História A Filha - Bruna

A verdade é que eu odeio morar com meus pais, mas pior que morar com eles, sem dúvida alguma, é trabalhar pra eles. Tudo bem que eu só trabalho durante as férias, e que em todas as outras épocas eles me bancam, assim como bancam minha faculdade e todas e quaisquer dispesas minhas. Mas eles poderiam muito bem fazer isso só que em outra casa. Segundo eles, eu não posso ter minha própria casa por não ter maturidade suficiente, dizem que eu morreria de fome por não saber fritar um ovo, e que eu viveria em um chiqueiro.
Eu não odeio meus pais, não pensem nisso. Eu os amo, só que já tenho 21 anos e a única independência que eu tenho é ter meu próprio quarto, já que Silvia, minha irmã mais velha, se casou a pouco tempo e foi embora pra bem longe. Acho que a razão pela qual ela quis se casar tão rápido era a mesma que eu tenho pra querer ter meu próprio canto, nossos pais nos enlouquecem. Os pirralhos Davi e Breno não percebem isso ainda, já que com 8 e 11 anos a única preocupação de ambos é ter as bolachas açucaradas que tanto amam, e aquele maldito vídeo game de tiro pra jogar.
Arrumei a bolsa à moda antiga, enfiando tudo e socando pra caber mais. Não entendo porque de ter que dobrar as roupas, coloca-las de forma organizada, se depois quando precisar de pegar aquela blusa preta que está embaixo vou bagunçar tudo de novo. Joguei tudo que me veio a mente, fechei de qualquer jeito, e voui ala, estava pronta minha mala para o congresso anual de medicina da universidade de Thompson.
Como deixo tudo pra em cima da hora, faltavam apenas meia hora pra Maju passar aqui, e conhecendo-a como conheço, sei que ela chegará pontualmente ou então adiantada. Portanto, corri para o banheiro, aumentando a play do celular no máximo volume, e vesti a única roupa que não consegui enfiar dentro da mala, um vestido estampado com mangas caídas. Como meu cabelo seca tão rápido quanto um piscar de olhos, me dediquei mais em passar uma make arrasadora. Quando já finalizava a maquiagem com os cílios postiços, o carro de Maju buzinava freneticamente na porta da minha casa, o que particularmente deixava minha mãe histérica e eu adorava.
Desci na velocidade da luz, peguei uma maçã na fruteira que estava em cima da mesa na sala de jantar, gritei meia dúzia de palavras pra minha mãe que repetia sem parar coisas como "juízo", "não me envergonhe" e "não engravide". Sim, essa é minha mãe, acredita que eu já dormi com metade da cidade, mal sabe ela que ainda sou virgem.
- Amiga, abre o porta mala!!! Aí meu Deus, vamos causarrrrrrr!!!!!!!
Entrei no carro totalmente organizado da Maju, coloquei o cinto e, como de costume, sintonizei o rádio em uma estação que só tocava músicas eletrônicas.
- Pé na estrada, Majuuuuu! Vamos viver a melhor fase da nossas vidas.