha bolha com o Denis, e confesso, me senti melhor ali, isolada, longe dos olhares ou não do Luan, da presença constante dele na mesa, mesmo que estivesse mais longe de mim, da sensação da distância que ele estava de mim, e não a distância metricamente falando, mas aquela que parecia que ele estava na Sibéria e eu aqui, num colégio interno de gente rica, situado no Brasil, América do Sul; eu estava bem melhor protegida ali, focada naquela conversa com aquele menino que eu estudava desde a primeira série e nunca tinha trocado uma palavra sequer.

Quando o horário do almoço acabou, enrolei na mesa um pouquinho de proposito, deixando o Luan e os meninos saírem na frente, a Emme e a Lilly me olharam e eu disse que podiam ir indo que eu as alcançava, mas elas deixaram os garotos seguirem na frente e me esperaram, e não sei bem se foi pela conversa empolgada no almoço, mas o Denis acabou seguindo do meu lado e das meninas do outro pelo corredor enquanto íamos para a aula de matemática.

— Vocês faltaram ontem então não devem estar sabendo. – O Denis disse quando estávamos terminando de subir os degraus até o terceiro andar onde ficava a sala de matemática. Me virei e olhei para ele, franzindo o cenho, o que mais tinha acontecido na minha ausência?

— Ai meu Deus, não diga que é prova! – Exclamou a senhorita aluna exemplar Lilian Muniz. O Denis deu uma risadinha.

— Não prova, mas um teste pré-vestibular. – A Lilly bufou, exasperada, e eu ri do jeito dela, eu estava, como dizem, cagando e andando para o vestibular, aqueles testes com perguntas de vestibular, ah, eu ia pensar nisso quando chegasse a hora, eu ainda tinha que passar de ano para me formar e daí sim fazer vestibular, então para que pensar neles agora? E se eu não passasse de ano? Terei feito um monte de testes de vestibular à toa porque vou ter que esperar mais um ano inteiro.

— Relaxa, Lilly, o vestibular está longe ainda. – Eu disse, rindo e o Denis riu junto.

— Eu acho um exagero aplicarem testes de vestibular agora, quer dizer, eu nem passei de ano ainda, nem fiz as provas finais, eu devia estar estudando para as provas finais, não vestibular.

ALELUIA! Alguém pensa como eu!

Me virei para ele com um sorriso imenso no rosto antes de exclamar como se tivesse descoberto que somos irmãos gêmeos separados na maternidade.

— Eu também penso assim! – Dessa vez foi a Lilly que deu uma risadinha. – Mas ninguém concordava comigo, sabe. – Olhei torto para Lilly que deu de ombros.

— Eu sei que sou inteligente o bastante para passar nas provas finais, então vou mesmo me preocupar com o vestibular.

— Ah desculpa aí, senhorita sabichona, engoliu os livros de estudo, foi? – A Emme e o Denis riram alto e a Lilly me fez uma careta para mim, mostrando a língua, e fazendo pose de desdém “eu sou a mais inteligente de todas”, e eu acabei rindo.

— Fazer o que se nasci inteligente acima da média. – Eu ri alto, ela estava andando demais com o James.

A Emme pensou a mesma coisa e disse rindo.

— Olha o efeito James aí. – A Lilly ficou vermelha como os cabelos e começou a rir, sem responder nada.

Chegamos a sala de aula e entramos, ainda rindo, e seguimos para os fundos da sala, o Luan, o James e o Castiel estavam sentados também nos fundos, mas duas fileiras mais para a frente e a esquerda da gente; Não estavam sentados juntos, afinal, era um teste, quase uma prova, por isso, o James estava ao lado esquerdo do Luan, em outra carteira, e o Castiel a frente do James.

— Já que você é a CDF, me passa cola do teste, tá bom? – O Denis foi dizendo enquanto seguíamos para o fundo da sala e eu ri, fazendo uma careta de “folgadinho” para ele, que riu, o Luan deu uma olhadinha para mim e para o Denis quando passamos rindo, mas eu virei o rosto e não olhei para ele.

Me sentei numa mesa, o Denis sentou do meu lado direito, a Emme na minha frente e a Lilly atrás de mim, se eu era a CDF era o centro de tudo para passar cola, mas eu não era CDF, e nem tinha estudado matemática desde a última aula, mal me lembrava como fazia raiz quadrada, ou seja, eu estava bem fodida, eu ia ter que pedir cola as pessoas ao meu redor, simples assim.

Aquele teste foi um completo fiasco, total e tremendo, e era ridículo aquilo, eu não faria uma prova de vestibular sem estudar incessantemente dias e horas seguidas, e eu nem tinha estudado para aquela merda, então nem estava me importando, até que a professora disse no final da aula que esperava que tivéssemos ido bem porque a nota daquela prova ia ajudar na prova final. Fodeu.

Sai dando de ombros e ligando meu foda-se da sala, todo mundo ia saindo conforme terminava o teste, mais ou menos como uma prova mesmo, e comecei a pensar se os demais professores tinham tido ou teriam essa ideia brilhante, por isso, resolvi perguntar ao Denis, já que ele não faltara no dia anterior, se mais algum professor tinha dito alguma coisa.

Ele estava encostado bem perto da porta da sala, também tinha acabado de sair do teste e estava olhando o celular, me aproximei dele devagarinho para não assustá-lo.

— Denis. – Eu disse, e ele ergueu os olhos para me olhar, abrindo um sorriso ao me notar.

— Hey. Foi bem no teste?

— Ahan... super bem. – Ele ergueu uma das sobrancelhas e eu continuei, dessa vez rindo. – Bem mal.

— Uma merda, eu nem estudei também. – Eu assenti com a cabeça.

— Pois é, até parece que eu estaria tão despreparada assim para um vestibular.

— Né.  – Ele concordou, eu me recostei na parede ao lado dele.

— Será que algum outro professor teve essa ideia genial – deixei bem frisado a palavra “genial”, para mostrar o meu sarcasmo. – de aplicar teste de vestibular valendo nota para média?

Ele deu de ombros.

— Se tiveram, ontem não disseram nada, só de matemática mesmo que avisou que teria um testezinho de matemática, mas do jeito que ela disse, parecia coisa boba, não essa porra cheia de pergunta difícil para burro. – Eu ri, ele era engraçado no jeito de falar, meio revoltadinho, mas sem ser revoltadinho, e era engraçado aquilo, eu estava distraída com ele, ainda rindo quando ouvi outra risada ecoar pelo corredor, ergui os olhos, olhando mais à frente e então vi quem era o dono daquela risada, que eu já sabia quem era só de ouvir, era ele, o Luan, conversando com a menina que eu mais odiava no mundo: A Larica.

Ele estava rindo e eu senti meu riso ir morrendo conforme meus sentidos todos se focavam nele. Ele estava uns dois metros de distância, talvez um pouco mais, as costas apoiadas na parede esquerda do corredor sentido as escadas de volta para o refeitório, e a lambisgóia estava parada a frente dele, tocando no braço dele propositalmente, enquanto ria igual uma hiena anoréxica que era meio mistura com jumento, então a risada dela era esganiçada e igual de um jumento, tudo ao mesmo tempo, sabe, tipo IIIHONN IIIHONN.

Jumenta.

Maldita.

Nem consegui ouvir o que o Denis estava falando, meus ouvidos e meus sentidos estavam surdos para todo o resto, eu não via mais nada, só aquela vagabunda dando em cima dele e ele rindo, falando sei lá o que com ela, por que ele dava moral para aquela vaca nazista com cara de diarreia parente de lombriga ressequida?

Desviei os olhos no instante em que vi ele virando o rosto para me olhar, talvez percebendo que alguém estava olhando para ele e encarei o Denis que ainda falava alguma coisa que eu não fazia ideia, e eu ri e fingi que estava realmente dando atenção, mas eu não fazia a menor ideia do que ele estava dizendo, eu só não queria dar mais moral para o Luan, não depois do que ele tinha feito comigo no corredor, de ter me deixado lá, daquele jeito, com aquela frieza, não, podia doer horrores, podia doer absurdamente, como se o Jason tivesse arrancando minha perna com serra elétrica sem anestesia, ali, naquele momento, mas eu não ia deixar ele saber o quanto estava doendo, mesmo que eu estivesse morrendo naquele minuto e ninguém sequer notasse.

O Denis estava falando ainda, mas eu não conseguia ouvi-lo direito, os sentidos ainda entorpecidos, só peguei o final de uma frase no momento em que vi a Lilly e a Emme saindo da sala de aula.

— ... e então podemos estudar juntos, já que você é a CDF.

As duas pararam ao nosso lado e eu não precisei responder ele, eu nem sabia o que responder mesmo, uma vez que não fazia ideia do que ele estava falando.

— Minha nossa senhora, meu cérebro está fritado dentro da minha caixa torácica. – Eu soltei uma risada alta e vi que o Luan desviou os olhos da verme cego que ele ainda estava conversando e olhou para nós, eu tinha olhado para ele, idiota que eu sou, e virei o rosto rapidamente, a Lilly e o Denis também estavam rindo.

— Você quer dizer, seu crânio cerebral, né Emme. – Eu disse, causando mais risos em todos.

— Vocês entenderam o que eu quis dizer.

— Por isso que eu digo que sou a mais inteligente da turma. – A Lilly disse, zoando, e nós rimos.

— Desse jeito eu já imagino como foi a nota dela no teste. – Disse o Denis, arrancando mais risos de todo mundo e a Emme fez uma careta para ele, dando de ombros e seguindo andando pelo corredor atrás do Castiel e do James que tinham saído e não tinham nos notado ali.

A Lilly seguiu rapidamente atrás da Emme, uma vez que o James estava lá também, e eu fiquei ali, ao lado do Denis, completamente ciente do Luan parado no meio do caminho conversando ainda com aquele protótipo de esqueleto de tiranossauro Rex de museu, sem saber o que fazer, ficar ali esperando ele ir antes, na frente, ou eu mesma ir e passar por eles e poder ouvir sem querer o que eles estavam falando, será que eu queria mesmo ouvir alguma coisa daquela conversinha nojenta que me daria ânsia de vomito e mais raiva do que eu já sentia dentro de mim?

Não, eu não queria ouvir, eu não queria ouvir a vozinha irritante, nojenta dela ecoando manhosamente para cima do MEU Luan, e depois ver ela rindo de mim quando me visse, insinuando que eu já o perdi, como ela dissera aquele dia que aconteceria, não, eu não queria, por isso, fiquei ali, parada, esperando, congelada por dentro.

Voltei a mim quando senti a mão do Denis no meu braço, me chamando.

— Isabelly? 

— Han? 

— Aula de biologia agora. – Ele disse, querendo dizer que eu não podia ficar ali, mas o Luan ainda estava com a megera, como se estivesse esperando eu passar, como se não fosse sair dali enquanto eu não saísse daqui.

Mas que droga.

— Você não vem? – O Denis disse e eu olhei para ele, confusa, então respirei fundo e assenti com a cabeça, e segui andando, apoiando a mão no braço dele, dando uma desculpinha para meu momento congelada e “estou te tocando, mas tem um motivo”.

— Estou meio zonza, acho que foi a prova, arrebentou alguma coisa dentro do meu cérebro. – Ele riu, e deixou que eu segurasse nele a vontade, eu conhecia meninos, ele não ia reclamar de maneira nenhuma.

— Dentro da sua caixa torácica. – Ele disse, brincando, e eu ri, estávamos nos aproximando dos dois.

Vi o rosto do Luan desviar da Larica e me olhar, nossos olhos se encontraram e dessa vez eu não desviei os olhos tão rápido, deixei que ele visse que eu não estava morrendo por ele, depois propositalmente, me virei e olhei para o Denis, ainda estávamos meio longe, então ele não podia ouvir minha conversa, nem eu a dele.

— Por isso estou sem ar no meu cérebro também. – O Denis riu, ótimo, era isso que eu queria que ele fizesse, que ele risse, para o Luan pensar que estávamos tendo uma conversa super interessante, que eu estava sendo o máximo com outro garoto e não ele, que ele ia perder, se era mesmo isso que ele queria, a fila dele podia estar andando pelo jeito, então a minha também estava.

— E com o cérebro esturricado de tanto pensar.

— Mal consigo mover minhas pernas, meu cérebro parou.

— Só vejo números andando na minha frente, o que é aquilo, um número 4 em forma de elefante roxo, pulando a janela?

— Não, ele está dançando balé com o número 8 vezes 259, abre parentes, 45 X menos 155 Y, fecha parentes... – O Denis começou a rir que nem louco e eu ri junto, estávamos passando pelo Luan e a maldita naquele momento.

Parte de mim queria enlouquecidamente ouvir a conversinha dele, a outra parte queria tapar os ouvidos e não ouvir nem o som das vozes dele, muito menos alguma palavra que fosse. Complicado isso.

— Minha nossa, você está pior que eu então... – O Denis continuou rindo, eu estava completamente ciente da presença do Luan ali, podia sentir o olhar dele em mim, nos observando, talvez ele sim querendo ouvir o que falávamos, mas eu não desviei os olhos, não olhei para ele e nem para a vagabunda, ordinária, filha de uma barata leprosa, por isso, virei o rosto e olhei para o Denis, rindo dele e me forçando a todo custo a não olhar para o lado do Luan e nem ouvir nada do que eles estavam dizendo, eu queria ficar falando, ouvindo minha própria voz, fazendo o Denis rir e a risada alta dele abafar qualquer outro som.

— Olha, não é a raiz quadrada de 10599, fugindo pelas escadas? – Apontei a frente, e o Denis gargalhou, emendando numa voz risonha.

— Não, é o... Se você tem 10 maças, deu uma para cada criança, considerando que tem cinco crianças na sala, uma você deu para o seu cachorro, a outro para o papagaio, uma você guardou na mochila para o horário do lanche, por que o sol nasce quadrado?

Soltei uma gargalhada e apoiei mais ainda no braço dele enquanto eu me encolhia de tanto rir, essa foi boa, era mais ou menos assim mesmo as perguntas.

Tínhamos passado pelos dois e eu respirei fundo, o Denis pensou que era pelo ataque de riso e nem reparou o real motivo. Seguimos pelo corredor e descemos a escada, e enquanto seguíamos para a aula de biologia eu me perdia em pensamentos, me perguntando mais uma vez, o que estava acontecendo? E por que ele estava conversando com a menina que eu mais odiava?

 

Na aula de biologia não teve jeito, o Denis foi obrigado a se afastar de mim, acho que ele não ficou muito feliz, mas se conformou e sentou com um dos amigos dele numa mesa mais à frente, eu me sentei com a Lilly e a Emme mais no fundão, como sempre, eu não queria ser o centro das atenções, então me sentei na cadeira da ponta, do lado direito, deixando a Emme e a Lilly sentadas uma ao lado da outra, elas estavam conversando, mas eu não estava prestando atenção, meus olhos estavam varrendo a sala em busca de James e Castiel, e os encontrei mais para o lado direito da sala, duas fileiras a frente, o Luan não estava com eles, mas isso eu já sabia porque eu tinha chego antes e ele tinha ficado para trás, por isso, fiquei olhando para a porta de cinco em cinco segundos esperando ele entrar, mas ele não entrou, e  quando o professor finalmente entrou na sala eu tive certeza de que ele não iria assistir aquela aula; senti meu estomago afundando e toda a tristeza que eu tinha tentado manter longe, voltou como furacão e se apossou de mim, encobrindo meu corpo como uma manta de tristeza e pessimismo, me fazendo pensar todas as merdas que eu não podia pensar.

É claro que ele estava com aquela.... Eu nem tinha palavras mais para descrever ela, ou para xingar ela no nível correto, alguém aí tem um xingamento apropriado para a vagabunda que vive dando para o cara que você é apaixonada, e que além de dar para ele, dá para o colégio inteiro, se acha a tal, mas não passa de uma ridícula com cara de noiva cadáver com disenteria, e ainda quer se gabar para cima de você? 

Se tiverem, me falem por favor, porque a minha cota já até se extinguiu.

Eu não podia acreditar que ele foi comer ela por ai e faltou à aula, meu Deus, eu não conseguia acreditar, era por isso que ele não saiu do corredor antes de mim, ele não ia para a aula, então não tinha porque ele ir em direção a aula antes de mim, por isso ele ficou esperando eu e o Denis passarmos, irmos para a aula, assim ele podia sair com aquela gêmea de ratazana com fulgor e levar ela para algum bequinho para comer ela, já que ele nem se dava o trabalho de levar ela em algum lugar decente, uma vez que ela nem ligava para isso também né, se dependesse dela, até no meio do matinho, com a bunda pelada no meio das formigas, estava bom para ela.

A imagem dele sem camisa e com o volume da calça grande como eu tinha visto no esconderijo dos meninos no dia anterior ficava se repetindo na minha cabeça, mas agora incluindo aquela biscate, sabendo que ela teria tudo aquilo para ela, e como ela iria rir e zombar de mim depois por isso, dava para acreditar nisso? Eu sentia vontade de chorar agora muito mais do que antes.

Mas que droga.

Eu não ia conseguir prestar a menor atenção naquela aula, mais uma vez, naquele dia, mas não podia sair dali, já tinha matado aula no dia anterior, por isso, teria que aguentar aquela aula chata enquanto eu ficava imaginando o amor da minha vida comendo a menina que eu mais odiava.

Fechei os olhos, engoli o choro, as lagrimas já embaçando a minha vista e afundei a cabeça sobre meus braços, cruzados sobre a mesa, ele não estava ali mesmo, então eu podia me afundar sem me importar com mais nada, eu não estava aguentando mais fingir que era forte.

E enquanto eu ficava ali, vendo as imagens dele com aquela vacaranha se repetindo na minha cabeça, a tarde se arrastou igual uma tartaruga e demorou cem décadas para acabar.

 

Nem acreditei quando a aula acabou, parecia que fazia dez décadas que eu estava lá dentro, levantei correndo e peguei minha mochila que estava pendurada na cadeira, eu nem tinha tirado o caderno nem nada, coloquei nas costas e sai ao lado das meninas pelo corredor.

Quando estávamos saindo da sala, adentrando o corredor, um menininho da primeira série veio correndo na nossa direção e parou em frente a Lilly que o olhou, franzindo o cenho, ele encarou a Lilly fixamente antes de dizer:

— Você é a Lilian? – A Lilly parecia confusa enquanto olhava o menino, ele tinha uns onze anos, os cabelos eram encaracolados, pretos, me lembrava muito o Nick Jonas quando era mais novinho.

— Sim, sou eu, por que? – Ele assentiu com a cabeça e enfiou a mão no bolso de trás da calça puxando um bilhete e entregando a Lilly.

— Me mandaram te entregar. – A Lilly segurou o bilhete e ficou olhando do bilhete para o menino com ar confuso.

— Quem mandou entregar? – Ele deu um sorrisinho e deu de ombros.

— Um menino ai, me disse para entregar para a ruiva do último ano, que se chamava Lilian, eu só achei você de ruiva no colégio inteiro. – Ele deu um sorriso imenso, se virou e saiu correndo por entre os alunos bem mais velhos que ele, ela ficou olhando ele correndo depois abaixou os olhos para olhar para o bilhete, de repente veio na minha mente o dia da festa pós jogo da North, quando ela tinha ganhado um bilhete de um admirador secreto, ela nunca me dissera se tinha descoberto se era mesmo o James ou não. Cutuquei ela com o ombro e ela me olhou.

— Abre logo para gente ver. – Dei um sorriso imenso de curiosidade e ela sorriu, mordendo de leve o lábio, nervosa, então seguiu caminhando bem lentamente pelo corredor enquanto desdobrava o papel. Era um pedaço de papel comum, de caderno, simples, dobrado em umas cinco vezes, quando ela terminou de desdobrar uma caligrafia bonita, mas típica de menino, apareceu, em caneta preta, com algumas palavras que, de longe e andando, eu não conseguia ler.

Ela parou para ler e eu espiei por cima dos ombros dela, a Emme agora do outro lado, também curiosa.

 

Lilian,

Já faz algum tempo que eu venho tentando entender este sentimento que vem crescendo dentro de mim, porem eu percebi que não há mais motivo para compreender algo que é inexplicável. Não consigo tira-la de meus pensamentos e hoje eu só queria te dizer o que eu tenho sentido por você.

O que eu escrevo é menos do que eu posso dizer. E o que eu posso dizer, agora, é menos do que eu sinto por você.

Tanta verdade se perde no caminho do coração ao cérebro, do cérebro a boca, da boca a mão, da mão ao papel... Mas eu quero que você saiba tudo o que sinto, sem perdas pelo caminho, sem desperdícios. Quero que você percorra os meus caminhos de volta dos papeis ao meu coração.

Me perdoe se estou sendo atrevido demais falando dessa forma, mas não posso mais esconder.

Você é linda!

 

Do seu admirador secreto.

 

— Minha nossa, que poeta! – Exclamou a Emme e eu tive que concordar com a cabeça, esse admirador era um poeta e muito romântico.

Olhei para a Lilly e ela estava vermelha da cor dos cabelos, o que me fez rir e abraça-la pelos ombros, antes de dizer:

— Seu admirador está apaixonado, heim. – A Emme riu e a Lilly ficou ainda mais vermelha, dobrando o bilhete e puxando a mochila para guarda-lo lá dentro, eu acho que ela fez isso para não nos olhar de imediato enquanto estava da cor dos próprios cabelos.

— Lilly, sua destruidora de corações. – Brincou a Emme e nós rimos, a Lilly riu e deu de ombros, mais sem jeito ainda.

— Quem você acha que é? – Eu perguntei, numa tentativa de saber se ela descobrira quem era esse admirador que enviara já outro bilhete anteriormente, mas ela deu de ombros.

— Esse cara já mandou outro bilhete antes, não mandou? – A Emme se recordou do que eu já tinha lembrado e eu concordei com a cabeça, a Lilly puxou uma mexa de cabelo da parte de trás da cabeça e ficou mexendo nele, sem dizer nada por um tempo enquanto caminhávamos pelo corredor em direção ao dormitório da North.

— Você não descobriu quem é, Lilly? – Eu perguntei, finalmente, depois de ver que ela continuava calada, mexendo numa mexa do cabelo, pensativa talvez, ou ela não sabia mesmo ou tinha uma ideia de quem podia ser ou então sabia e estava receosa de nos contar, mas então ela sacudiu a cabeça negativamente.

— Não, não, eu pensei que... – Ela parou de pensar, obviamente perdida mesmo em pensamentos. – Vocês acham que pode ser o James?

Então ela não sabia quem era e também não sabia se era mesmo o James; quando ela recebera o primeiro bilhete eu tinha certeza que ela sabia de quem era, ou que era do James e ela soubesse disso, obviamente tanto ela quanto eu nos enganara então ao ter certeza de algo que não tínhamos de fato.

Mas se não era ele, quem mais poderia ser? 

— Só pode ser ele, Lilly, até onde eu sei, ele sempre foi apaixonado por você, não é? – A Emme estava dando seu maior sorriso iluminado, sinal que queria bajular a Lilly para ela se sentir confiante e feliz, mas ela não parecia muito confiante e feliz.

— Mas se estamos juntos agora, por que ele ia continuar mandando bilhete como admirador secreto?

Boa pergunta, que tal perguntar para ele?

E falando no dito cujo, ele estava parado mais à frente, à beira da escada que nos levaria até o quinto andar, em direção ao dormitório da South, a Lilly pareceu pensar a mesma coisa que eu e abriu um sorriso imenso, ajeitando a mochila nas costas e dizendo antes de sair em passos decididos até o seu, praticamente, namorado e talvez admirador nada secreto.

— Quer saber, eu vou perguntar para ele.

Eu ergui as sobrancelhas, surpresa e encarei a Emme que sorriu, triunfante, ela adorava ver suas amigas cheias de atitude como ela sempre fora, ou quase sempre, né dona “Emme morro de vergonha de falar com o Castiel”.

— Você acha mesmo que é dele? – Eu perguntei enquanto ficávamos para trás vendo a Lilly indo mais à frente, grudada no braço do James e conversando, o Castiel tinha subido as escadas mais à frente deixando a Lilly com o James mais atrás com toda a privacidade que precisavam.

— Não sei, não, é meio estranho, não é? Quer dizer, se eles estão juntos agora, por que ele mandaria um bilhete como admirador secreto. – Assenti com a cabeça, era exatamente o que eu pensava.

— É, não faz sentido, mas se não é ele, quem será? – A Emme deu de ombros.

— A Lilly sempre chamou a atenção, né, mas é só pelos cabelos ruivos, ela nem é tãooo bonita assim, ou gentil, ou doce, ou encantadora.

Olhei para a Emme e de repente começamos a gargalhar.

É obvio que a Lilly era linda, encantadora, doce, gentil e deixava um rastro de admiradores que passavam mais de um minuto conversando com ela, ela sabia ser adorável.

— É então, imagina que alguém se interessaria por ela, além do James.

— É, ele é mesmo um louco. – Respondeu a Emme ainda rindo.

Começamos a subir as escadas zoando uma com a outra sobre a Lilly, coisa que ela nos mataria se ouvisse-nos fazendo aquilo. Aquela conversa com a Emme me ajudou a esquecer o que ficara na minha mente a tarde inteira na ausência misteriosa, ou não, do Luan, mas à medida que fomos nos aproximando do salão dos dormitórios, aquele aperto no peito foi voltando com força total, eu estava com medo de vê-lo no salão, mas no fundo queria muito ver ele, de preferência, absurdamente sozinho, ou seja, eu estava soando frio, tremendo e numa batalha contra mim mesma: ver ou não ver ele, decide logo Isabelly.

Adentramos o salão dos dormitórios e meus olhos percorreram todo o ambiente em busca dele, meu coração batendo forte no peito, amedrontado e ansioso ao mesmo tempo, mas quando percebi que ele não estava ali uma decepção se apoderou do meu coração, vai entender essa porcaria de coração, fica com medo de ver o cara, mas quando não vê fica triste e decepcionado, fala sério.

A Lilly estava perto da lareira, rindo com o James, será que ela tinha descoberto que ele era, afinal, o seu admirador nada secreto?

Deixei ela lá com seu amado e segui em direção ao nosso dormitório, no fundo, no fundo, eu queria tomar um banho e ficar a noite inteira na cama, sendo sufocada plenamente e verdadeiramente pela dor que me esmagava por dentro e que eu passara o dia todo tendo que fingir que não sentia, mas que continuava lá, me massacrando como se mil cavalos corressem em disparada por meu coração, pisoteando-o e matando-o aos poucos, sem ar, ferido e esmagado.

Doía, doía tanto que agora que eu podia sentir a dor, mal dava para respirar. Adentrei o dormitório e sentei na beira da minha cama, sentindo já o bolo na garganta e as lagrimas querendo vir com força total como se eu tivesse aberto a porteira e elas pudessem saltar para fora livres, leves e soltas, mas não tão soltas assim, a Emme estava lá, jogando a mochila sobre a cama e falando alguma coisa que eu não estava sequer ouvindo, eu não queria chorar na frente dela, não queria aquele olhar de pena, aquele olhar de “coitadinha da minha amiga, o cara que ela ama e pensou que tinha conquistado, só a fez de idiota, que sorte eu tenho do meu novo namorado não ser assim”, eu não queria consolo, não queria olhares de pena, não queria chorar no colo de ninguém, eu queria chorar sozinha, comigo mesma, só eu e meu coração partido.

Me levantei rapidamente e abri uma das minhas gavetas, pegando a minha toalha limpa e indo para o banheiro, falando com a voz mais firme, ou tentando manter ela firme, que eu precisava de um banho de meia hora e ouvi ela dizendo que ia aproveitar o silencio do quarto para ler um pouco. 

Abri a porta do banheiro, fechando-a atrás de mim e me recostei na porta, as lagrimas, agora incontroláveis, desceram fartas por meu rosto, impossíveis de serem detidas, desceram em avalanche, uma atrás da outra, encharcando meu rosto e meu colo onde pingavam, incessantemente, mas não dei bola para isso, coloquei as duas mãos no rosto e pela segunda vez naquele dia, me deixei chorar até sentir que não tinha mais água dentro de mim o suficiente para continuar chorando, até que me sentir seca como uma terra do nordeste, até sentir meu coração esturricado mal batendo dentro do peito, incapaz de sentir mais qualquer coisa, dolorido e latejante como uma ferida recém aberta, até que eu me sentisse morta e não existisse mais motivo algum para chorar.

 

 

Acho que eu demorei muito mais do que meia hora naquele banho, foram meia hora chorando antes do banho, depois mais meia hora chorando no banho, depois o banho em si, sei que sai do banheiro enrugada, mas um pouco melhor, um pouco mais leve e com o coração agora dolorido apenas, mas não mais doendo incessantemente como se estivesse morrendo e me levando com ele.

A Emme estava deitada sobre a cama dela, com o livro que estava lendo aberto sobre o peito na página que ela provavelmente parara de ler e a Lilly estava sentada na beira da cama dela, do outro lado, uma vez que a cama da Emme ficava entre a minha e da Lilly. Quando adentrei o dormitório a Lilly ergueu os olhos e me encarou com aquela carinha de pena, a Emme seguiu seu olhar e também me olhou, as duas com cara de dó e pena que eu, francamente, não gostava nenhum pouco de ver, Okay, eu sei que levei um pé na bunda e fui expulsa do paraíso quando achava que tinha finalmente o alcançado, vai ver eu não sou digna o suficiente de viver no paraíso, simples assim.

Eu não disse nada e fui até a minha cômoda, dobrando minha roupa suja e colocando dentro do cesto de roupa ao lado, e tirando a toalha dos cabelos para secá-los, vendo que eu não ia dizer nada sobre o porquê de talvez os meus olhos estarem inchados de tanto chorar, ou meu nariz estar parecendo com o do palhaço Bozo e eu ainda estar com uma cara de morta, provavelmente, elas voltaram ao que estavam conversando antes de eu aparecer, e eu fiquei ali um tempo, enquanto me arrumava, só ouvindo.

— Eu não queria dizer de cara que tinha recebido um bilhete porque, se não fosse dele mesmo, ele podia ficar zangado, então eu comecei a enrolar e achar um meio de tirar isso dele.

A Emme fez um sonoro “ham”, de quem estava ouvindo. 

Eu dei uma secada em meus cabelos com a toalha, jogando-a sobre a cama em seguida e pegando a escova de cabelos para penteá-los.

— Comecei a falar que uma vez eu tinha recebido um bilhete de um admirador secreto, e que eu achava isso muito bonitinho e tal, que os bilhetes eram sempre cheios de poemas tão lindos, e daí ele ficou me olhando, tipo, sério, franziu a testa e disse, abre aspas: “Eu nunca pensei em te mandar um bilhete de admirador secreto, que burro que eu sou.”, fecha aspas. Daí eu ri e o abracei dizendo que ele nem precisava mais.

A Emme ficou olhando para a Lilly com as sobrancelhas erguidas, nessa altura do campeonato, eu também estava penteando os cabelos, mas olhando para a Lilly ouvindo a narrativa dela. Então queria dizer que não era o James?

— Então não é ele? – Perguntou a Emme, surpresa demais ou só confirmando o que nós duas pensávamos e conversamos anteriormente.

A Lilly deu de ombros.

— Se fosse ele, ele iria dizer, não iria?

Okay, cansei de ficar de fora da conversa.

— A não ser que ele quisesse fazer uma surpresa. – Eu disse, a Emme virou o rosto para me olhar e a Lilly ergueu os olhos, eu continuei penteando os cabelos completamente ciente da minha cara de zumbi choroso, mas fingi que nada tinha acontecido, o problema atual era a Lilly e seu admirador secreto, não eu.

— Uma surpresa? Mas que tipo de surpresa? – A Lilly perguntou e eu dei de ombros, uma ideia florindo na minha mente.

— Ele pode estar mandando os bilhetes para você não saber que é ele, e depois te fazer uma surpresa, sei lá, com os bilhetes marcar um encontro e você aparecer e estar cheio de flores, com uma música de violino ao fundo e ele ajoelhado te pedindo em namoro.

Eu disse e os olhos dela começaram a brilhar, eu não acredito que ela tenha se apaixonado por ele nesse fim de semana, aquela filha da mãe já gostava dele antes e tinha escondido isso de nós, os olhos dela a entregavam, eu podia ver, era brilho demais para um amor tão repentino.

— Ai, meu Deus, será? – Eu ri e a Emme riu junto, emendando.

— Eu acho que a parte das flores e violino é meio exagerado. – Ela me olhou em tom de desculpa e eu dei de ombros, voltando-me para a penteadeira e começando a tirar aquela cara de zumbi chorona de mim. – Mas pode ser que ele faça mesmo uma surpresa, te fazendo acreditar que os bilhetes não são dele, você vai ter uma surpresa maior quando descobrir que era ele o tempo todo.

Fazia sentido mesmo esse meu pensamento, e eu só concordei, estava passando uma base embaixo dos olhos para tirar as olheiras do choro, e fiquei pensando em como eu queria ter a sorte da Lilly por saber que o James sempre fora apaixonado por ela a vida toda, porque agora, ela não teria mais dúvidas, não teria porque duvidar do amor dele, por mais que ele fosse meio galinha antigamente, mas era porque ela nunca deu bola para ele, e ele é homem né, eles nunca são santos e a única forma que usam para afogar as magoas é pegando geral, mas eu nunca teria essa certeza totalmente afinal, até mesmo depois de dizer que estava apaixonado por mim, o Luan voltara atrás um dia depois, como eu viveria em paz e teria certeza absoluta de seus sentimentos?

Não fazia a menor ideia de como responder minhas perguntas, mas depois de tanto choro, achei melhor parar de pensar nele um pouco, desfocar sabe, quando você fica focada demais em uma coisa parece que seu cérebro até dói de tanto pensar, e isso tudo só te faz ficar ainda mais mal, eu não queria pensar, só queria esquecer aquele dia e tudo aquilo, por isso voltei minha atenção ao drama atual da Lilly e seu admirador secreto, enquanto ela e a Emme começavam a imaginar como o James faria para no final dizer que era ele, sim, o admirador secreto aquele tempo todo.

Por fim, depois de tantas conjecturas, a Emme decidiu ir tomar um banho e a Lilly resolveu fazer as unhas, pegando seu kit de esmaltes, acetona e algodão, sentando-se em sua cama, recostada à cabeceira e tirando o esmalte antigo para poder passar um novo, enquanto eu continuava me arrumando. Já tinha passado uma base leve para disfarçar a cara de choro, passei um lápis preto para dar um tcham aos meus olhos tristes, uma sombra rosa clara e um blush de leve para me dar uma corzinha e ninguém saber que eu chorara até desidratar, ninguém, muito menos ele, é claro.

Aquela noite não estava muito quente, tinha um ar gelado vindo pela janela, por isso resolvi colocar uma calça legging, uma camiseta branca com o símbolo da North e um  cardigã preto por cima, apenas para me aquecer um pouquinho, sem muito exageros, e meu tênis all star de meio cano alto, também preto. Acho que no fundo eu queria que ele me visse no jantar bem bonita e pensasse que ele não tinha me afetado em nada naquele jeito de Iceberg dele, batendo contra mim com força total e me afundando, mesmo que no fundo eu já estivesse morta como o Jack, congelado.

 

Depois que eu estava pronta, a Emme já tinha tomado banho, a Lilly já tinha feito as unhas, tomado banho e se arrumado, nós descemos até o salão dos dormitórios e saímos para descer para o refeitório, os meninos pelo jeito já tinham descido, e nós seguimos pelo corredor até as escadas que nos levariam cinco andares abaixo até o refeitório, não tinha como ser gordo naquele colégio, viu, a gente sobe e desce aquelas escadas umas quinhentas vezes por dia, minha nossa.

O refeitório estava cheio, como sempre, todo mundo já estava sentado se servindo, jantando, conversando, rindo e nós seguimos para nossos lugares, na verdade para onde os meninos estavam sentados, o James, o Castiel e o Luan, um ao lado do outro e os três lugares a frente deles vazios, esperando por nós, quando a Lilly sentou e a Emme também, uma na frente de cada respectivo, eu me senti congelando por dentro enquanto sentava no meu lugar, completamente ciente de que o Luan estava bem a minha frente, ele não tinha feito aquilo na hora do almoço, então, o que tinha mudado?

Ergui os olhos e o vi me olhando, ele deu um sorrisinho, sem jeito, mas eu não consegui sorrir de volta, só queria saber o que tinha mudado, por que agora ele estava na minha frente quando passara o dia todo evitando me olhar ou ficar perto de mim? Será que a tarde com aquela esqueleto de múmia em exposição tinha sido tão boa assim? Senti uma onda de raiva borbulhando em minhas veias e desviei os olhos, virando o rosto para o outro lado e pegando um prato para me servir.

O jantar seguiu tranquilo, as minhas amigas rindo com os namorados, eu participando da conversa e evitando qualquer assunto que o Luan estivesse participando, estava com raiva dele, com raiva por ele ter sido frio comigo o dia inteiro, por ele ter me evitado, por ele ter me feito chorar, por ele ter ficado com aquela lambisgóia nojenta e ridícula a tarde toda e agora vir sentar na minha frente e dar esse sorrisinho idiota como se nada tivesse acontecido. Estava com mais raiva do que dor agora, acho que tinha sido substituído a dor pela raiva, e isso era mil vezes melhor, pensando bem.

Quando o jantar acabou, me levantei e segui com as meninas, o James, Castiel e Luan ficaram sentados na mesa ainda, conversando e rindo, mas eu não queria ficar perto do Luan, não naquele momento, não depois de ter chorado até secar na hora do banho, ainda doía muito e ainda não conseguia entender essa bipolaridade dele e o que estava acontecendo, eu só queria sumir dali. Saímos andando pelo refeitório e quando alcançamos a porta um menino veio correndo até nós, eu reconheci ele antes mesmo de se aproximar, os mesmos cabelos encaracolados, pequeno e bonitinho, ele ia ficar lindo quando crescesse.

Ele parou a nossa frente e sorriu, lindamente.

— Oi.

— Han, deixe-me adivinhar, você tem outro bilhete para minha amiga ruiva chamada Lilian? – Eu disse e ele riu, assentindo com a cabeça.

— Será que você podia nos dar uma dica de quem é o garoto que te mandou entregar? – Ele deu de ombros, esticando o bilhete a frente, na direção da Lilly.

— Ele é um garoto, meio alto, cabelos pretos... – Ele disse e a Lilly sorriu, mas aquilo não era lá uma dica muito valiosa, sabe quantos garotos meio altos de cabelo preto tem nesse colégio?

— Isso não ajudou muito. – Disse a Emme e ele riu, dando de ombros de novo.

— Desculpa, eu não posso dizer. – A Lilly já tinha pego o bilhete e o menino se virou para sair, mas daí voltou e disse, com o rosto ficando meio vermelho.

— Mas você é mesmo muito linda, eu também me apaixonaria por você.  – Então ele se virou e saiu correndo como um foguete deixando uma Lilian vermelha e sem graça e eu e a Emme rindo de nos acabar.

— Não perdoa nem as criancinhas, Lilly, que isso. – A Emme brincou e nós rimos, a Lilly estava olhando para o bilhete, ainda vermelha e nós nos aproximamos mais dela enquanto ela começava a abrir o bilhete para ler.

Curiosidade realmente mata, e não é só o gato, olha a Pandora, ela é um bom exemplo.

 

"Lílian:

 Sei que deve estar se perguntando quem sou, mas ainda não posso me revelar. Não quero assustá-la, muito menos afastá-la de mim. Estou tentando me controlar para não dizer tudo o que quero diante de você, mas está sendo muito difícil. É uma tortura tê-la por perto todo dia. Sentir sua presença e não poder tocá-la, sentir seu olhar e não poder corresponder. Dói ouvir sua voz tão perto e tão distante. Não sei se algum dia você poderá me corresponder. Enquanto isso, espero.

De alguém que não apenas te adora.

Seu admirador secreto"

 

Esse cara estava mesmo muito apaixonado.

A Lilian estava com um sorriso de orelha a orelha, agora mais do que nunca ela devia estar pensando que era o James, afinal, o menino dissera que estava perto dela o tempo todo, mas a diferença era que, ele dissera que não podia tocá-la e o James estava fazendo mais do que tocar a Lilly, pelo pouco que eu tinha visto. Danadinha.

— É ele, tá vendo só, é ele! – Ela exclamou toda feliz, eu achava cada vez mais que não era ele, ou ele estava pregando uma peça nela, mas não sei, meu instinto dizia outra coisa.

— Ah, Lilly, eu não sei... – Eu disse e ela me olhou, erguendo uma das sobrancelhas.

— Ele disse, olha só, que está perto de mim o tempo todo, só pode ser ele, Belly.

— E disse também que não pode te tocar, o James faz mais do que te tocar, não é, não? – Ela ficou vermelha e a Emme riu.

— Só acho que você precisa também pensar que pode não ser ele, e se não for ele, daí sim eu estou curiosa. – Eu disse, caminhando ao lado dela, talvez eu estivesse sendo muito dura, não sei, mas ela não podia ter certeza sem ter realmente certeza.

— Lilly, a Belly tem razão, eu acho que você deve pensar nas duas possibilidades, ser ou não ser ele.

— Mas como eu vou ter certeza?

— Podemos torturar o menino. – Eu disse, com a voz séria, e as duas viraram o rosto e me olharam, meio assustadas, eu dei de ombros. – Amarrar ele e fazer ele falar, eu tenho um canivete que acho que...

Belly!  - As duas me repreenderam quase juntas e eu comecei a gargalhar, caramba, não acredito que elas acreditaram.

— Não acredito que vocês realmente acharam que eu estava falando sério.

— Não sei, as vezes você é meio louca mesmo. – A Lilly disse e eu fiz um beicinho manhoso, o que a fez rir.

— Tem um jeito de descobrir. – A Emme disse e nós a olhamos, também meio preocupadas e ela riu. – Não é torturando ele.

— Uffa. – A Lilly disse, causando risos em nós todas.

— Podemos descobrir que série ele estuda, pegar um coleguinha dele e pagar para ele vigiar o menino para nós, assim quando o admirador secreto contatar ele, vamos descobrir quem é.

BOA!

— Excelente ideia, Emme. – Ela abriu um sorriso imenso.

— Viu só, quem é a mais inteligente da turma? Heim, heim, heim? – Eu e a Lilly rimos e a Lilly deu de ombros.

— Você só teve uma ideia genial, isso não a faz inteligente.

— Okay senhorita Theo James. – Eu ri das duas enquanto a Lilly fazia uma careta.

Já estávamos subindo as escadas enquanto conversávamos, agora discutindo quem era a mais inteligente, elas faziam questão de me deixar de fora dizendo que eu era lerda demais para ser inteligente, aff, que disparato, mas acabei aceitando e deixando elas disputarem o cargo.

Chegamos ao salão dos dormitórios, e nos sentamos perto da lareira, para continuarmos conversando e rindo, aproveitando o resto da noite, eu queria subir antes que o Luan aparecesse, mas acabei ficando ali um tempo.

— E você, Belly?  - Perguntou a Emme depois que o papo “admirador secreto e a mais inteligente” acabou, por fim, olhei para a Emme e franzi o cenho sem entender. 

— Eu o que?

— Não vai nos dizer porque estava chorando? – Abaixei os olhos, olhando minhas mãos sobre o colo, brincando com o esmalte que estava começando a descascar.

— O que ele fez dessa vez? – A Lilly perguntou, e eu dei de ombros. Não queria falar dele, não queria estragar a minha noite mais do que ele já tinha feito.

— Não quero falar dele. – Eu disse, simplesmente e as duas concordaram em silencio. 

— O James me disse uma coisa hoje... – A Lilly disse e eu ergui os olhos para olhá-la, eu estava sentada num sofá de dois lugares com a Emme do meu lado e a Lilly estava num sofá de um só lugar ao lado, virado de lado para a lareira. – Ele disse que acha que entende o que tá acontecendo com o Luan.

Franzi a testa. Então o James sabia o motivo do Luan estar daquele jeito? Claro, eles eram melhores amigos, o Luan devia ter comentado com eles, não é, mas ainda assim, eu não ia saber exatamente o que eles conversaram, meninos são muito fieis uns aos outros nesse quesito.

Suspirei.

— E existe explicação para ele ter mudado do vinho para agua?

A Lilly negou com a cabeça, mas disse mesmo assim.

— O James disse que o Luan está acostumado com a vida de solteiro, e que esse negócio de ter uma “namorada” – ela fez aspas com os dedos. – Deve ter assustado ele, o James disse que não sabe se o Luan seria capaz de largar a vida de solteiro.

Muito animador, realmente, muito animador. Se o melhor amigo dele acha que ele não é capaz de largar a vida de solteiro, como que eu vou ter alguma esperança depois disso?

Assenti, de leve com a cabeça, o semblante meio triste, mas não ia deixar isso me abalar de novo, eu já tinha tido a minha cota de decepção e tristeza naquele dia, não tinha?

— Meninas, finalmente encontrei vocês! – Viramos o rosto para ver a voz já conhecida da Alice ecoando entusiasmada nos nossos ouvidos, e sorrimos, ela estava zoando, é claro, tínhamos visto ela na hora do almoço, apesar que ela passava mais tempo com o Frank agora do que qualquer coisa.

Eu agradeci mentalmente ela ter aparecido e tirado o assunto eu e Luan da roda.

— Estávamos de férias. – Disse a Emme e nós rimos, férias de um dia.

— Vocês ficaram sabendo da novidade bomba que está circulando pelo colégio?

Hmmm novidade bomba era coisa séria.

— O que aconteceu que eu perdi? – A Emme se empertigou no sofá e eu ri já de antemão, a Alice sentou no braço do sofá da Lilly.

— Estão dizendo que a Joana Dávila, aquela gordinha morena que namorava o atacante da North, o Rico, sabem?

— Do segundo ano? – Perguntou a Lilly e a Alice assentiu com a cabeça.

— Essa mesma. Estão dizendo que ela está gravida.

— OHHH! – A reação foi geral, e assim ficamos um bom tempo ali falando daquele babado máximo porque diziam que ela nem sabia quem era o pai, o que era um babado maior ainda, ainda mais porque, era expressamente e terminantemente proibido os alunos fazerem sexo, de qualquer idade, principalmente os com menos de quinze anos hehe, (Será que o Luan sabia disso?) você podia ser expulso do colégio, imagine então ficar gravida com dezesseis anos, um ano depois do limite mais expressamente proibido ainda. Que bapho, com PH

Estava tão distraída, rindo e conversando que mal ouvi meu celular tocando a musiquinha de mensagem, eu tinha deixado ele em cima da mesinha de centro a frente do sofá e o barulho do vibra me fez olhar assustada para o celular.

Me inclinei sobre a mesinha puxando o celular e apertando o botão do meio do celular para ele acender e mostrar que realmente tinha alguma coisa ali, era uma mensagem, uma mensagem dele, do Luan.

Congelei por dentro, no mesmo instante meus sentidos ficaram surdos para todo o resto, segurando o celular na mão já tremula, destravei a tela, os dedos trêmulos segurando o smartphone, o coração batendo forte no peito, desesperado, de medo, as mãos soando frias, o que será que ele queria, quer dizer, ele passara o dia todo sem olhar para mim, sem falar comigo, e agora me mandava uma mensagem de texto, será que fora por engano? Ou só o James zoando? Ou ele finalmente se arrependera de me tratar tão friamente como tinha feito?

Para de “SE”, e lê logo essa porra de mensagem, Isabelly.

Com os dedos tremendo, toquei na tela selecionando a mensagem dele, mal conseguindo respirar enquanto lia as palavras que apareciam na tela:

“Me encontre no esconderijo em meia hora.

Precisamos conversar.

Luan.”

Fiquei ali, sentada, paralisada, com o celular nos meus dedos congelados, com os olhos fixos na tela enquanto meu coração terminava de morrer dentro do peito.

Precisamos conversar.

Que droga, que droga, que droga. Respira, calma, Isabelly, calma, respira, não chora, não chora, engole o choro, respira, não chora. Calma, porra.

Mas não tinha como manter a calma, quando alguém te diz “precisamos conversar”, você automaticamente já começa a tremer por dentro que nem louco e pensar em todas as merdas que você possivelmente possa ter feito de errado, e quando alguém que é seu, sei lá o que, mas que você achava que viraria seu namorado, mas que passou o dia inteiro sem te olhar na cara, te tratando friamente e de risinhos com a menina que você mais odeia e que você sabe que ele vive comendo, te diz “precisamos conversar”, bom, daí você já praticamente morre só de ouvir ou ler essas palavras.

Era isso, era o fim, ele ia terminar o que nem tínhamos começado, tudo estava acabado.

Não consegui conter uma lagrima traiçoeira que escorreu do canto do meu olho direito e deslizou sorrateira por minha pele, por cima da maquiagem, enquanto o mundo terminava de desabar sobre minha cabeça e por dentro meu coração era esquartejado, com todos os pedaços destroçados, espirrando sangue para todos os lados, a dor tão insuportável que eu mal conseguia respirar.

O sonho que durou tão pouco tinha chego ao fim.

 

 

Meia hora, a mensagem dele dizia para encontrar com ele em meia hora, mas depois que li a mensagem parecia que a hora tinha parado, não passava, os minutos se arrastavam com uma lentidão tão absurda que era até cômico, parecia que o tempo estava brincando comigo, só podia.

Não aguentei ficar esperando meia hora, quinze minutos depois inventei uma desculpa de que tinha que pegar um livro correndo na biblioteca antes que fechasse, pois tinha me esquecido, e sai do salão dos dormitórios já com as mãos soando, as pernas tremendo e o coração na boca, era melhor eu esperar os minutos faltando na porta do esconderijo do que ficar lá com as meninas rindo e eu mal prestando atenção, esperando a hora, que não passava nunca, passar.

Sai pelo corredor e desci o primeiro lance de escadas tremendo, mal conseguia descer os degraus, meu corpo inteiro tremia de medo, nervoso, ansiedade, pavor, pânico, tudo misturado, eu era um misto de milhares de sensações, e eu mal conseguia entende-las, mas o medo prevalecia, o medo de ouvir o que eu já quase sabia que ele ia dizer, a dor estava lá também, já pronta para vir com tudo, dando um golpe de Karatê com um machado afiadíssimo atacando meu coração selvagemente e destroçando o resto do meu coraçãozinho já todo machucado.

Fui descendo as escadas tão tremula e tão perdida em pensamentos que nem notei que tinha descido um andar a mais e estava andando no corredor como se fosse para aula;

Mas que porra você está fazendo Isabelly.

Bufei e dei meia volta, voltando para as escadas, mas quando me aproximei da escada, parei, de chofre, o medo, o pânico, o nervoso, a ansiedade, substituídos todos, de repente, por uma onda feroz e voraz de raiva e ódio.

— Ora, se não é a nova excluída do Luan Santana. – A risada dela ecoou tão alta, tão nojenta, tão irritante que eu quis pegar o machado afiado que estava prestes a arrancar meu coração com raiz e tudo e enfiar ele na goela daquela vagabunda, desgraçada, piranha, biscate com cara de verme vomitado, daquela Larica mais dada que xuxu em cerca.

Fechei a mão em punho e dei três passos decididos na direção dela, com o semblante de quem ia mata-la; me aproximei e bati a mão no peito dela, empurrando ela para trás, a raiva borbulhando nas minhas veias.

— CALA A BOCA! – Eu não sei se gritei ou se praticamente gritei, mas foi algo assim.

Vocês conseguem imaginar a raiva que eu estava sentindo? Eu tinha visto aquela vagabunda de charminho com o Luan no corredor, sabia que ele tinha passado a tarde comendo aquela piranha, e sabia, o tempo todo, que ela iria zoar quando me visse e ali estava ela, naquele mesmo dia, fazendo aquilo, naquele mesmo maldito dia que eu já tinha passado o pão que o diabo amassou, chorado mil vezes e quase morrido mais um milhão de vezes, e ela vinha falar aquilo para mim, rir da minha cara quando eu estava prestes a ouvir o Luan realmente me dar um pé na bunda, ele podia me dar um pé na bunda, mas eu ia jogar ela do sétimo andar antes disso.

— Ui, doeu? – Ela gargalhou, mas seus olhos estavam um pouquinho assustados pelo meu empurrão. – Doeu ser descartada tão rápido?

Ela gargalhou de novo e eu dei mais um passo, ficando muito próxima dela e ela arregalou os olhos, eu disse, com os dentes cerrados.

— CALA-A-BOCA! 

— Ele nunca me descartou, sabia? Ele sempre volta para mim. – O sangue corria igual um vulcão em erupção nas minhas veias, eu ergui o dedo indicador, apontando para cara dela, antes de dizer.

— Ele não me descartou. – Eu estava mentindo, e sabia disso. Ela riu debochadamente.

— Então você acabou de levar o primeiro chifre. Ops. – Eu sabia que iria chorar, mas não naquele momento, quando tudo aquilo acabasse provavelmente eu choraria, mas não ali, não naquela hora, naquela hora eu não conseguia chorar, a raiva era mais forte que tudo, eu só queria socar a cara dela, dar um milhão de murros na cara dela até desfigurar ela ainda mais.

— Ele passou a tarde inteirinha comigo, ah, foi tãoooo bom. – Aquilo foi a gota d’água para mim, fechei a mão em punho e, nem sei como, ergui ele e com toda a força que eu tinha, ou que eu nem tinha, acho que foi a adrenalina, dei um murro no nariz dela, soquei ele com tanta força que ouvi um CRAC e no mesmo instante espirrou sangue do nariz dela para todo lado, ela cambaleou para trás, batendo na parede da escada e deslizou no chão, eu fiquei ali, meio em choque por um minuto, vendo o sangue escorrendo do nariz dela e ela assustada, os olhos arregalados, enquanto eu pensava:

Meu deus, o que foi que eu fiz? Eu quebrei o nariz horroroso dessa horrorosa, de verdade?

Não tive tempo de responder mentalmente a minha pergunta mental, ela se levantou e partiu para cima de mim, me pegando no susto, senti uma dor aguda no rosto como se ela tivesse pego uma faca e feito um corte lateral na minha bochecha e eu cambaleei para trás, sentindo ela em cima de mim, então acordei do choque e dei um empurrão nela com o joelho, sentindo ele batendo com força na barriga dela, fazendo ela cair para trás e depois, se erguer rapidamente e pular em cima de mim, me derrubando no chão.

O tempo parou, simplesmente parou, eu não conseguia pensar em mais nada, só na raiva que eu estava sentindo daquela menina, do Luan, de todo aquele dia, e eu queria colocar essa raiva para fora socando a cara dela, se ela já era horrorosa, agora iria ficar mais ainda, não me importava se eu fosse expulsa ou não do colégio, eu só queria matar aquela vagabunda.

Ela não vai rir de mim nunca mais, porque ela não vai ter dentes mais para sorrir.

Voltei a mim quando senti mãos em cima de mim, num segundo ela estava em cima de mim, puxando meus cabelos e no outro eu estava em cima dela, batendo na cara dela com a palma da mão, com tanta força que o rosto dela estava vermelho, e do nada as mãos apareceram, me pegando, me puxando, acho que eu gritei para me largar, não sei, acho que eu chutei para todos os lados, mas o dono das mãos fortes, porque era forte, ele tinha praticamente me levantado do chão, estava atrás de mim e me puxou para trás, para longe da vacaranha.

Eu me contorci, gritando.

— ME LARGA, ME LARGA, EU VOU MATAR ESSA PIRANHA.

Mas as mãos foram mais fortes e me empurraram para longe, só senti meu corpo sendo solto e em seguida sendo preso contra a parede, um corpo quente se prendeu contra o meu, mãos seguravam meus braços, mas eu não conseguia ver nada, estava tipo cega de raiva, completamente cega de ódio, aquela piranha, quem ela pensava que era para jogar na minha cara que eu tinha sido descartada e o Luan era dela?

Fiz força para puxar meus braços e empurrar quem estava me prendendo, vendo a vagabunda choramingando no chão, eu ia matar ela, juro por deus, eu ia matar ela.

Bufei irritada.

— Me solta. Me solta. – Tentei empurrar o menino, eu não estava conseguindo ver ele devido a minha cegueira de ódio, então fiz força tentando erguer o joelho para dar um chute nele e ele me soltar, mas ele pressionou o quadril contra meu corpo, me impossibilitando de fazer o que eu tinha pensado.

Estava tão desnorteada de raiva que demorei um ano para voltar a mim, mas voltei, voltei quando ouvi a voz dele ecoando no meu ouvido enquanto ele gritava, nervoso, a plenos pulmões:

— O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO, BELLY? 

Era ele, era o causador de tudo aquilo.

Era o Luan.

 

 


Notas Finais


Meninasss
Eu prometi postar sexta, mas acontece que eu já estava com o capitulo pronto, mas achei que estava muito pequeno (tinha dado 11 mil palavras :D hihihi) dai eu resolvi colocar mais algumas coisas aqui que só aconteceriam no próximo capitulo, dai não consegui postar ontem
E, eu posto pelo celular, dai a vagabunda da Tim pegou o meu crédito que eu uso por dia e me dá 50MB, e comeu meus créditos falando q eu contratei um pacote de 150MB por SEMANA, ou seja, não dá para PORRA NENHUMA.
Queria socar a tim se ela tivesse cara também, enfim, dai tive que pegar o celular da minha mãe emprestado para postar o capítulo, mas eis aqui
Eeee

Não demorei um mês, olha só que evolução kkkkkk

O que acharam do capitulo como um todo?
Okay, as perguntas que não querem calar, e eu quero ver as respostas de vocês:
Quem é o admirador da Lilly?
O que dizer de como o Luan está se sentindo?
Será que o Luan ficou mesmo com a Larica?
E genteeee, que vagabunda, eu quero socar ela também, juro para vocês kkkkk
Ah gente, me ajudem com apelidos pra xingar essa vacaranha, vou usa-los no próximo cap hehehe


O que acharam o do capitulo?

Me digam, comentemmmm
Amo os comentárioszinhos, os comentários mais lindos eu irei mencionar aqui nas notas finais no próximo capitulo
xD

Ah, claro que eu já tenho as minhas seguidoras fieis kkkkk
A Pandinha que é adorada e amada por todos, louca que só quem acompanha o timeline dela que sabe (eu fico rindo com as coisas q ela diz q aparece para mim em atividades qdo olho o app do spirit), e é uma doçura e só comenta coisa louca, tem meu carinho todo especial

A Amanda que também sempre comenta e merece aparecer aqui também porque está sempre me cobrando caps kkkk pode continuar cobrando, sinal que gostam da minha fic né

Enfim, eu vou mencionar mais gente no próximo capitulo, prometo, e comentem, tá

Ps. Gente
Eu tenho uma fic Harry Potter, mas que se passa nos dias atuais, e estava pensando em transformar ela em Luan, o que vocês acham?

Beijoos
Lanah Black


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