Os perfeitos olhos redondos cores de mel dela encontraram-se com os dele, escondidos atrás das lentes do óculos de grau. Ele deu um meio sorriso e assentiu com a cabeça, como que permitindo-a sentar ali perto e acabar com a sua solidão. A barba dele, por fazer, e os cabelos meio desgrenhados, somados à sua altura davam a ele um ar másculo. Era tão alto que o banco no qual sentava-se parecia meio pequeno e ele parecia meio curvado sobre o balcão. Talvez já estivesse meio tonto da bebida.
- Aqui está. – O garçom aproximou-se enquanto ela acomodava-se sob o olhar atento do homem a dois bancos dela.
- Obrigado. – Ela assentiu – Mas, acho que fico com o chocolate quente mesmo.
- Claro. Cremoso?
- Não muito. Bem quente, por favor.
O rapaz assentiu e virou-se.
- Frio?
Era o homem. Virou-se para conseguir encara-lo melhor. Ele sorria. Assim, sorrindo, nem parecia sombrio. Ela também sorriu em resposta. E, ele podia jurar que era um dos sorrisos mais bonitos que ele já vira na vida.
- Bastante frio. – Ela disse, em resposta.
- Tenho que concordar. – Ele disse e ela deu uma risadinha – Mas, se me permite fazer uma observação... – Ele levantou uma das sobrancelhas e ela assentiu – A sua roupa não está ajudando muito.
Ela gargalhou.
- Você tem razão. Olhe só! – Aproximou seu braço direito dele – Estou arrepiada. – Os dois riram – Foi, definitivamente, uma escolha ruim.
- Se não se incomodar, pode usar o meu moletom.
Ele estendeu para ela o moletom preto que estava enrolado no banco ao seu lado.
- Não estou com tanto frio assim. – Ele explicou.
Ela corou levemente, mas estendeu a mão e aceitou. O moletom parecia grande demais para ela, o que era bom, porque realmente sentia os ossos congelando um a um. Agradeceu com um sorriso e ele respondeu com outro. Ela não podia deixar de observar que a peça estava cheirosa e exalava um hipnotizante perfume amadeirado, mas tentou não se concentrar muito nisso.
- Sou Henrique. – Apresentou-se.
- Luíza.
O rosto dele iluminou-se em um sorriso lindo.
- Nome bonito.
- Obrigada. Henrique também não é de todo mal. – Luíza brincou.
- Ah, qual é? – Ele gargalhou – É bonito, vai. Henrique. É bem masculino.
- É bem grande, na verdade. Cabe no RG? – Ela também ria – Mas, tudo bem, existem piores.
- Ricelly. – Ele completou em tom de brincadeira – O que você acha?
- O que é isso? Esse nome não existe. – Luíza deu de ombros e em resposta ele deu uma risada alta, jogando a cabeça para trás.
- Agora você está me ofendendo de verdade.
- Ah, meu Deus! – Ela riu com as mãos na boca – Seu pai se chama Ricelly? Tio? Avô? Alguém? Me perdoe. – Disse, rindo – Não tive a intenção. Juro.
Ele ainda ria descompassadamente.
- Na verdade, é bem simpático. – Luíza completou, divertida – Deve ter um significado bonito. Seja quem for esse Ricelly, o importante é que ele se sinta bem com o nome e não ligue para as pessoas maldosas.
- Obrigado. – Ele disse puxando um pouco de ar – Bom, eu sou Ricelly.
- E não era Henrique?
- Ricelly Henrique.
- Você jura? – Luíza perguntou rindo. Ele concordou com a cabeça – Me desculpa, mesmo. Seus pais devem ser bem criativos.
- Eles deviam me odiar. – Ele admitiu a fazendo rir – Mas, tudo bem. Vou colocar no meu filho o nome de Batman, então morrerei vingado.
- Convenhamos que Batman é um nome bem mais legal que Ricelly. – Ela disse como se fosse óbvio.
Henrique faz cara de ofendido e ela volta a gargalhar.
- Foi mal! – Disse, entre risos – Mas, é verdade. Se quiser arrancar seu moletom de mim, é a sua chance. Eu não mereço sua gentileza. – Estendeu o braço direito para ele.
- Descobrirei um podre seu e então você estará ferrada. – Ele riu dando um gole na sua bebida, dando uma piscadela divertida.
O garçom chega com o chocolate quente de Luíza e ela observa que está um pouco quente demais para ser ingerido, mas pelo cheiro, parecia delicioso. Henrique parecia beber algo um pouco mais forte. Talvez whisky.
- São quase três da manhã, Luíza. – Henrique voltou a chamar sua atenção – Chocolate quente é um pouco fraquinho para o horário, não?
- Levando-se em conta que hoje não é sexta, nem sábado... – Ela respondeu levantando uma das sobrancelhas – Não é fraquinho, não.
Henrique riu.
- Se você diz... – Ele deu de ombros e ela também riu.
- Na verdade, sou fraca para álcool. – Luíza admitiu – Não costumo beber muito.
Ele pôs a mão no coração e fingiu espanto.
- E você é feliz?
Ela gargalhou.
- Henrique! – O repreendeu, rindo.
Henrique não pôde deixar de observar como o seu nome pareceu especialmente bonito na voz dela, principalmente por ter sido pronunciado em meio a uma risada tão espontânea. O sorriso frouxo e aberto dela era incrível.
- Brincadeira. – Ele se rendeu – Você está certa. Não se envolva com o álcool.
Luíza assentiu e deu um gole na sua bebida. Não muito doce, não muito cremoso. No ponto perfeito.
- Isso aqui tá bem bom, viu? – Ela disse olhando para o rapaz do bar, que agradeceu com um sorriso – Quer? – Ofereceu para Henrique, educadamente.
- Vou dispensar desta vez. – Disse com um meio sorriso – Mas, aqui... Me diz... Nunca vi alguém sair da toca essa hora para beber chocolate não, viu?!
Ela riu dando outro gole no chocolate.
- Estava muito frio lá em cima e eu estou sem nenhum sono. Achei que seria bom algo quente. – Respondeu – Mas, e você? Está na rua da amargura ou o que?
- Qual é? – Ele gargalhou – Eu tenho cara de estar na rua da amargura?
- Não. – Ela também riu em defesa – Não foi o que eu quis dizer... Só quis ressaltar o fato de você estar sozinho há essa hora bebendo, em plena quarta feira.
- Na verdade, estou aqui em São Paulo a trabalho. – Disse, mas desta vez não mais rindo – Só vou ter compromissos no final da tarde de amanhã, então, me permiti beber um pouquinho hoje.
- Ah, sim. – Ela concordou – Está sozinho?
Por um momento, se sentiu corar. Que droga de pergunta foi essa??? “Está sozinho?”. Luíza, não seja tão atirada assim!!!! Henrique percebeu as suas bochechas levemente ruborizando e deu uma risada divertida.
- Não. – Respondeu – Estou com toda a minha equipe.
Luíza nem olhou para ele, mas assentiu com a cabeça. Que pergunta!!!
- Você não deve estar me reconhecendo... – Ele disse.
Luíza ficou intrigada e virou seus olhos para ele, estranhando. Bom, não que o seu rosto fosse de todo estranho, quer dizer, parecia familiar. Mas, podia jurar que jamais o tinha visto antes.
- Bom... – Ela deu uma meia risada.
Henrique gargalhou, demonstrando que não era um problema.
- Henrique e Juliano. Dupla sertaneja. – Esclareceu, mas ela continuava o encarando – Bom, eu sou o Henrique. Henrique e Juliano. – Repetiu – Henrique. Eu.
- Ah! Claro! – Ela disse, como se uma luzinha finalmente brilhasse e ela o reconhecesse – Eu sei. Já devo ter visto por algum lugar.
Henrique já estava tão acostumado com o assédio e o fato de, em todos os lugares que passa, ter sua presença notada e exaltada que fora até um pouco estranha a sensação de Luíza não saber quem ele era. Ou, até saber, mas não se importar muito.
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