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História A Estrela da Solidão - Acorde-me quando tudo isso acabar


Escrita por: MelindaInu

Capítulo 3 - Acorde-me quando tudo isso acabar


Fanfic / Fanfiction A Estrela da Solidão - Acorde-me quando tudo isso acabar

☆☆☆☆☆


O que são três meses? Por exemplo, a duração de cada estação. Para Kushina, uma pessoa apaixonada pelas cores e perfumes da primavera, esses dias são os mais felizes do ano, enquanto para Naruto esses três meses se estendem o mais vagarosamente possível até que finalmente as folhas do outono caíssem nas manhãs de sol quentinho e vento frio, o clima perfeito para Naruto brincar e dormir.


Assim, Naruto aprendeu que a duração do mesmo período de tempo depende muito daquele que espera.


Os três meses que ele passou em coma após o acidente foram, do seu ponto de vista, breves e enfadonhos, para seus pais que precisaram perseverar dia após dia até ele acordar, movendo suas pernas e braços para que seu corpo não definhasse ou sofresse feridas por pressão, esses três meses foram uma longa tortura.


Pelo menos, nesses três meses seu corpo teve bastante tempo para curar as fraturas do seu braço, costela e ombros - o que teria sido um processo bem mais doloroso se ele estivesse ciente do repouso necessário, então ele pensou que algo de bom aconteceu.


Quatro dias depois de acordar, Naruto finalmente pode voltar para casa, mais uma coincidência numérica que deixou uma sensação amarga e estranha na sua consciência, sensação essa que Naruto superou assim que seu pai o ajudou a deitar na sua cama (A pronúncia do número quatro parece com a da palavra morte, assim como o nove parece sofrimento, os dois sendo números de azar).


-Está confortável? - Minato perguntou depois de ajeitar as pernas do seu filho na cama.


-Sim.


Minato bagunçou o cabelo loiro do filho, sorrindo amavelmente como se não tivesse ficado nove dias na UTI. Quando Minato se virou para proteger sua família, os vidros quebrados e o metal retorcido atingiram suas costas e cabeça com mais intensidade. Hemorragia interna, cortes profundos e um pneumotórax foram o preço que a segurança da sua família custou a Minato, preço baixo para que ele pudesse ver seu filho sorrindo mais uma vez.


-Tudo bem - Minato ligou a TV que antes estava na sala e foi realocada a pouco tempo para o quarto do menino - Vamos ver o que tem para assistir.


Assim que deitou ao lado dele, Minato pulou de filme em filme até ver uma reação animada do filho sobre um de sobrevivência, um astronauta que se machucou e foi esquecido num planeta desabitado, precisando usar todo seu conhecimento e engenhosidade para sobreviver. Minato sempre foi grato por seu filho ter um gosto mais maduro para filmes, assim esses momentos nunca foram um esforço para ele.


-O que vocês estão vendo aí?


Kushina estava meio escondida pela porta quando se inclinou para espiar dentro do quarto.


-O cara está usando o cocô dele para plantar batatas - Naruto falou entre risos.


-É bem nojento - Minato comentou - Mas funciona.


-Eca… Acho que vocês não vão querer isso então.


Kushina falou devagar enquanto mostrava a bandeja que ela estava escondendo com refrigerantes, salgadinhos e doces industrializados. Naruto sorriu e Minato franziu a testa para a bandeja.


-Ele já pode comer essas coisas?


-É só por hoje, mas se não quiserem... - Kushina deu de ombros e ameaçou se afastar.


-Não! Eu quero! 


Ela riu do desespero dele e Minato não teve opção senão ceder e abrir espaço para que a esposa se juntasse a eles na cama. A bandeja foi colocada no colo de Naruto e os três assistiram o filme com atenção. Diferente das outras vezes, Naruto não estava fazendo seus próprios comentários durante as cenas mais curiosas, nem mesmo fazendo perguntas sobre as partes mais complexas. Quando a plantação de batatas explodiu e o foguete com os suprimentos falhou, Naruto finalmente reagiu.


-Será que ele também nasceu no Butsumetsu?


A pergunta foi feita sem mágoas ou raiva, parecia só uma pergunta normal e corriqueira, mas Minato e Kushina trocaram um breve olhar mesmo assim.


-Por que você acha isso?


-Ele é muito azarado… igual a mim.


-Você não é azarado - Kushina e Minato falaram juntos, mas só a ruiva continuou falando - Imprevistos acontecem com todo mundo.


-Mas comigo eles acontecem demais - Naruto falou sem nenhuma animação.


-Não é para tanto.


-Papai, lembra quando o senhor me deu uma camisa havaiana?


-Sim, o que que tem?


-Um enxame de abelhas me atacou.


-Foi só porque um certo alguém decidiu brincar embaixo de uma árvore e não viu a colméia - Minato retrucou.


-Nenhum abelha picou o Sasuke - Naruto falou no mesmo tom que o pai.


Minato achou mais seguro ficar em silêncio, seu filho era tão bom com argumentos como a sua mãe e nesses quinze anos de casamento, Minato nunca conseguiu vencer uma discussão sequer.


-E a vez que o carregador do celular da mamãe estourou na minha mão?


-Foi porque você ficou mexendo no meu celular com ele ligado na tomada - Kushina deu um tapa fraco na cabeça do filho.


-O garfo da minha bicicleta quebrou - Naruto falou com a boca cheia de bala de goma - Depois de uma semana que vocês me deram ela, a água quente sempre acaba quando é a minha vez de tomar banho, eu quebrei o braço no meu aniversário de nove anos caindo da escada… ah e sempre chove quando vamos a praia.


Naruto terminou de enumerar. Minato pausou o filme e se virou para o filho - Onde você quer chegar com tudo isso?


-Não tem nada que eu possa fazer para tirar essa má sorte?


-Naru…


-Não precisa ser nada muito complicado - O menino interrompeu o pai - Eu ouvi uma das enfermeiras falando sobre visitar um templo, lá tem aqueles amuletos omamori, certo?


-Certo - Kushina respondeu.


-Eu quero um - Falou decidido.


-Tudo bem, podemos ir assim que você ficar mais forte - Kushina cedeu e deu um peteleco fraco na testa dele - Só se você parar com esse papo de má sorte, entendeu?


-Certo.


-Ter você é a maior sorte que nós já tivemos. Você acredita em nós, certo?


-Certo, pai.


Minato beijou o topo da cabeça dele e como Naruto sorriu mais relaxado, ele pensou que o seu filho tinha esquecido esse assunto deu o play no filme. Poucos minutos depois, Naruto voltou a fazer perguntas.


-Que tipos de omamori existem?


-Tem vários - Minato respondeu - Para saúde, amor, segurança.


-Alguns atraem dinheiro, outros ajudam nos estudos - Kushina falou preguiçosa.


-Hm… A enfermeira falou de um tal de Yakuyoke, esse serve para que?


-Afastar o mal - Foi só depois de responder que Kushina teve um pressentimento sobre aquilo - Por que essa enfermeira falou disso perto de você?


-Hm… eu não lembro muito bem.


Naruto não quis contar sobre a conversa que ouviu pois Kushina sempre tomava as dores para si e já bastava ter feito seus pais sofrerem tanto. Enquanto pensava sobre isso, Naruto achou que o Yakuyoke talvez não fosse suficiente, pois afastar o mal de si poderia significar jogar sua má sorte para outra pessoa.


-Podemos ter mais de um?


-Mais de um o que? - Minato perguntou, distraído com o filme.


-Omamori.


-Claro, você pode ter quantos quiser.


-Eu vou querer um de cada, então.


Naruto se animou depois disso, o coração cheio de esperanças e planos alheio aos olhares amorosos e ansiosos dos pais.


☆☆☆☆☆


No outro dia, seu pai o ajudou a descer as escadas, seus músculos ainda não estavam totalmente recuperados e seus passos cambaleava um pouco. Todo o cuidado dos seus pais com ele, se prolongados demais, com certeza o deixariam mal acostumado. Por hora, Naruto resolveu aproveitar o máximo de tempo possível.


Sua mãe sempre foi durona e amorosa de forma perfeitamente equilibrada. Ela sempre o incentivou e cercou de amor e fé enquanto exigia o máximo dele na escola e no seu comportamento. Naruto sabia que ela era respeitada pelos seus subordinados exatamente por esse motivo. Naruto apostava que foi por isso que ela despertou mais rápido entre eles do acidente.


Quando chegaram no final da escada, os dois ouviram sua mãe cantando enquanto girava sem um ritmo certo pela cozinha, com o celular na mão.


Então, acorde-me quando tudo isso acabar

Quando eu for mais sábio e mais velho

Todo este tempo eu estava procurando por mim mesmo

E não sabia que eu estava perdido


Naruto se sentou na bancada diante das torradas e do suco dispostos e seu pai se juntou a ela na dança de quase robótica, talvez pela bota ortopédica em sua perna limitar seus movimentos. Para proteger o filho do impacto, Kushina tentou o abraçar e com isso seu corpo ficou numa posição onde seria um verdadeiro milagre ela não sofresse uma fratura na perna.


O problema foi que os músculos incharam muito rápido devido o impacto, o que reduziu o fluxo sanguíneo para sua perna e uma cirurgia de emergência foi necessária ou a síndrome compartimental poderia ter custado sua perna.


Kushina parou de repente e apertou as sobrancelhas. Minato correu ao seu auxílio, lhe ajudando a se sentar ao lado de Naruto.


-Kushi, você não pode se esforçar tanto.


-Eu sei, desculpe.


É pensar nessas coisas que desanimam Naruto. Os ferimentos dos seus pais não eram incomuns em acidentes como o que eles passaram, mas as complicações não deveriam ter acontecido - Foi isso o que ele ouviu a enfermeira irritada falar uma certa vez, e é pensar nessas coisas que faz Naruto acreditar que o carma que ele carrega dentro de si é de fato tão contagioso quanto um vírus.


-Naru?


Quando sua mãe o chamou, Naruto percebeu estar cabisbaixo e forçou um sorriso - Não é nada.


-Está com dor?


-Não, pai, eu só… sinto muito por vocês terem se machucado tanto por minha causa.


A memória daquela pessoa pedindo desculpas várias e várias vezes voltou a sua mente quando seu coração se contraiu numa pequena bola de remorso. Se aquela pessoa se sentiu assim também…


-Naruto, escute bem o que vamos dizer agora.


Seu pai se ajoelhou na sua frente e segurou sua mão, Kushina ficou parada ao seu lado, abraçada aos seus ombros, os olhos azuis e cinzas sérios no seu rosto. Naruto engoliu o nervosismo e acenou para que seu pai continuasse.


-O acidente não foi sua culpa! Não foi você quem estava dirigindo bêbado e bateu no nosso carro, não foi você, você me entende?


-Sim, mas…


-Não tem mais - Kushina falou firme - Nossos ferimentos, seu pai e eu aceitaríamos montanhas deles se fosse preciso para te proteger.


-Eu não quero isso! - Com algumas lágrimas queimando seus olhos, Naruto se agarrou firme no corpo da mãe, com medo de afundar naquele escuro solitário mais uma vez - Eu não quero que vocês se machuquem nunca mais!


-Então, por favor, pare de se culpar. Ver você triste dói mais do que qualquer ferimento.


A cor dos olhos da sua mãe é uma das que Naruto mais gosta, pois parece oscilar entre cinza e azul, ele se diverte tentando descobrir qual tom ele verá ao olhar para ela. Dessa vez, ele viu apenas tristeza e por isso jurou nunca mais falar sobre isso.


-Obrigado. Bem, você precisa terminar de tomar seu café ou vai perder a visita.


-Visita de quem? - Naruto reagiu animado ao que seu pai falou.


-De quem mais?


Como se fosse cronometrado, Sasuke apareceu na cozinha com as mãos no bolso da bermuda caqui e a expressão quase preguiçosa, quase presunçosa de sempre. Ele e Naruto se cumprimentaram com um tapa fraco de ambas as mãos esquerdas dessa vez, e Sasuke se sentou ao seu lado, repousando sua mochila na outra cadeira.


-Bom dia, tia Kushina e tio Minato.


-Bom dia, Sasuke - Minato sorriu para o menino - Onde estão seus pais?


-Estão estacionando. Eu apertei a campainha, mas vocês não ouviram.


-Ah - Kushina desligou a música do celular - Ela está com defeito. Nós vamos lá falar com os seus pais, você quer comer alguma coisa?


-Obrigado, tia. Estou bem.


Kushina bagunçou o cabelo escuro dele pois achava fofo a expressão emburrada dele - Fique a vontade, mesmo assim.


Seus pais saíram da cozinha e Sasuke lutou para ajeitar o cabelo antes de se virar para o amigo.


-Como vai, perdedor?


-Nada mal, e você? - Perguntou com a boca cheia de torrada.


-Bem mais educado que você.


Naruto abriu a boca e tentou mostrar a língua para o amigo sem derrubar a comida e claro, isso resultou num peteleco forte na sua testa.


-Nojento - Sasuke resmungou e se serviu de um copo com suco - Desculpe não ter ido ao hospital, meus pais não deixaram.


-Tudo bem - Naruto deu de ombros, tentando segurar a caneca com a mão direita - Se bem que um amigo de verdade teria ido escondido.


-E quem disse que eu sou seu amigo?


Apesar da frase um tanto cruel, Sasuke estava com um sorriso pequeno que só confirmava sua amizade pelo loiro.


-O que foi que eu perdi esses dias na escola?


-Nada importante - Sasuke revirou os olhos - Provas de matemática, inglês, os professores brigando com o Shikamaru por dormir demais, o de sempre.


-Bom, não lamento pelas provas.


-Como você vai fazer com as provas finais? As aulas já terminaram, você vai repetir a série?


-Não, nem brinca com isso - Naruto falou alto - Eu vou fazer trabalhos para ganhar pontos, e no ano que vem vou ter que me virar para aprender o que eu perdi.


-Sorte a sua.


-Sorte nada. Eu cheguei ontem em casa e o diretor Iruka já ligou para passar os trabalhos.


-Que merda - Sasuke falou condescendente, sabia muito bem que o amigo só estudava o suficiente para não levar broncas da sua mãe.


-Cada trabalho precisa ter no mínimo seis páginas.


-Caramba.


-Escritos à mão - Naruto completou.


-Fodeu.


-Fodeu - Naruto repetiu olhando desolado para a mão direita - Como eu vou escrever com a mão assim?


Sasuke observou o braço do amigo repleto de cicatrizes róseas pelas cirurgias que ele passou nos últimos três meses e crispou os lábios, a empatia secreta dele fazendo seu coração doer pelo amigo.


-Eu te ajudo - Sasuke ofereceu - Não tem nada melhor para fazer agora que estou de férias.


-Você é um madito nerd!


-Vai querer minha ajuda ou não? - Sasuke falou irritado e Naruto se apressou a confirmar.


-Pelo amor de Deus, eu vou morrer se fizer tudo sozinho.


No fim, Sasuke riu do desespero do amigo e continuaram conversando sobre coisas triviais da escola, sobre jogos e tudo mais que passava na sua mente. Da sala, os pais espiavam os filhos conversando, os dois casais secretamente surpresos pela amizade entre os dois.


-Então eu não vou poder ir na natação por hora, pelo menos até acabar a fisioterapia.


-Quanto tempo de fisioterapia?


-Três meses, pelo menos. Só vou poder voltar a nadar ano que vem - Falou emburrado.


-Ah, eu esqueci - Sasuke falou de repente, pensar no ano que vem o fez lembrar das coisas que trouxe e buscou uma caixa de dentro da mochila e entregou para o loiro - Você perdeu o seu aniversário, não é?


-Caralho! Você lembrou!


-Naruto, não fale palavrões! - Kushina repreendeu da sala assim que ouviu o grito animado do filho.


-Desculpe!


Respondeu mais baixo e abriu o embrulho, sorrindo ao ver um cartão simples, o fone de ouvido laranja com orelhas de raposa sobre o qual ele tanto falou nos dias anteriores ao acidente.


-Cara, você achou!


-Era o último, então tente não estragar, Dobe.


-Eu vou tomar cuidado.


Ao tirar o fone da caixa, ele achou um pacotinho menor por cima do cartão - E isso aqui?


-Esse é do meu irmão, ele me pediu para te entregar.


-Falando nisso, cadê ele?


Naruto abriu o pacotinho de plástico e tirou um colar de dentro. Pendurado no cordão preto tinha uma pedra cilíndrica e irregular de um verde transparente. Quando ergueu o mesmo para ver contra a luz como ficava, Sasuke respondeu sua pergunta.


-Meu irmão iniciou o treinamento para entrar na marinha.


-Ué, ele não é muito novo? - Naruto perguntou confuso.


-O aniki fez uma prova para conseguir entrar um ano mais cedo - Sasuke deu de ombros.


-Ah entendi. Legal.


Naruto colocou o colar no pescoço imediatamente e logo esqueceu esse assunto, preocupado em abrir o embrulho dos fones sobre os olhos atentos de Sasuke.


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