História A Flor da Folha e o Imperador do Fogo (EM REVISÃO) - - Adeus

Sasuke caminhava sem pressa pelos corredores do castelo. Havia deixado a pouco o escritório onde estava discutindo com o vice comandante de suas tropas e dirigia-se a seus aposentos. Estava absorto em alguns pensamentos, quando atentou-se a figura que estava diante dele escorada a uma das paredes daquele corredor. Instintivamente, seus passos perderam aos poucos a velocidade.

– Imagino que queira falar comigo. – seu tom de voz grave preencheu os ouvidos da esposa de seu irmão, que parecia esperar por ele ali onde estava.

– Eu pedi permissão ao Kabuto-san para que eu mesma pudesse notificá-lo, Sasuke. – ambos mantinham-se inexpressivos, embora o olhar de Konan denunciasse a Sasuke o que ela pretendia dizê-lo.

Mesmo após aquelas palavras, a esposa de Itachi permaneceu calada. Não era mesmo algo fácil de ser dito. Ainda que não possuísse expressões tão claras, foi possível para ela perceber o peso de suas palavras caírem sobre os ombros de seu cunhado. Ele já saba das notícias que ela portava e embora fosse algo esperado... Embora eles não fossem tão próximos quanto deveriam ..  Embora aquela não fosse um modelo ideal de família, era isso que eles ainda eram. Eles ainda eram pai e filho.

– Quanto tempo? – antecipou-se o mais novo dos Uchiha.

– Talvez dias ... ou horas..  – não pôde evitar que o desanimo surgisse em seu olhar, afinal, aquela também era a sua família.

 – Não há mais nada o que ser feito?

– Infelizmente não, Principe Sasuke...  – foi o que pôde dizer a Princesa da Chuva enquanto balançava negativamente a cabeça. –  Sinto muito...

– Itachi ...

– Não tenho certeza se chegará a tempo .. 

Seus olhos dourados observaram a figura de seu cunhado desviar-se de sua tragetória e guiar-se em um novo caminho. Mesmo com uma relação tão flajelada quanto a deles, no final, nada deveria ter mesmo importância naquele momento. Konan não teve dúvidas sobre o novo destino do caçula dos Uchiha. Ele estava voltando para seu pai.

“Itachi ...  chegue a tempo..”

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Estava escorado confortavelmente em almofadas extremamente macias. Sua face enrijecida, apesar de inexpressiva, dava indicios de que ele desejava logo chegar ao seu destino. Haviam sido longas horas dentro daquele transporte, o que era algo sempre muito desgastante. Não é que não estivesse acostumado, mas, daquela vez, havia algo a mais que o incomodava e a ansiedade que sentia em logo pisar em suas terras era algo extremamente atípico para um homem tão paciente quanto ele.

Itachi mantinha seus olhos ônix fixos na paisagem que observava pela pequena janela que tinha diante de si. Contudo, seus pensamentos distantes impediam que ele contemplasse a vista que, aparentemente, estava admirando.

Ele quase nunca pensava em seu passado, ou mesmo se perdia em memórias de quando era pequeno, entretanto, era exatamente isso que estava acontecendo naquele momento. As memórias estavam tão nídidas, como se estivessem ocorrendo ali mesmo... Eram tão reais que ele sentia-se submersos nelas..  Como se ele houvesse, realmente, voltado a ser criança..

“Balançava suas pernas incansavelmente, sobre a cadeira em que estava sentado. A baixa estatura impedia que ele pudesse ver a figura de seu pai do outro lado da mesa que tinha diante de si.  Inclinou-se um pouco para frente na tentativa de ver o que o Imperador fazia. Era sempre assim. Ele sempre estava com ele .

Itachi gostava de ficar ao lado de Fugaku, observando-o realizar suas tarefas. Mesmo com suas expressões sérias, ele sempre foi uma criança astuta e, como seu pai mesmo dizia, bastante evoluído para a idade que tinha.

As vezes seu pai, mesmo sempre tão ranzinza, explicava-lhe o que estava fazendo. Itachi era curioso demais e, sua nítida inquietude quando estavam ambos sozinhos, fazia com que recebesse a atenção dele.

– E o que você faz com essa carta agora, pai ? – sua voz infantil atingiu os ouvidos de Fugaku, que estava absorto em sua leitura.

– Leva-se para os decodificadores do Reino. Não se pode ler, enquanto não se traduz. – foi seco, como de costume.

– Mas isso não é um risco? Se é algo que só o Imperador por ter conhecimento, as pessoas que traduzem também não terão acesso a essas informações ? – suas palavras chamaram a atenção do Imperador, que direcionou suas ônix para a pequena figura que tinha diante de si – Não deveria o Senhor mesmo traduzi-las, pai?

Fugaku fechou os olhos, e inesperadamente, tocou a cabeça de seu primogênito.

– As vezes você não parece mesmo ter a idade que tem, Itachi ... – Fugaku bagunçou um pouco os cabelos negros do pequeno – Você ainda será muito importante para o Fogo ...

Itachi manteve-se inexpressivo, mas o brilho de suas ônix mudou. Seu pai raramente dizia ou fazia coisas como aquelas, mas, ainda que fosse uma única vez, para ele era o suficiente. ... No final das contas, ele queria ser tão forte como seu pai...” 

Balançou a cabeça, na tentativa de espantar aqueles pensamentos.

Mas a figura da face de Fugaku permaneceu em sua mente. Inesperadamente, uma lágrima correu sem controle pela face alva do primogênito do Fogo. No fundo, ele já sabia o que aquilo significava... Depois de todos aqueles anos ele realmente havia se tornado alguém importante para o Reino, como as palavras que seu pai mesmo havia dito... Mesmo depois de todo aquele tempo, seu desejo ainda não havia mudado. No final das contas,  ele ainda queria ser tão forte como ele era ...

“Espero chegar a tempo ... pai...”

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Abriu os olhos com certa dificuldade. Não eram apenas os poucos raios de sol que entravam pelas frestas da janela atingindo seus olhos que dificultavam a sua abertura. Era também o estranho peso que eles haviam adquirido ao longo daqueles incansáveis dias. Ele estava exausto demais e, até mesmo respirar, havia se transformado em algo quase insustentável.

Piscou com ainda mais dificuldade e, mesmo com sua visão meio turva, pôde encontrar a figura de alguém sentado a seu lado. Tentou piscar mais uma ou duas vezes, na tentativa de clarear aquela imagem embaçada que seus olhos cansados haviam capturado e, foi então que viu o rosto pálido e a expressão enrijecida de seu filho mais novo..

Com o olhar parado sobre ele, suas memórias fizeram o trabalho de levá-lo a um tempo diferente daquele .. Um tempo em que era ele a estar no lugar de Sasuke, observando a vida de sua amada esposa se esvair diante de seus próprios olhos, sem que o mesmo, pudesse fazer nada.

Um sorriso fraco surgiu em seus lábios secos ao pensar que a vida era mesmo algo interessante. Depois de todos os anos vividos, depois de tudo que aconteceu, era Sasuke que estava ao lado dele em seu leito de morte. O filho mais distante. .. O filho abandonado .. Como o destino era realmente incrível ..  Será que aquela seria a última oportunidade dele de se redimir de suas incansáveis falhas com seu filho caçula ? ...  Seria a chance de ser perdoado pela promessa que ele nunca conseguiu cumprir ? ...

“ O dia havia amanhecido chuvoso. Era uma chuva fina, porém incessante. De onde estava, Fugaku observava as minúsculas gotículas de água tocarem os vidros da janela e se desfazerem em gotículas ainda menores ao tocarem o peitoril da mesma, no qual estava com um de seus braços apoiados. De repente, ele  pensou que elas pareciam lágrimas que corriam pela face de uma pessoa e que perdiam forças pela caminhada até se desfazerem completamente.

Na visão do Imperador, era como se os céus estivessem chorando. Uma chuva de lágrimas como a que caía dentro de seu próprio coração. Ele estava chorando por dentro. Ele chorava por ela. Ele chorava pela impotência que sentia. Chorava pela dor que não parecia caber dentro de seu próprio coração e que, a qualquer momento, transbordaria como lágrimas através de seus olhos. Chorava por vê-la partir sem ter forças para mudar aquele destino trágico. Chorava por não ter conseguido proteger a única mulher que conseguiu entrar em seu coração. Chorava por seus filhos que ficariam orfãos. Ele chorava e sentia-se inútil por não consegur fazer nada além de chorar.

Ele era o Imperador. O mais poderoso e impiedoso. Governara por anos o Reino do Fogo com mãos de ferro. Era temido por seu nome e por sua personalidade e havia construído um Império sólido, sendo temido pelos inimigos e respeitado pelos companheiros. Mas naquele momento, nada daquilo tinha sentido. Do que adiantava-lhe tanto poder se não era capaz de salvar a mulher que amava. Estava sentado, vendo-a morrer. Ela estava sendo coberta pela sombra da morte e ele era apenas um espectador.

Um sussurro despertou-o de seus devaneios. Ainda que falha, a doce voz de sua esposa chamou por ele, que, prontamente dirigiu suas ônix para onde ela se encontrava. Apesar de enfraquecida pela doença, ela continuava linda como sempre fora. Seus cabelos longos e escuros contrastavam com sua pele pálida e seus olhos gentis. Fugaku observou quando ela, com dificuldade, estendeu uma das mãos na direção dele, tocando levemente sua mão esquerda que estava apoiada sobre o braço da poltrona em que estava.

– Você parece tão triste, querido .. . 

– O que esta dizendo, Mikoto ... – sua voz não parecia tão imponente quanto sempre fora -  Uchihas não mostram seus sentimentos a ninguém..

– Você tem razão ..  – sua voz gentil preencheu-lhe fracamente os ouvidos enquanto  ainda seguravam as mãos um do outro. – No que será que eu estava pensando quando disse isso ..

– Você sempre se preocupa demais ...  – sua voz falhou.

– Deve ser porque amo demais ... – suspirou –  Esses somos nós, Uchihas ... E eu, ao me tornar uma, também não poderia ser diferente.. – sua respiração arrastada  havia se tornado o maior obstáculo contra suas palavras –  Amo você e nossos dois filhos . . Amo a vida que vivi ao seu lado .. A família que construímos.. – pausou  – ... Então, deve ser por isso que me preocupo demais...

– Mikoto ..

– Fugaku .. .  Me desculpe por não poder continuar a seu lado .. . Por não poder terminar de criar nossos filhos .. . – seus olhos entreabertos preencheram-se pelo brilho das lágrimas que os marejaram. – Não será facil para você a partir de agora mas ... eu confio em você para terminar sozinho o que começamos juntos..

– Não fale mais. ..  Mikoto .. .– sua voz falhou quando chamou por ela – Você não deve se esforçar. .

– Sasuke. . – chamou fracamente pelo nome de seu filho mais novo – Por favor ..  Cuide de Sasuke. .. Ele é o mais próximo a mim .. – tentou recuperar o fôlego para continuar – Itachi é mais velho, já entende melhor as coisas e sempre foi mais próximo a você. . .  – sua mente recriou a imagem de seus dois filhos amados – Você deve ser compreensivo com eles. . . são apenas crianças e deve crescer unidos como irmãos que são.  ..

– Mikoto. .

– Me prometa Fugaku ..

A doce mulher apenas observou seu marido assentir às suas palavras. Ela sentiu então, que era hora de se despedir...

– Parece que esse é .. . o verdadeiro adeus... – comprimiu os olhos levemente, ainda segurando a mão de seu marido.

– Mikoto ..  Você foi a única mulher que eu amei e me preocupei .. Mesmo assim .. – uma lágrima finalmente correu por sua face – Eu não pude fazer nada por você.. .

– É a primeira vez . ..  – suas ônix já sem brilho observaram aquela pequena gotícula correr pela face alva de seu esposo – .. que te vejo chorar, Fugaku .. 

– Eu .. . não pude te proteger Mikoto! – as lágrimas correram sem controle por sua face.

– Você veio por mim ..  Sempre esteve aqui por mim . .. – um sorriso fraco surgiu em seus lábios.. – Isso é o bastante. – apertou com o restante de suas forças a mão de seu marido.

– Mikoto.. . – chamou mais uma vez por seu nome, antes de tocar-lhe pela última vez os lábios  pálidos.”

Foi saindo lentamente daquelas memórias em que estava a pouco submerso. Imaginou que realmente já devia estar se aproximando do fim, uma vez que toda a sua vida, ou as partes mais importantes dela estavam passando a todo instante diante de seus olhos cansados. Voltou a olhar para seu caçula que permanecia a seu lado.

Pensou nas palavras de Mikoto. . No que havia prometido a ela. Ele, um homem cheio de conquistas, tão conhecido por seus acertos, tinha falhado no único ponto em que não poderia. Sasuke era o que era por culpa dele. Ele tinha certeza disso.  Sua esposa já sabia, e ainda sim, ela confiou nele. Ela sabia que ele falharia mas, para ir em paz, o fez prometer algo que ele fora incapaz de cumprir. Ele falhou em sua promessa e desrespeitou as últimas palavras da mulher que amava.

Sasuke era a personificação de sua falha, de seu erro mais grave. Ele havia se tornado tudo aquilo que Mikoto jamais desejou para ele . Não é que ele não tivesse um coração, como muitos gostavam de dizer ... Ele apenas o tinha imerso as sombras que habitavam seu interior. 

De repente, a lembrança de Mikoto brincando com Sasuke nos jardins imperiais veio-lhe a mente. Ela sorria e ele também ...  Aliás, se Sasuke havia herdado algo de sua mãe, era o sorriso único que ela tinha. Mais do que isso. Sasuke era tão parecido com ela que isso o incomodava. Olhar para ele era doloroso, pois trazia memórias dela que ele não desejava ter. Ele o lembrava da época mais feliz que vivera e, ao mesmo tempo, dos momentos mais tristes. Talvez estivesse aí a incapacidade de Fugaku cumprir com suas palavras a Mikoto.

Sasuke estava chorando. Ele esteve sempre chorando até que um dia, aquelas lágrimas que marejavam seus olhos pararam de correr por sua face e transformaram-se em mágoa. Era isso que Sasuke sentia por ele, Fugaku não tinha dúvidas. Mágoa pelo abandono, pela incompreensão dele  .. . Mágoa pela ausência dele como pai ..  Mágoa do amor que ele nunca soube lhe dar. . . Talvez, mágoa por ele ter deixado sua amada mãe morrer.

Tudo aquilo havia transformado aquela criança feliz em um homem impiedoso e incapaz de criar laços com outras pessoas. Alguém exatamente como ele sempre fora em sua vida. O mais engraçado para ele é que, assim como acontecera com si mesmo, fora um Uzumaki o primeiro a entendê-lo e dá-lo a chance de entender o significado da amizade. Havia sido assim com Minato ..  E era assim com seu filho e o primogênito dele. Mesmo assim, as trevas nunca deixaram seu coração. Fugaku foi resgatado por Minato, mas seu filho insistia em permanecer em meio as sombras ..

De repente, um sorriso fraco surgiu em seus lábios como uma esperança no final de uma longa trilha... Mikoto havia sido a luz mais forte em sua vida... Imaginou se para Sasuke, a luz estivesse nos olhos verdes da filha de seu melhor amigo. Talvez, o destino tivesse unido os dois por algum motivo. Fugaku não era um homem de crenças mas, só desta vez, ele quis que fosse uma exceção. Desejou acreditar que as mãos dela poderiam ser aquelas a retirar das sombras o coração perdido de seu filho..

Como daquela vez, Minato parecia ter razão ... Talvez, seus filhos pudesse ser mesmo aqueles que fariam por seu caçula aquilo que ele mesmo jamais conseguiu fazer...

“Estava parado em frente aos portões que davam entrada aos jardins imperiais. Aguardava a chegada de Minato para que pudessem conversar um pouco. Não entendia o porquê do amigo sempre preferir ter suas conversas com ele dentro daqueles jardins. Ele dizia-lhe que era pelo clima leve e pela boa brisa que sempre encontrava ali . Fugaku não se importava, apesar de achar tudo aquilo um grande capricho do Imperador da Folha.

– Desculpe o atraso, Fugaku .. Ainda consigo me perder naqueles corredores ... – disse Minato, com um de seus largos sorrisos, ao se aproximar do Uchiha.

– Tsc .. .  E ainda se diz Imperador.. .  – suas costumeiras expressões pouco significativas destoavam do clima tranquilo que sempre existia quando ambos se reuiniam.

Minato apenas riu e os dois passaram a caminhar através das trilhas que conduziam ao interior daqueles jardins. Como não se viam a muito tempo, haviam muitos assuntos para serem conversados. Fazia apenas alguns meses que Mikoto havia falecido e, aquilo havia ocorrido na mesma época que a Folha passava por problemas civís, quando alguns atentados colocaram todo o Reino alerta. Por tal movito, Minato, nem mesmo Kushina puderam vir antes, quando tudo aquilo aconteceu.

Ele sabia que ambos sentiam-se culpados. Tanto Minato, com quem tinha uma amizade sólida de muitos anos, como também Kushina, que era uma grande amiga de sua esposa. Aquilo era tão facil de perceber, já que Minato e Kushina sempre foram tão claros em suas expressões sobre como estavam verdadeiramente se sentindo.

– Primeiramente, acho que devo-lhe minhas sinceras desculpas, Fugaku .. – a voz calma de Minato tirou-lhe de seus pensamentos.

– Por que está se desculpando, Minato ?  - antecipou-se – Se é por Mikoto, não perca seu tempo ...  Não há o que se desculpar.

– Pode ser que esteja certo ..  Entretanto, não poderia deixar de fazê-lo , afinal, era meu dever como seu amigo. – diferente dele, Minato era totalmente transparente em suas expressões. Estava visivelmente entristecido.  Não pôde culpa-lo. Apesar de não demonstrar, ele sentia-se arrasado.

– Não tenho dúvidas de que viria, se pudesse .. – falou aquelas palavras para acalmar o espirito daquele homem. Não era muito bom com as palavras e, normalmente, jamais diria algo como aquilo. Mas Minato era seu único amigo e sentiu-se no dever de tranquiliza-lo.

– Talvez eu esteja sendo precipitado, ou mesmo falando sobre coisas das quais não deseje falar ... Entretanto, tomo essa liberdade pelos anos de amizade que temos. . – foi cauteloso, afinal o assunto era difícil – .. Como esta lidando com tudo isso ?

– Só há uma maneira de lidar com isso, Minato. Estou seguindo adiante pelo Reino. Antes de tudo, eu ainda sou um Imperador. – foi comedido em suas respostas. Ele ainda era um Uchiha, no final das contas.

– Então, deixe-me perguntar algo mais.  – seu tom de voz permaneceu o mesmo.

– Quer saber sobre Itachi e Sasuke, não é mesmo ? – antecipou-se novamente, o Imperador do Fogo. – Deixe-me ser sincero então. Apesar de grande Imperador, jamais tive o mesmo sucesso como pai. Ainda sim, Itachi sempre permaneceu ao meu lado. Eu nunca entendi, porém era facíl lidar com ele, já que, apesar de ser uma criança, sempre teve uma sensibilidade impressionante para lidar com situações e pessoas adversas. Entretanto ..

– Com Sasuke sempre foi diferente, não é mesmo ? ... – completou as palavras do Uchiha.

– Ele sempre foi ligado demais a minha esposa. Sua morte foi dificil para todos nós, mas parece ter sido ainda mais difícil para ele. . . Sasuke sempre foi inocente demais... Uma criança sem qualquer maldade ... Ele é exatamente igual a mãe dele ... Talvez esteja aí a minha dificuldade de lidar com ele...

– Talvez o contato dele com Naruto e Sakura, possa ser algo bom para ele. .  – disse Minato, pensando em seus dois filhos, que estavam no Fogo junto a ele e Kushina.

– Pode ser verdade isso.... Entretanto, não acredito que seria tão simples assim . . – suas ônix encontraram-se com as orbes azuladas do Imperador da Folha – Sasuke é meu filho. Embora seja tão igual a Mikoto, também carrega características minhas ... Mesmo tendo passado tão pouco tempo, sinto que já não sou mais capaz de alcança-lo. Minato .. . Eu o abandonei, ainda que inconscientemente, no momento em que mais precisava e, mesmo agora, eu vejo que suas lágrimas secaram  .. .

– Fugaku, o que quer dizer com tudo isso?

– Deixe-me alerta-lhe sobre nós, Uchihas. .  – sua expressão permaneceu séria – .. Quando as lágrimas de um Uchiha secam, significa que seu coração foi imerso nas sombras de seus sentimentos mais obscuros. . . Foi assim com Madara quando mataram seus irmãos em guerra... Foi assim comigo quando perdi meus pais diante de meus próprios olhos ... É um ciclo eterno ... Estamos todos destinados a isso. É a maldição deste clã..

– Não seja pessimista, Fugaku ... Veja como você mesmo está agora. ..  Acredite em Sasuke e no futuro que ele pode construír . ..

– A únca coisa em que sou capaz de acreditar agora, é no meu fracasso como pai e em como eu quebrei minha promessa com Mikoto .. . Sasuke, mesmo agora, não pode mais ouvir meu chamado, ainda que eu  grite por seu nome..”

Mais uma vez sua mente trouxe-lhe lembranças de seu passado. Era mais uma vez as memórias ligadas a Sasuke e seu fracasso como pai que lhe atormentavam em seus últimos momentos. Pensou se, ele o chamasse, sua voz seria capaz, mesmo agora depois de todos aqueles anos, de alcançar-lhe .

– Sasuke ... Pode me ouvir ? – a voz fraca do Imperador foi ouvida pela primeira vez dentro daquelas últimas horas em que estavam ali.

– Hnn . – assentiu o Principe do Fogo.

– Mesmo agora. ..  Minha voz pode alcança-lo, meu filho ?

– Não se esforce ..  – sua voz grave preencheu os ouvidos de seu pai – Não deve falar ..

– Sasuke. .. eu nunca fui um bom pai para você. ..– sua voz estava cansada demais, entretanto, ele tinha que dizer aquilo – Sua mãe me fez prometer que eu cuidaria de você.. . Que eu iria compreendê-lo e seria um pai presente.. .. Veja só, como eu falhei, meu filho .. . Eu não fui nada mais que alguém que lhe dera o sobrenome que sempre carregou .. . Eu nunca pude ser o pai que você desejou ... Eu não pude entender que você também estava sofrendo ..

– Você não deve. ..  – seus olhos marejados impediram que completasse suas palavras.

– Eu gostaria de dizer-lhe tantas coisas mais, meu filho ... Me desculpar pelas minhas incorrigíveis falhas... Mas parece que isso não será mais possível ...  – suspirou profundamente antes de continuar – .. Sasuke... Eu tenho muito orgulho de quem você se tornou. Quaisquer que sejam suas escolhas daqui para frente, eu sei que será um Imperador ainda melhor do que eu .... E espero que se torne um pai muito melhor do que eu fui..   – Fugaku fechou seus olhos tranquilamente, enquanto, pela primeira vez, esboçou algo como um sorriso para seu filho. –  Itachi . .. parece que não vou mesmo conseguir ver meu primogênito, antes de partir ... – suspirou uma última vez – .. . Espero que, no final, eu possa finalmente me encontrar com sua mãe ...

– Pai .. . – a voz de Sasuke falhou e, inesperadamente, uma lágrima correu por sua face alva, quando percebeu que não seria respondido novamente.

“Este é o verdadeiro adeus...”