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História A Escolha - A Aliança


Escrita por: MrsRidgeway

Capítulo 9 - A Aliança


– Quer dirigir?

Eu perguntei a Ron, quando ele entrou no meu carro, animado. Ele negou com a cabeça ante de se manifestar.

– Melhor não. Na verdade eu vou te pedir pra me deixar na rua do Harry – ele falou, mexendo no celular distraído.

Não pude negar que fiquei surpresa com o que ele dissera. Provavelmente Harry o convidara para beber, num bar que ele já havia se acostumado a frequentar.

     Mas falar com você ele não quis...

Não sei por que eu ainda alimentava determinadas esperanças. Acabei respondendo ao meu irmão sem muita animação. Óbvio que ele percebeu o meu tom de voz.

– Aconteceu alguma coisa? – Ron me perguntou, acanhado. Deveria estar com medo da minha reação.

– Não... – quanto menos eu dissesse, menos eu me estressaria. E menos eu descontaria em quem não tinha culpa nenhuma das minhas questões amorosas.

– Então por que você fez aquela cara quando eu disse que ia encontrar com o Harry?

Ele acabou insistindo e eu contei que tinha brigado com Harry, na manhã do dia anterior.

– Mas eu não quero falar disso, Ron – eu pedi, quase como uma súplica.

– Tá tranquilo, Gin – ele balançou a cabeça concordando em não falar mais sobre o assunto – Quando quiser conversar você sabe que eu estou aqui.

– É, eu sei. Obrigada – agradeci, sincera.

O apartamento de Harry não ficava muito distante da universidade. Ron olhou mis uma vez no celular e me passou as coordenadas exatas do lugar onde ele iria ficar. Meu irmão se despediu de mim e desceu do automóvel. Pude ver pelo retrovisor que ele atravessou a pista logo em seguida. Eu parti direto pela principal, absorta nos meus pensamentos. Eu não conseguia parar de matutar sobre o que acontecera mais cedo. Snape só poderia estar me dando algum tipo de recado. Olhei para a minha bolsa, no banco de trás, quando parei no semáforo. O colar ainda estava ali dentro, guardado no mesmo envelope pardo.

Eu precisava conversar. Ficar em casa sozinha não iria me adiantar muita coisa. Ron provavelmente voltaria tarde e eu tinha medo dele acabar deixando escapar algo para o Harry. Algo em mim dizia que não estava na hora dele saber que eu estava com aquilo. Fiz o primeiro retorno que eu encontrei e parti para a casa de uma pessoa que sempre soube me dizer as coisas certas quando eu precisei. Estacionei na frente da loja dela. Era final de tarde, o movimento não estava tão alto. Assim que passei pela porta eu recebi um dos sorrisos mais radiantes que eu já tinha visto na face da terra.

– Ginny! Meu Deus, quanto tempo, minha menina!

Mag pulou no meu pescoço, afobada. Eu retribuí o abraço apertado que ela me deu.

– Por que você não me avisou que estava vindo?! – ela reclamou comigo, me puxando para a salinha dos fundos – Eu teria pedido pra Violet fazer alguma coisa pra você, um bolinho, uns biscoitos...

– Não precisa de nada disso, Mag. Eu vim aqui te ver – eu me adiantei em falar. A mãe de Dino era muito parecida com a minha – E não foi nada planejado não. Eu acabei de sair da faculdade agora.

– Tudo bem, meu amor – Mag acariciou minha bochecha. Menos de dez segundos depois ela gritou o nome da atendente, me assustando – Violet!

Uma garota baixinha, morena, de grandes olhos azuis por baixo dos óculos, apareceu apressada a soleira da porta.

– Sim, senhora? – Violet falou. Sua respiração estava ofegante.

– Onde você estava? – Mag perguntou, semicerrando os olhos.

– Aqui do lado, dona Mag – ela respondeu, sem olhar a patroa nos olhos.

– Aqui do lado onde? – a mãe de Dino insistiu, chegando mais perto da garota. Mag retesou, envergonhada – Você estava namorando, não foi?! Menina, o que você tem na cabeça?!

– Desculpe, dona Mag. O Jef só veio me visitar e...

– E mais nada! – Mag decretou, irritada – Por favor, traga alguma coisa pra Ginny comer. E na volta fique no balcão.

A atendente saiu esbaforida porta a fora. Eu não consegui prender o meu riso.

– Você era mais calma quando eu trabalhava aqui... – falei, me sentando em um dos banquinhos.

– Você não fugia do trabalho pra se encontrar com namorados – Mag balançou a cabeça, contrariada.

– Eu fazia pior – comentei divertida – Eu namorava o seu filho aqui dentro.

Mag soltou uma gargalhada e eu a acompanhei.

– Eu preferia quando era assim. Dino tem me dado tanto trabalho, Ginny... Todo dia ele trás alguém diferente pra dentro daquele quarto! – ela sentou-se ao meu lado – Você jovens só vivem fazendo besteira. Na minha época não era assim...

– Mamãe também fala isso – eu comentei – E ela tem sete filhos.

A mulher ao meu lado revirou os pequeninos olhos negros para mim e sorriu. Ela segurou a minha mão carinhosamente.

– Mas e você, minha querida? Eu comemorei tanto quando Dino me contou do seu estágio – seus dedos afagaram os meus – Na SeMz! Que orgulho!

– Já vai fazer um ano! Eu estou muito feliz, sabe? – eu entendia que para pessoas de menor poder aquisitivo, como Mag e a minha família fora, a empresa onde eu estava trabalhando era um sonho de evolução – Essa semana eu ganhei uma promoção!

– Que bom, minha flor. Que bom – ela me analisou detalhadamente – Mas tem alguma coisa nesses olhinhos que me dizem que você não está tão feliz assim...

Essa era uma observação verdadeira. Eu sentia falta desse tipo de atenção. Virei meu corpo na direção dela.

– Se você tivesse que escolher entre contar uma coisa pra alguém que você gosta muito e perder a oportunidade de entender melhor essa pessoa ou guardar esse um segredo e correr o risco dela se magoar com você... O que você escolheria?

– Ginny... Ginny... – ela estreitou olhos para mim – O que você andou aprontando, menina?

– Nada... – respondi rapidamente.

     Ainda.

Ela levantou as sobrancelhas. Provavelmente não estava acreditando em nada do que eu dissera.

– Bom, se eu estivesse no meio desse fogo cruzado eu me faria algumas perguntas... – Mag se levantou e andou até a gaveta do armário das contas – Três, para ser específica.

– Quais? – indaguei, curiosa.

A mulher permaneceu calada por alguns minutos, até retornar para junto de mim, com um álbum de fotos, que eu já tinha visto milhares de vezes, na mão. Ela abriu em uma das primeiras páginas. Na foto gasta, Mag sorria para a câmera, contente, exibindo um barrigão de grávida.

– Dino nasceu duas semanas depois desse dia aqui... – ela alisou a foto, devagar – Eu me perguntava todos os dias se eu seria mesmo capaz de criar aquele pacotinho, tão frágil no meu colo, sozinha e sem dinheiro, sem família... Eu tinha que ser forte por ele, sabe?

Eu balancei a cabeça, concordando. Mag passou duas fotografias até chegar à festa de aniversário de quatro anos de Dino. Ela sorriu automaticamente assim que bateu os olhos na imagem.

– Ah... essa! Eu adoro essa aqui. Olha a cara de felicidade do meu filho... – o sorriso de Mag se alargou mais ainda – Eu juntei dinheiro cinco meses pra fazer essa festinha. Trabalhava na banquinha de jornal de manhã, bem cedinho. E depois corria pra casa da minha patroa. No final deu tudo certo, mas não era aquela vida que eu queria naquele momento.

– Não...? – questionei, interessada na história.

– Ah, não... Eu morava em uma cidade muito pequena, Ginny. Por mim eu nunca teria saído da Serra, eu sinto muita falta daquele lugar... – ela explicou, me olhando nos olhos – Mas depois do aniversário de Dino eu pedi minhas contas. Juntei a sobra da festinha com o dinheiro que eu tinha guardado, arrumei as nossas e vim tentar a vida aqui.

– Você se arrependeu?

– Não... Eu nunca me arrependi não. Lá Dino iria crescer e morrer sendo a mesma coisa. Sendo invisível, da mesma forma que eu era. Eu não queria isso pra o meu filho – Mag admitiu, pesarosa – E isso nos leva a última foto. Essa aqui você conhece...

Ela me mostrou uma foto de dois anos atrás. Dino sorria escandalosamente ao meu lado, me abraçando pelos ombros e estendendo um copo de chopp com a mão livre. Nós estávamos no mesmo pub no qual ele trabalhava atualmente, comemorando o seu ingresso em uma das faculdades de administração mais disputadas do país. Dino passara em segundo lugar no vestibular. Havíamos bebido o triplo naquela noite por causa disso. Dessa vez fui eu que abri um sorriso radiante, perdida em minhas memórias.

– Eu chorei tanto quando Dino me mostrou o resultado. Você lembra? – balancei a cabeça concordando – Se o meu pai tivesse vivo ele veria que eu tinha conseguido transformar a minha dor, a dor de quando ele me colocou grávida pra fora de casa, em sucesso. Em vitória pra o único neto que ele só fez questão de conhecer no leito de morte.

– Você conseguiu o perdoar? – Mag confirmou, sorrindo pelo nariz – Mesmo depois de tudo?!

Insisti na pergunta, abismada. Eu a admirava mais ainda depois disso. Acho que eu no lugar dela não teria tamanha capacidade de indulgência.

– Era outra época, Ginny. Outra mentalidade – ela justificou, dando de ombros – Se ele se perdoou antes de partir pra um plano melhor, apenas cabia a mim fazer o mesmo aqui embaixo.

Eu cocei o meu braço, pensativa. As três perguntas quais Mag havia falado ficaram claras na minha mente.

      Eu era capaz de escolher?

     Eu era capaz de sustentar minha escolha?

     Eu era capaz de lidar com as consequências dela?

A encarei novamente e soltei um longo suspiro. Mag leu os meus pensamentos.

– Qual a resposta? – ela indagou, me encarando de volta.

– Sim... – eu respondi, vacilante.

– Pra as três?

Ponderei um pouco antes de confirmar

– Para as três.

– Então você já sabe qual opção escolher, não é mesmo?

– Sei... – espero que você saiba mesmo, Ginny...

– Ótimo, meu bem, porque eu estou morrendo de fome – ela admitiu, sorridente – Violet! Cadê esses biscoitos, menina?!

Mag saiu da saleta apressada, gritando o nome da funcionária. Eu pus a mão no rosto, rindo. Quando eu saí da loja já passava das seis da noite. Preparei algo para jantar e me recolhi logo depois, com a cabeça mais leve. O final de semana passou devagar e sem muitas novidades além da ligação de Luna, me pedindo um colar emprestado. Pedi para Ron entregar a ela, no shopping. Meu irmão estava muito mal-humorado e precisava sair um pouco para esvaziar a cabeça e parar de encher o meu saco.

– Que caralho, viu?! – ele pegou a chave da moto da minha mão irritado, quase a derrubando-a no chão – Vocês inventam seus esquemas e sobra pra mim ficar ajudando vocês.

– Vai, Ronald! – eu o empurrei para fora do apartamento – E não precisa ter pressa de voltar.

Ele resmungou e seguiu em direção ao elevador. Ron acabou levando a sério o meu conselho de não ter pressa de voltar, pois só escutei o barulho dele chegando em casa depois das dez da noite. Na manhã seguinte eu cheguei ao estágio atrasada. Angelina estava doente e eu passei na casa dela rapidinho, para vê-la. Ela aproveitou para me pedir para entregar o atestado médico no RH da empresa.

– Ah, oi Ginny. Graças a Deus você chegou! – Emily, uma de nossas auxiliares me cumprimentou. Parecia aliviada com a minha presença.

– Oi Emie... – eu falei de volta, estranhando a atitude dela. Geralmente Emily era calma e pacata – Aconteceu alguma coisa?

– Tem duas fórmulas pra essa semana – ela estendeu os requerimentos para mim – Vai ser trabalho em dobro pra gente... Cadê a Angel?

– Ela não vem essa semana, tá doente – eu expliquei, dando uma lida superficial nos papeis...

– Ai meu Deus, e agora?! – Emily perguntou, preocupada – O Sam teve que viajar. Não vai tá aqui também.

– Fica calma, tá tudo bem. São dois processos fáceis... olha aqui – eu a tranquilizei, mostrando os passos. Ela se esticou na minha direção para ver melhor – Eu só não entendi porque entregaram os dois essa semana... Você viu quem trouxe?

– Não. Quando eu cheguei, eles já estavam em cima da mesa.

– Que estranho... – comentei. Andei até o armário e comecei a retirar os meus materiais – Enfim... Vamo começar a adiantar nosso lado então.

Emily concordou e se adiantou em me ajudar. Dessa vez o meu prognostico estava certo. Na manhã mesmo da segunda-feira eu consegui terminar a primeira fórmula. Faltaria apenas à segunda, o que não me exigia pressa. Eu tinha a semana inteira para vê-la com paciência.

Cheguei à universidade logo depois. Teria sido uma tarde calma se Harry não me mandasse uma mensagem, dizendo que estava me esperando na cantina. Meu coração bateu um pouquinho mais rápido ao perceber que ele queria me ver. Avisei a ele que eu só sairia depois das seis da tarde e ele concordou em me esperar. Quando eu cheguei à cantina, Harry conversava com Krum sobre alguma coisa que eu não consegui identificar.

– É, parece que não foi tão difícil pra ela esquecer – Krum falou, finalizando o seu suco logo depois.

– Talvez não seja nada, cara – Harry replicou, mas eu pude ver um sorrisinho escondido no canto dos seus lábios.

– Talvez... – Krum olhou para cima e bateu os nós dos dedos na mesa, analisando alguma coisa.

Eu resolvi anunciar a minha presença.

– Oi, gente – falei, sentando na cadeira ao lado de Harry.

– Oi Gin – ele me cumprimentou com um beijo na bochecha.

– E aí, ruiva? – Krum despertou com a minha presença e se ajeitou na cadeira – Bom, eu vou deixar vocês sozinhos.

– Pode ficar se quiser, Viktor... – não custava nada eu tentar ser educada depois de ver a cara dele.

– Valeu, mas é melhor eu ir logo – ele levantou e pôs a mochila nas costas – Amanhã eu tenho prova de ética trabalhista. Vou dar uma estudada.

Krum se despediu de nós, apressado. Eu me virei para Harry, curiosa.

– Vocês estavam falando sobre o quê? – indaguei sem nenhuma cerimônia.

– Hermione, claro – Harry respondeu naturalmente.

– E por que o Viktor tava com essa cara de retardado?

– Porque ele viu o que não queria... – Harry continuou com aquele risinho maroto.

– Ele viu o quê? – eu franzi o cenho, sem entender.

– Mione com outra pessoa.

Eu arregalei os olhos e Harry soltou uma gargalhada.

– Como assim? – vários questionamentos começaram a se criar na minha cabeça – Ela estava com quem?

– Ah, Ginny. Você vai ter que perguntar a ela – ele decretou. Pela sua expressão, não iria me contar nada mesmo que eu insistisse.

Resolvi não levar o assunto à diante. Se havia uma coisa que Harry era bom era esconder as coisas. Isso me lembrou de que nós estávamos brigados e eu fechei a cara novamente. Ele percebeu.

– O que foi, pequena? – Harry me perguntou, chegando a cadeira dele para mais perto da minha.

– O que foi?! – eu levantei a sobrancelha, inquisitiva e cruzei os braços – Tem certeza que você não sabe o que foi?!

Harry riu e me puxou para um abraço.

– Eu que deveria estar chateado. Você me abandonou o final de semana inteiro! – ele me encarou, também interrogativo.

– Você aproveitou muito bem a solidão, pelo que eu sei – eu rebati – Ron chegou em casa bem tarde na sexta...

– É, a gente encheu a cara... – ele comentou, sorrindo pensativo – Foi uma noite divertida.

– Harry! – eu dei um tapa forte no braço dele e ele riu mais ainda.

– Ai, porra! – Harry apertou mais o abraço – Só tinha homem lá. Não teria lógica eu te chamar. Você iria se sentir desconfortável.

– Eu fui criada com seis irmãos, querido. Esse tipo de coisa não me deixa desconfortável.

– Mas me deixa... – ele beijou o meu pescoço, devagar – Eu vou te trancar só pra mim...

– Desde quando você é possessivo, Potter? – eu questionei, tentando não ceder ao carinho que ele estava fazendo.

– Desde quando eu te conheci...

Eu fechei os olhos e Harry subiu os beijos até a minha orelha. Senti minha pele se arrepiar com o trajeto dos lábios dele. Suas mãos rápidas apertaram minha coxa por debaixo da mesa.

– Ei, a gente tá no meio da cantina... – argumentei, ainda de olhos fechados – Alguém pode ver...

– Então vem comigo – ele sussurrou no meu ouvido.

– Harry, eu tenho aula agora...

– Qual o grau de importância dessa aula hoje?

     Nenhuma...

– Hmm, não sei... – fiz manha – Sabe, talvez você não esteja merecendo que eu queime aula por você não.

– Sabe, quanto mais cedo você aceitar o meu convite, mais tempo eu posso passar me empenhando em te pedir desculpas...

Os olhos verdes me encararam, decididos. Não tinha como não ceder a aquilo. Segui com Harry até a casa dele e aproveitei o pedido de desculpas da melhor forma possível.

A sexta-feira chegou tão rápido que eu quase me esqueci de que tinha duas atividades para que Justino assinasse. Passei a manhã toda esperando que ele viesse ao laboratório, mas nada do meu chefe de departamento aparecer. Impaciente, resolvi segui até a coordenação de pesquisa, a fim de encontra-lo. Logo que entrei na sala, dei de cara com Justino sentado, com os pés em cima da mesa e conversando distraidamente no telefone. Pigarrei com intensidade e ele se sobressaltou, levantando rapidamente.

– Caralho, Ginny! – Justino pôs a mão no peito, se recuperando do susto – Eu achei que fosse o Lúcio.

– Acho que alguém tá merecendo uma advertência, hein? – brinquei, me sentando na cadeira de frente a ele – Eu vim trazer os trabalhos pra você assinar.

– Ah, ótimo! – ele sorriu e pegou os papeis da minha mão – Eu iria lá no laboratório daqui a pouco, mas você veio até aqui, então já poupa o meu trabalho.

Justino começou a ler o relatório superficialmente, prestando atenção nas partes mais importantes. Algumas vezes ele levantou a sobrancelha ou franziu a testa, num misto de surpresa e confusão. Ao final da leitura ele assinou o primeiro papel e estendeu o segundo de volta para mim.

– Tem algum erro nesse? – eu perguntei, sem entender.

– Não. Tá tudo corretíssimo – Justino me respondeu, se concentrando em mexer no celular.

– Então por que você tá me devolvendo?

– Por que eu não pedi isso. Você deve ter confundido com alguma atividade da sua faculdade.

Eu olhei para o trabalho em minhas mãos. Não tinha como ter sido nenhum tipo de atividade passada na faculdade. Na verdade aquilo nem era uma fórmula de fato, e sim uma destilação fracionada complexa. Era o tipo de processo que alunos do segundo semestre costumavam realizar com facilidade. Eu que estava no sexto não via um tipo de trabalho simples como aquele há muito tempo. Com certeza eu não estava errada sobre a origem daquele processo.

– Justino, a Emie me entregou isso aqui na segunda-feira – eu argumentei, insistindo – Estava em cima da mesa, junto com esse aí.

– Não tem como, ruiva – o meu chefe me encarou, contestando – Fui eu que deixei a atividade da semana lá no laboratório. E eu coloquei apenas um papel em cima da mesa.

Eu franzi a testa, confusa. Acatei a opinião de Justino e voltei para a minha sala. Guardei o processo na bolsa, pensativa. Como eu não teria pesquisa com Snape, devido a ausência de Angelina, arrumei o resto das minhas coisas e parti para a minha casa. No final da tarde, Harry me ligou, animado. Começamos a conversar sobre o final de semana.

– Eu vou dormir aqui no Lupin – ele me explicou – Minha presença foi praticamente intimada nesse fim de semana.

– Eu posso dar uma passadinha por aí? – eu perguntei, me convidando.

– Pode... – Harry respondeu após certa demora. Acredito que ele estava pedindo autorização ao dono da casa – Venha no domingo. O dia vai estar mais livre.

– Ótimo! – eu exclamei, animada – Até que enfim eu vou conhecer o grande amor da vida do Remo!

– Vai... – Harry concordou, rindo – E por falar em domingo, você não tá afim de ir no próximo jogo da gente não?

– Quando vai ser?

– Daqui a duas semanas. O Ron também vai jogar.

– Ele não me disse nada, esse esquecido... – eu conhecia bem o meu irmão para saber que a cabeça dele só vivia nas nuvens – Eu vou sim. Contem com a minha torcida.

Permanecemos jogando conversa fora por mais vinte minutos, até que a campainha tocou na sala. Eu me adiantei até a porta, desconfiada. Ron não estava em casa, Igor não havia anunciado a subida de ninguém e eu não havia feito nenhum tipo de pedido. Observei pelo olho mágico e quase tive um infarto ao ver quem estava do outro lado, parado no corredor. Acabei abrindo a porta e esquecendo totalmente que estava conversando com Harry no celular.

– Boa tarde, Weasley – Draco me cumprimentou com um sorrisinho debochado.

– O que você tá fazendo aqui? – minha resposta foi instintiva.

Antes que ele me respondesse, eu ouvi a voz urgente de Harry ao telefone. Levantei o dedo para Malfoy, pedindo para que ele esperasse calado. Ele obedeceu pondo as mãos nos bolsos, visivelmente entediado.

– Gin? Ginny? – Harry perguntou do outro lado da linha – Ainda tá aí?

– Harry, eu vou ter que desligar – avisei rapidamente, sem dar muitos detalhes.

– Quem chegou aí? – ele perguntou, interessado.

– Uns livros que o Ron comprou pela internet... – menti, fazendo cara feia. Draco riu, satisfeito – Mais tarde eu te ligo, Harry. Agora eu vou me ocupar um pouquinho...

Nós nos despedimos rapidamente e eu voltei a minha atenção a figura parada a minha porta.

– Vamo, responde! – eu falei, irritada – O que você tá fazendo aqui?!

– Já posso voltar a falar, Weasley? – Draco zombou – Você acabou de me mandar ficar calado pra o seu namoradinho não descobrir que eu estou no território dele...

– E desde quando você me obedece?

– Desde quando você pede com jeitinho... – ele mordeu o lábio inferior.

Os olhos acinzentados de Draco encontraram os meus, divertidos. Mantive a minha postura firme.

– Entra... – ordenei, abrindo passagem – Você tem cinco minutos pra me dizer o que você tá fazendo aqui e ir embora.

– Esse apartamento é muito simples para o dinheiro que seu pai recebe, Weasley... – Malfoy comentou, olhando para os lados. Ele balançou a cabeça, falsamente em negação – Esses novos ricos... nunca acertam o caminho do bom gosto...

– Desculpa se eu não tenho vocação pra ostentação como você, Malfoy – respondi, ácida – Quatro minutos agora.

– Eu nasci rico, Weasley. Cresci rico, continuo rico e morrerei rico – ele falou, sentando no sofá e jogando os braços no encosto, sem nenhuma cerimônia – Não tenho um pingo de vergonha por isso.

– Três minutos – anunciei. Me sentei de frente a ele, na poltrona.

– Seu relógio tá muito adiantado.

– Dois minutos.

– O que é uma destilação fracionada? – Draco indagou, me observando – A Marie me disse que você era bem inteligente, iria conseguir resolver rapidinho uma dessa, caso a achasse...

Eu franzi o cenho por alguns segundos.

– Foi você... – comentei, surpresa – Você deixou o documento no meu laboratório, na segunda-feira...

– Voilà – Malfoy agitou os dedos, empolgado.

– De onde é aquela descrição de amostra? – me adiantei a perguntar. Eu estava com muitas dúvidas.

– Do seu futuro projeto – ele me respondeu – Caso você aceite a minha proposta.

Eu o encarei, confusa. Draco aproveitou a deixa para continuar a falar.

– Eu gostaria de te propor um pacto, Weasley.

– E por que eu deveria aceitar? – retruquei, levantando uma das sobrancelhas.

– Pelos velhos tempos? – ele replicou, sorrindo.

– Se eu agir de acordo com os velhos tempos, a primeira coisa que eu vou fazer é te colocar pra fora a ponta pés – rebati, com o mesmo sorrisinho irritante dele.

Isso só fez com que ele exibisse ainda mais o sorriso impecavelmente branco.

– A sua intensidade de resposta me deixa excitado, Weasley. Mas hoje eu só vim tratar de negócios – Draco levantou do sofá e andou até o armário de bebidas. Ele se serviu sem nem ao menos perguntar se eu o dava autorização para isso – Eu preciso executar um servicinho importante. Você é a única que se encaixa no perfil da pessoa que eu preciso pra me ajudar.

Levantei uma sobrancelha, incerta.

– Você é talentosa, Weasley. E ambiciosa também. Eu gosto disso... – ele me elogiou, após beber uns goles de conhaque.

– Se você acha que eu vou manchar a minha imagem e a minha carreira só por causa de alguns elogios, pode dar meia volta, Draco. Eu não caio nessa.

– Quem falou de trabalho sujo, Ginny? Eu vim aqui completamente limpo – ele levantou as mãos, em defesa. Draco voltou a se sentar, dessa vez apoiando os cotovelos nos joelhos, sem largar o copo da bebida – Hoje eu estou atrás da sua honestidade. Alguns até gostam de chamar de senso de justiça, mas eu não gosto muito dessa colocação.

– E do que você gosta de chamar, por acaso? – cruzei os braços e me recostei melhor na poltrona.

– Vingança... – ele me fitou intensamente. Senti um arrepio subir pela base da minha coluna.

– E caso eu aceite essa proposta, o que eu deveria fazer? – perguntei devagar, um pouco receosa.

Draco abriu um sorriso genuíno.

– Ah, a tarefa seria simples... Você teria que me ajudar a destruir o meu pai.


Notas Finais


Então, meus amores. O que vocês acharam do capítulo?
Deixem aqui embaixo os lindos comentários de vocês.

Pra quem quiser acompanhar o outro lado da história, esse capítulo faz ligação com dois outros lá d'A Troca. Então:
==> Se vocês desejam saber porque o Ron demorou tanto no shopping, é só dar uma olhadinha no capítulo 10 - "A Carona"
===> Se vocês desejam saber o que o Krum e o Harry viram enquanto estavam na cantina, é só dar uma lidinha no capítulo 11 - "O Jogo"


Beijos, até semana que vem!


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