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História A Filha do Coringa: a Origem - Alguém para chamar de Pai


Escrita por: silvacomsifrao

Notas do Autor


Pessoas, este capítulo ficou um pouco grande, mas era extremamente necessário porque este é o capítulo que vocês tanto aguardaram!!!



PEQUENO SPOILER!
Há uma certa pessoa de cabelos verdes nele...

Capítulo 20 - Alguém para chamar de Pai


Eu estava ofegante, e parecia que meus batimentos cardíacos e nem a respiração se normalizavam. Minha “outra eu” estava tentando se manifestar cruelmente, naquele momento de tensão. Isso, somado ao medo de não saber o que iria acontecer comigo em alguns momentos, e sendo arrastada pelos dois capangas – literalmente. Tentava me debater e fugir a cada 10 segundos, mas era esforço em vão, estava completamente indefesa.

            Era uma sensação horrível.

            - Para onde estão me levando? – perguntei pela terceira vez. Nas outras duas, obtive apenas risadas como resposta.

            Arlequina, que estava andando – quer dizer: desfilando - em nossa frente, se virou para me encarar, mas continuou andando de costas. Exibia uma expressão entediada.

            - Você é muito irritante – disse com a sua voz irritante.

            - Talvez eu não fosse tão irritante se você respondesse minha pergunta – rebati.

            - Hahahahaha! Você realmente não se lembra de nada, não é mesmo? – agora ela estava rindo. Arlequina era um tanto bipolar.

            - Me lembrar do quê?

            - Como conseguiu essa cicatriz? - ergueu as sobrancelhas, em expectativa.

            - A cicatriz nas minhas costas? – ela afirmou com a cabeça. – Eu... eu não sei... não me lembro. Mas meus pais me disseram que eu caí da escada e bati a cabeça...

            - Blá, blá, blá! Seus pais – ela cuspiu a palavra – que nem são seus verdadeiros pais mentiram para você sua vida inteira. Se eu fosse você, mocinha, não acreditava em mais nenhuma palavra que eles dissessem.

            Aquilo foi uma facada no coração. Um balde de água fria. Minha respiração deixou meu corpo. Foi como se ela tivesse dado um tapa em minha cara. Mas infelizmente era uma alegação que eu não podia contestar... às vezes eu mesma me perguntava se eles realmente não sabiam de nada sobre a minha mãe e outras coisas que eu sempre tive dúvidas.

            Entretanto, ouvir aquilo em voz alta de alguém que eu mal conhecia era um choque de realidade para o qual eu não estava preparada.

            Depois daquilo nem tive mais vontade ou forças para me debater e tentar fugir. Com dois caras fortes e armados, um segurando cada braço meu, eu nem conseguiria correr. E ainda tinha aquela doida psicótica que liderava o caminho, achava um milagre ela ainda nem ter me batido com aquele taco de beisebol. Deus sabe o que mais ela era capaz de fazer.

            Ao perceber que sua fala tinha me calado, deu um sorrisinho perverso e continuou andando, rebolando sua bunda.

            Apenas deixei que aqueles dois me arrastassem pelos corredores e escadas abaixo. Nem importava mais a pergunta. Eu logo iria saber o que me aguardava.

            As duas pílulas que tinha tomado há pouco, já tinham perdido o efeito. Minha cabeça era um balão que estava enchendo de ar, era só uma questão de tempo para que estourasse. Minha “outra eu” não dava sossego para mim nem nessas situações.

            Me sentia um lixo.

            E foi aí que eu me lembrei de algo que meus pais disseram, que talvez fosse realmente verdade.

            - Meus pais me contaram sobre quem você era e o que aconteceu – comentei. – Dra. Harleen Quinzel.

            Percebi que ela ficou ligeiramente incomodada, sua postura mudou. Tinha cutucado a fera. Mas ela não se virou para me encarar, continuou andando, parecendo impassível.

            - Passado é passado – sua voz era sombria, mas logo se tornou irritante novamente. – Elliot e Charlotte sempre fofocando sobre a vida miserável dos outros, não é a toa que é a filhinha deles.

            - Por quê? Por quê ele? Por que essa vida? – eram perguntas cheias de significado.

            - Por quê não? – ela respondeu. Mas eu sabia lá no fundo que essa não era sua verdadeira resposta.

            Foi aí que percebi que estávamos descendo um lances de escada muito familiar, exatamente igual ao do salão de festas.  E não demorou muito para ter uma visão ampla do salão. Parecia uma chacina. Era uma chacina. Pessoas mortas estavam espalhadas pelo piso de mármore, no qual a cor vermelha – de sangue – tingia-o.

            Meu queixo estava caído. Nunca tinha presenciado tal cena.

            Só rezava para que meus pais não estivessem juntos à aqueles moribundos largados no chão.

            Haviam capangas com fantasias absurdas e muito bem armados por todos os cantos. Haviam ninjas, bebês, ouriços, cabras, padres, anjos e o maldito urso panda que jurava que tinha visto antes do ataque. Abracei o fato de minha morte estar bem perto, eu podia não sair viva desse lugar.

            Mas havia uma esperança, Jason disse que tentaria encontrar Bruce aqui em baixo e entregar a maleta com o equipamento do Batman. Se o cara rico não estivesse aqui, havia uma chance.

             Ao pisar os pés no piso de mármore, dois sentinelas fantasiados nos receberam e prenderam minhas mãos na frente do meu corpo com um lacre e me amordaçaram com silver tape.

            - Ela fica comigo – Arlequina disse, cravando seus dedos em meu braço e me levando para algum lugar.

            Só então, enquanto caminhávamos pelo salão fui perceber que nem todos estavam mortos e jogados pelo chão. A maioria se encontrava aglomerada em um canto do salão, todos amordaçados com silver tape e presos com lacres nas mãos e esses lacres estavam interligados com cordas que se encontravam ligados à dois dispositivos. Bombas.

            E não demorou muito para que meus olhos se fixassem em um casal naquele amontoado que de repente ficou inquieto enquanto passeava pelo salão.  Reconheci-os imediatamente: eram meus pais. Percebi que estavam se segurando para não começar a gritar. Talvez se fizessem isso, acionariam as bombas e também talvez fosse melhor fingirem que não me conheciam. Eles tinham comentado uma vez comigo que nessas situações, o risco de utilizarem uma pessoa amada como chantagem era muito alto, o que poderia acarretar um desastre.

            Desviei meu olhar deles rapidamente, como se não os conhecesse. Rezei para que eles também fizessem o mesmo. A vida deles já estava em risco demais, conectados àquela bomba. E minha vida também não estava nas melhores condições.

            Mas foi aí que uma risada chamou minha atenção, não muito longe das pessoas presas às bombas. Foi apenas eu virar minha cabeça para aquele vulto, que levei um susto com o estampido de um tiro.

            - Bon voyage, Sr. Orson! – pude ver alguém caindo no chão, bem diante de um homem de cabelos verdes. Ele segurava uma arma na mão e estava rindo freneticamente.

            Era o mesmo riso que me atormentava de vez em quando em minha mente.

            De repente o mundo parou de girar.

            Meu coração ficou preso na garganta.

            Paralisei no lugar. Mal respirava. Mal sentia meu corpo. Estava tudo dormente. Porém, minha dor de cabeça aumentou drasticamente. Parecia que a Arlequina tinha batido seu taco de beisebol nela. Minha visão ficou meio turva, mas logo voltou ao normal.

            Quando foquei meus olhos na cena em minha frente, pude analisar mais detalhes. O Coringa estava vestindo um smoking roxo, meio brega, mas combinava com ele e aquela pele tão pálida que parecia porcelana. Seus sapatos eram amarelos e berrantes e também havia uma flor roxa imensa presa ao seu blazer. Podia parecer um look ridículo para qualquer pessoa, mas para ele vestia tão bem quanto uma luva. Parecia uma parte dele.

            O que mais prendeu minha atenção, porém, foi seu olhar. Como era possível uma pessoa carregar tanta expressividade nos olhos e ao mesmo tempo ninguém ser capaz de decifrar os pensamentos dele? Não fazia ideia do que se passava naquela cabeça, ele podia tanto me matar quanto me convidar para jantar com ele, amigavelmente.

            Enquanto eu e Arlequina nos aproximávamos do psicopata, desviando de alguns cadáveres, um homem - que particularmente parecia o único vilão normal naquele salão – entregou um lencinho para o Coringa, que enxugou sua testa dramaticamente com ele.

            - Então, quem é o próximo da fila? – perguntou dando alguns passos em direção ao aglomerado de reféns e observando-os com atenção. Todos eles gemeram de medo. O sorriso estampado em seu rosto era macabro, arrepiou toda a minha espinha.

            - Não há mais ninguém na lista que esteja aqui – o homem normal declarou, impassível, checando um papel em suas mãos. Devia ser a lista. – Apenas o Prefeito sobrou...

            - E ele está morto – Arlequina se gabou, parando de andar, já que estávamos próximas o suficiente deles. – Abri seus miolos. A mocinha aqui viu tudo, não foi? – ela apertou minhas bochechas com sua mão, como se eu fosse uma criança, e chacoalhou minha cabeça um pouquinho.

            - E quem é ela? – o vilão de terno roxo agora estava à alguns centímetros de mim, analisando-me.

            - Não reconhece, Pudinzinho? Olhe nos olhos dela – Arlequina incentivou.

            Ao encontrar meus olhos, imediatamente, sua expressão mudou de investigadora para entendedora e sagaz. Seus olhos azul-acinzentados eram penetrantes, podia senti-lo cortando minha pele e fazendo uma autópsia, descobrindo todos os meus segredos escondidos que nem eu tinha conhecimento. Lentamente, abriu um sorriso maligno, que ia de orelha à orelha.

            Vendo seu rosto de perto, percebi o quão anormal ele era para um ser humano. Haviam veias saltadas e cicatrizes ao redor dos seus olhos, muito azuis. Não haviam sobrancelhas, o que o fazia parecer uma caveira humana, juntamente com seu maxilar e as maçãs do rosto bem ressaltadas. Três tatuagens cobriam-no. Um “J” perto do olho esquerdo, uma estrela em sua têmpora e “Damaged” (danificado) na testa, rente aos seus cabelos verdes neon.

            Ele conseguia ser tudo, menos um ser humano comum.

            Não sabia como ainda não tinha desmaiado de tão descontrolada que estava. Meu coração estava à mil por hora, a respiração irregular, a cabeça parecia que ia explodir à qualquer momento e minhas pernas tremiam, instáveis.

            O Coringa então colocou as duas mãos em meus ombros e me virou de costas. Não demorou muito para seus dedos traçarem levemente a cicatriz de gancho em minhas costas. Engoli em seco.

            Logo, percebi que seu rosto estava sobre meu ombro, a boca à milímetros do meu ouvido. O ventinho da sua respiração fez todos os meus pelos se arrepiarem. Mas eu continuei olhando fixamente para nada em questão.

            - Ah, você voltou para mim, Cecily – sussurrou. Suas palavras tinham um certo sentido que não compreendi. Suas mãos acariciavam meus braços de um jeito grosseiro, subindo e descendo. – Eu sabia que voltaria – então ele me virou de frente para ele, novamente. Dessa vez, seus dedos seguiram um mecha solta. Eu estava muito confusa e ele percebeu – Por quê essa cara de confusão? – seu dedo tocou em meu nariz, seu beiço fez um biquinho.

            - Ela não se lembra de nada, Pudim – sua namorada se manifestou

             O Coringa pareceu ofendido com a informação. Mas antes que pudesse dizer algo sobre o assunto, o salão se tornou um caos. Todos os reféns correram para a saída do recinto ao mesmo tempo em que dois vultos, um vermelho e um preto, cuidavam dos capangas, protegendo os reféns.

            Os reféns, tinham de algum modo se soltado das amarras e agora corriam por sua liberdade. Seus gritos ecoavam pelas paredes em desespero, todos queriam sair dali o mais rápido possível.

            Nem pude me juntar à fuga deles, pois antes de assimilar o que estava acontecendo, o Coringa me arrastou até seu assistente normal, que me prendeu com seus braços. Eu tentei gritar e me debater, mas foi tudo em vão.

            Os estampidos dos tiros faziam minha cabeça vibrar, e gritos agudos me davam agonia. Logo eu estava perdida em meio àquele caos, não sabia o que estava acontecendo. Senti a tontura se apoderar de mim, mas consegui expulsá-la com um pouco de esforço. Simplesmente tinha que me manter no controle.

            E foi quando tinha acabado de recobrar a consciência, que meu olhar se cruzou com o vulto vermelho que tinha visto antes, Jason... quer dizer Robin. Ele estava lutando contra o urso panda, na verdade os dois estavam deitados no chão, o Robin por cima do panda. Porém, foi naquele milésimo de segundo que encontramos os olhares que o panda deu um soco nele e os dois rolaram pelo chão.

            Percebi que a Arlequina estava na cola do Robin, e se aproximava, ameaçadoramente com seu taco de beisebol em mãos.

            Fiz uma careta e rezei para que Jason ficasse bem.

            De repente, um grito chamou minha atenção. Na verdade, chamou a atenção de quase todos que ainda permaneciam no salão; a maioria dos reféns já tinha escapado, menos uma mulher jovem de vestido vermelho que estava aos pés de uma janela alta, sendo segurada pelo próprio Coringa – a pessoa que podia empurrá-la para sua morte iminente.

            Apesar de estar provocando uma cena tensa, o vilão ria, apontando a arma para a barriga da moça. Para ele era tudo uma brincadeira, um jogo. Não havia nada sério em seu trabalho. Um silêncio súbito tomou conta da atmosfera. Só a risada do psicopata reverberava pelo salão

            - Hahahahahahahahaha!

            Demorou um pouco para eu perceber, mas o próprio Batman estava à alguns metros do Coringa, batendo em um de seus capangas. Quando ele viu a cena, um soco acertou sua mandíbula – ouvi o barulho do osso mesmo de longe – que o fez cair de joelhos no chão, mas continuou de olho no Coringa.

            - Não faça isso – sua voz rouca advertiu e inesperadamente deu um soco no capanga, que estatelou-se no chão inconsciente. – Ela é inocente.

            - Não teria graça se não fosse inocente – o Coringa riu com o olhar de psicopata estampado em seu rosto. Seu riso apenas cessou quando Batman lançou, o que parecia uma daquelas estrelas ninjas na direção do vilão, que por pouco não o atingiu. Sua expressão agora era de surpresa, seus lábios formavam um “o”- Ops...

            Então empurrou a menina para trás. Seu grito mal tinha começado quando Batman se lançou pela janela tão rápido que apenas vi seu vulto negro. O Coringa se desequilibrou e quase caiu no chão. O grito que a mulher soltou ia se afastando, afastando e afastando...

            Rezei mentalmente para que eles ficassem bem.

            Assistir esse tipo de coisa ao vivo era muito perturbador, não conseguia tirar meus olhos da janela de onde os dois tinham mergulhado.

             Quase cedi à loucura, novamente. Minha cabeça girava. Era difícil achar o centro daquele labirinto de confusão, não conseguia distinguir a realidade em minha mente. Uma risada que jurava ser do Coringa ecoava em minha cabeça, mas não sabia se eu estava delirando ou ele realmente estava rindo. A dor de cabeça se tornou excruciante, mas continuei lutando e lutando.

            Eu era forte.

            E ela era a fraca.

            Eu era forte. Eu era forte. Eu era forte. Eu era forte. Eu era forte. Eu era forte. Eu era forte. Eu era forte. Eu era forte. Eu era forte. Eu era forte. Eu era forte. Eu era forte. Eu era forte. Eu era forte. Eu era forte. Eu era forte. Eu era forte. Eu era forte.

            ENTERRE, ENTERRE BEM FUNDO.

            E eu a enterrei, o mais fundo que conseguia em meu estado.

            Metade da dor se dissipou e minha cabeça perdeu uns 2 quilos. Senti um pouco de alívio, mas eu sabia que ela ia voltar em breve. Se ao menos conseguisse alcançar minha pulseira e tomar uma única pílula, seria de grande ajuda.

            Entretanto, apenas recobrei a consciência completamente quando uma figura de cabelos verdes se posicionou em minha frente, à alguns centímetros de meu rosto, falando com alguém que não era eu. Tinha percebido agora que estava caída no chão, com o assistente do Coringa me apoiando.

            - O quê fez com ela? – o chefe vociferou entre dentes, havia uma ameaça bem explícita em sua voz. Ele tinha se ajoelhado perto de mim.

            - Nada, ela apenas desabou. Está intacta, nem um arranhão. Eu diria que ela entrou em colapso – a voz do outro era calma.

            Para provar que eu estava bem, me debati, tentando me soltar do aperto do assistente. Mas isso só resultou em mais dor ainda quando o Coringa agarrou e pressionou meu pescoço, muito forte por sinal, sufocando-me. Quase desmaiei novamente, mas ele liberou meu pescoço antes de acontecer.

            - Tem algo estranho com você... – afirmou fixando seus olhos nos meus. Seu olhar era intenso e tempestuoso, podia ver nuvens negras, trovões e raios no fundo de seus olhos se prestasse atenção. – Você se lembra de mim? Do que eu fiz com você? – quando não obteve resposta, gritou, me chacoalhando – Você se lembra?

            Balancei minha cabeça negativamente, desesperada. Engoli em seco. Estava até com medo de respirar perto dele.

            O Coringa pareceu frustrado com a minha resposta, e irritado ao mesmo tempo. Demorou alguns instantes para se acalmar, respirando fundo e olhando a cena ao seu redor, analisando-a. Podia ouvir as sirenes da polícia ao longe, acho que já estavam cercando o perímetro.

            - Frost, chame o helicóptero – ordenou para seu assistente. – Eu cuido dessa mocinha.

            Depois do assistente ter nos deixado, o Coringa começou a me analisar de um modo que me deixou nua, nunca me senti tão exposta em minha vida. Seus olhos então cravaram nos meus e sua cabeça inclinou um pouco para o lado, me examinando, senti que ele podia ler todos os meus pensamentos.

            - Tsc tsc tsc... Ah, querida, há tanta coisa que você não sabe. Como começar? – ele ficou pensativo por um momento e então uma luz brilhou em seus olhos. - Ah, já sei, que tal você começar me perguntando o que deseja saber? Deve estar tudo muito confuso nessa sua cabecinha.

            Antes que pudesse resmungar, ele arrancou de uma vez só o pedaço de silver tape em minha boca. Entretanto, eu travei. Eram tantas dúvidas que nem eu sabia por onde começar e parecia que minha voz tinha se perdido na garganta, não consegui falar.

            - Não temos todo o tempo do mundo – revirou os olhos, me pressionou.

            - Por... por quê eu... eu deveria me lembrar de você? – finalmente encontrei as palavras.

            - Ah, boa pergunta, mocinha – um sorriso sinistro tomou conta do seu rosto. - Porque, quando você era pequena, apenas uma criança, levei você para passear um pouquinho. E eu também te dei um presente.

            Algo me dizia que “passear” e “presente” significavam outra coisa.

            - Você quer dizer que me seqüestrou? – ele afirmou com a cabeça. – Por quê? E por quê eu não me lembro? – estava começando a desesperar. – E que “presente”?

            - Oh, devagar com as perguntas – advertiu. – Seu presente está em suas costas e não sei porque você não se lembra, é até uma surpresa para mim, mas acho que já suspeitava pois você não veio me procurar depois de anos – seu sorriso abriu novamente, maléfico. Passou sua mão pela minha mecha solta e a colocou atrás da orelha – Mas eu apenas te seqüestrei, pois queria conhecer minha filha biológica.

            Gelei. Tudo parou, meu coração, minha respiração, minhas pálpebras.

            - Não – sussurrei, me arrastando para longe dele, com certa dificuldade, pois minhas mãos  estavam presas.

            Mas ele me seguia, também se arrastando pelo chão, rapidamente.

            - Não, não, não! – falei mais alto. Estava quase gritando. – Você não é meu pai!

            O meu perseguidor conseguiu se aproximar o bastante de mim para pegar meu pé e me puxou de volta para ele. Eu estava deitada e ele se posicionou em cima de mim, rosto à rosto, bem próximos. Então o Coringa pegou um lencinho de seu bolso e enxugou meu rosto, que percebi que estava molhado de lágrimas.

            - Você não é meu pai – resmunguei.

            - Ah, eu sou sim – ele continuava enxugando meus olhos. -  Mas já que você não acredita, vou te dar meu sangue para você fazer um teste de DNA – seu olhar se tornou obscuro. - Entretanto, deverá fazer o teste em segredo. Se eu souber que essa amostra de sangue caiu nas mãos da polícia ou até mesmo do Batman, seus pais adotivos estarão mortos antes de chegar em casa – sua ameaça era tão precisa que jurava que as conseqüências iam ser bem piores. – Aproveite essa chance, pois eu não costumo ser tão gentil assim.

            - Mr. Jay! – seu assistente, Frost, gritou perto da varanda. – O helicóptero está chegando.

            O Coringa pegou uma faca no bolso inferior do seu blazer e cortou sua mão. Fez uma careta quase imperceptível antes de limpar o sangue com o mesmo lencinho que utilizou para enxugar minhas lágrimas, então enfiou-o dentro de minhas mãos amarradas.

            - Guarde com cuidado – falou, dando tapinhas em minhas mãos. Mas logo seu sorriso se dissipou, dando lugar à sua expressão hostil. – Mas se lembre, eu tenho olhos em todo lugar.

            - Vou me lembrar – disse, quase num sussurro. Apavorada.

            - Perdão, mas antes de ir embora, preciso utilizá-la – falou, como se fosse algo usual.

            Eu estava prestes à perguntar o porquê, mas ele me pôs de pé rapidamente e posicionou a mesma faca que estava em sua mão em meu pescoço. Logo percebi o porquê.

            Batman já tinha voltado de sua queda livre e estava lutando com 3 capangas fantasiados ao mesmo tempo. E Robin ainda estava com a Arlequina ambos exaustos de lutar, mas Robin tinha vantagem sobre ela, que tinha acabado de cair no chão. Sua lança estava preparada para perfurá-la quando o Coringa gritou:

            - Parem vocês dois! Ou mais um rostinho bonito vai se perder – ele tinha conseguido chamar a atenção dos dois. Ambos pararam para visualizar a cena. Robin olhava intensamente em meus olhos e logo deixou sua lança cair no chão. – Vamos Harley! Pessoal!

            O barulho do helicóptero se tornou ensurdecedor em apenas alguns minutos, ele tinha pousado no grande terraço, não sei como. Todos os capangas então, correram em direção ao terraço, mas Arlequina, ainda no chão, deu uma rasteira em Robin e saiu correndo, gargalhando em seguida.

            O Coringa estava andando para trás, em direção à sua fuga, e me arrastando com ele. Podia sentir sua faca extremamente afiada roçando em minha garganta e arranhando-a.

            - Largue-a – bradou Batman com sua voz rouca e ameaçadora. – Ela é apenas uma civil.

            - Ah, ela é tudo, mas menos uma civil qualquer – respondeu, rindo. - Hahahahahaha! – então falou em meu ouvido. – Até logo, filhinha.

            E aquela palavra se fixou em minha mente de um jeito, que eu sabia que nunca iria esquecê-la.

            Filhinha.

            Eu era a filha de um monstro.


Notas Finais


Espero que tenham gostado, porque foi o capítulo que eu mais me empenhei em escrever e foi muito gostoso escrevê-lo!
Mas há muito mais coisas por vir, pessoas! NÃO PAREM DE ACOMPANHAR!

Twitter: @AMAQblog


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