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História A Era Mais Escura - Retorno em Tons Flavos


Escrita por: MarleyMAlves

Notas do Autor


Faz tempo desde o último capítulo, e eu sei que a muito tempo havia dito que postaria regularmente... Mas acabei enfrentando um grande problema chamado "Capítulo 12", esse monstro de doze cabeças acabou por me atormentar por grande parte destes meses, tempo em que cheguei a reescrevê-lo três vezes, e isso é porque prezo muito pela coerência da história; fazer aquele capítulo interessante e ao mesmo tempo ligado ao resto da mitologia da "trindade" dos reinos foi um desafio muito grande, por fim, acredito ter chegado a uma conclusão dessa aventura, mas ainda assim tem coisas que preciso passar para os leitores que acompanharam minha história até agora, vamos lá então:

Aqui estão as notas com todas as mudanças que aconteceram nesse tempo:

-> O reino oculto, anteriormente chamado de "Aurwen", agora se chamará "Orfília".
-> CAPÍTULO 12 TOTALMENTE REESCRITO (Aos interessados recomendo fortemente que o revisitem, não quero que mais para frente vocês fiquem confusos com informações errôneas que ele possa ter passado).
-> Primeira parte do CAPÍTULO 19 reescrito (Não havia como mudar o que foi visto no capítulo 12 sem não modificar a conversa entre Illai e Logan no 19, que nada mais é que sua continuação direta).

Agradeço aos que leram até aqui e desejo uma ótima experiência a vocês; não posso prometer regularidade, agora eu sei disso, mas posso prometer qualidade, por isso, peço que comentem e me ajudem a deixar "A Era Mais Escura" cada vez melhor para os leitores que virão.

Capítulo 22 - Retorno em Tons Flavos


Fanfic / Fanfiction A Era Mais Escura - Retorno em Tons Flavos

Havia uma comoção na maior avenida de Losran, a qual seguia desde os portões até a entrada do castelo. Pessoas estavam na calçada aos montes para ver o líder a quem eram subordinados fazer sua jornada até a cidade alta.

Logan percebia que não importava qual era a intenção dos homens e mulheres ali – aclamação ou mesmo a vaia – há algum tempo já entendia que quando uma alma qualquer que ostentasse ao menos um pingo de sangue azul passasse, haveria uma multidão que seguia na esperança de fazer daquela “benção” um pouco sua também; era uma bela pintura do que eles ali tão orgulhosamente chamavam de sociedade. Assim, o general observava os pais sustentando seus filhos pequenos nos ombros e as mulheres sacudindo rosas nas mãos, de cima da grande escadaria de entrada do castelo real tinha a chance de ver a imagem por inteiro; era um dos luxos de sua patente, tinha que admitir.

            - Olha, hoje é o dia que passo a poder falar com toda a certeza que a monarquia é um tipo de poder curioso. – Informou de repente Illai ao seu lado, hoje usando todas as camadas de suas roupas exóticas, até mesmo a densa capa do dia em que chegou à cidade. – Não sei dizer se eles estão felizes ou enfurecidos com a volta de sua majestade.

            Logan não sorriu diante do comentário do zankariano, mas observou melhor os homens que levantavam os punhos aos berros, as mulheres que vaiavam enquanto crianças de colo choravam em seus braços, e os mais ousados, que avançavam contra a comitiva sem sucesso, sendo afastados por seus homens que limpavam o caminho para os cavalos da carruagem, a qual ainda ao longe, se aproximava lentamente.

            - Aurius dá o seu melhor, posso te garantir, mas como você já sabe, não é fácil reger quando seus súditos estão sendo massacrados pouco a pouco. – Argumentou de volta, lançando um rápido olhar para o bruxo ao seu lado, apenas para perceber que este o observava meneando positivamente com a cabeça.

            - É um bom ponto, sabe, muito bom mesmo. – Concordou ele ao voltar a admirar a multidão metros longe deles, e alguns instantes depois Logan o percebeu colocar a mão na testa, tentando proteger a visão do sol que agora se encontrava bem alto no céu azul e limpo. – Minha nossa, você não me disse que a rainha era uma beldade.

            Logan fitou-o repentinamente, com o cenho franzido pela observação totalmente inapropriada, e mesmo que, na verdade, não estivesse surpreso com a atitude do feiticeiro, aprendeu a não esperar muito dele em seu tempo juntos. No entanto, Logan não hesitou em voltar-se para frente, já que agora a comitiva real acabara de passar pelos portões do castelo; logo, juntou os pés e colocou as mãos para trás, já avistando seu soberano sentado em sua carruagem – que era aberta em todos os lados ao não ser em cima, onde uma cobertura provia sombra para o rei e a rainha. A intenção de interagir com seu povo era clara, uma ideia que quase sempre era boa, mas não naquele momento de ânimos à flor da pele e criaturas misteriosas comedoras de corações.

Quando finalmente os cavalos pararam na base da longa escadaria de pedras, Logan se pôs a descer os degraus em direção à sua majestade, seguido de perto pelo emissário.

            - Você sabe como vai se apresentar, certo? – Questionou ao estrangeiro, olhando por cima dos ombros.

            Ele fez uma careta confusa em resposta, dando de ombros enquanto olhava para os lados como se estivesse perdido naquele cenário.

            - Eu não faço a mínima ideia! – Murmurou com nervosismo. – Acha que se eu desse três pulinhos, alguns passos de dança e terminasse soltando alguns pombos da minha capa seria suficiente? – Ele indagou ironicamente, abrindo um sorriso no rosto e erguendo uma das sobrancelhas na esperança de Logan ter achado alguma graça em sua brincadeira. Uma pena, realmente não tinha.

            Logan focou nos degraus restantes até a carruagem de Aurius, que naquele momento já descia do transporte; primeiro viu seus longos e soltos cabelos negros adornados pela coroa dourada, estes que tanto contrastavam com sua pele pálida, e em seguida as vestes vermelhas realçadas com fios dourados em toda sua extensão apareceram da sombra da cobertura; chegou até a base no mesmo momento em que o regente colocou seus pés no chão de pedras de Losran pela primeira vez em praticamente um mês, soube que ele percebeu sua presença quando o rei olhou para seus olhos com os dele, dourados, a prova de seu direito divino ao trono de Ravius.

            - General. – Ele falou apenas, fitando-o com seriedade.

            - Majestade. – Respondeu, igualmente sério enquanto fazia uma profunda reverência.

            Seguiu-se um silêncio por alguns segundos, nos quais eles apenas se encararam sem que nenhuma palavra fosse dita; podia-se ouvir claramente a comoção a poucos metros de distância que era controlada pelos soldados.

            - Meu caro amigo. – Aurius concluiu por fim, ao abrir um largo sorriso, e abraçá-lo fortemente. – Você passou por maus bocados nessas semanas. – Disse ele, afastando-se e colocando a mão em seu ombro. – Vamos arrumar as coisas de uma vez por todas agora, eu te garanto.

            Ele não podia negar que aquelas palavras de alguma maneira o confortaram, havia muita determinação naqueles olhos cor de ouro de seu rei, e de alguma maneira aquilo era o que mais importava para Logan em seu líder, sabia bem que ele não era nada mais que um homem dando o seu máximo.

            - Majestade! – Chamou Illai ao também descer os últimos degraus e ficar em pé ao seu lado. – Creio que o general Orioth já deve ter falado de mim. – Ele continuou também fazendo uma profunda reverência, na verdade tão bem-feita quanto a sua, o que não era difícil, e nem uma surpresa.

            - Nem é preciso, senhor Marlock, eu espero que sua estadia aqui esteja sendo de seu agrado. – Aurius retribuiu a reverência, e por um momento se sentiu em uma demonstração em pequena escala de como eram as apresentações nos grandes bailes da corte, tanta cordialidade que o deixavam um pouco enjoado. – Sei que não deve ser fácil reproduzir o conforto que um magistrado deve ter em Ellia.

            Engoliu em seco aquela informação repentina, Illai Zandev Marlock então não era um simples emissário do reino vizinho como assumira tão naturalmente, mas sim um magistrado, um dos grandes bruxos que juntos decidiam o futuro de seu reino sentados na grande mesa negra de Ellia, eram mestres da magia contemporânea que respondiam somente ao alto inquisidor; era realmente muito engraçado o homem ter ocultado aquela informação, poderia muito bem ficar se perguntando durante dias quais teriam sido suas intenções com aquilo como sempre fazia, entretanto, tinha certeza que não valeria a pena, o zankariano raramente fazia sentido, mesmo assim, tinha de admitir, agora algumas coisas pareciam fazer muito mais sentido, afinal, não deveria ser natural um bruxo com capacidades mundanas ser capaz de tantas proezas e feitiços em um espaço tão curto de tempo.

            - Sim, é claro! – Concordou o estrangeiro prontamente, soltando um sorriso tão natural e despretensioso que de alguma maneira pareceu estranho em seu rosto. – Seu general foi incrível em todos os momentos, fui tratado como um lorde em cada segundo meu aqui. – Foi sem dúvidas muito complicado manter a compostura ao ouvir o discurso do bruxo, e ainda mais sorrir e concordar com suas palavras.

            Foi para sua salvação que a rainha por fim começou a descer da carruagem, vestida majoritariamente em branco e como sempre sem joias no corpo a não ser pelo diadema prateado em sua cabeça cor de fogo; a peça ostentava uma pedra branca e bem moldada em forma de gota, ao mesmo tempo que seus cabelos se mantinham presos em um penteado que se parecia com uma grande e extremamente volumosa trança que descia até abaixo de suas costas – o que sempre o fazia imaginar qual seria o real comprimento daqueles fios tão vibrantes. Enquanto descia os degraus por si mesma, Aurius estendeu a mão para sua rainha, que logo aceitou o auxílio para terminar sua descida.

            - Boa tarde general, senhor Marlock, espero que vocês tenham passado bem estas semanas. – Cumprimentou-os rainha Maria, fazendo uma reverência; em seu rosto, aquele caloroso sorriso, o qual sempre fazia questão de mostrar a todos os que a abordavam nas ruas ou nos corredores do castelo.

            - Bom, não posso dizer que suas esperanças estejam certas, majestade. – Admitiu, e por reflexo seus ombros caíram um pouco, assim como sua cabeça ao lembrar de todos os desastres daqueles últimos dias.

            - As coisas vão melhorar, general, acredite. Tempos melhores estão para chegar a Losran. – Acalmou-o a mulher, erguendo seu rosto ao colocar a delicada mão em seu queixo, e depois encostando a palma em seu peito. – Tenho muita certeza em mim que esta reunião entre os três grandes vai ser um divisor de águas para nós.

            Aurius esticou as costas e estralou o pescoço, e então fez menção a começar a subir a escadaria, mas não antes de lançar um olhar em direção às outras carruagens que vinham atrás e passavam pela frente da entrada do castelo, em direção a uma das entradas dos fundos, onde todas as coisas que foram levadas e trazidas da viagem seriam descarregadas.

            - É hora de entrarmos. Como já sabe, temos muito a conversar. – O rei lembrou, lançando um olhar diretamente a Logan, o qual ele captou bem, já concordando com a cabeça.

            - Muito bem, então, vão na frente, eu vou atender nosso povo. – Maria falou, virando-se para encarar a multidão de pessoas que clamavam não muito longe deles. Logan percebeu que, naquele momento, não havia vaias ou berros descontentes, apenas pessoas gritando e chorando diante da visão de sua rainha, para muitos já considerada santa entre os plebeus da capital.

            O monarca concordou com a cabeça e um sorriso no rosto, e logo se pôs a subir as escadas. Logan deveria ter ido imediatamente à suas costas, mas, no entanto, se viu parado, observando a rainha caminhar com seu longo vestido branco em direção a uma multidão de pessoas, e, de uma maneira que ele custava a acreditar toda vez que presenciava, a viu aos poucos ser envolvida pelo povo desesperado de Losran, o qual via nela a esperança e liderança que ainda não encontravam em seu rei. Foi uma surpresa para Logan quando ele se virou para enfim começar a subir em direção ao rei, e se viu diante de Illai que também observava a rainha adentrar entre o mar de pessoas que a adoravam.

            - Veja só, isso foi inesperado. – Confessou o feiticeiro, meneando a cabeça. – Quem dera em Zankar todos os outros magistrados fossem tão boa-pinta quanto suas majestades, no geral são todos uns velhos amargurados. Ah, e por favor, não entenda mal, mas eu pensei que a coroa da rainha fosse ser tão “real” quanto a do rei.

            O general se resumiu em fitá-lo por um segundo e no instante seguinte, já começou a subir a longa escadaria, dando sua resposta no caminho, e sem virar-se para o estrangeiro:

            - Aquela não é a coroa Real. – Revelou, observando que Aurius já havia atingido o topo dos degraus e agora já adentrava o castelo, sem dúvidas a caminho da sala do trono, onde deveriam conversar sobre as questões em suas mãos. – A rainha aceitou a mão do rei em casamento, mas rejeitou a coroa; ela usa aquele diadema desde a primeira vez que entrou em Losran, anos atrás, e ele já é representação suficiente da posição dela.

            - Dá para perceber. – Concordou o emissário, parando mais uma vez na escadaria para olhar por cima dos ombros, em direção a região onde Maria estava, ainda envolta por centenas de pessoas sedentas por seu toque.

            - Ah, e por favor, não entenda mal, mas... – Ironizou, em uma atitude que muito bem poderia ser involuntária. - Eu concordo plenamente com você, todos os magistrados são velhos e amargurados. – Falou por fim, espiando o bruxo por cima dos ombros, e com uma insinuação de sorriso no canto da boca; logo virou-se de volta para frente e seguiu até o topo, onde já não tinha mais visão de seu rei.

            - Eu disse “no geral”. – Corrigiu o Illai, às suas costas, mas mesmo assim Logan não parou ou mesmo espiou por cima dos ombros, continuando o resto de seu caminho em silêncio.

 

            As grandes portas da sala do trono se abriram lentamente, puxadas com dificuldade por dois guardas com armaduras douradas repletas de adornos que, como bem sabia, se tratava de mais pompa do que proteção, mas não cabia a ele ditar as normas antigas dos reis de Ravius; sua função era apenas protegê-las e respeitá-las com sua vida. À sua frente, Logan observou estendido um longo tapete negro e dourado, e pelo caminho estatuas de ouro maciço representavam rainhas de tempos antigos, cada uma em uma posição diferente, e suas mãos, estendidas sempre com as palmas para cima; eram essas, tochas que iluminavam o longo salão. Aquelas belas obras cumpriam muito bem o dever de dar uma visão imponente ao local. Como se não fossem o bastante, Logan já conseguia avistar do lado oposto da entrada os dois outros monumentos flavos que jaziam aos lados do trono; estes, muito maiores que os demais, representavam figuras masculinas de aspecto divino, ambos ajoelhados e em poses heroicas, estendiam uma das mãos para o assento real, enquanto a outra era elevada aos céus.

No mesmo momento em que admirava aquela visão, o general ainda ouvia as gigantescas portas rangerem contra a força dos protetores que as empurravam. Elas permaneceram fechadas todos os dias em que sua majestade estava em viagem, como bem ditava o dogma dos reis. Ppor outro lado, aquilo não queria dizer que os empregados não tinham de cumprir seu dever, e entrar pela discreta porta de madeira escondida atrás de um dos tapetes estendidos pelas paredes do recinto; o dever era o de limpar aquele lugar imenso, assim como acender as lamparinas nas mãos das donzelas de ouro, para ninguém além delas mesmas admirarem. Eram essas, coisas que já havia se conformado, mas achava que nunca viria a entender.

Quando por fim aquelas grandes placas de obsidiana esculpidas com esmero foram escancaradas em sua totalidade, Logan começou a caminhar em direção ao trono do reino, onde já de longe conseguia ver seu monarca, Aurius Naivni Aureum I, em pé conversando com um de seus assistentes ao checar uma longa lista, que muito provavelmente se tratava de requisições urgentes entre outros deveres que agradecia não serem dele.

            - Eu entendo... marque um encontro com duque Fergus, tenho certeza que ele vai entender meu ponto durante uma conversa informal. – Ouviu o regente comandar, ainda fitando atentamente o pergaminho em suas mãos. – Bem, se isso é tudo, só peço que avise aos criados que me esperem para descarregar as carruagens, há coisas delicadas que entre as bagagens, por isso pretendo fiscalizar pessoalmente a retirada delas. – Ele finalizou, enrolando o pergaminho e o dando ao homem ao seu lado, este que vestia uma túnica negra e não parecia incomodado com a calvície bem aparente.

            Observou o terceiro ir embora após uma reverência a seu soberano, em momento nenhum deixando de empinar seu nariz pontudo e aparentemente, já arrebitado por natureza; por fim, quando este não estava mais a vista, podia jurar ter percebido Aurius suspirar ao que se sentou naquilo que era apenas outra demonstração de superioridade construída por seus ancestrais séculos atrás: o trono virtuoso de Ravius.

            - Pelo que percebo, minha ausência para resolver um problema acabou por gerar dois ou três a mais. – Ele desabafou, apoiando seu cotovelo no braço de assento sagrado de sua linhagem, que também vinha a ser naquele momento uma das maiores provas de suas investidas contra as normas estabelecidas pelos seus antecessores, pois como prova de sua união com a rainha, ele tomou a decisão de fazer mais do que apenas permitir que sua esposa ficasse em pé ao seu lado direito; ele remodelou o trono do reino, criando espaço suficiente para que dois se sentassem, e juntos, abençoassem seu povo e suas terras. – Me diga, Logan, o que mais aconteceu aqui em minha ausência? – Ele perguntou, recostando-se nas peles que enfeitavam o assento.

            - Um ataque contra uma patrulha aconteceu alguns dias atrás, perto das docas, o setor que designei a eles. – Logan se obrigou a contar, mesmo que fosse difícil transmitir os fatos sem que as imagens voltassem como uma bomba do fundo de suas memórias, onde tentava escondê-las, manter longe de seus pensamentos. – Todos foram mortos, esquartejados, e assim como as outras vítimas, os corações foram arrancados.

            O rei cruzou as pernas, ainda o fitando, mesmo que seus olhos estivessem distantes, percebeu sua mão livre se fechar e se abrir lentamente diversas vezes; não havia como saber o que se passava em sua cabeça, enfrentavam uma ameaça fantasma, e nem toda a força que o exército daquele grande reino possuía parecia fazer a diferença. Àquela altura, ele não tinha mais coragem de se colocar no lugar de Aurius, mesmo não estando sentado naquele trono dourado conseguia sentir a capital rumando aos poucos para uma era de trevas.

            - Na carta você havia falado que o monstro estava morto. – Lembrou-o seu monarca, sua expressão ainda fria perante àquela situação.

            - E está, majestade, dou minha palavra de que o vi morrer diante de mim. – Jurou, ainda que poupando Aurius dos outros detalhes, como a suposta reanimação da criatura na forma daquela ainda desconhecida massa escura; tinha certeza de que haveria tempo para as minúcias mais tarde.

            - Existem mais de um... – O ouviu murmurar, e sua voz parecia delatar sua descrença e indignação. – Quantos guardas foram mortos no ataque?

            Logan engoliu em seco, mas não era medo que sentia, ou mesmo nervosismo. Se tratava da ânsia que agora tomava seu coração de tempos em tempos e o fazia querer arrancá-lo fora, pois fora incapaz, e de tantas formas diferentes; mas mesmo que possa ter demorado um pouco mais do que acreditava ser aceitável, respondeu:

            - Treze, estavam iguais aos outros. – Naquele momento não pensava muita coisa além de Den, e todas as outras vidas perdidas, não apenas naquele beco, como em outros. Sentia vontade de dizer a Aurius, contar a ele que o filho de sua irmã havia sido destroçado junto a todos outros doze guardas da capital, mas por que deveria? Sabia que para o mundo aquele jovem não passava de apenas mais um pego em uma onda de desgraças; procurava em vão conforto em pensar que tantas outras famílias haviam perdido alguém naquele dia, porque ainda que não quisesse admitir, aquela dor era apenas sua. – Senhor, se me permite ser franco, eu sinceramente não sei como nomear o que estamos enfrentando, mas sei que muitas mães, esposas e filhos estão sofrendo uma perda injusta, uma perda que eles nem mesmo sabem o “porquê”. Sabe que sou fiel a você e a todos os seus ideais, então por favor, me dê forças para caçar essas malditas coisas. – O monarca não sabia, mas havia luto em cada uma das letras que Logan vocalizou naquele momento, um luto que se esforçava para prorrogar, mas não pelas pessoas daquela capital como tentava tanto se enganar. Era por si mesmo, pois tinha medo da perda, medo de que sua dor fosse tão grande quanto a três anos atrás.

            Fez-se silêncio enquanto o rei divagava sobre suas palavras, e com os dois sozinhos naquele longo salão, o general se viu pensando em como cada frase dita ecoava por aquelas paredes e pareciam tornar simples sons em poderosas proclamações; por outro lado, estas eram vazias, sendo que não havia ali ninguém para ouvi-las. Foi então que o líder de Ravius quebrou o silêncio, falando enquanto o fitava com determinação:

            - Convocarei soldados de nosso exército para cumprir com seu dever para com o reino em tempos de necessidade, assim que as forças de nossa guarda estiver renovada, quero que vasculhe todos os cantos de Losran e acabe com essa praga. – Decidiu o rei de Ravius, e como não poderia ser diferente, sua voz forte ecoou inteiramente pela sala do trono.

“Praga”, era exatamente isso o que parecia ser aquela criatura, assim como foi dito uma semana atrás pelo Astárium; se via rezando todas as noites aos deuses para que conseguisse trazer justiça a àquelas almas em sofrimento, e ainda assim, temia que um dia aquela grande capital viesse a se transformar em nada mais que uma cidade fantasma.

            Fez uma reverência final a Aurius antes de virar nos calcanhares, já suspirando por ter finalmente compartilhado um pouco de toda aquela carga que pareceu quebrar sus ombros, fez menção a começar a caminhar em direção às gigantescas portas de obsidio quando foi parado por seu soberano:

            - Uma última coisa. – Ouviu-o chamar, e olhou por cima dos ombros apenas para perceber que o homem havia se levantado. – Existe outra questão que precisamos resolver. – Ele disse, colocando a mão por dentro de suas vestes avermelhadas. Virou-se e mais uma vez se aproximou alguns passos no tempo em que ele se pôs a descer os degraus que subiam até o trono. – Entregue isso a ela. – Pediu apenas, estendendo-o um novo envelope selado com o selo real.


Notas Finais


OBS: Flavo é um sinônimo de dourado.

Até breve!


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