1. Spirit Fanfics >
  2. A Elite >
  3. Twenty nine

História A Elite - Twenty nine


Escrita por: Claroescurodark

Notas do Autor


Antepenúltimo capítulo amorecos

Capítulo 29 - Twenty nine


CRUZEI OS BRAÇOS.

— Ouvi a versão de Hina para o que aconteceu e não acho que ela exagerou. Quanto a Taylor, prefiro não falar nunca mais sobre ela.

Ele riu.

— Tão teimosa. Vou sentir falta disso.

Fiquei quieta por um minuto.

— Então é isso? Estou fora?

Josh pensou um pouco.

— Acho que não sou capaz de evitar a essa altura. Não é o que você queria?

Eu neguei com a cabeça.

— Eu estava louca — falei, quase sem voz. — Tão louca.

Desviei o olhar. Não queria chorar naquela hora. Aparentemente, Josh tinha decidido que eu precisava ouvir o que ele tinha para falar, querendo ou não. Ele finalmente tinha me encurralado, e eu ouviria tudo o que ele queria me dizer.

— Pensei que você fosse minha — ele começou. Olhei-o com o canto dos olhos e o vi com o rosto voltado para o teto. — Se eu pudesse, teria pedido sua mão em casamento na festa de Halloween. Tenho que fazer um evento oficial, com meus pais, convidados e câmeras. Mas tenho uma autorização especial para pedir em casamento de forma privada quando estivermos prontos e organizar uma recepção depois. Nunca falei disso?

Josh olhou para mim, e eu sacudi a cabeça devagar. Ele abriu um sorriso amargo e continuou a recordar:

— Eu já tinha preparado o discurso. Todas as promessas que queria fazer. Provavelmente eu teria esquecido tudo na hora e feito papel de idiota. Apesar de... eu lembrar delas agora. Vou poupá-la disso — acrescentou com um suspiro.

Ele ficou calado por um minuto.

— Quando você me afastou, entrei em pânico. Eu tinha certeza de ter chegado ao fim deste concurso insano, e me encontrei novamente como no primeiro dia da Seleção, só que agora com bem menos opções. E eu havia passado a semana anterior com as outras garotas com o intuito de encontrar alguém que ofuscasse você, que talvez eu desejasse mais. Fracassei. Me sentia sem esperança. E então Hina apareceu. Tão humilde, com o único desejo de me ver feliz, e me perguntei por que não havia reparado nesse seu lado. Eu sabia que ela era simpática, e ela é muito atraente. Mas vi algo a mais nela. Acho que eu simplesmente não estava procurando de verdade. Por que o faria, se tinha você?

Abracei meu corpo na esperança de me esconder da dor. Eu já não existia, eu havia estragado tudo.

— Você ama ela? — perguntei, humilhada. Não queria ver seu rosto, mas a longa pausa deu a entender que havia algo profundo entre ambos.

— É diferente do que era com você. Mais sereno, mais amistoso. Mas é firme. Posso me apoiar em Hina, e não tenho dúvidas de que ela é dedicada a mim. Como você pode ver, há poucas certezas em meu mundo. E por isso é reconfortante tê-la ao meu lado.

Fiz que sim com a cabeça, ainda evitando olhá-lo nos olhos. Só conseguia pensar nele falando de nós dois no passado e nos seus elogios infindáveis a Hina. Queria ter algo de ruim para falar sobre ela, algo que fosse derrubá-la de um só golpe, mas não: Hina era uma dama. Fez tudo direito desde o começo. De fato, eu fiquei surpresa por ele ter preferido a mim em vez dela. Hina era perfeita para ele.

— Então por que Taylor, se Hina é tão maravilhosa... — perguntei, finalmente com meus olhos nos deles.

Josh inclinou a cabeça, envergonhado com o assunto. Antes de mais nada, a ideia de falar disso tinha partido dele, de modo que ele devia ter alguma resposta em mente. Ele se levantou e arriscou outro alongamento antes de começar a caminhar com passos curtos pelo abrigo.

— Como você sabe, minha vida é cheia de desgastes que eu prefiro não revelar. Vivo em um estado de constante tensão. Sempre observado, julgado. Meus pais, nossos conselheiros... sempre há câmeras em minha vida, e agora vocês estão aqui — ele disse, com um gesto em minha direção. — Tenho certeza de que você já se sentiu aprisionada por causa da sua casta pelo menos uma vez, mas imagine como me sinto. Há coisas que vi, Any, que sei; e acho que nunca serei capaz de mudá-las. Você tem consciência, imagino, que teoricamente meu pai deve se aposentar quando eu chegar aos vinte anos — prosseguiu Josh. — Mas você acha que ele vai deixar de mexer os pauzinhos? Isso não vai acontecer enquanto ele viver. E eu sei que ele é terrível, mas eu não quero que ele morra... Ele é meu pai.

Fiz um sinal demonstrando que tinha entendido.

— A propósito, ele também influenciou a Seleção, desde o primeiro dia. Se você olhar as remanescentes, fica tudo muito claro.

Josh começou a contar as meninas nos dedos.

— Savannah é extremamente dócil, o que faz dela a favorita de meu pai, pois segundo ele sou muito voluntarioso. O fato de ele gostar tanto dela faz com que eu tenha que lutar contra o impulso de odiá-la. Heyoon possui aliados na Nova Ásia, mas não sei se serviriam para alguma coisa. Essa guerra... — Josh pensou em algo e sacudiu a cabeça. Havia algum detalhe sobre a guerra que ele não queria revelar. — E ela é tão... nem sei a palavra para isso. Sabia desde o começo que não queria uma garota que concordasse com tudo o que eu dissesse ou apenas obedecesse. Eu tentava contradizê-la, e então ela cedia. O tempo todo! É irritante. É como se ela não tivesse personalidade.

Ele estava quase ofegante. Eu não tinha percebido o quanto ela o incomodava. Ele sempre tinha tanta paciência conosco. Por fim, ele olhou para mim.

— Você foi escolha minha. Minha única escolha. Meu pai não ficou entusiasmado, mas até então você ainda não tinha feito nada que o deixasse irritado. Se você ficasse quieta, ele não se importaria que eu a mantivesse. Aliás, ele não veria problemas se eu escolhesse você, desde que você fosse bem-comportada. Ele usou as suas ações recentes para apontar minhas falhas de julgamento e insistir que terá a palavra final a partir de agora.

Josh balançou a cabeça.

— Mas isso é outra história. As outras, Joalin, Hina e Taylor, foram escolhidas por conselheiros. Joalin era uma das favoritas, como Hina. — Ele soltou um suspiro. — Hina seria uma boa escolha. Gostaria que ela me deixasse ficar mais próximo, pelo menos para descobrir se temos... química. Queria pelo menos ter uma ideia. E Taylor. Ela é muito influente, uma celebridade por si só. Fica bem na TV. Parece lógico que alguém quase do meu nível seja minha escolha final. Gosto dela ao menos por sua obstinação. Ela pelo menos tem personalidade. Mas enxergo que ela tende a ser manipuladora e que faz de tudo para tirar o máximo de vantagem dessa situação. Eu sei que, quando me abraça, é a coroa que ela tem no coração.

Ele fechou os olhos, como se o que estivesse prestes a dizer fosse a pior parte.

— Ela está me usando, por isso não me sinto culpado quando a uso. Não me surpreenderia saber que alguém a encorajou a atirar-se em mim. Posso respeitar os limites de Hina. E preferiria muito mais estar nos seus braços, mas você mal tem falado comigo... Será tão ruim assim que eu deseje quinze minutos sem preocupações na vida? Para me sentir bem? Para fingir um pouquinho que alguém me ama? Você pode me julgar se quiser, mas não posso pedir desculpas por querer algo normal na vida.

Josh me olhou no fundo dos olhos. Esperava a minha reprovação e, ao mesmo tempo, tinha esperança de que ela não viesse.

— Eu sei como é.

Pensei em Noah, me abraçando forte e fazendo promessas. Eu não tinha feito a mesma coisa? Eu quase podia ouvir o cérebro de Josh trabalhar a fim de descobrir o quão literais eram minhas palavras. Esse era um segredo que eu não poderia revelar. Mesmo se tudo estivesse perdido para mim, não podia deixar Josh pensar em mim daquele jeito.

— Você a escolheria? Escolheria Taylor?

Ele veio sentar ao meu lado, movendo-se com cuidado. Eu não conseguia imaginar o quanto suas costas doíam.

— Se fosse obrigado, escolheria Taylor em vez de Heyoon ou Savannah. Mas isso não vai acontecer a não ser que Hina decida sair.

— Hina é uma boa escolha. Será uma princesa muito melhor do que eu jamais seria.

Ele achou graça.

— Ela é menos instigante. Deus sabe o que aconteceria ao país com você à frente.

Eu ri, afinal, ele tinha razão:

— Seria provavelmente a ruína total.

Josh continuou a sorrir e falou:

— Talvez o país precise ser arruinado.

Permanecemos ali em silêncio por um momento. Fiquei imaginando como seria nosso mundo arruinado. Não poderíamos nos livrar da família real, mas talvez pudéssemos mudar a maneira de fazer certas coisas. Os cargos seriam preenchidos com eleições e não por herança. E as castas... amaria muito vê-las mortas para sempre.

— Você me permite uma coisa?

— O quê?

— Bom, eu dividi muitas coisas com você esta noite que foram difíceis de admitir. Fiquei pensando se você não me responderia uma pergunta.

Seu rosto era tão sincero que eu não poderia negar. Esperava não me arrepender do que quer que se tratasse, mas ele foi mais honesto comigo do que eu mereceria.

— Sim. Qualquer coisa.

Ele engoliu em seco.

— Você em algum momento me amou?

Josh me olhou nos olhos e imaginei se ele podia ver a resposta ali. Todas as emoções com que lutei porque pensei que ele era uma coisa que ele não era; todos os sentimentos que nunca quis nomear. Encolhi a cabeça.

— Eu sei que quando pensei ser você o responsável pelo castigo de Joalin me senti arrasada. Não apenas pelo que aconteceu, mas porque eu não queria achar que você era esse tipo de pessoa. Eu sei que quando você fala de Hina ou dos seus beijos em Taylor... fico com tanto ciúme que mal posso respirar. E sei que quando conversamos no Halloween, fiquei pensando em nosso futuro. E fiquei feliz. Sei que se você tivesse feito o pedido, eu teria dito sim — as últimas palavras saíram como um débil sussurro quase inaudível. — Também sei — continuei — que nunca soube como lidar com seus encontros com as outras ou com a sua condição de príncipe. Mesmo com tudo o que você me contou esta noite, acho que sempre haverá coisas sobre você mesmo que você esconderá... Mas, apesar de tudo... — e fiz que sim com a cabeça. Não podia dizer aquelas palavras em voz alta. Se dissesse, como conseguiria partir?

— Obrigado — ele sussurrou. — Pelo menos agora tenho certeza de que, por um pequeno período do tempo que passamos juntos, você e eu sentimos a mesma coisa.

Meus olhos incharam, prestes a derramar mais lágrimas. Ele nunca tinha me dito de verdade que me amava; tampouco o dizia com todas as letras agora. Mas as palavras estavam tão, tão perto.

— Eu fui tão idiota — falei, recuperando o fôlego. Lutei o máximo que pude contra as lágrimas, mas já não aguentava mais. — Sempre deixei a coroa me assustar e me afastar de você. Dizia a mim mesma que você não era importante para mim. Sempre pensava que você tinha mentido para mim, que você não confiava em mim nem se importava comigo o suficiente. Me deixei acreditar que eu não era importante para você.

Eu encarei seu rosto e concluí:

— Basta olhar as suas costas para saber que você faria qualquer droga de coisa por mim. E eu joguei tudo fora. Acabo de jogar tudo fora...

Ele abriu os braços, e eu me joguei neles. Josh me abraçou em silêncio, acariciando meus cabelos. Queria poder apagar tudo e ficar apenas com aquele momento, aquele breve segundo em que ele e eu sabíamos o quanto significávamos um para o outro.

— Por favor, não chore, querida. Eu pouparia suas lágrimas o resto da vida, se pudesse.

— Eu nunca mais vou ver você. É tudo culpa minha — falei, ofegante.

Ele me abraçou mais forte.

— Não, eu devia ter sido mais aberto. Mais paciente. Devia ter pedido sua mão naquela noite em seu quarto.

Ele riu. Levantei os olhos para ele, sem saber quantos sorrisos daquele eu ainda veria. Os dedos de Josh enxugaram as lágrimas das minhas bochechas. Ele continuou ali, me olhando nos olhos. E eu fazia o mesmo, desejando muito me lembrar disso no futuro.

— Any... Não sei quanto tempo temos juntos, mas não quero gastá-lo com arrependimentos por coisas que deixamos de fazer.

— Nem eu.

Dei um beijo na palma de sua mão. Então beijei a ponta de seus dedos. Ele deslizou a mesma mão por baixo dos meus cabelos e empurrou meus lábios para os seus.

Como havia sentido falta desses beijos, tão serenos, tão certos. Eu sabia que, em toda minha vida, se me casasse com Noah ou com outra pessoa, ninguém me faria sentir assim. Não era como se a minha presença fizesse o mundo dele mais feliz. A sensação que eu tinha era de ser o mundo dele. Não havia explosões. Não havia fogos de artifício. Era uma chama lenta, queimando de dentro para fora.

Trocamos de posição, de modo que eu fiquei com as costas no chão e ele sobre mim. Ele correu o nariz pelo meu queixo, pelo meu pescoço, pelo meu ombro e cobriu esse caminho de beijos na volta até meus lábios. Eu não parava de passar meus dedos por seu cabelo, tão suave que quase me fazia cócegas na palma das mãos.

Depois de um tempo, pegamos os cobertores e improvisamos uma cama. Ele me abraçou por mais um tempo, com seus olhos nos meus. Se não fosse tudo o que eu tinha feito, poderíamos passar anos fazendo isso.

Assim que a camisa de Josh secou, ele a vestiu, cobrindo as manchas secas com seu casaco. Depois, voltou a se aconchegar em mim. Começamos a conversar, eu não queria dormir nem por um segundo, e notei que ele também não.

— Você acha que vai voltar para ele? O seu ex?

Não queria falar de Noah naquele momento, mas pensava nisso.

— Ele é uma boa opção. Inteligente, corajoso, talvez a única pessoa neste planeta que seja mais teimosa do que eu.

Josh soltou uma risada. Meus olhos fecharam, mas continuei:

— Vai demorar um pouco até que eu possa pensar sobre isso.

— Hmm.

O silêncio se prolongou. Josh esfregou o polegar contra a minha mão.

— Eu poderia escrever para você? — ele perguntou.

Pensei.

— Talvez você devesse esperar alguns meses. Talvez nem sinta saudade.

Ele quase riu.

— Se você for escrever... deve contar a Hina.

— Você tem razão.

Ele não explicou se ia contar a ela ou se simplesmente não escreveria, mas naquele momento eu não queria saber. Não conseguia acreditar que tudo aquilo estava acontecendo por causa de um livro idiota. Perdi o fôlego. Meus olhos se arregalaram. Um livro!

— Josh, e se os rebeldes nortistas estiverem atrás dos diários?

Ele trocou de posição, ainda um pouco distraído.

— O que você quer dizer?

— Quando fugi para o jardim naquele dia, vi os rebeldes passarem por mim. Uma moça deixou cair uma bolsa cheia de livros. O cara que estava com ela também tinha um monte. Eles estão roubando livros. E se estiverem procurando por um título em particular?

Josh arregalou os olhos, e depois piscou, submerso em pensamentos.

— Any... o que havia exatamente naquele diário?

— Muita coisa. Sobre como Gregory basicamente roubou o país, como impôs as castas ao povo. Era horrível, Josh.

— Mas o Jornal Oficial saiu do ar — ele insistiu. — Mesmo que seja isso o que querem, não há como eles saberem o que é o diário ou do que ele trata. Acredite, depois da sua apresentação, meu pai vai garantir que os diários fiquem mais protegidos que o habitual.

— É — eu disse, com a mão na boca para esconder um bocejo. — Eu sei.

— Não — falou Josh. — Não se preocupe. Pelo que sabemos, eles apenas gostam muito de ler.

Aquela tentativa de piada só me fez soltar um gemido.

— Realmente, eu pensava que não podia piorar as coisas — lamentei.

— Shhh... — foi a reação de Josh, ao mesmo tempo que se aproximava mais de mim, com os braços fortes ainda apoiados no chão. — Não se preocupe agora. Talvez fosse melhor você dormir.

— Mas eu não quero — falei baixinho, mas me aconcheguei mais em seu corpo.

Josh fechou os olhos, ainda me abraçando.

— Eu também não. Mesmo em um dia bom, dormir me deixa nervoso.

Meu coração sentiu uma pontada. Não conseguia imaginar seu constante estado de preocupação, principalmente por saber que quem o mantinha quase louco era o próprio pai.

Josh soltou minha mão e procurou algo em seu bolso. Entreabri os olhos; os dele estavam fechados. Estávamos quase dormindo. Ele segurou minha mão de novo e começou a amarrar algo no meu pulso. Reconheci seu presente — o bracelete da Nova Ásia — assim que senti as contas sobre minha pele.

— Sempre o trago no bolso. Sou um romântico miserável, não acha? Ia guardá-lo, mas quero que você tenha algo de mim.

Ele pôs o bracelete por cima da pulseira com o botão de Noah. Senti o botão apertado contra minha pele.

— Obrigada. Fico feliz — falei.

— Então também fico.

Não dissemos mais nada.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...