História A Faculdade - A volta para a Faculdade

Sam estava abraçada ao pai e sua mãe caminhava ao meu lado, com sua mão em meus ombros. O irmão dela, estava logo atrás, com uma expressão de desdém e cinismo. Da mesma forma que algo nasceu no instante que vi Sam pela primeira vez, um certo desprazer se deu no instante que conheci o irmão dela. O carro já estava fora da garagem e um rapaz colocava nossas bolsas no porta-malas. 

- Meninas - a mãe dela disse - Espero que nos encontremos novamente, o mais rápido possível. Sam, querida, dirija com cuidado. Ashley... - ela se aproximou de mim, segurou meus ombros de forma suave, me fazendo encará-la nos olhos - Sabe que precisamos reunir a todos, antes de começarmos a resolver tudo do casamento - ela sorriu.

- Eu não sei muito bem como meus pais vão receber essa notícia...

- Está insegura quanto a isso? 

- Um pouco.

- Suficiente para desistir?

- Isso sequer passa pela minha cabeça - sorri orgulhosa.

- Fico feliz, se achar conveniente, podemos contar todos juntos. Nos finais de semana, vocês costumam ser liberados para visitarem as famílias. Se quiser, podemos voltar para a cidade e nos reunir todos. Talvez conosco, que somos os pais de Sam, possa ser mais fácil dar essa notícia.

- Ótima ideia, mãe - Sam disse de longe - Vamos indo, antes que fique escuro.

- Está com medo do bicho papão e quer casar, pirralha? - o irmão brincou.

- Está com inveja, Henri? 

- De você? Eu não quero casar tão cedo, baixinha. 

- De qualquer forma, Sam está certa. Querida, quando soubermos um bom dia, entraremos em contato. Antes de organizar tudo, que vai demorar bastante também, precisamos mesmo resolver essa questão com sua família.

Concordei com um aceno. Aquilo estava ficando realmente sério. Nunca havia planejado casar com Alan, pelo contrário, sempre senti uma espécie de asco sempre que ele comentava casório. Era estranho como nós parecíamos ter um sexto sentido e saber quem é a pessoa certa para nós. A mãe de Sam beijou minha testa, abraçou a filha e nos desejou boa viagem. Segui até o veículo e entrei no lugar do passageiro, enquanto a loira terminava de se despedir calorosamente, antes de ocupar o lugar ao meu lado no carro. 

Ela engatou a marcha e saímos, acenando até onde ainda podíamos visualizá-los e pegarmos a estrada. Sam estava radiante, eu olhava para ela e parecia que estava quase gritando de tanta felicidade. Eu sorri, por dentro, por fora. Senti que meus olhos se iluminaram, brilhando feito criança em um parque de diversões. Sam olhou para mim, e senti que seu sorriso se estendeu mais ainda quando percebeu a maneira como eu a olhava. Ela ergueu a mão e abriu para que eu a segurasse, eu o fiz imediatamente.

- Está feliz, Ashley?

- Quando você comprou aquelas alianças, Sam? - perguntei curiosa.

- Você dorme demais, menina - ela riu e eu bofeteei seu braço - Um dia que você apagou, acabei medindo seu dedo - ela gargalhou - vê só, medi o seu dedo com um fio de barbante, levei pro centro, encontrei essas com as cores que você gosta e eu também. E consegui - mostrou o anel orgulhosa - Claro que pensei que guardaria até que meus pais voltassem e eu pudesse te apresentar a eles e assim pedir sua mão em casamento.

- E se as coisas mudassem?

- Não mudariam, amor. Eu sei que é isso que eu quero e sinto confiança de que é o que quer. 

- Eu não sou gay, Sam - disse bem convincente. 

- E daí? Você é Samanthassexual, basta!

- Cara, você anda assistindo muita tv - eu ri, pois já havia visto algo parecido em algum canal de TV.

Ela apertou minha mão e levou a sua boca, depositando um beijo doce. 

O retorno foi bem tranquilo. Chegamos um pouco depois que o sol se pôs, seguimos para o dormitório e antes mesmo de seguirmos em direção a escada, fomos chamadas pela secretária da coordenadoria. Acompanhamos ela até o escritório, nos apoiamos no balcão de entrada e aguardamos. 

- Nossos alunos estão voltando - a senhora Gregor apareceu com uma pasta - Samantha, minha querida, você conseguiu a melhor pontuação mais uma vez. O diretor quer ter uma conversa com você, menina. E você... Ashley não é? Música? - acenei confirmando as informações - Aliás, Samantha, minha querida, temos uma demanda maior este ano para a chegada de novos alunos, acabaremos tendo que colocar alguém em seu quarto.

- Espera... - Sam olhou para mim - Eu já sei o que fazer. Jennifer ainda voltará?

- A vaga dela já está disponível, o que me leva a acreditar que ela não retorne. Por que?

- Porque eu poderia mudar de quarto e o meu fica vago - eu olhei para Sam com um sorriso enorme nos lábios. Que ideia genial, ri por dentro - Assim todos ganhamos. Eu não quero dividir com uma estranha, o quarto que a Ashley está tem uma vaga. Só preciso passar todas as minhas coisas para o quarto dela e tudo resolvido.

- Entendi - a senhora Gregor nos olhou com um certo ar de curiosidade - Muito bem, eu vou passar isso para o setor que organiza essas coisas. Deixe eu ver se tenho algo mais para falar com você - ela olhou a pasta, folheou algumas coisas e sorriu para a loira - Você já resolveu aquele problema com o professor Gomes?

- Já - ela parecia um pouco revoltada.

- Tem certeza? Olha que você já está repetindo demais essa disciplina.

- E por qual razão não existe uma oferta maior para ela? Ele precisa realmente de uma ajudinha e um novo professor ajudaria bastante.

- Samantha - a senhora Gregor repreendeu - As coisas não funcionam assim. Você já está atrasada no curso por causa dessa disciplina.

- Mais um motivo para...

- Não, não, não - a senhora Gregor fechou a pasta e sorriu autoritária - A senhorita terá que engolir um pouco e começar a se esforçar mais com ele. 

- Certo, certo, certo. Já vi que não conseguiremos resolver esse problema. Então tudo bem! Mas veja logo isso do quarto, porque já vou começar a arrumar minhas coisas. Ou a Ashley vem para o meu quarto ou eu vou para o quarto dela.

- Tanto faz! Já pode arrumar as coisas, essas papeladas costumam ser simples! Acredito que seja melhor você mudar de quarto, Sam, porque ela é bolsista, a mudança de quarto normalmente é vista como algum problema de relacionamento. Como o seu quarto era só você, pode ser tratado como uma organização de setores.

- Tudo bem.

Sam acenou e saímos da sala seguindo em direção a escada. Atravessamos o corredor e a primeira porta era a do meu quarto. Eu parei a frente, coloquei a bolsa no chão e fiquei de frente para Sam que me olhava com um sorriso meigo. 

- Entregue. 

- Por pouco tempo - eu disse segurando sua camisa e a puxando para mim, beijando seus lábios já com saudades.

Ela segurou meu quadril e me empurrou, colando minhas costas a porta do meu quarto e me beijou com vontade, como se fosse o primeiro ou o último beijo. Suas mãos passavam ao redor do meu corpo, pressionando, apalpando, tendo certeza que estava ali. Ouvimos passos da escada, o que fez com que nos afastássemos. Ela sorriu, como uma menina boba fazendo algo proibido. Uma garota passou reto pela gente e entrou em um quarto três portas do meu, Sam continuou olhando até ter certeza. Rapidamente se aproximou e beijou meus lábios, sorrindo radiante e seguindo para o seu quarto enquanto eu abria o meu. Antes de entrar olhamos uma para a outra. Com um sorriso, ela entrou e eu entrei logo em seguida.

Fechei a porta atrás de mim, ainda com um sorriso nos lábios, quando senti meu corpo inteiro ser tomado por um choque ao ver uma sombra sentada na cadeira de frente para a pequena mesa perto da janela. Liguei a luz rapidamente, a tempo de ver, sentado ali, com as pernas cruzadas e as pontas dos dedos encostados. Era o pai de Alan, que me olhava com certo desdém.

- Boa noite, Ashley - ele disse com a voz grave.