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História A falta que você faz - Levyrroni - Capítulo 2


Escrita por: rbdadaptacao

Capítulo 2 - Capítulo 2


William preparou-se para enfrentar a esposa, que o esperava com paciência.

Maite sentia-se estranhamente calma, o coração batia compassado e as mãos repousavam no colo.

William entrou na sala. Estava sem o paletó e afrouxara a gravata. Sem olhar para ela, seguiu direto para o bar onde, entre várias bebidas, estava uma garrafa de seu uísque preferido.

— Quer uma dose? — ele perguntou.

Maite negou com a cabeça. William percebeu a negativa mesmo sem virar-se e não insistiu. Serviu-se de uma dose dupla e sentou-se numa cadeira na frente dela.

— Que amiga leal você tem — foi como começou o assunto. “Pena que não possa dizer o mesmo do meu marido”, ela pensou.

Os olhos dele estavam fechados. Não conseguia encará-la. Estendeu as pernas fortes na frente do corpo e manteve o copo de bebida seguro no meio das duas mãos. Os dedos eram longos e fortes e as unhas absolutamente limpas. Aliás, tudo nele era limpo e elegante. Tanto o corpo como seus objetos pessoais. Bons ternos, sapatos finos, camisas feitas sob medida e caras gravatas de seda.

A palidez do rosto não diminuiu sua beleza e charme. William ia fazer trinta e dois anos. O amadurecimento dera-lhe uma expressão de força e auto-suficiência. Era um homem bem sucedido e controlado. Sempre tivera autocontrole, raramente perdia a paciência ou se irritava quando as coisas não aconteciam a seu modo. Possuía a rara virtude de encarar um problema, colocar os pontos negativos de lado e lidar com os positivos.

Provavelmente era o que fazia no momento, procurando descobrir os estragos que o telefonema poderia ter feito a seu casamento e tentando encontrar os aspectos positivos do acontecido. Esta habilidade fizera com que William chegasse à presidência das Empresas Levy, uma organização que ele criara e que se expandira nos últimos anos, englobando companhias menores, ajustando-as ao mercado para torná-las mais rentáveis e depois vendendo-as com lucro.

Construíra seu império, mantendo os negócios na linha divisória entre o sucesso e o prejuízo, sem, no entanto, colocar sua família e o que conseguira para eles sob qualquer risco. Cercara a família de luxo e mimo.

— E agora? — ele perguntou subitamente.

— Você é quem deve falar.

Com certeza, Carmen ficara apavorada com a reação que a amiga pudesse ter. Talvez imaginasse suicídio ou qualquer outra tragédia. Só o medo a forçaria a contar tudo a William.

— Aquela imbecil! Se não se intrometesse, você seria poupada disso. Já tinha acabado — disse William, muito tenso, enquanto apertava o copo nas mãos. — Se ela ficasse quieta, logo saberia que estava tudo terminado! Mas não, ela sempre quis acabar comigo, só não imaginei que fosse jogar tão sujo e envolver você! Pelo amor de Deus, diga alguma coisa!

Maite assustou-se. William raramente erguia a voz com ela. Percebeu que estivera ali, sentada, como se estivesse em outro mundo.

— Quero o divórcio — disse e surpreendeu-se tanto quanto William, porque tal ideia nunca lhe passara pela mente. — Pode sair da casa. Fico aqui com as crianças. Você está rico o suficiente para nos sustentar.

— Isto é tolice e não uma resposta! — ele gritou.

— Não grite! Vai acordar as crianças.

William levantou-se e encarou Maite, mas não conseguiu sustentar seu olhar.

— Escute... — ele disse, um momento depois, tentando manter o controle — não aconteceu nada do que imagina ou do que sua “amiga” falou! Foi só uma escapada tola, que terminou antes mesmo de começar. Eu estava sob pressão no trabalho, o caso Harvey poderia pôr a perder tudo o que consegui. Precisava trabalhar dia e noite para ficar na frente dos concorrentes. Você estava se recuperando do parto e, de repente, eu estava passando mais tempo com ela do que em casa. Então os gêmeos tiveram sarampo e você não quis uma enfermeira para ajudar. Estávamos longe a maior parte do tempo. Fiquei preocupado com seu cansaço, com a doença dos gêmeos, com Alejandro que não dormia mais que meia hora seguida. Não quis sobrecarregá-la com problemas de trabalho...

William falava de meses atrás, quando tudo que ela achou que poderia dar errado realmente deu. Jamais imaginou que um caso de seu marido com outra mulher também fosse fazer parte de sua lista de problemas!

— Maite... — ele sussurrou — nunca pensei em trair você! Mas ela estava lá quando precisei de uma companhia e você não...

— Ah! Chega, pare de falar!

William tentou aproximar-se e foi impedido. Apesar de não beber, Maite foi até o bar e, com as mãos trêmulas, preparou um uísque. Virou o copo e fechou os olhos, numa tentativa de não perder o controle.

O coração disparou e não conseguiu respirar direito, o corpo ficou paralisado enquanto o cérebro absorvia a dor e a angústia, e devagar espalhava por todo seu ser, até que ela pensou que fosse morrer.

— Terminou Maite! — ele repetiu angustiado. — Pelo amor de Deus, acabou!

— E quando foi que acabou? Depois daquela maravilhosa noite de amor? Pobre Jacqueline, não sei qual de nós duas foi mais idiota.

— Apenas aconteceu. Eu daria tudo para que não tivesse acontecido, mas não posso fazer o tempo voltar. Se ajudar, quero dizer que estou profundamente envergonhado. Juro por Deus que isto nunca mais vai acontecer.

— Até a próxima vez — ela murmurou e saiu da sala.

— Não! — William puxou-a pelo braço e apertou-a contra o corpo enquanto Maite tentava escapar. — Vamos conversar até o fim. — Sei que está muito magoada, mas temos de esclarecer tudo.

— Quantas vezes? — ela gritou descontrolada. — Quantas vezes você chegou em casa impregnado com o perfume dela? Quantas vezes sentiu-se obrigado a fazer amor comigo depois de ter se deitado com ela?

— Nunca! — ele foi veemente e apertou o abraço. — Não, Maite! Nunca! Jamais cheguei a esse ponto. — O sorriso sarcástico dela deixou-o lívido. — Eu te amo, Maite! Adoro você!

Por algum motivo a declaração de amor foi a gota d’água, e ela atingiu o rosto dele com uma bofetada.

Surpreso, William afrouxou o abraço e Maite escapou. O olhar que ela lançou foi tão cheio de rancor que transformou seu rosto em uma máscara de dor e ódio.

Sem mais uma palavra, saiu da sala e subiu. Na porta do quarto hesitou um momento e foi na direção do quarto de Alejandro. Ficou imóvel, olhando a criança no berço, imaginando se a dor intolerável que sentia poderia adoecê-la fisicamente.

Finalmente, atirou-se na cama ao lado, escondeu o rosto no urso de pelúcia e chorou até mergulhar num sono causado pela exaustão.

(...)

O dia raiou com os sons alegres de Alejandro brincando no berço. Maite demorou alguns minutos até se lembrar do motivo pelo qual estava ali. Sentia-se mais calma, como se o choro descontrolado da véspera tivesse lavado suas emoções.

Levantou-se e notou que ainda estava com a mesma roupa da noite anterior. Levou a mão ao cabelo e tirou o elástico que teimava em segurar alguns fios, e o longo cabelo negro caiu sobre suas costas.

Sentia-se mal, dormira até de tênis. Sentou-se na beirada da cama e ficou descalça. Alejandro notou a presença da mãe e sorriu alegre. O sorriso foi como um conforto para seu coração ferido. Por alguns instantes, Maite esqueceu o mundo e deliciou-se brincando com a criança.

Não importava o que mais a vida lhe tirasse. Sempre teria o amor de seus filhos.

O pequeno Alejandro estava transpirando e com a fralda molhada. Ela levou-o para um banho. Enrolou-o em uma toalha e voltou ao quarto para vesti-lo.

Normalmente descia para preparar o café da manhã da família e só subia para se vestir depois que saíssem para o colégio e o trabalho. Naquele dia seria impossível. Os gêmeos eram muito observadores e perguntariam por que estava descabelada e usando a mesma roupa da noite anterior.

Precisou de muita coragem para entrar no quarto onde William estaria quase acordando. Entrou devagar e olhou para a cama vazia. Escutou então sons vindos do banheiro. Ele apareceu logo e se olharam ao mesmo tempo.

Em todos os anos de conhecimento nunca se sentira tão vulnerável na presença dele, e tão consciente da própria aparência: os olhos inchados de tanto chorar, o cabelo solto e despenteado.

Também estava absolutamente consciente da aparência de William: a altura, os músculos fortes no corpo atlético, o peito largo, as pernas longas e robustas...

Com a boca seca, desviou os olhos.

William parecia cansado, como se tivesse dormido pouco. Provavelmente passara a noite pensando, racionalizando, a fim de encontrar uma solução correta para uma situação impossível. Era sua especialidade: transformar um desastre em sucesso.

Olhou-a de modo defensivo. Acabara de sair do banho e seu cheiro excitou-a. Magnetismo sexual não tem barreiras, pensou Maite. Mesmo sentindo raiva e desprezo, a paixão dominava seu ser.

Desviou a atenção e colocou Alejandro no meio da cama de casal, que não fora desfeita. Notava-se que fora usada apenas pela marca do corpo de William sobre a colcha.

Alejandro tentava de todas as maneiras chamar a atenção do pai, que só tinha olhos para Maite. O bebê ficou vermelho e gritou querendo sentar-se. Ela sorriu e estendeu a mão, William reclinou-se do outro lado da cama e pegou na outra mãozinha: era tudo que Alejandro precisava para conseguir sentar.

— Da! — ele disse em triunfo.

Maite não desviou os olhos do filho ao perceber que o olhar de William procurava o seu.

— Por favor, Maite, olhe para mim.

— Não!

William ergueu Alejandro para beijar a bochecha gorducha e colocou-o de volta na cama. Alerta, Maite quis levantar-se, mas ele agiu mais rápido, segurou seu pulso e puxou-a gentilmente para si, trazendo-a para o calor de seus braços.

O conforto que ofereceu emocionou-a, e ela não conseguiu segurar o choro. Apertando o abraço, William abaixou a cabeça e só conseguia dizer:

— Desculpe, desculpe.

Mas não era o suficiente, nunca seria. Amor, confiança, respeito não existiam mais e desculpas não trariam de volta.

— Eu estou bem — ela disse.

Querida, sei que te magoei muito, mas não tome nenhuma decisão ainda. Temos tudo a nosso favor se você der outra chance. Não jogue nossa vida fora por causa de um erro idiota que cometi.

— Quem jogou nossa vida fora foi você!

Afastou-se e não foi impedida. William ficou olhando da cama, enquanto ela andava do guarda-roupa para as gavetas, sem saber que roupa vestir.

Durante anos ela tivera confiança cega nele, enquanto o marido caminhava rumo ao sucesso. Ficara em casa como um animal de estimação, e ele alimentara-a e preenchera suas necessidades. Que situação patética!

Alejandro começou a chorar de fome e Maite ficou parada no meio do quarto, as roupas nas mãos sem saber o que fazer. Por fim, William pegou o bebê no colo e saiu do quarto dizendo:

— Pode deixar que dou comida para ele. Arrume-se com calma, ainda é cedo.

(...)

O café da manhã foi terrível. Impaciente com os gêmeos, Maite reclamou de tudo que fizeram, colocou pó em excesso na cafeteira e o café ficou forte demais. Wésley e Catherine estavam assustados com seu comportamento e, aliviados, deixaram a copa em busca do material escolar.

— Não havia o menor motivo para você repreender Wésley daquele modo — disse William, assim que os gêmeos saíram. — Ele é ordeiro a maior parte do tempo. Só porque esqueceu os jogos espalhados não merecia um sermão. As crianças são sempre comportadas, não permitirei que desconte nelas a raiva que sente por mim!

— E desde quando está em casa o tempo suficiente para saber como as crianças se comportam? Você as vê no café da manhã por trás do seu precioso jornal! A maior parte do tempo nem lembra que tem três filhos. Você os ama como eu amo... aquele quadro moderno que você comprou: quando lembra que eles são seus, é isso aí. Então, não ouse me dizer como tratar as minhas crianças, quando é um inútil como pai!

Meus Deus! O que estava acontecendo? A sensação de Maite é que ia se quebrar em mil pedaços sem ter como evitar. William olhava horrorizado.

— Pode me acusar de muitas coisas que provavelmente mereço, mas não pode me acusar de não amar as nossas crianças!

— É mesmo? Então não casou comigo só porque eu estava grávida?

William deu um soco na mesa e avançou na direção dela como se quisesse bater-lhe, só no último momento desistiu e afastou-se com esforço.

— Alejandro é muito pequeno para entender, mas se der aos gêmeos o menor motivo para pensarem que não os amo, vou...

Não terminou a frase, nem precisava. Maite entendeu a ameaça. William olhou-a por um longo momento e saiu da cozinha.

Ela ficou envergonhada e irritada. Dera a William um motivo para atacá-la quando, até aquele momento, todos os trunfos eram a seu favor.



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