História A filha do técnico - Olha quem temos aqui! A filho do grande José Mourinho!

Sexta-feira, 17/05 – Manchester, Inglaterra. 7:43 PM.

Acabamos de chegar no hotel em Manchester. Saímos do CT ás cinco e alguma coisa e viemos no ônibus do time porque é uma cidade relativamente perto de Londres. Eu e Júnior fomos no fundo com todo mundo e meu pai e minha mãe ficaram na frente dormindo - na verdade, tentando, porque estávamos fazendo muito barulho.

O Diego colocou uma música brasileira e segundo o Oscar, tinha uma letra suja, mas eu achei legal, e todos nós ficamos cantando e estressando meu pai enquanto minha mãe ria. Foi muito engraçado ver o Hazard, Courtois e outros jogadores tentando cantar.

–Vai Mari.— Diego grita no meio do hall do hotel.— Ela veio quente.

–Hoje eu to fervendo.

–Ela veio quente.

–Hoje eu to fervendo.

–Quer desafiar.

–Não to entendendo.

–Mexeu com R7 vai voltar com a...— Cantamos juntos.

–Que o Helipa, é baile de favela.— Courtois canta e eu rio porque é engraçado ele falando português.

–Que a Marconi, é baile de favela.— Hazard cantou e começou a -tentar- dançar o que arrancou uma gargalhada de quase todos ali. Fui pro lado dele junto de Diego e tentei dançar também, mas isso é uma coisa que eu não sei, continuei apesar de  ser estranho e eu parecer um pato. Nós cantávamos a música alto, então praticamente todo mundo estava olhando e rindo de nós. Esse é o momento que eu tenho certeza que a filha do tio Roman, Sofia, diria "vergonha alheia". Saudades dela, a última vez que eu a vi, foi em Paris, ela estava morando lá por causa da faculdade.

–Eu preciso gravar isso, cara.— Oscar, Courtois e Junior começaram a gravar nós três dançando.

Esse video provavelmente estaria circulando na Internet em menos de trinta minutos. Quarenta e cinco no máximo. E não tenho dúvidas que o primeiro a postar vai ser o meu irmão. 

(...)

Depois de ter tomado banho e ter me arrumado pra jantar no hotel, me deitei na cama para esperar Junior vir me chamar para descermos. Entrei no Instagram e vi que os três tinham postado o vídeo e nos marcarm, fiquei rindo do jeito que eu dançava. Eu definitivamente não sei dançar música brasileira. 

Entrei no Whatsapp e salvei o vídeo no grupo que haviam me colocado. Postei o vídeo e escrevi na legenda "Nós somos baile de favela" e algumas bandeiras do Brasil. Haviam vários brasileiros comentando algumas coisas que eu não entendia. O português do Brasil tem muitas palavras diferentes do português de Portugal, mas eu acho que eu conseguiria conversar com um brasileiro em português. Só fui no Brasil na copa, já fazem dois anos, pretendo voltar lá de novo o mais rápido possivel, amei aquele país.

–Finalmente você ta pronto.— Falo para Junior quando ele entra no meu quarto.

–Papai mandou eu te chamar, vem logo.

Coloco o celular no bolso da calça, calço minha sapatilha e vamos até o elevador. 

–Oi.— Willian fala saindo do quarto junto com Courtois, Oscar e Azpilicueta.

–Oi.

–Eu to ansioso pro jogo amanhã.— Junior fala.

–Eu também.— Foi a vez do goleiro falar.

–Nem me fale, eu nem consegui dormir ontem.— Oscar fala e esfrega os olhos.

–Eu quero jogar na cara do Louis van Gaal que o papai é muito melhor que ele e é por isso que o timinho dele nunca ganhou do nosso.— Os cinco começam a rir.

–Junior!!!— O repreendo mas deixo uma risada escapar.

Entramos no elevador ainda rindo. Me encostei na parede entre Azpi e Junior, de frente para Courtois, o mesmo começou a me encarar e eu encarei meu irmão. 

–E você.— Ele aponta para Courtois.— Tem que jogar na cara daquele David De Gea que ele é um lixo.

–Junior, credo, coitado.— Falo.

–Mas ele é muito melhor que aquele cara que parece mais uma lhama do que uma pessoa.— E novamente nós rimos.

–Que ódio é esse?— Azpi pergunta ainda rindo um pouco.

–Não é ódio, talvez seja um pouquinho, mas é que eu não gosto daquele timinho de merda.

–Lembra que o timinho de merda ta só a duas posições abaixo da nossa.— Oscar fala.

–O jogo de amanhã vai ser difícil.— Falo.— Mas vocês conseguem ganhar, tenho certeza.— Saimos do elevador.– Bom jantar pra vocês.

–Pra vocês também.— Courtois fala.

Sento na mesa que meus pais estão e pego o cardápio.

(...)

Estávamos na área de lazer do hotel e eu estava jogando dama com Diego, ao redor da mesa estava Hazard, Terry e Ramires.

–Diego, eu peguei quase todas as suas peças, só sobraram duas damas e duas peças soltas. Vai desistir logo?

–Nunca, ainda posso ganhar.— Ele pega duas peças minhas de uma vez.

–Pega a dama dele.— Hazard grita e eu pego.

–Pô Diego, ta perdendo pra uma menina, que vexame.— Terry fala e eu rio.

–Que perdendo o que, eu sou muito bom na dama.— Ele fala movendo a peça dele para a linha que minha dama estava.

–Não é o que parece.— Pego a peça.— Agora você só tem uma dama e uma peça. Eu sou muito boa jogando dama desde o colégio.

–O que eu perdi?— Courtois fala se encostando na minha cadeira.

–Sai, você ta suado.— Falo rindo e o empurro de leve.— Só a minha vitória contra o Diego.

–O Diego sempre perde na dama, não é novidade.

–Eu ainda não perdi.

–Mas não vai ganhar.— Ramires fala rindo da cara do amigo.

–Ta desisto.

–Quem vai comigo?— Pergunto arrumando as peças no tabuleiro novamente.

–Eu.— Hazard fala e senta no lugar de Diego.— Só pra avisar que eu sou muito bom na dama. Muito bom mesmo.

–Melhor que eu impossível.

–Veremos.— Falo e Courtois puxa uma cadeira se sentando um pouco atrás de mim.— Cadê o resto das pessoas?

–Jogando futebol com uma bola horrivel, é muito leve e fica voando.

Hazard realmente jogava muito bem, o jogo estava muito difícil. Eu estava ganhando dele com uma peça a mais. Não sabia pra onde mexer até que Courtois aproximou o rosto do meu, passou um dos braços por cima do meu ombro para apontar a uma peça.

–Mexe essa aí pra aquele lado.— Ele fala baixo perto do meu ouvido.

Como é que respira mesmo? Mas que porcaria, eu não to conseguindo raciocinar com ele tão perto de mim. Por que ele tem que ser tão bonito?

–Afasta sua cabeça um pouco.— Falo mas minha voz sai baixa.

–Por que?— Ele falou baixo de novo.

Porque eu não consigo raciocinar com um cara bonito colado no meu rosto.

–Porque você ta perto demais e se meu pai te ver ele te coloca no banco.— Faço o que ele tinha mandado eu fazer com a peça e ele se afasta.

–Courtois, não perde uma chance de dar em cima dela, impressionante!— Terry fala e eu sinto meu rosto ficar vermelho.

–Que isso, eu só estava ajudando ela.

–Tão perto assim. Sei.— Hazard fala e move uma peça.

–Gente até vocês?— Pego a peça dele.— Já basta o meu pai enchendo o saco, agora vocês!

–Fala a verdade, vocês estão namorando? Ninguém vai contar pro Mourinho.— Diego fala.

–Não!!!— Praticamente grito.

–Não estamos namorando, Diego. Da onde você tira isso?

–Ai, a Mari é...— Ele tentava fazer uma voz mais grossa mas foi interrompido com Courtois tapando a boca dele com uma das mãos.

–Então quer dizer que você fala de mim?— Pergunto rindo e movendo uma peça.

–Não!!! Quer dizer, um pouco.

–Ele fala muito.— Hazard fala e recebe um tapa na cabeça.

–Não falo muito não.

–Calma, qual é o problema de você falar de mim? Se for coisa boa eu não me importo.

–Tão boas que você nem imagina.— Ramires fala e também recebe um tapa na cabeça fazendo todos rirem.

–Agora eu fiquei curiosa, o que ele fala de mim?— Terry ia falar alguma coisa mas meu pai chegou na hora.

–Todos pros quartos, já está tarde e acordamos cedo amanhã.

–Espera pai, eu to quase ganhando o Hazard.

–Depois vocês terminam isso. Amanhã quero todos acordados antes das nove. Tem que tomar café da manhã, tenho que dar a escalação e ir pro Old Trafford algum tempo antes de começar.

–Salvo pelo meu pai, mas eu ainda quero saber.— Falo para Courtois que estava um pouco vermelho.

Guardamos as peças e o tabuleiro, me despedi de todos e quando fui abraçar Courtois, quase, muito quase mesmo, nossos rostos se encontram. Ainda bem que eu consegui desviar a tempo de não acontecer nada e evitar que meu pai pense algo que como consequência possa o prejudicar.

–Boa noite.— Falo depois de um longo suspiro.

–Boa noite, até amanhã.

Mando uma mensagem para Juliana.

"Hoje eu descobri que o Courtois fala muito bem de mim, seu boy ia me contar o que ele fala, mas meu pai chegou bem na hora :("

"Vai ver o jogo?"

Ela respondeu bem rápido.

"Ainda bem que seu pai não sabe que vocês se pegam e que ele fala muito bem de você, se não eu tenho certeza que ele teria expulsado o Courtois do time"

"Vou ver da TV, se você aparecer manda um tchauzinho pra câmera, vou dormir agora, boa noite"

"Também já vou, boa noite"

(...)

Sábado, 18/05 – Old Trafford Stadium. 1:31 PM.

Chegamos no estádio que irá ocorrer o jogo, eu estava ansiosa, era o primeiro jogo que eu via desde que eu voltei, faz tempo que não sinto a emoção do jogo ao vivo. Fui logo para a minha cadeira. Sentei ao lado da cadeira do meu pai e minha mãe sentou ao lado de Junior que estava entre nós duas.

Os dois times já estavam no gramado se aquecendo, alguns torcedores -a maioria era do United- estavam lá gritando o nome de algumas pessoas.

–Lixo!— Junior gritou em português.

–Para com isso, se alguém te entender, você sabe muito bem o que acontece.— Minha mãe fala.

–Que o Helipa, é baile de favela.— Diego grita quando correu perto de mim.

Nossos lugares eram na cara do campo, tinha apenas algumas grades separando, mas elas eram da altura da cadeira.

–Que a Marconi, é baile de favela.— Grito de volta rindo.

–E a são Rafael, é baile de favela.— Junior gritou também.

–E os menor preparado pra...— Hazard gritou e eu ri muito. Ele falando português é muito engraçado.

Passamos praticamente uma hora ali. Precisava ir no banheiro, apesar de não conhecer o estádio, fui procurar sozinha porque a minha mãe e meu irmão não queriam sair dos lugares, dizendo eles, podiam roubar e aí teríamos que ficar em pé (sendo que os lugares eram marcados) mas eu sabia que aquilo era uma desculpa para não ter que passar por aquela multidão de pessoas.

Entrei pelo túnel que os jogadores saem e entram nos jogos, porque era o único lugar que dava pra passar, as outras passagens estavam cheias de pessoas e eu não me arriscaria passar por ali.

Estava muito focada procurando um banheiro e nem percebi que vinha uma pessoa na minha direção, essa pessoa também deveria estar distraida porque nós demos de encontro no meio do corredor. O impacto foi tão grande que eu quase caí, fechei os olhos esperando a minha queda, mas para a minha surpresa eu não estava no chão, a pessoa havia me segurado. E que pessoa hein. Me solto rapidamente quando percebo que estávamos próximos demais, dou um sorriso que é retribuido.

–Olha quem temos aqui! A filho do grande José Mourinho!