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História A Força do Amor - O Encontro


Escrita por: Indis_Imladris

Notas do Autor


Não tenho a pretensão de contar o romance de forma tão magnífica quanto o mestre Tolkien. Não se trata, também, de uma história perfeita. Definitivamente, não! Existem falhas, mas, à minha maneira, desejo que vocês conheçam o amor verdadeiro, que pode surgir de um olhar e ser capaz de suportar tudo e superar tudo e, apesar de ser tão soberano, também pode ser conflitante e suscetível a falhas. Não estamos falando do amor perfeito e sim verdadeiro. Eu acredito nesse amor e é sobre isso que vou contar.
Espero que gostem. É a minha primeira história e a escrevi há alguns anos atrás. Contudo, só agora criei coragem para compartilhá-la com vocês.

Algumas dicas sobre o contexto da estória:

♥ Personagens e universo original do Cânone das obras de J. R. R. Tolkien e seus respectivos personagens não me pertencem. Somente são de minha autoria os personagens e situações que não serão encontradas nas obras de Tolkien;
♥ A história foi criada unicamente para o entretenimento, sem interesse comercial.
♥ Farei uma adaptação à criação de Tolkien em alguns momentos para melhor adequação da estória.
♥ A estória será ambientada na Terra Média dando continuidade a vida de algumas personagens cinco anos após a derrota de Sauron, quando Lady Galadriel, Lorde Elrond e Gandalf já partiram para as terras imortais, compreendendo o intervalo de 100 anos até a derradeira partida de Legolas da Terra Média.
♥ Alguns capítulos terão narrativas com conteúdo voltado para o público adulto.
♥ Capa feita por João Barbosa Mello Sant Anna.
♥ Capítulos a cada semana.
♥ Não ao plágio!
♥ Não sou movida a comentários, mas gostaria muito de saber a opinião dos meus leitores.

Apertem o cinto. A diversão vai começar...

Capítulo 1 - O Encontro


Era uma manhã de verão, com um céu tão azul quanto os olhos de quem o observava, displicentemente, montado em seu cavalo. Sentia o frescor das primeiras horas do dia e a beleza de tudo que o cercava. Os efeitos de luz que os raios do sol faziam ao ultrapassar os galhos das árvores, uma bruma leve que cobria as raízes dos grandes carvalhos, insistindo em resistir um pouco mais, o perfume suave das flores silvestres, o som da cantoria dos pássaros, a correria ligeira das águas do rio.

 

Sua vida era percorrer essa floresta. E agora que ela voltou a se chamar Eryn Lasgalen, tudo lhe pareceu, realmente, mais verde e vivo.

       

A vida de um governante era deveras complicada. Nunca viveria uma vida enfadonha, como seu pai vivia sendo o rei de Eryn Lasgalen, tendo que se ocupar com responsabilidades e problemas administrativos do reino. Passar a maior parte dos dias trancado em um gabinete, por mais espaçoso e confortável que fosse, analisando mapas, traçando planos e estratégias. Também não se adaptaria a estar disponível aos seus conselheiros e súditos, tendo que deliberar sobre as questões do reino sentado em um imponente trono de carvalho, usando sobre a cabeça uma coroa de folhas.

       

Seu sangue corria mesmo quando se via livre em contato com a natureza, ou envolvido em uma batalha. Apesar de ser o príncipe, estava mais que satisfeito por se ocupar com a liderança das tropas, que, por si só, era uma missão desgastante.

        

- Cinco anos já se passaram, desde a batalha dos portões de Mordor. Livrar a Terra Média das garras de Sauron foi um grande feito... Um sorriso maroto surgiu em sua face ao relembrar grandes aventuras... – Realmente, foram momentos memoráveis. Agora vivo às voltas com os perigos que cercam o reino de meu pai... como sempre!... E suspirou, aceitando de bom grado sua missão de proteger o reino de Eryn Lasgalen.

        

Tomado por esses pensamentos, Legolas seguia distraído, quando algo alertou seus sentidos élficos, forçando-o a desmontar. Olhava por toda parte e não conseguia ver o que poderia lhe causar essa sensação de perigo que o cercava.

        

- Apareça!... Vamos! Não adianta se esconder. Sinto sua presença.

        

Inesperadamente, Legolas sentiu uma picada no pescoço e logo levou a mão ao local atingido, puxando um espinho da pele. Em instantes, ele sentiu tonteira. Seu corpo pesava, tornando lentos seus movimentos. Ele tentou raciocinar sobre o que se passava e resistir, mas sua mente falhava. Legolas sacudiu a cabeça numa tentativa vã de se livrar do torpor.

        

Um silêncio profundo dominou a floresta. Nada pôde ser ouvido, nem o canto dos pássaros, ou o rio próximo.

        

Em meio ao silêncio, Legolas reconheceu o som familiar de algo que foi lançado ao vento e duas flechas o atingiram, uma após outra. Seu corpo reagiu com um solavanco a cada golpe violento que recebia, até cair de joelhos perdendo os sentidos rapidamente e não foi possível qualquer reação.

 

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Legolas despertou atordoado, tentando focar a visão. Estava em um lugar escuro e úmido, com um forte cheiro de putrefação. Ele sentiu que as pernas estavam amarradas, presas ao chão e seus braços abertos, suspensos por uma corda. A cabeça latejava, absurdamente e as flechas dilaceravam a sua carne, fazendo-o respirar, com muita dificuldade. A dor era profunda e a posição que se encontrava piorava seu sofrimento.

        

Sem esperar, um vento quente soprou seguido de uma luz avermelhada, que iluminou ao redor, revelando o pouco do que sobrara de corpos humanos, acorrentados e devorados há pouco tempo por alguma fera. 

 

Uma voz ameaçadora, dura como pedra, dominou o lugar e um arrepio percorreu o dorso do elfo ao reconhecer pura maldade e malícia contidas ali.

      

- Espero que esteja bem acomodado em seus aposentos, majestade!

 

Legolas tentou virar-se na direção da voz e ver a quem pertencia, mas seu corpo doía demais. As cordas estavam muito apertadas e ele já sentia a dormência nas mãos causada pela falta de circulação do sangue.

        

- Ainda não é chegada a hora de me apresentar... Vossa majestade já recebeu o suficiente para sobreviver a minha calorosa recepção. Portanto, não gaste suas energias.

        

- O que... você quer?... Por que... fui atacado?... Perguntou Legolas ofegante, tentando buscar o ar e suportar a dor que sentia ao fazê-lo.

        

- Meu caro! Você será meu portador e levará de uma mensagem muito importante para mim.

        

A resposta do homem misterioso não fez o menor sentido para Legolas... – Se serei seu... portador, então por que... por que tudo isso?

        

Um riso sarcástico ecoou... – Porque você é a mensagem que quero enviar... Mas, não se preocupe! Viverá o suficiente para entregá-la. Quero apenas tornar mais interessante nosso encontro. Sendo você um elfo tão forte poderá aguentar um pouco mais.

         

A cabeça de Legolas foi lançada contra a parede de pedra e o sangue lavou seu rosto, fazendo com que quase desmaiasse novamente. Ainda foi açoitado até suas roupas tornarem-se farrapos. Quando se sentiu no limite das suas forças, as cordas foram soltas e ele caiu no chão. Não se moveu esperando abrandar a dor lancinante das suas feridas.

 

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Legolas ficou confinado naquele buraco sendo torturado por dias. Dia após dia, as correias dos chicotes rasgavam sua pele, golpeando ainda mais o que já estava ferido. Ele passou cativo, quase sem água e sem comida, isolado no mais completo negrume escutando o silêncio aterrador gritando em seus ouvidos.

        

Aos poucos, a solidão e a escuridão lhe tiravam a realidade das coisas, falseavam os contornos, engolindo tudo aquilo que estava do lado de fora. Somente eram quebradas quando seu algoz o sustentava pelas cordas para mais uma seção de torturas.

        

Legolas ouvia gritos de pavor e sofrimento de homens e mulheres em alguns momentos. Contudo, já não sabia se eram reais ou sua mente lhe tumultuando os pensamentos. Sua carne, tão severamente castigada, queimava, incessantemente, e a dor causada pela infecção das flechas enterradas em seu corpo, o levava a beira da loucura.

        

A resistência de um homem elfo era deveras superior a de um homem mortal, mas suas forças esvaiam-se rapidamente. Poucas foram às vezes em que pôde beber água. A sede ressecava sua garganta e a fome era um contínuo tormento. O fedor de carne podre o sufocava e imaginou-se morrer sem saber quem o torturava e os reais motivos para tudo aquilo.

        

Legolas morreria sem que ninguém soubesse.

        

Quando achou que chegara o seu fim e não resistiria a mais torturas, além dos açoites, teve o abdômen talhado pela lâmina de uma espada e quando já não tinha forças para mais nada sentiu a lâmina de uma espada cortar seu abdômen, talhando a carne num corte fundo o suficiente para ferir sem ser mortal.

        

- Adeus, príncipe! Foi um prazer tê-lo comigo como meu hóspede.

       

As cordas que o sustentavam foram cortadas e ele caiu no chão, sem forças até para respirar.

        

Ao recobrar a consciência, ele viu que estava novamente na floresta, mas sua condição era lastimável. Fraco, ergueu-se, com muita dificuldade e forçou-se a caminhar alguns passos, aos tropeços, tentando fixar a visão turva em alguma coisa, mas, somente conseguia enxergar vultos e sombras. Legolas acabou tropeçando nas raízes altas de uma árvore e não conseguiu se levantar mais.

 

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Kyara atravessava mais um dos muitos bosques graciosos que já havia percorrido e este era formado por magníficas árvores de carvalho além de outras árvores carregadas com pequenas flores brancas, cujo perfume impregnava o ar. Embora o dia estivesse ensolarado, o frescor daquele bosque chegava a ser frio. Vez ou outra, passava por clareiras forradas por uma relva muito verde.

        

Ela estava encantada com a beleza daquela terra e a energia que a cercava. Já havia se deparado com vales inesperados, estreitos e com paredes íngremes, que se abriam de repente diante de seus pés. Alguns deles, quando descia os olhos, lhe presenteavam com a imensidão do céu e mais abaixo tapetes de árvores e água corrente ao fundo. Haviam gargantas que quase podia transpor com um salto, mas muito fundas e com cachoeiras em seu interior. Alguns pântanos verdes e agradáveis de olhar, com flores altas e coloridas, muitas borboletas e passarinhos.

        

A terra que se estendia das planícies até as montanhas era muito mais vasta do que se podia imaginar e as florestas que se formavam ao longe se fundiam com o azul do céu no horizonte. Ao se aproximar de outro riacho, Kyara desmontou e ficou a beira descansando, quando foi surpreendida por alguns veados – Uma fêmea e alguns filhotes tão brancos quanto um deles era preto. Reluziam nas sombras como fantasmas. Ao menor movimento, desapareceram floresta adentro.

        

Olhando na direção que os veados seguiram, Kyara notou sangue em um dos arbustos e logo se revelou um rastro recente de alguém muito ferido, a julgar pelos vestígios deixados pelo caminho. Ela resolveu segui-lo até encontrar um corpo caído entre as árvores. Por certo que havia sido torturado e ela o reconheceu de imediato, apesar do rosto todo sujo e ensanguentado.

        

Quando viu aquele rosto pela primeira vez tinha na face o mistério e um olhar azul carregado de sabedoria e grande coragem. Sua figura imponente e etérea reluzia como diamante exposto à luz. Um homem extraordinário, de uma raça que não conhecia, de pele alva e orelhas pontudas. Traços finos, porém, marcantes, completamente diferente e belo aos seus olhos. Mais que qualquer outro que já tenha visto em suas andanças.   

        

Legolas não sabia quanto tempo ficou caído ali quando sentiu que alguém o levantava e o arrastava. Uma brisa leve batia no seu rosto, mas já não conseguia abrir os olhos e se deixou carregar. Kyara o transportou para uma caverna por trás da queda d’água do riacho onde estava descansando e pediu ao seu amigo e companheiro de aventuras, seu cavalo Athos, que lhe desse algum sinal caso qualquer coisa se aproximasse da caverna.

        

Preparou seu acampamento com algum conforto, afinal, graças às peles de ovelha que havia levado para a viagem e não tardou em começar a tratar do ferido. Seria um trabalho árduo tendo nas mãos um corpo cruelmente castigado. Contudo, o que mais preocupava Kyara era o veneno que foi colocado na lâmina que cortou o abdômen do seu paciente. A julgar pelos efeitos causados a pele diria que utilizaram uma erva bem conhecida da sua terra.

         

Sem dúvida seria uma longa noite. Ali naquela caverna, ela tratou do ferido sem cessar ciente da gravidade dos seus ferimentos e do risco de morte que ele corria, mas não se abateu e nem desanimou, porque viu que a chama da vida era forte dentro dele e o homem elfo sobreviveu.

 

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Legolas, ainda dominado por um torpor, abriu lentamente os olhos, respirou fundo e sentiu um delicioso aroma no ar. Tentou atinar para o que poderia ter acontecido. Estaria vivo ou morto? Quando sua visão estava totalmente recuperada e sua mente alerta, reparou que seus ferimentos estavam enfaixados e correu os olhos pelo lugar. Estava deitado na parte mais elevada de uma caverna bem iluminada por várias tochas, cuja única saída parecia ser pela queda d’água, que formara um lago de águas negras. Uma fogueira acesa continha um caldeirão, cozinhando algo e, pelo cheiro, deveria estar muito bom. Estava com um apetite que lhe doía o estômago e ficou imóvel, perdido com o pensamento na comida quando notou que, mais abaixo, havia uma pessoa se banhando.

 

As luzes das tochas reluziam na água formando uma áurea brilhosa em torno da silhueta, revelando um corpo feminino cheio de curvas e formas. Legolas contemplou aquela imagem por alguns segundos até notar que a tal mulher começava a se secar e logo retornaria.

        

Achou melhor fingir que ainda estava desacordado.

        

Quando chegou, Kyara viu que seu paciente ainda dormia e se perguntou se não o havia sedado demais. Estava intrigada com a tortura que sofrera, com sinais tão característicos. Verificou os curativos que fez no seu paciente dedicada a sua rotina diária. Tocou levemente a ponta de uma das orelhas, ainda curiosa com o pouco que soubera sobre seu paciente e sua raça tão distinta e misteriosa. Depois, deslizou as mãos sobre as faixas entorno do peito nu de Legolas.

        

- Você respondeu bem até demais às ervas que apliquei em seus ferimentos. O melhor de tudo é que quase não ficarão marcas, mas seria muito bom que acordasse, porque se não comer alguma coisa ficará fraco demais.

        

Legolas sentiu aquele toque delicado, tentando imaginar como seria o rosto da sua salvadora. Quando Kyara se afastou um pouco para retirar o caldeirão do fogo, Legolas ele abriu os olhos para observá-la. Ela vestia um camisolão branco de tecido cru de algodão, que deixava a mostra suas pernas longas e bem torneadas. Ao se virar, Kyara se assustou e, por alguns segundos, encararam-se. Não era a primeira vez que viam o rosto um do outro, mas isso não evitou o impacto que tiveram.

        

Como Legolas não poderia esqueceria aquele rosto enigmático. A imagem dela era como uma pintura. Traços delicados da face de uma donzela, quase uma menina, contrastando com a força contida no seu olhar verde esmeralda, cujo brilho e beleza o mantinha cativo. A mulher que o espelho mágico de lady Galadriel lhe revelara, quando estivera visitando o reino de Lothlórien, acompanhando Gimli após a coroação de Aragorn¹.

        

Neste instante que lhes pareceu à eternidade, viram a alma do outro, refletida no olhar capturada, sem querer, pela surpresa do encontro. Assim como Legolas, Kyara se sentiu cativa daqueles olhos de um azul tão intenso, que transcendia o limite do corpo, tornando visível todo o esplendor do poder élfico.

         

Nunca nada havia tocado tão fundo o coração desses dois seres até aquele momento e Kyara sentiu medo, um medo terrível de quem se vê acuado e indefeso, sem escapatória. Legolas, desperto do seu transe, por um instante viu o medo nos olhos dela, mas, manteve-se calado, confuso com seus próprios pensamentos e sensações e os dois, intimamente, se dispuseram a não querer dar importância ao ocorrido, desejando mesmo esquecer tudo, completamente.

        

- Como se sente? Tem sede?

        

- Eu... sim... Quem é você?

        

- Me chamo Kyara e você?... Respondeu ela lhe servindo água em pequenos goles.

        

- Legolas.

        

- Legolas! O elfo de quem o povo dessas terras tanto fala?

        

- É possível. O que dizem por aí?

        

- Falam de um guerreiro élfico chamado Legolas, filho de um poderoso rei da floresta de Eryn Lasgalen. Esse guerreiro ajudou o rei de Gondor a vencer, bravamente, uma criatura do mal, que levaria a destruição o mundo dos homens... O príncipe guerreiro é você?

        

- Vejo que andou se informando... Sim, eu participei dessa guerra.

        

- Lembra-se do que aconteceu a você?

        

- Acho que sim, mas não tenho muita informação. Foi tudo muito rápido e não pude ver quem ou o que me atingiu. Fui mantido cativo, não sei ao certo por quanto tempo... Somente vi um buraco escuro e fétido.

        

- Então, não sabe quem o torturou e os motivos para essa covardia?

        

- Não. A única coisa que me foi dita era que tudo fazia parte de uma mensagem que deveria levar, não sei para onde e nem a quem deveria entregar.

        

- Entendo!

        

Estava claro para Kyara que o recado era para ela, mas o que a intrigava era por que usaram justamente o elfo para isso?

        

- E você, de onde vem? Está aqui sozinha comigo?

        

- Calma! ... Por certo acordou confuso depois do que aconteceu e ainda se vendo na companhia de uma desconhecida.

        

- Que salvou a minha vida, pelo que vejo. De onde você é?

        

- Venho de um lugar muito distante daqui chamado Tanusia. Estou à procura do rei de Gondor. Preciso relatar um fato ocorrido em minha terra que poderá provocar novos conflitos aqui se não for impedido a tempo.

        

- Tanusia?... Nunca ouvi falar desse lugar.

        

- Nem poderia. Minha terra não está ao alcance de quem possa ir a cavalo ou barco.

        

- E como você chegou aqui?

        

- É uma longa história e contar isso faz parte do que tenho a informar ao rei de Gondor.

        

- O que aconteceu em sua terra que poderá trazer problemas para nós?

        

- Lamento, mas tudo o que tenho a revelar será para o rei.

        

Legolas não gostou da resposta que Kyara lhe deu e desconfiou se tudo aquilo não fazia parte de alguma armadilha para Aragorn. Estava lhe parecendo coincidência demais ter sido atacado sem um motivo aparente e depois ser salvo por uma desconhecida muito misteriosa que tinha intenção de ter acesso ao rei.

        

- Não sei se por obra do destino ou o que, mas estava a caminho de Gondor, para as comemorações do aniversário do rei Aragorn, quando fui capturado. Somos amigos de longa data e se tem algum conflito para acontecer aqui isso certamente me interessará. Querendo você ou não, estarei envolvido.

        

Kyara percebeu a inquietação do elfo e considerou a possibilidade de revelar a ele toda sua história. Afinal, sabia que o que ele dizia era verdade. De certa forma ter sua ajuda para chegar mais rápido a Gondor seria muito útil, embora fosse arriscado também. Era sacerdotisa de Tiria, guardiã da coroa de Tanusia, mas era ela quem se sentia enfeitiçada por aqueles olhos azuis tão expressivos, que a deixava sem saber ao certo como agir.

        

- “... Você é, por mérito e por sua descendência, a escolhida para me suceder como Senhora da Magia de Tiria. Colocou à prova muitas vezes sua sabedoria, sua força, seus dons e suas habilidades, como sacerdotisa e guardiã dessas terras, para defendê-las. Contudo, terá que passar por mais um desafio, minha “Pathya Penien”². Primeiro você terá que vencer a maior força do universo para que possa assumir o meu lugar. Terá que resistir se quiser cumprir os desígnios dos nossos ancestrais...”.

        

Essas palavras soaram para Kyara como uma profecia. O destino tecia uma teia ao seu redor e ela temeu não conseguir escapar. A presença do elfo logo no início da sua jornada, principalmente pela forma como o encontrou, era a prova disso. Desde que vira a imagem dele no Poço dos Ancestrais em Tiria se sentiu incomodada com a possibilidade desse encontro e aquele rosto não saiu mais do seu pensamento, e cuidar dele por cinco dias, incessantemente, no desespero de salvá-lo não estava lhe favorecendo.

 

Legolas continuou com suas perguntas trazendo-a para a realidade.

        

- Sei que estou à sua mercê e se quisesse me prejudicar não teria me socorrido. No entanto, como posso ter certeza de que você não faz parte também da mensagem misteriosa que tenho que entregar?... Como ter a certeza de que não é minha algoz e minha salvadora?

         

- Você diz isso porque seria uma possibilidade, mas não acredita que seja verdade... De qualquer forma, somente tenho minha palavra, nada mais.

        

- Como pode saber se acredito ou não?                                                                                               

        

- Seus olhos me dizem isso.

        

Legolas a perscrutou na tentativa de que algo pudesse ser revelado que a desmentisse, ou o alertasse sobre algum perigo. O que não se confirmou, pois o olhar da mulher era firme.

        

- Entendo que agora tudo lhe pareça obscuro e sem sentido. O que me preocupa no momento é seu estado de saúde. Se você quiser sair desta caverna terá que comer alguma coisa, porque já faz três cinco dias que o encontrei quase morto na floresta e você perdeu muito sangue.

        

- Cinco dias!... O tempo que passei cativo não tive o que comer e muito pouco o que beber...  e esse cheiro bom que estou sentindo me impede de recusar. Aliás, muito obrigado por salvar minha vida... Ele suspirou, resignando-se... – Você está certa. Foi uma ideia que passou pela minha cabeça, mas alguma coisa em você me diz que minhas desconfianças não têm fundamento. O que me deixa com uma dívida de gratidão com você.

 

- Não, você não tem nenhuma dívida comigo.

        

- Tenho sim.

        

- Digo que não tem.

        

- Insisto que sim e costumo pagar minhas dívidas.

        

- Muito bem, então. Não vou discutir isso com você. Quero apenas que coma esse caldo de peixe que preparei. Pegue! O pão não está muito fresco, mas dá para comer... Ela lhe estendeu uma tigela com sopa e pão... – Não convém comer nada muito pesado no momento. Espero que esteja do seu agrado.

        

- Qualquer coisa será do meu agrado.

        

Os mistérios daquela mulher deveriam preocupá-lo, entretanto, algo nela inspirava confiança. Legolas começava a entender o que a Senhora Galadriel quis dizer quando previu que seu futuro ainda não estava definido e o inesperado poderia mudar sua vida, completamente. Agora, aquela mulher havia cruzado o seu caminho e salvado sua vida. Ele não sabia o que pensar. Esforçava-se para se mostrar controlado, contudo, sentia-se envolvido por um furacão. Sua intuição lhe dizia que muita coisa estava por vir e a participação daquela mulher nessa história iria muito além de salvá-lo.

        

- Descanse depois de comer.

        

- Obrigado mais uma vez... Você deve estar cansada depois do tempo que passou cuidando de mim e ainda se mostra tão atenciosa e preocupada. Diga-me como poderei recompensá-la?.

        

- Já disse que você não me deve nada. Tenho certeza de que faria o mesmo por mim se nossos lugares fossem trocados... Respondeu Kyara sem encará-lo.

        

- Como pode estar certa disso? Como sabe se mereço tantos cuidados?

        

Ela desviou sua atenção da comida e o fitou respondendo educada, porém com firmeza... – Eu não negaria ajuda a alguém, que foi covardemente ferido, precisando de socorro. Além do mais, aqueles que encontrei pelo caminho me disseram que os elfos são boas pessoas e seus olhos me confirmam isso... Com essa resposta, Kyara imaginou dar por encerrada a questão.

 

Intimamente, Legolas admirou o senso de solidariedade da mulher... – Será que poderei me banhar depois?... Perguntou finalmente aceitando de bom grado os cuidados que recebera.

        

- Sim!... Precisei me livrar do que sobrou das suas roupas. Não poderia correr o risco de atrair problemas por causa do sangue.

        

- Não se preocupe com isso. 

 

Kyara separou uma túnica como a dela para que ele vestisse depois do banho e comeram quietos. Aquele silêncio parecia o momento que antecedia uma grande batalha, quando o soldado fica concentrado nas batidas aceleradas do seu coração, a adrenalina tomando conta do corpo e sua mente só consegue pensar no seu oponente.

        

A tensão pairava no ar.

        

- Há tempos que não como nada tão bom. Sinto-me bem melhor.

        

- Estava com fome, só isso. Agora descanse um pouco. Não sei se terá condições de se levantar ainda, então vamos deixar seu corpo se adaptar ao alimento que recebeu... Usei magia e ervas poderosas para curá-lo. Só não esperava que respondesse ao tratamento tão rapidamente.

        

- Magia! Você é uma feiticeira?

        

- Sou uma sacerdotisa guardiã da magia do meu povo e a defendo não só com feitiços. Com uma espada, também... O motivo para ter usado magia foi o seu envenenamento.

        

- Fui envenenado?

        

- Sim, por uma erva muito letal. Pelo que sei somente encontrada em minha terra. Se não usasse magia e meus conhecimentos você não teria sobrevivido e é isso o que me intriga. Ao que parece a mensagem que queriam que você entregasse chegou ao seu destino, afinal.

           

O tom sombrio e o olhar enigmático da Kyara despertaram em Legolas uma sensação perturbadora. Todo esse mistério só poderia significar uma coisa: perigo! Um grande perigo se aproximava.


Notas Finais


1 - A visita de Legolas com Gimli ao reino de Lothlórien após a coroação de Aragorn não existe na estória criado por Tolkien.
2 - Pathya Penien - Na língua antiga do mundo da Kyara, a palavra significa Encantadora de Florestas.

É isso, amigos. Finalmente torno realidade um desejo antigo e posto meu primeiro capítulo dessa FIC. Vou postar sempre às sextas-feiras. Espero que gostem

Para os amantes dos elfos, como eu que sou apaixonada, a tortura do Legolas foi um momento dramático. Isso prova que o seu algoz não está para brincadeiras.

Espero também que não encontrem muitos erros. Ao postar o capítulo tive um problema com o procedimento sendo o texto extraído do word.

Beijos! Até o próximo capítulo


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