História A Felicidade - A Felicidade

Ela nasceu em uma noite como essa, em vinte e um de março, mas eu já sabia de sua existência há algum tempo. Quando recebi a notícia não poderia sonhar que em alguns meses minha rotina seria construída ao seu lado. Era tudo novo e inesperado, e fiquei absurdamente eufórica apenas com a notícia que você viria. Sem laços sanguíneos, mas ainda assim eu seria titia. 

Meses se passaram, e enquanto acompanhava de longe seu crescimento, o peso do mundo me esmagava sem se importar com os danos causados. Agora era eu quem crescia, assim como você, e o processo não foi fácil. Mas havia ali, a quilômetros de distância, uma luz que passou a iluminar minha vida antes mesmo que eu estivesse diante dela. 

Quando cheguei em sua vida, você era ainda uma forma indefinida em minha mente. Um círculo quase completo na barriga de sua mãe. Agitada, movia a superfície, acelerava o coração de todos ao redor, e me deixava sem saber o que era aquilo. O formigamento pelo corpo todo, a tremedeira incontrolável, o nervosismo e ansiedade, mas acima de tudo, a felicidade. Antes de você, eu não a sentia com facilidade ou frequência. Antes de você, as coisas eram diferentes. 

No dia em que você nasceu, o céu estava lindo. Sua chegada com certeza trouxe um encanto extra ao tom alaranjado das nuvens. O azul claro contrastava com o tom forte no topo das árvores. Tudo combinou tão bem. Por um instante, o mundo estava suspenso. Cães ladravam ao longe, carros passavam na rua de tempos em tempos, mas eu mal percebia esses sons. Não chegava a captar de fato o voo dos pássaros, pois só conseguia pensar que muito em breve iria te conhecer. Muito em breve, você iria conhecer... O céu multicor, a copa das árvores, o coração acelerado, pessoas que te esperavam. Minhas mãos tremiam e o bater ininterrupto em meu peito te pertencia. Todos os meus pensamentos eram para você. E então eu soube que te amaria para sempre. 

Um ano depois, posso dizer com a mais plena certeza que a felicidade tem grandes e espertos olhos castanhos, cabelo liso e preto, e toda a doçura do mundo. A carreguei contra meu peito desde o início, e vi a força sem igual de um bebê que já nasceu lutando. Vi com lágrimas nos olhos sua força e grandeza quando aos três meses passou a noite inteira queimando em febre, mas de algum jeito ainda rindo com as minhas brincadeiras. Então sim, a felicidade adora um colo e tinha o estranho hábito de chupar minhas mãos e braço quando era mais nova. Foi embalada incontáveis vezes no meu colo e ainda dorme ao som das canções que coloco. É empática o bastante para fazer cara de choro quando a música é triste, me arrancando gargalhadas inconformadas. 

A felicidade adora chocolate, e todo mês ganha um bolo em sua homenagem. Até nos piores dias, naqueles em que tudo o que quero fazer é me isolar e desistir, basta uma foto sua para fazer tudo ficar bem. Você sempre faz tudo se tornar o melhor possível. Sinto a falta de seu sorriso luminoso quando estou a minutos sem te ver, e às vezes até enquanto estou contigo. 

Portanto, volto a repetir: Eu conheço a felicidade.

A felicidade poderia escolher qualquer brinquedo da loja, mas preferiu um dinossauro e morde seu rosto sempre que tem a oportunidade. 

A felicidade é maravilhosamente esquisita. 

A felicidade é uma princesa fadinha. 

Basta um sorriso dela, e estou bem. 

Basta sua lembrança para eu sorrir. 

Basta sua existência para eu conhecer a plenitude do amor. 

A felicidade olha para mim e espera uma brincadeira. 

Sua risada é o som mais perfeito já criado. Ela tem meu coração. 

A felicidade sorri todas as manhãs em que a vejo e dou bom dia. 

A felicidade merece toda a felicidade do mundo, e viver intensamente tudo o de melhor que pode acontecer em sua vida. 

A felicidade agora tem um ano, e continuarei a amando cada vez mais conforme o tempo passa por nós. 

A felicidade é uma menina que me chama de “guiguia”.

A felicidade. 

A minha felicidade. 

É ela.